O Pedagogo na Empresa: caminho e descaminhos

 

Nas Organizações que Aprendem as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão constantemente aprendendo a aprender coletivamente”. Peter Senge

Haroldo Luiz Costa Lopes dos Anjos

Pedagogo, especialista em Psicologia da Educação com ênfase na psicopedagogia/PUC/MG

Ms© e Dr© em Ciência da Educação – UAA – Assunção/ Paraguai

Coordenador do Curso de Pedagogia da Escola Superior Madre Celeste – ESMAC

Thiago Paulo Pereira dos Prazeres

Acadêmico do curso de Administração e Negócios da Escola Superior Madre Celeste - ESMAC

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RESUMO

 

O campo de atuação do pedagogo vem se diversificando nos últimos anos e a escola, ainda que seja seu espaço privilegiado, cede lugar para outros que podem ser espaços da aprendizagem. Nesse sentido, a empresa passa a se destacar como um ambiente importante de atuação do pedagogo, sobretudo no que se refere à sensibilização das pessoas que compõe a mesma, a compreender as transformações técnicas e relacionais do mundo atual e como o desenvolvimento da aprendizagem constante e estimulante em tal ambiente pode contribuir para o avanço não apenas do processo produtivo, mas da qualidade de vida dos trabalhadores dentro e fora dela. Entretanto, a sensibilização neste ambiente não pode se dar de forma descontextualizada das necessidades do mesmo e dos múltiplos interesses, muitas vezes conflituosos, que se organizam e organizam a empresa. Logo, é fundamental para o pedagogo estar ancorado por uma teoria e uma prática clara e tendo como objetivo principal estimular as inteligências humanas em diversos níveis e dentro da coletividade da empresa.

Palavras chaves: Pedagogia Empresarial, Colaboradores, Educação, prática pedagógica, relação interpessoal.

ABSTRACT

The playing field of the pedagogue has been diversifying in recent years and the school, even if their privileged space gives way to others who may be learning spaces. In this sense, the company now stand out as an important environmental role of the pedagogue, especially with regard to sensitization of the people who compose it, to understand the technical and relational transformation of the present world and the development of lifelong learning and in such a stimulating environment can contribute to the advancement not only of the production process, but the quality of life for workers inside and outside. However, the awareness in this environment can not afford a decontextualized form of the same needs and interests of multiple, often conflicting, who organize and organize the company. Therefore it is important for the educator to be anchored by a clear theory and practice and having as main objective to stimulate human intelligences at various levels within the community and the company.

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Keywords: Education Company, Employees, Education, pedagogical practice, interpersonal relationship.

Atualmente muito se tem discutido, em Seminários, Congressos, Fóruns, Encontros, sobre o curso de Pedagogia, sua natureza, currículo, funções, do ponto de vista legal e institucional, a formação deste educador e as suas diversas áreas de atuação.

O Ministério da Educação estabeleceu através da Resolução do Conselho Nacional de Educação – CNE/CP nº 1 de 15/05/2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, resultantes dos Pareceres CNE/CP N° 5 de 13/12/2005; e N° 3 de 21/02/2006, além de considerar o Parecer CNE/CP N° 3 de 17/4/2007. As Diretrizes definem princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem observados em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior do país, à formação inicial para o exercício da docência, grifo nosso, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, a fim de identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares;

            Convivemos com a versão, a partir da data da publicação da mencionada Resolução, de uma pedagogia voltada exclusivamente, para espaços escolares onde o pedagogo desenvolveria seu trabalho por meio de uma educação formal. Entretanto, estudos realizados têm mostrado a versatilidade do pedagogo e suas condições para atuar em diversas áreas onde se promova a educação (LIBÂNEO, 1998).

Um novo cenário da educação se abre no século XXI, com novas perspectivas para o profissional que se insere no mercado/mundo de trabalho, sob diversas abrangências, como nos mostra a própria sociedade, que vive um momento particular onde discussões sobre globalização/mundialização, neoliberalismo, ONG’’s - terceiro setor, educação on-line, Novas Tecnologias, etc., contribuem para uma nova estrutura social na qual se exigem profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem neste cenário competitivo. Frente aos novos paradigmas no mercado de trabalho, muitos empresários percebem a importância de pedagogo para o crescimento organizacional. Repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética.

