A pouco tempo minha filha de quase 5 anos acompanhada da menor de 3 anos me surpreendeu com a seguinte pergunta

Mamãe você vai morrer?

E já respondendo disse:

As pessoas não morrem nunca, não é?

Eu perplexa com as perguntas e já acostumada aos fatos sobre temporalidade e morte, pensei que resposta daria.  Dava para ver em sua expressão a aflição da espera, era um sofrimento diferente de quando em outra ocasião, um passarinho que pegamos machucado na rua, morreu, foi uma choradeira inconsolável resolvido com o acordo de levar o passarinho ao médico e quando me perguntavam sobre o bichinho eu falava que ele estava no hospital, até que elas esqueceram o fato, nessa fase ainda não tinham descoberto que a morte era definitiva irreversível e permanente, diferente da situação agora.

Queria responder que não, que as mães não morrem (só as mães dos passarinhos), que as pessoas que amamos não morrem; Mas não pude fazer isso, seria contar uma grande mentira, agora era diferente, seria subestimar a capacidade de raciocínio das minhas crias,  elas tinham descoberto algo novo sobre a morte, elas tinham descoberto que não só os bichos mais as pessoas também morriam, o que justificava a resposta em forma de pergunta que ela mesmo tinha dado.

Exclui-las  mesmo que por um período dessa verdade não era correto seria negar o direito que temos como única  espécie no planeta da consciência da finitude, a única consciência  que em  vida é a única certeza

E então “ inabilmente” respondi:

 As pessoas quando estão muito, muito velhas morrem.

Omiti os acidentes, as fatalidades doenças precoces, injustiças...

Mas não adiantou e criei outro problema, porque agora com a minha estupida resposta quem  morreria era a vovó, era a próxima da lista, já que era a mais velha.

E elas acharam o fato devastador!

A questão piora  quando algumas  crianças descobrem logo cedo que algumas pessoas tiram as própria vida. Para uma criança morrer é algo tão absurdo e injusto que é impensável  a possibilidade do suicídio.

Obviamente que a maioria dos casos vem acompanhados de fatores clínicos específicos e pré disposições genéticas, mas qual a explicação para os casos que esses fatores são inexistentes? Porque e os casos de suicídio infantil, que  ocorre constantemente no Japão, EUA estão aumentando aqui no Brasil?

Se as  criança japonesas cometem  mais suicídios que as crianças holandesas e se todos somos iguais como pessoas, como raça humana, só podemos explicar a maior incidência de casos em um País determinado se considerarmos a questão cultural, afinal é principalmente por isso que somos diferentes, só a cultura justifica as diferenças.

Então se questão cultural for ponto determinante para isso, então logo  estamos produzindo valores que podem determinar a continuação ou não da vida, valores bem equivocados e porque não fatais.

Pela banalização da vida torna-se muito fácil ensinar uma criança desde cedo ou um adolescente, que a vida não tem o menor valor, um exemplo são os jogos violentos de vídeo game.  Tratar a vida, mesmo que na ficção, de forma leviana, torna fácil comparar a vida de uma pessoa com a vida de uma barata. Uma chinelada resolve o problema, apertar o gatilho também.

É diferente da consciência infantil da morte que vem de uma necessidade extintiva, normal da infância, acompanhada de perplexidade e sensação de impotência normal ao descobrimos que somos finitos, e quando adultos aprendemos a lidar,  aceitando e transformando a aflição  em uma  urgência para lidar com nossos planos e projetos; essa banalização do assunto produz, ações e atitudes impulsivas e destrutivas. A consciência da morte valoriza a vida a banalização destrói.

E quantificar o valor da vida, sendo esse  valor intrínseco ao ser humano, não pode e não deve ser ensinado nas escolas, não é papel institucional. Se logo cedo as crianças aprendem sobre a certeza da morte não seria daí que viria o valor pela  vida?

Sinceramente e particularmente acho que a questão vai além de medidas práticas como simplesmente colocar detector de metais nas escolas, o que separa o lado de dentro do lado de fora é na maioria das vezes um portão, a questão permanece, os conflitos não ficam barrados nos detectores de metais..

Precisamos de respostas, porque o suicídio deixa em quem fica a sensação de responsabilidade pelo fato, sejam professores pais, amigos e pessoas próximas. Explicar o suicídio não é o mesmo que explicar a morte. Que conflito interno é esse que faz crianças tirarem a sua própria vida, seja lá por qual motivo, bullying, brigas, cobranças, insatisfação, frustração, provas seja lá o que for.

Precisamos de respostas que não venham só de professores, educadores e psicólogos, mas de todos nós simples mortais que de alguma forma lidamos com seres humanos todos os dias e nada sabemos (de maneira profissional) sobre  comportamento humano, devemos repensar valores  nas relações, nas trocas, prestar atenção, e  ajudar as pessoas a não abreviar aquilo que  inegavelmente será o resultado final da nossa existência, já acontece todos os dias,  a cada segundo, dia e ano, morremos um pouco todos os dias...

O suicídio infantil é ainda mais violento  porque nos cobra diariamente a capacidade da antecipação do fato, seja em um desenho, em um olhar em uma fala subestimada que não damos importância.

Fica a sensação de que a culpa é sempre de quem tinha maturidade já alcançada e capacidade para evitar. Nós os adultos!