PSICOPEDAGOGIA E SUPERVISÃO ESCOLAR

 

 

 

JAMAR DE OLIVEIRA MELO

 

                                                                      

 

 

 

O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR: FRENTE À DIFICULDADE NO APRENDIZADO DE CRIANÇAS COM AUTISMO

 

 

 

 

 

 

 

 

                                       

SANTO ANTÔNIO DE JESUS

2020.

O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR: FRENTE À DIFICULDADE NO APRENDIZADO DE CRIANÇAS COM AUTISMO

 

Autor[1], Jamar de Oliveira Melo 

Declaro que sou autor (a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.

Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

 

RESUMO

O papel do supervisor escolar junto à dificuldade encontrada na inclusão da criança com autismo em escolas de ensino regular tem sido bastante discutida no âmbito educacional devido à complexidade das características e dificuldades apresentadas por elas, quando inseridas na escola. Recaímos sobre o papel da supervisão escolar, visto que ele é o principal responsável e mediador do ensino-aprendizagem entre professores e alunos. Nesse sentido, o presente artigo foi de apresentar como problemática: Qual o papel do supervisor escolar: frente à dificuldade no aprendizado de crianças com autismo? Com base nessa problemática, o artigo tem como objetivo investigar o papel do supervisor escolar frente à dificuldade no aprendizado de crianças com autismo na rede regular de ensino e de apresentar quais seriam seus direitos diante da lei que o assegura. Para o referencial teórico contou-se com a contribuição de alguns pesquisadores, como: Órru (2003), Mello (2004), Galdino (2011), Melo, Lira e Facion (2008), Mousinho et al (2010), Lopez (2011). Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo explicativa, de uma forma geral, os resultados indicaram a necessidade do supervisor escolar estar preparado para a inclusão escolar desses alunos, ou seja, inserir metodologias de ensino diferenciadas e voltadas para o atendimento dos alunos com autismo. As pesquisas indicaram, ainda, a importância de se estabelecer uma boa relação entre o professor e o aluno com autismo no sentido de garantir sua permanência e aprendizagem. Portanto, a relação do Supervisor, suas orientações junto aos professores que atendem à alunos com autismo, contribuem valorosamente para sua adaptação, inclusão e processos evolutivos de aprendizagens no ambiente escolar.

 

PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Supervisor Escolar. Inclusão. Aprendizado.

 

  1. INTRODUÇÃO   

.           Este trabalho tem por objetivo ressaltar o papel do supervisor escolar frente à dificuldade de criança com autismo. Os aspectos metodológicos utilizados para dar sustentabilidade na realização deste trabalho foram realizados análises e estudos bibliográficos. Pois a busca por uma educação igualitária é tema recorrente no atual contexto educacional, principalmente quando se refere à inclusão de crianças com deficiência em escolas de ensino regular. Apesar da ampla discussão em torno dessa temática, ainda há uma série de limitações quanto à prática da inclusão e o papel do supervisor escolar, para que o mesmo esteja preparado para lidar com as dificuldades provindas do ensino voltado para a criança com autismo.

Quando se fala em crianças com autismo na escola se ensino regular, deve-se pensar também em todo o corpo de supervisão para poder fazer essa interação dentro da escola e preparar os professores para lidar com determinadas situações e especificidades dessas crianças especiais, sem fazer distinção, comparação ou até a exclusão dos mesmos. Diante disso, este artigo apresenta como problemática: Qual o papel do supervisor escolar: frente à dificuldade no aprendizado de crianças com autismo? Neste trabalho, o supervisor é visto como mediador no processo inclusivo do aluno, e, deve dar um suporte ao professor, ou seja, é ele que vai promover o contato inicial da criança com a sala de aula e será o responsável por incluí-lo nas atividades com toda a turma. Com base nessa problemática, o presente artigo tem como objetivo investigar o papel do supervisor escolar: frente à dificuldade no aprendizado de crianças com autismo na rede regular de ensino.

Para o referencial teórico foram realizadas pesquisas de estudo com alguns pesquisadores que vem desenvolvendo estudos pertinentes à temática como:  Órru (2003), Mello (2004), Galdino (2011), Melo; Lira; Facion (2008), Mousinho et al (2010), Lopez (2011).