Nota-se que a educação é um conjunto de ações de influências e de sugestões, exercidas sobre indivíduos, no sentido de aproveitar metódicas e progressivamente a todas as possibilidades fisio-psíquicas, não só no interesse individual, mas também no coletivo para que se tornem aptos a viverem no ambiente físico e social de que fazem parte, contribuindo, na medida do possível, para o bem-estar e progresso da sociedade. A educação capacita de tal forma, que não só prepara a pessoa humana para cumprir seus deveres gerais de cidadãos, mas também, para o desempenho de uma atividade ou profissão, tomando por base diversas circunstâncias como conhecimentos, aptidões, vocações, interesse, classe social e situação econômica. Neste contexto a educação deve, no geral, atender aos interesses espirituais, morais e materiais. Sabemos que a educação atual deve procurar desenvolver e utilizar todas as potencialidades da pessoa humana, uma vez que o homem, numa linguagem universal, é um único ser vivo pensante, criativo que produz, elabora, questiona, inventa, planeja para realizar ações.

Vejamos primeiro como se deu historicamente a aproximação desse profissional com organizações.

O pedagogo empresarial chegou de forma meio introvertida, entretanto apresentando conhecimentos significativos e fundamentais para confirmar sua importância no mundo empresarial, ele, começou a ser chamado para atuar na empresa no final da década de 60, início dos anos 70. Esse período foi muito influenciado pela tecnocracia, pois se acreditava que o papel da educação era contribuir para a aceleração do desenvolvimento econômico e do progresso social.

Os princípios da racionalidade, eficiência e produtividade foram transportados da economia para a educação, de modo conciliatório com a política desenvolvimentista fundamentada nos princípios da Teoria do Capital Humano (CATTANI, 2006, p. 1), muito presente no cenário nacional e atual, respaldando políticas e ações que visam o aperfeiçoamento do sistema industrial e econômico capitalista.

Na década de 70, o mercado de trabalho passou, então, reclamar a profissionalização dos trabalhadores para acompanhar as mutações que estavam ocorrendo no mercado do trabalho, decorrentes de transformações tecnológicas que por sua vez “permite e disponibiliza conhecimentos de forma mais ágil”, provocando assim o afastamento do ser humano do sistema de trabalho direto. Este fato aponta para as transformações no contexto de atividades técnicas.

Nesse período, o governo oferecia um apoio financeiro às empresas, fundamentado na Lei nº 6.297/75, para custear a formação profissional no local de trabalho, já que não havia esse tipo de formação nas escolas formais de educação, uma vez que encontravam-se despreparadas para oferecer contribuições

na profissionalização dos trabalhadores para que atendessem as perspectivas de desenvolvimento industrial. Sendo assim, houve uma busca de outros mecanismos, situados fora da escola formal, para formar o trabalhador viável àquele momento. A formação profissional passou a ter seu âmbito cada vez mais definido no local de trabalho ou por meio de treinamento intensivos, visando crescimento profissional para a melhoria do desenvolvimento do trabalho e da efetividade individual dos mesmos e da própria organização que era coordenado por instituições ou pela própria empresa.Entretanto, essa Lei foi vetada em 12 de abril de 1990, onde é cessada a liberação de verba às empresas.

 

O pedagogo empresarial também deve saber que o homem é um microcosmo, um ser complexo e tem consciência de que o seu desenvolvimento integral amplia a faculdade de produzir, portanto, deve demonstrar com o seu trabalho os efeitos benéficos da adoção das atividades educativas mais variadas. 

Um país jamais se desenvolverá se não tiver entre suas prioridades a educação de seu povo. Boa parte dos autores leva a crer que as mudanças ocorridas na sociedade, como, por exemplo, o advento de Novas Tecnologias e, que as mudanças ocorridas na sociedade advêm de políticas públicas voltadas à educação da população, portanto às empresas se vêm obrigadas a investirem na educação de seus funcionários, na busca da elevação da qualificação dos trabalhadores.

