¹José Wilamy Carneiro Vasconcelos

Nesse período invernoso, lembro-me de minha infância na Cidade de Sobral e da minha rua, por exemplo: as vazantes plantadas no rio Acaraú, feita de vara de pau branco amarrados com embira da palha de carnaubeira, entrelaçadas uma das outras numa extrema variante aproximadamente um metro e meio entre um beco e outro com extremidade do seu próximo dono (agricultor) em pedacinho de 100x100 Mts de terra plantado com leguminosas.

Os moradores da Rua da Cachorra Magra, o Senhor a família do Sr.Veras Cruz ,família do Sr. Roque, o pescador Mairton, o Chico Palmeiras, juntos com os moradores da Rua do Oriente, o Sr. João Paiva Dias e família, o Sr. Zé do Carmo e outros da Rua Monsenhor José Ferreira (apelidada de Rua do Feijão), onde é mais conhecida por populares, e moradores da Rua do Curtume, no bairro das Pedrinhas. Logo cedinho e de madrugada preparava suas ferramentas: Enxadas, foice, arame farpados, surrão, pregos, cumbuca d’água amarada com pano e chapéu na cabeça saiam para os primeiros trabalhos em preparar a terra para o plantio da vazante.

Os primeiros serviços e mais pesados, era tirar troncos trazidos pelas cheias do rio, o corte das vegetações nascidas durante o inverno, as juremas, (unhas de gato), as braúnas, catingueiras, espécies de vegetação da região do semiárido e da caatinga, bastante conhecida nos arredores do rio. Preparado isto, iniciava a terraplanagem dos enormes bancos de areias e de algumas baixas e ilhotas d’águas que amontoavam entre si.

Dali, quem estava no lado da ribanceira que media uns 3 metros de altura até o leito do rio, nas proximidades do muro do Palmeiras Country Club, avistava um grande emaranhado de varas, um amontoado de embiras amaradas, perfazendo uma espécie de cordão gigante para os preparativos da montagem e amarração da cerca.

Para os transeuntes que passava pela ponte grande (Othon de Alencar), vindo dos Bairros Sinhá Sabóia, Dom Expedito, das Marrecas, povoado de Caioca, Campo Grande, localidade Madeiras, e outra região, contemplava a exuberante plantação nas areias deixada pelas chuvas no Rio Acaraú.

O verde tomava conta em torno do leito do rio, deixando apenas alguns espaços entre uma e outra plantação, e nas extremidades do rio mais adiante, avistávamos as canoas e lavandeiras na labuta, estendendo nos bancos de areias as peças lavadas, próximo a Usina de Sr. Randal Pompeu, antiga Usina de Luz e Algodão Dona Emilianinha do proprietário Oriano Mendes.

As farturas trazidas das vazantes como feijão, jerimum, maxixe, melão, fava, melancia e outras leguminosas eram fontes de renda de muitos moradores das redondezas do rio. Alimentava a família inteira e estocavam para os períodos de seca, quando a safra era abundante, atreviam-se em vender no mercado local e para alguns vizinhos.

Ao chegar à Rua do feijão, Rua do Oriente e adjacências próxima a beira-rio, era comum avistar nas calçadas grande quantidade de surrão estendidos ao tempo e ao sol quente, com enorme aglomerados de “feijão em baja”.  Mulheres e filhos dos vazanteiros debulhavam em grandes bacias de alumínio, separando as bajas verdes das mais secas. Outras assobiavam chamando o vento e tirando as palhas do feijão. Após todo esse processo ensacava em surrões e sacos costurando com agulha e barbantes.

O Centro da cidade era inundado pelas águas das grandes chuvas, os bairros das Pedrinhas, que do lado tinha a CIDAO e o CURTUME DOS MACHADOS, a AABB e o Clube do Sabino.

O Bairro do Tamarindo, bairro que fica muito próximo do rio é um dos primeiros a ser inundados pelas águas  dos meses de fevereiro e março, alongando muitas vezes nos meses de abril, chegando até maio e junho, onde o inverno era menos rigoroso.

Os grandes jornais da época registravam com fervor os grandes invernos que aqui chegava. Fotos antigas do centro da cidade estão documentados e registrados aos familiares que aqui circulavam, ou com seus comércios, no centro; a Loja Cartaz, a Rádio Tupinambá, as Casas Barreto, Farmácia Menescal, Padaria Colombo, Camisaria Elegante, Renovadora São Francisco, O INPS, a Rodoviária, Hotel Alba Carneiro, Assis Auto Peças, Posto Abílio, A Câmara Municipal e outras.

Sempre a memória de infância vem a tona nesse período de chuva no meu Ceará querido e as lembranças de minha rua ressuscitam dos bons e velhos tempos de criança.

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¹ José Wilamy Carneiro Vasconcelos é professor, pesquisador, poeta, historiador, memorialista, cordelista, e cronista. bacharel de Direito pela flf- Faculdade Luciano Feijão. Formado em Ciências (MATEMÁTICA) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Pós-graduado em Construção Civil (EDIFICAÇÕES),pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.