O termo Autismo é de origem grega que significa “próprio” ou de “de si mesmo”, e, é utilizado para denominar comportamentos humanos voltados para o próprio indivíduo. Praça (2011, p.25) elucida que a criança com autismo:

[…] permanece em seu mundo interior como um meio de fugir dos estímulos que a cerca no mundo externo. Outro motivo para o autista permanecer em seu universo interior é o fato de que, em geral, o autista sente dificuldade em se relacionar e em se comunicar com outras pessoas uma vez que ele não usa a fala como meio de comunicação. Não se comunicando com outras pessoas acaba passando a impressão de que a pessoa autista vive sempre em um mundo próprio, criado por ela e que não se interage fora dele.

Em 1906, o termo autismo foi utilizado pela primeira vez na literatura psiquiátrica, porém só passou a ser reconhecido no ano de 1912, quando Eugene Bleuler, utilizou para descrever um sintoma de esquizofrenia, o qual definiu como sendo uma ‘’fuga da realidade’’ onde a criança parecia optar por não interagir com outras pessoas. Algum tempo depois essa palavra foi utilizada por dois psiquiatras: Léo Kanner e Hans Asperger para dar nomes aos sintomas diagnosticados em seus pacientes.

No entanto, ficou provado que esses pacientes apresentavam apenas uma das manifestações do autismo, que os sintomas são distintos em cada paciente e que podem apresentar intensidades maiores e menores, onde o paciente pode apresentar sinais de deficiência mental ou pode viver aparentemente uma vida próxima do normal.

Baseando-se em aspectos históricos do autismo, Klin (2007) afirma que em 1943, Leo Kanner tinha descrito 11 casos denominados por ele de distúrbios autísticos do contato afetivo e percebeu que havia nestes casos uma “incapacidade de relacionar-se” de formas usuais com as pessoas desde o início da vida.

Considerando o estudo feito através dessas 11 crianças diagnosticadas com esquizofrenia, Kanner observou o autismo como a característica mais acentuada, chegou a afirmar que o autismo era inato, pelo fato de suas características se mostrarem precocemente, antes mesmo da criança completar três anos. Porém ao longo de seu estudo e ao ter mais contato com seus pacientes e os pais, percebeu uma relação de frieza afetiva que os pais mantinham com os filhos e que poderia ter ocasionado em comportamentos hostis que se desenvolveram inconscientemente nas crianças.

Alguns pesquisadores afirmam que é possível o diagnóstico feito ainda no primeiro ano ou antes de dois anos de idade, e há a indicação de programas para a intervenção precoce e amplas pesquisas buscando as causas, os bi marcadores e as possibilidades terapêuticas que possam melhorar o prognóstico e até mesmo apontar para uma melhora substancial dos sintomas do autismo.

De maneira geral, as desordens de espectro autista, que englobam uma grande variedade de comportamentos e problemas sob o ponto de vista clínico, podem ser divididas em três ‘tipos’. Obviamente, essa divisão é artificial e abarca em si outras muitas pequenas variações.

  1.  Síndrome de Asperger. Descrita pela primeira vez pelo pediatra austríaco Hans Asperger (1906-1980), é considerada uma forma de autismo mais branda. Seus portadores apresentam os três sintomas básicos (dificuldade de interação social, de comunicação e comportamentos repetitivos), mas suas capacidades cognitivas e de linguagem são relativamente preservadas. Na verdade, alguns até mesmo apresentam níveis de QI acima da média, motivo pelo qual a criança portadora da síndrome de Asperger é comumente representada como um pequeno gênio que descobre códigos e resolve enigmas. Os portadores dessa síndrome representam cerca de 20% a 30% dos pacientes de desordens do espectro autista..