A preocupação da empresa naquele momento era a de ter um trabalhador que tivesse uma escolaridade básica, o conhecimento técnico da atividade que iria desenvolver e que não promovesse conflitos. Por isso, dentro da área de treinamento, existia a preocupação com a adaptação pacífica do empregado ao posto de trabalho. A partir da Lei Nº. 659/75, o pedagogo ganha espaço nas empresas, atuando na área de Desenvolvimento de Recursos Humanos especificamente em treinamento de pessoal, a fim de desenvolver ações na área de Recursos Humanos empresarial. Dessa forma, dentro do processo de treinamento estavam os cursos de relações humanas, que na maioria das vezes eram ministrados pelo pedagogo. Percebe-se então que o pedagogo torna-se responsável pela preparação e formação de mão de obra para atender as especificidades das organizações, a fim de elevar a qualidade e produtividade.

A ênfase da sua prática estava no pedagógico, no sentido de trabalhar com o processo de aprendizagem dentro dos programas de ensino formal e dos treinamentos, para atender as necessidades que a empresa tinha que possuir um trabalhador que soubesse ler, escrever, contar e ser especialista em determinada função. Essa forma de atuação atendia aos interesses do modelo produtivo com características taylorista/fordista que centrava as ações de formação na construção de um saber técnico, no saber fazer. De acordo com Taylor, o funcionário deveria apenas exercer sua função/tarefa em um menor tempo possível durante o processo produtivo, não havendo necessidade de conhecimento da forma como se chegava ao resultado final. Já para Ford o funcionário se especializava em apenas uma etapa do processo produtivo e repetia a mesma atividade durante toda a jornada de trabalho.

Na década de 70, em função de uma crescente automação do processo de trabalho, e do fato da escola formal não atender às expectativas imediatistas do mercado, a formação profissional no local de trabalho passou a ter grande ênfase, proporcionando uma grande demanda de treinamento, porém, nesse mesmo período, mas em espaços diferentes do planeta e especialmente nos países ditos desenvolvidos, observou-se um aprofundamento da automação no processo de trabalho e de novas tecnologias não apenas no interior da empresa, mas em diversos campos da sociedade, um conjunto de transformações técnicas agrupadas genericamente no conceito de Revolução Técnico-Científica, impôs uma drástica rediscussão sobre o papel do trabalhador operário e nas atividades repetitivas e alienantes, cada vez mais ocupada por máquinas e robôs, bem como pela informatização. Soma-se a isto, uma substancial valorização de características especificamente humanas na elaboração e processo de produção das mercadorias a serem oferecidas: materiais ou simbólicas.

As metamorfoses do mercado, as inovações tecnológicas, os novos perfis de trabalhador repercutiram muito na prática do pedagogo na empresa. Um fator significativo foi à suspensão da Lei nº 3297/75, em 12 de abril de 1990, eliminando o apoio financeiro do governo às empresas, o que enfraqueceu o processo de treinamentos nas organizações, e como consequência muitos centros de treinamento foram desativados. A empresa que tinham um número grande de pedagogos passou a ficar somente com o psicólogo e um pedagogo. O pedagogo, que antes se envolvia em todo o processo de treinamento, passa a ser o articulador, o que contrata e avalia o processo de treinamento, mas seriam as mudanças na forma de organização do trabalho, que exigiram desse profissional mudança no seu perfil e prática.

O pedagogo nas Organizações deve ser um profissional criativo que possua diversas habilidades, entre elas: saber trabalhar em equipe, ter espírito de liderança, saber se comunicar de forma clara e objetiva, capacidade de assumir riscos, maturidade emocional, censo ético e estético, compromisso social e, principalmente, ter sensibilidade como afirma Ribeiro, quando diz:

O Pedagogo que atua na Empresa precisa ter sensibilidade suficiente para perceber quais estratégias podem ser usadas, em que circunstâncias para que não se desperdice tempo demais aplicando numerosos métodos e com isso perca de vista os propósitos, tanto da formação quando da empresa. Ao planejar um programa de formação/treinamento a seleção de métodos obedece ao princípio do desenvolvimento concomitante de competências técnicas e de relacionamentos social (2003, P. 20).

