O PEDINTE
Nazaré, 27-09-1974

Amanhece.
Vai o pobre velho rua abaixo
Com as roupas em farrapos,
Pede a um que lhe nega
Pede a outro que lhe dá.
E assim continua na sua negra miséria,
Na sua alegre tristeza,
Alegria que dura pouco
E que deixa o velho, pensativo e melancólico.

Anoitece.
De volta para o seu barraco
O velho pedinte, cansado
De tanta caminhada em vão,
De pouca caminhada em pró.
Ele segue cabisbaixo,
Às vezes levanta a cabeça
E pergunta a Deus:
-Deus! Porque és tão ruim?
Ordena aos homens ricos
Que ajudem os miseráveis,
Se é tu o poderoso.