 

  1.  Autismo ‘clássico’. É o tipo descrito pelo médico austríaco radicado nos Estados Unidos Leo Kanner (1894- 1981). Kanner foi o primeiro a utilizar a nomenclatura “autismo infantil precoce”, em um relatório de 1943, no qual descrevia 11 crianças com comportamentos muito semelhantes. O médico utilizou expressões como ‘solidão autística’ e ‘insistência na mesmice, que hoje são sintomas ainda tipicamente encontrados em pessoas autistas. Os portadores desse ‘autismo clássico’ têm comprometimento das capacidades cognitivas que varia de moderado a grave, além da dificuldade de interação social e comunicação e do comportamento repetitivo.

 

  1. Autistas do tipo regressivo. Essa variação no espectro de desordens autistas inclui aqueles que se desenvolvem normalmente até aproximadamente 1 ano e meio, e em seguida, até os 3 anos, sofrem regressão da linguagem e do comportamento, tornando-se autistas.

 

Há mais de 70 anos cientistas de todo mundo se dedicam a estudar aquela que é uma das mais enigmáticas desordens neurológicas: o autismo. Embora muitos avanços tenham sido feitos na área clínica, os mecanismos moleculares, genéticos e neurobiológicos desse distúrbio permanecem em grande parte desconhecidos. Novos estudos, entretanto, parecem dar esperança para se recomendar tratamentos e medicamentos mais eficazes em um futuro próximo. Galdino (2011) assegura que o autismo diferente de muitas outras doenças ou distúrbios, traz consigo muita complexidade, pois, quase nada se sabe sobre suas causas Ele é determinado apenas, por conta de mínimos sintomas e características que vão surgindo ao longo do tempo.

O trabalho se justifica pela importância do acompanhamento dessas crianças juntamente com uma equipe multiprofissional fazendo todo o acompanhamento para até mesmo verificar os tipos de autismo, e se necessário intervir pedagogicamente de forma mais assertiva no seu desenvolvimento e aprendizagem, além do tratamento médico, psicológico e psicopedagógico. 

  2. METODOLOGIA

           O presente estudo foi elaborado por meio de uma pesquisa do método qualitativa, onde definiu-se a estratégia de “Pesquisa explicativa” como a melhor opção para este estudo. O autor Gil (2012) menciona que este tipo de pesquisa, a explicativa, precisa ser elaborada buscando identificar os fatores que sejam mais determinantes na contribuição da ocorrência dos fenômenos.

Nesse sentido, segundo Gil (2012) a pesquisa explicativa possui como objetivo fundamental o aprofundamento em relação aos conhecimentos da realidade, de forma a trazer uma possível explicação os acontecimentos com base na razão e do por que dos fenômenos. O método pretende ainda identificar os reais motivos que contribuem de forma mais expressiva para o acontecimento de um determinado fenômeno. A pesquisa explicativa ainda pode ser enquadrada ou apenas percebida, como, sendo uma extensão da pesquisa exploratória ou da pesquisa descritiva (GIL, 2012).

Na maioria das vezes as pesquisas são realizadas em situações de déficit de informações em uma empresa ou campo de trabalho, ou ainda que estas informações, mesmo que existam, sejam insuficientes. Portanto, com a pesquisa pretende-se chegar até as respostas aos respectivos problemas identificados na pesquisa (GIL, 2012).

Dessa forma, para que seja realizado um estudo científico, é preciso que se realize uma pesquisa. Portanto, geralmente esta pesquisa é realizada em etapa anterior ao estudo, sendo comumente utilizada por meio de uma ‘pesquisa do tipo bibliográfica’.

(CERVO; BERVIAN, 2007). Com a realização deste referencial teórico, o autor consegue desenvolver uma fundamentação teórica sobre o assunto proposto, levando-se em consideração para isso, as ideias e conclusões de outros autores, devidamente referenciados para embasar o seu estudo e ajudar na discussão dos seus próprios resultados (GIL, 2012).

Portanto, o presente estudo irá apresentar um referencial teórico que foi constituído a partir de consultas bibliográficas que foram realizadas durante o desenvolvimento do estudo, sendo realizado principalmente através de leituras e consultas em trabalhos acadêmicos, normas regulamentadoras para definição dos conceitos e textos científicos oriundos do Scielo, Portal da Capes, Google Acadêmico, dentre outros. Ainda, foram feitas algumas leituras em livros impressos, jornais e revistas que estão à disposição em bibliotecas.