Dessa forma percebe-se o quanto é relevante que o profissional possua sensibilidade, pois sendo assim a empresa poderá investir com mais segurança na formação/treinamento de seu funcionário para uma melhor produtividade.

Juntamente com a sensibilização e a conquista da adesão dos empregados, não apenas aos ideais da empresa, mas também aos seus ideais – e um bom pedagogo deve questionar isso aos trabalhadores individual e coletivamente – esta difícil função de potencializar todas as capacidades do indivíduo e enquadrá-las no atual modelo exigido do capital, o que não é uma tarefa muito fácil. Trabalhar a subjetividade do indivíduo, o conhecimento, as experiências que esse indivíduo tem, para que este venha a ter as competências requeridas no momento atual.

O Profissional pedagogo pode ser um bom administrador empresarial, um bom supervisor de ensino, desde que tenha o domínio de conhecimento especializados nesta área, tanto à administração empresarial como a supervisão e outros campos de trabalho contenha peculiaridades teóricas e práticas que requerem conhecimentos e habilidades às teorias de conhecimento e do desenvolvimento humano, do currículo, do processo de conhecimento, da linguagem, da didática que implicam níveis de aprofundamento teórico que o currículo de uma licenciatura não comporta. Todavia, mesmo admitindo-se que a formação do pedagogo deva incluir conhecimentos mais amplos de Sociologia, Psicologia, Organização empresarial é impossível um curso abarcar toda essa gama de conhecimentos especializados aplicados à educação empresária.

A pedagogia na empresa apresenta-se como umas das possibilidades de diversifica e/ou ampliar o leque de atuação/formação para o pedagogo.

Quem é este profissional?. O Pedagogo Empresarial.

O Pedagogo empresarial é aquele que ultrapassa os muros da escola na perspectiva de levar a educação a outros ambientes como a empresa. Atualmente, as empresas buscam mudanças nas suas culturas e dinâmicas organizacionais, nos seus departamentos e serviços e no bem estar das pessoas que fazem parte da mesma.

O pedagogo empresarial foca seus conhecimentos em duas direções: no funcionário e/ou no produto da empresa. No primeiro caso, trata-se da atuação no departamento de Recursos Humanos (RH), realizando atividades relacionadas ao treinamento/capacitação e desenvolvimento do trabalhador. O pedagogo é o responsável pela criação de projetos educacionais que visam facilitar o aprendizado dos funcionários. Já no segundo caso, o pedagogo empresarial irá atuar em empresas que trabalham com educação, como editoras, sites e organizações não-governamentais (ONG’s). Os diversos espaços de atuação do pedagogo; a busca de novos horizontes decorre de inúmeros fatores como: a situação econômica que vive a sociedade; a sociedade das mudanças, da informação e do desemprego; a sociedade da desvalorização da educação e da perda da identidade dos pedagogos.

Hoje, as empresas se preocupam não só com treinamento/capacitação, mas também com a educação. Elas perceberam que a pedagogia aumenta a eficiência e a eficácia dos programas de treinamento/capacitação, porque as pessoas aprendem melhor. Sendo assim o pedagogo, como profissional da educação está presente nestes espaços, uma vez que a pedagogia investiga as ações educativas reais e concretas que contribuem para a formação humana, num contexto histórico, social, político e cultural, a fim de criar formas de intervenções organizativas e metodológicas com o objetivo de transformar os processos educativos. Diante deste contexto a educação, que é uma realidade, vai se modificando enquanto o fenômeno de transformação sócio histórico.

Porém, não é a educação básica ou a escolarização mínima a centralidade da preocupação das empresas que se defrontam com este mercado competitivo, veloz e em mutação constante, a educação vem sofrendo transformações também em seus espaços de atuação. Deixa de ser específica de espaços escolares e passa a fazer parte de outros segmentos da sociedade como a empresa.

As empresas precisam saber agregar valores humanos e integrá-los em suas atividades.

