“O PERCURSO DAS MARRECAS AO DISTRITO DE PATRIARCA”- EM SOBRAL

Na década de 70, 80 e 90, curti em meu tempo de criança alguns familiares que faziam o trajeto da localidade “Marrecas a São José do Patriarca”, distrito de Sobral, distante aproximadamente de poucos quilômetros da cidade, no interior do Ceará, e, mais ou menos uns 235 km da capital cearense – Fortaleza.

Meus pais moravam na Rua do Oriente, uma das principais ruas de minha cidade, a querida Sobral. Pra quem vinha da capital cearense, seja de carro ou de ônibus da Empresa Brasileiro e ou do Expresso de LUXO, era obrigatório o percurso nessa rua, próximo ao CHICÃO (Rei da Peixada), com direito a parada na venda de passagens da empresa, pois na Rodoviária local o movimento ainda era um pouco tímido, contava-se um ou dois gatos pingados na mesma. O movimento maior era na Praça da Meruoca e Praça do Patrocínio dos passageiros e comerciantes com seus caminhões, jipes, e outros modelos da época.  

Já na Rua dos Voluntários, antiga Rua do Oriente, no lugar onde se vendiam os bilhetes e passagens tinha um nome pra lá de esquisito. Chamava-se “Inferninho”, diz que o nome pegou devido a grande quantidade de pessoas que fervilhavam no local à espera de uma carona nos paus de araras da época ou de ônibus rumo aos seus destino. Funcionava também no local uma espécie de quitandas improvisadas, dependurados muitos bugigangas, atrativos para chamar atenção aos que ali ficavam na parada. Com lonas cobrindo o teto, eram uma espécie de feirinha ao ar livre, coisas que encontramos no interior do nosso Brasil.

Além disso, mercearias de produtos com muitas variedades; fumo, querosene, sola, lamparina, foice, enxada, farinha a granel, feijão, milho e outras tantas, cimento no quilo, prego, fogareiro feito de lata de querosene, arame farpado, resíduo para gado, puim, piche, banana, cachaça, abano pra aceder o fogo, pavio feito de algodão, toucinho fresco e salgado, pé de porco, peixe salgado, tripa de porco, tripa de gado, banha de porco a granel, tijolinho de coco, broa, bolacha-fogosa, pães, quebra-queixo, dim-dim, tinha um pouco de tudo. 

Quem morava na zona rural, trazia seus produtos tirados da roça pra vender na cidade, no mercado central: maxixe, ovos capoeira, chapéu de palha, melão do roçado, feijão com baja, feijão maduro, fava, inhame, animais vivo como o porco, cabra, galinhas, pato, capote, farinha de mandioca, e levava produtos de primeira necessidade. As mais frequentadas pelo povo era a mercearia do Sr. Zéozé, de Dona Gestrudes, e do Sr. Paulo.

Com alguns trocadinhos no bolso de suas vendas, o povo do sertão, compravam tecidos no metro para fazer uma camisa ou vestido, chinelos, renda, utensílios de plásticos, brilhantina para os cabelos, óleo de coco, fumo pra mascar, açúcar. Era um verdadeiro escambo nessa região.

Na volta, muitos se aventuravam em ir caminhando, ou de bicicleta, em cima do lombo de seu cavalo, de um burro ou jumento. Carro na época era só para os coronéis, senhores latifundiários e proprietários das grandes fazendas na região.

No percurso das Marrecas até chegar o povoado de São José do Patriarca era uns 9 km. Para quem estava na cidade, à Ponte Grande, Ponte Othon de Alencar mais conhecida de Sobral, dividia o centro da cidade com o Bairro das Pedrinhas, Bairro Dom Expedito, Sinhá Sabóia e com a zona rural, era uma espécie de divisor de águas no local. Bastava atravessar a ponte que logo sentia a paisagem mais exuberante. O verde tomava conta da região com oiticicas gigantes, bem sombreados, pé de juazeiro, paus brancos, carnaubeiras e outras espécies daqui dessa região do semiárido nordestino.

Uns moravam mais distantes, outros ficavam entre as duas localidades. Marrecas e São José do Patriarca. Entre uma e outra, a vegetação tomava conta da paisagem no sertão. Dois rios corta a região; O Rio Acaraú um dos maiores afluentes do baixo acaraú que desagua no oceano e o Rio Madeira, o segundo somente na quadra invernosa é que dava seu espetáculo, os dois se uniam e faziam aquela maravilha, surgindo ali uma ilhota que impossibilitava o trajeto do povoado. Quando o inverno era fraco, podia trafegar na canoa.

