O pequeno caderno verde - VI
Por Raimundo Nonato RODRIGUES | 05/05/2016 | LiteraturaVI
- Um pesadelo. Sonhei que fui soldar algumas peças na oficina de Karl na sua antiga residência na Praia do Desterro.Levei o meu filho Raimundinho. Karl saíra, assim como Raimundinho também. Soldei as peças, desliguei transformador de solda e o coloquei num carrinho. Fui procurar os cabos e não os encontrei. Achei a esmerilhadeira no canto do beco, quando fui pega-la,ligou por ela mesmo, tomei um susto com o barulho, com muita dificuldade e com medo de pegar um choque a desliguei e a levei para dentro. Então apareceu Jean Gaspar e ficamos a ver a maré encher. Lembrei-me do transformador e fui apanha-la, estava por trás do antigo posto fiscal,quando a vi estava desmantelada em pedaços sobre um prato de uma balança. leve-a para dentro e entrei em pânico,pois tinha que soldar a grade. Karl chegou contei-lhe o drama. Conformou-me dizendo que pediria outra maquina emprestada. Então resolvemos procurar Raimundinho que estava num bar no Xirizal,onde era um habitué costumaz. cada loucura. Eu tinha apenas umas moedas. respirei aliviado quando acordei.Os passageiros correm para apanhar o ônibus lotado e parado bem em frente a oficina, os usuários na janelas, sentados ou em pé espreitam-me curiosamente, buscam entender o quê um barbudo com a aparência de um mendigo, com uma bermuda rasgada no joelho, sem camisa tanto escreve. Nem olhei, estava concentrado nos meus problemas, na grade com receio que não dê certo, devido ao ângulo do telhado.Uma parte é mais alta que a outra. Os passageiros que estavam na praça das Sete Palmeiras descem apressados - o coletivo passou lotado e não parou.É uma luta diaria, um sofrimento onde todos pagam os seus pecados. Vou fazer é rezar para não dar problema, se der tenho que dar uma de MacGyver e resolver. Mozaniel acompanha a filha mais velha até a parada. Alah-u-Akbar! Alhar-u-Akbar!. Nas cidades muçulmanas, o muezim no alto dos minaretes chamam os fieis para suas orações. Alah-u-Akbar! Os muçulmanos são os religiosos mais fervorosos e ortodoxos do mundo, assim como os judeus - fanáticos fazem qualquer coisa em nome de Deus. Oro a ele, pedindo a iluminação, abrir os caminhos. Vou encarar, seja lá o que Deus quiser, Aniversario do grande Mestre Seu Thomas 'Morus', estivador aposentado, viúvo, sobrevivente do incêndio do navio-tanque Maria Celeste em frente a Rampa Campos Melo na Praia grande em 1954 - Jean Gaspar estava aqui e aproveitou para falhar-lhe do projeto de seu amigo que esta escrevendo sobre esse acidente. O carro da Cemar passando devagar, deixando-me atônito e nervoso..
- O olho direito querendo inflamar depois do sono repousador após o almoço. Armei as grades da Senhora do Resende e a peça do Senhor Magela.Tomei uma 'Dip"estamos sem energia elétrica.trouxe dois mestres franceses de estilo literário diferentes Balzac e Proust. O Sr. Wilson, irmão do meu querido amigo NIlson veio buscar-me e fomos até a oficina, para entregar-lhe o ferro de ferrar gado do pessoal do Sitio das Carneiras e depois veio-me trazer de volta ao meu refugio. Pagou-me os vinte reais, que dividi com minha cunhada. A pequena Ludmila chega com sua mãe. De volta ao mundo balzaquiano.
- A energia voltou,ainda pouco, alegrando a minha cunhada que estava preocupada, pois tinha que engomar a roupa do genro querido para a reunião semanal do salão. relendo "Louis Lambert" e um pouco da vida desse gênio de Tours. A doidinha da Clarinha sempre esguia e magra como um palito pelando e falando sozinha.. Meu vizinho o carpinteiro surdo-mudo Raimundo passeando avec la petite Ludmila dans le bras. Ele gosta muito dela, uma afeição especial..
- Seis horas em ponto. Hora do Angelus. Antenor deixa o computador. Seu Pietro saiu e releitura de Louis Lambert esta bem interessante.Proust e Dostoiévski que me perdoem a minha santa ignorância,mas Balzac é fundamental. Vou relê-lo em caráter de urgência,isto é dedicarei exclusivamente deixando para depois "Memória do Subsolo" do meu amado russo de Petersburgo e "No Caminho de Swan" do meu querido Proust. As nuvens enegrecem o céu. Minha cunhada vaticina que vai cair uma chuvinha. O fedor chato.O chuvisco impediu-me de ficar no terraço, lendo a luz do poste e vendo o movimento da rua.