Segundo, Chiavenato, (2004, p.18) “buscar pessoas no mercado de trabalho que tenham condições de ajudar a empresa a navegar pelas turbulências dessa nossa época”

O mesmo autor sugere que: “as organizações precisam continuamente adicionar valores ao que fazem para se tornarem produtivas e através de práticas educaticas se agreguem valores à organização, para os funcionários, para os acionistas, para o cliente e à sociedade em geral”.

O que se busca é o estímulo à cooperação, à diminuição da fragmentação do processo produtivo, ao menos para viabilizar a fluência da comunicação entre os mesmos, bem como a busca do aprimoramento constante dos serviços e produtos que oferecem que podem partir do próprio trabalhador, devidamente estimulado e com condições num ambiente de aprendizagem que a empresa tende a se transformar. Além disso, a melhoria da imagem da empresa e a satisfação de seus empregados/colaboradores, ainda que vista por um viés mercadológico – são importantes na medida em que aumentam a qualidade, a produtividade e a aceitação do produto ou serviço – já é, em si, uma mudança importante no que se refere ao trato do empregado ou, como virou moda dizer, colaborador.

 Os desafios lançados sobre o pedagogo são grandes, a empresa flexível, não o quer somente para coordenar os treinamentos, para elaborar didáticos, avaliar, ministrar cursos de relações humanas. Ela quer muito mais! Ela quer um aliado, um parceiro, um representante, alguém que lhe entenda e ajude a alcançar os seus objetivos. Alguém que forme, que “controle”, mas também que alivie as dores do trabalhador/colaborador.

A empresa “humanizada” que não está mais interessada em robôs humanos, em músculos, mas no coração, nos pensamentos, na vontade, na adesão do trabalhador. Afirma que o trabalhador é importante, que está preocupada com o bem-estar dele; que quer estar próximo de seus familiares, que são parceiros e que todos ganham. Alguém precisa convencer o trabalhador de tudo isso, um desafio difícil, porque os fatos muitas vezes contradizem o discurso. A pressão por resultados, as demissões, a queda dos salários, o controle, contradizem todo o “amor” que o patrão diz ter pelo trabalhador. O trabalhador é chamado de colaborador. Tenta-se iludi-lo afirmando que não é um subalterno, um subserviente e sim colaborador.

O desafio do pedagogo não pode se restringir à atuação nesse campo ideológico, com um discurso que busca convencer o trabalhador dos desígnios do mercado, que o desemprego é uma realidade natural e se não tiver esforço para o enquadramento muitos candidatos estão esperando para substituí-lo, a política salarial é essa, os salários estão diminuindo, todos precisam se adaptar ao perfil caso não queiram ser excluídos do mercado. Isto são obviedades que todos mais ou menos têm consciência, ainda que não possam ou não queiram buscar qualificações mais densas. A ação do pedagogo é mais complexa, precisa centrar-se na relação entre empresa e trabalhador a partir de uma perspectiva de espaço aprendente, ou seja, sensibilizar patrões e empregados da importância de se ter o trabalhador integralmente, totalmente envolvido com a organização da empresa, consciente de seu papel tanto no desenvolvimento da produtividade, quanto no seu próprio desenvolvimento enquanto ser humano, longe de ser uma posição subserviente, deve ser uma posição crítica e cooperativa.

Realmente parece que o encargo do pedagogo em empresa é árduo, pela responsabilidade em “formar” e “desenvolver” o trabalhador dentro das perspectivas do mercado atual, de ser mediador, de minimizar conflitos, em um momento extremamente complexo em que agudas crises atingem o mundo do trabalho.

Um momento em que o trabalhador se vê sendo substituído pela máquina, tendo que mudar sua forma de ser, tendo que flexibilizar a sua vida, correr riscos, tendo que lutar pela sobrevivência de forma solitária, pois como coloca Antunes (1999), as transformações e a crise atingiram diretamente a subjetividade de trabalhador, sua consciência de classe, afetando seus organismos de representação dos quais os sindicatos e os partidos são expressão.