No meio do caminho, ao longo dos tempos, uma passagem molhada foi improvisada para que os transeuntes dos dois lugarejos pudessem trafegar melhor. Era nossa diversão, e dos passageiros, ali os bichos bebiam, se refrescavam, a criançada aproveitava dava uns mergulhos, e as moças de deleitavam tirando o calor lavando o rosto e a cabeça, continuando o percurso que ainda faltava.

Entre um lugar e outro, alguns fazendeiros da época habitavam no seu próprio terreno. Outros vinham somente finais de semana para prestar conta com o vagueiro e levar leite, queijo, manteiga, feijão ederivados.

Na localidade chamada Marrecas, tinha a família do Pery Frota, grande empresário, dono de vários postos de gasolina na região e na capital. Nascido e se criado em com seus familiares em Patriarca.

A residência do Sr. Ozani, a fazenda dos familiares do Senhor Aristeu, que era compadre de meu pai Olavo, a família do Sr. Evilásio Fonteles, as terras do Dr. Iran, a do Sr. Eudes Andrade, que tinha uma vidraçaria no centro de Sobral. As terras do funcionário do BNB que era primo de meu pai Desdedit Andrade, que foi embora para capital morar com os filhos que queria estudar e ser doutor.  Logo adiante, encontrava também as terras dos familiares do Sr. Antônio Ponte. A do Sr. Milton Andrade, empresário no ramo de combustível, pneus e óleos. Os familiares do Sr. Zé Pelegrino, antigo vereador e seus familiares que vive até hoje tomando conta da herança e espólio. As terras do espólio dos familiares de Joscel Vasconcelos, Bento Vasconcelos.

Na metade do percurso entre as dusa localidades encontra-se a fazenda da família de meu pai Olavo Hermano (in memorian), as terras de Ari Vasconcelos, Benedito Vasconcelos, Dercy Vasconcelos, Lourival Fonteles e Tarcisio Vasconcelos que residia em Patriarca, Entre outros, familiares da genealogia dos Quariquazi. Os Pontes. Os Torquatos, Os da família Gomes da Frota, Os Frutuosos, os da família do Sr. Chico Rufino, os da Família do Sr. Macilon Vasconcelos, Edmundo Vasconcelos, que ainda hoje os filhos e netos tomam conta da lida, com criação de gado e leite. Os Vasconcelos que é uma linhagem que pertencem à região de Sobral, Massapê, Santana do Acaraú, Remédios, Tuina, São José do Patriarca, localidade de Bomfim, Caioca, Madeira, Lagoa Queimada, localidade de Alegre, a localidade de Mutuca, todas, fazendo uma sintonia entre esses dois povoados, Marrecas e São José de Patriarca até as mediações de Sobral.

A cidade de Sobral cresceu, e alguns fazendeiros entre a localidade de Marrecas e Patriarca, vieram para a cidade, deixando seus antepassados e a memória desse povo arraigado, trabalhador e espirituoso. Muitos desfizeram de sua terra para viver na cidade ou partir para a capital cearense, Recife, Rio de Janeiro e para a Região Norte e Sul.

Na localidade das marrecas, um grande empreendimento tomou conta com o crescimento da cidade, transformando em um novo condomínio para novos moradores, chamado de “Morada da Boa Vizinhança”, um condomínio que não para de crescer, com toda infraestrutura, luz, água, asfalto, saneamento. Um novo bairro para a cidade de Sobral. Só alguns mais resistentes ainda vivem no povoado.

No distrito de Patriarca, que antes era apenas uma pequena comunidade, apesar de ser mais antiga que Sobral e possuir a Igreja mais velha da região com o nome de Igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do local e da Cidade de Sobral, já conta com posto de saúde, colégios, mercantis, frota de carros e ônibus para toda a comunidade e adjacência.  

___________________________

José Wilamy Carneiro Vasconcelos é professor, poeta, cronista, pesquisador, memorialista, historiador. Formado em Ciências (Matemática) Pela universidade Estadual Vale do Acarau.  Especialista em Meio Ambiente. Pós-graduado em Construção Civil (Edificações)  na Universidade Estadual Vale do Acaraú. Formado em Direito pela faculdae flf- Faculdade Luciano Feijão em Sobral-Ceará.