No quadro atual, os trabalhadores, enquanto categoria,estão sem forças, sem voz, os sindicatos recuam cada vez mais do ideário socialista, das lutas por benefícios, por conquistas financeiras e sociais em prol do trabalhador, assumindo, segundo Antunes (1999), uma posição defensiva, lutando para manter o mais elementar e defensivo dos direitos da classe trabalhadora, o direito ao trabalho, ao emprego.

O desafio é muito maior para o pedagogo, consciente, aquele que percebe a contradição, que enxerga as artimanhas do capital, o caráter excludente e, às vezes, até cruel, das exigências lançadas sobre os trabalhadores. E, na maioria das vezes, sua atuação precisa se restringir a reforçar, acomodar e a solidificar as propostas do capital.

Acreditamos que, mais do que nunca, é importante pensar nesse profissional, que de certa forma, foi ignorado, poderíamos até dizer, discriminado. A preocupação com o profissional pedagogo, de uma forma geral, sempre foi remetidas às questões de âmbito escolar, sejam técnicas ou pedagógicas.

Mas a indiferença diante dessa prática, nos dias atuais, é impossível. Na chamada sociedade do conhecimento (DRUCKER, 1997), da tecnologia da informação, das organizações da aprendizagem (SENGE, 1990), as ações educativas se tornam cada vez mais necessárias e valorizadas. E o pedagogo poderá ser cada vez mais requisitado para atuar nas várias esferas do mundo empresarial, ainda que essa requisição vise à conformação às novas exigências do capital. Assim como o Psicólogo e o Assistente Social, enquanto categorias profissionais, vem buscando outras possibilidades como alternativas de desvencilhamento do determinismo histórico que marca suas profissões, de construção de novos referencias e novas práticas na defesa do trabalhador, o pedagogo parece também poder, a partir de dados objetivos sobre a sua prática, discutir os limites e possibilidades de uma ação concreta que esteja voltada não apenas para atendimento das necessidades do “patrão”, e não dos companheiros de classe.

O pedagogo promove nas empresas ações onde a RH se vê como fio condutor que predomina ao uso criativo da energia humana e ao envolvimento das pessoas na canalização e aproveitamento dessa energia.

Pensamos que as alternativas para construção de novas práticas e novas consciências profissionais passam primordialmente por uma boa formação, uma formação que contemple de uma forma criteriosa os fundamentos históricos, psicológicos, sociológicos e pedagógicos, com discussão crítica sobre as relações de trabalho e esclarecimentos sobre as possibilidades que a profissão do pedagogo representa na sociedade atual.

Vemos como desafio do pedagogo empresarial, o desenvolvimento de ações, no sentido de elaborar, criar, formar e concretizar projetos que atinjam os mais variados ambientes empresariais e os mais variados interesses dentro de tais ambientes, e não apenas um.

O pedagogo empresarial tem como função desenvolver e coordenar projetos educacionais que serão utilizados em treinamento/capacitação de pessoas além de elaborar programas de avaliação de desempenho profissional, analisar e relacionar cursos e projetos a serem adotados pela empresa, bem como trabalhar a cultura empresarial (filosofia, missão, visão, valores e reconhecimentos) visando alcançar resultados satisfatórios à empresa.

Logicamente que, a partir destas possibilidades, ele pode auxiliar os que atuam nas empresas, estimulando-os a trabalhar com prazer dentro da instituição a que pertencem. O Pedagogo Empresarial tem a possibilidade de observar tarefas, organizar seus ambientes, perseguir objetivos, planejá-los, e de estimular políticas e programas de RH que respondam às necessidades dos empregados, para que a empresa se mantenha atualizada em procedimentos de capitalização e retenção do capital intelectual, até mesmo reconstruí-los diante das necessidades e adversidades dos climas organizacionais.

Vemos como limitação de um trabalho humanizador em uma empresa, a resistência de adaptação para uma nova postura empresarial mais humana, já que, dependendo da mudança, haverá uma ação, seja ela criativa ou não. Quando existe um problema dentro de algumas empresas, em sua maioria é resolvido com números, existem respostas prontas, para diferentes níveis hierárquicos. Esta hierarquia provoca, muitas vezes, a postura sintetizada na frase: “Não é minha responsabilidade”. Ou seja, explicitamente, podemos entender que não há responsabilidade, nem questionamento de ações e reações que causam à instituição, além de “moldar” ou padronizar ambientes e colaboradores, com resultados planejados, reproduzindo constantemente os mesmos resultados, logo, humanizar um contexto não é tarefa fácil. O pedagogo empresarial vai ter este trabalho pela frente: A visão mecanicista desumaniza o colaborador, logo, o Pedagogo Empresarial tem como desafio reverter esta situação, eliminando a visão fragmentada da empresa, desenvolvendo as potencialidades de cada um, favorecendo a comunicação e a melhoria destes ambientes. As pessoas deixam de ser o problema da organização para ser a solução de seus problemas, deixam de ser o desafio tradicional para tornarem-se a vantagem competitiva da organização que sabe como lidar com eles.

Este sujeito, o Pedagogo Empresarial, não poderá perder de vista, neste processo, sua dimensão enquanto agente político de transformação, só dessa forma também dará condições para que os trabalhadores se pensarem como agentes de transformação – de suas vidas dentro e fora de empresa – mediante mecanismos e concepções que de base para este movimento de transformação, que não será controlada pelo Pedagogo Empresarial, mas viabilizada por seu trabalho conjunto com os outros sujeitos do processo educativo, haja vista que o relacionamento interpessoal é a interação de duas ou mais pessoas e está diretamente ligado a forma como cada uma percebe ou sente a outra e, que no ambiente de trabalho é importante manter contato saudáveis, que gerem sentimentos positivos, facilitando não só a harmonia entre as pessoas, como também a produtividade e a eficácia. Quando duas ou mais pessoas estão unidas, harmonicamente, nasce uma força maior que é o espírito de equipe. É preciso existir o mínimo de afetividade para que exista a amizade que pressupõe se respeito, solidariedade e lealdade. Por isso, é preciso haver um mínimo de amizade para que haja plena integração, respeito e ética profissional, um valorizando o trabalho do outro.

O pedagogo é um agente transformador de realidades truncadas, a partir de uma visão crítica, influindo para um contexto de demandas da sociedade contemporânea, marcada pela mundialização (globalização) competitiva e ampliada, que exige cada vez mais profissionais competentes e pela necessidade de uma gestão coerente e racional, porém eficaz para cada empresa.

O pedagogo torna-se responsável pela preparação/formação de mão de obra, para atendimento das especificidades da organização elevando a qualidade e produtividade organizacionais, enquanto agente de transformação, ele, está, incluído nesta dinâmica quando utiliza a educação à valorização do ser humano na empresa.

Desenvolver esta prática na empresa exige atores sociais motivados. A motivação empreendedora se consegue através de relações interpessoais extrínsecas e intrínsecas. Sendo assim, entendemos que as empresas precisam urgentemente, possuir no seu Departamento de Recursos Humanos esta profissional que através da educação, contribuirá para mais produtividade na empresa. Partindo de que a educação não acontece somente nas escolas, vê contribuição LBD nº 9.394/96, artigo 1º, mas em lugar onde exista o ser humano.

Nos momentos finais deste estudo cabe-nos questionar: Estaria esse profissional falado somente ao papel de “servo” do capital? Talvez os pedagogos possam, no espaço da contradição, exercer também as possibilidades. Não sabemos exatamente quais são essas possibilidades que deverão ser construídas.

Através da análise de diversos autores que abordam a temática pesquisada, podemos perceber que é possível o pedagogo desenvolver, na empresa, no hospital, no cárcere, um trabalho produtivo junto aos funcionários, porém há necessidade dos cursos de graduação em Pedagogia redimensionar seu currículo para este novo campo de atuação do Pedagogo, o que já se percebe no Desenho Curricular do Curso de Pedagogia da Escola Superior Madre Celeste - ESMAC.

Nas organizações atuais as palavras de ordem são: mudanças e gestão do conhecimento. Diante desta realidade a participação do pedagogo é de fundamental importância, pois todo processo de mudança requer uma ação educacional e produzir o conhecimento, em espaços não escolares, é uma tarefa, antes de tudo, de mudança de valores, isto é, de cultura organizacional.

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