 

3. papel da supervisão no acolhimento aos alunos com autismo

           O papel do supervisor escolar desenvolve-se tanto na unidade escolar, articulando, acompanhando e orientando as atividades educativas de integrantes da equipe de trabalho escolar, principalmente a do professor, ou seja, atua na coordenação pedagógica da escola. Como, no âmbito de sistema de ensino, modalidade em que a supervisão escolar articula, acompanha, orienta ou assessora as organizações escolares que integram os órgãos gestores da educação, atuando na implementação das políticas educacionais no espaço interescolar desse sistema.

 

               Para isso, é importante que o supervisor escolar tenha conhecimento de como está à qualidade de ensino oferecido pelas escolas, qual o grau de aprendizado dos alunos autistas, e como está o planejamento dos professores e utilização das atividades propostas por eles. Para desenvolver as atividades dentro da sala de aula, ou seja, fazer uma avaliação educacional das turmas, percebendo as deficiências e buscando compreender o que leva a classe a ter déficits de aprendizado.

 

               Para iniciar o trabalho de acolhimento educacional a essas crianças com a síndrome, a supervisão precisa de um diagnóstico aproximado da situação para poder conduzir da melhor forma possível, e até mesmo orientar os professores em sala de aula de como se portar diante de determinadas situações. É fundamental que a criança portadora, no ato da matricula, os pais já tenham esse conhecimento e diagnostico já confirmado, apresente o grau de autismo, onde/como era a classe que frequentava, como os pais lidam com esse diagnóstico e se o aluno já possuía acompanhamento de especialistas, etc.

               É preciso ter uma conversa com os pais, escola anterior, se necessário, com o especialista que o acompanha o aluno. No caso do aluno, realização de um teste educacional, respeitando os limites de sua síndrome, a fim de diagnosticar o grau de aprendizado. Com pais, escola e especialista, investigar o comportamento que o aluno vinha tendo em sala, em casa, com as pessoas e qual a evolução do tratamento, se este já ter sido iniciado.

               Após ter conhecimento do grau de aprendizado do aluno, como é o suporte dentro e fora de casa, é preciso inseri-lo na classe destinada à sua idade. Nutrido de um professor responsável pelo seu acompanhamento diário (o que é obrigatório por lei). Este profissional deve ser especializado na área, paciencioso e ter um breve conhecimento de como está o aluno educacionalmente. É ele que fará o trabalho do professor da turma, mas com direcionamento ao autista.

               É necessário que tanto o professor responsável pela turma quanto o professor acompanhante, estejam preparados para receber o aluno. Terem conhecimento do grau de aprendizado dele e da síndrome. Que os professores procurem informações e busquem um maior entendimento sobre a síndrome, isso ajudará para possíveis problemas e dúvidas futuras e este auxílio e apoio será fornecido pela supervisão escolar.

               Reiterando, é necessário ter o suporte e acompanhamento de um profissional responsável somente por este aluno, se este profissional estiver acompanhando-o será mais fácil seu controle em sala. Com ele por perto, as crianças poderão se aproximar e criar vínculos de amizade com o aluno.


 

4. INCLUSÃO DOS ALUNOS COM TRANSTORNO SPECTRO AUTISTA NAS ESCOLAS

A inclusão nas escolas de ensino regular pode ser útil tanto para os alunos com necessidades educacionais especiais quanto, para os ditos “normais”, desde os alunos até o corpo docente e administrativo da escola, pois a mesma traz consigo o resgate dos valores e o respeito pela diferença. Como Carvalho (1999) afirma que, a inclusão traz benefício a todos, pois podem desenvolver solidariedade, respeito às diferenças e cooperação uns para com os outros.

Logo, a inclusão dos autistas nas escolas regulares é necessária, pois desperta nos educandos atitudes de solidariedade, pois tal “acordar” começa na escola, onde o indivíduo é orientado a trabalhar suas atitudes diante da sociedade.

Incluir não é só integrar [...] Não é estar dentro de uma sala onde a inexistência de consciencialização de valores e a aceitação não existem. É aceitar integralmente e incondicionalmente as diferenças de todos, em uma valorização do ser enquanto semelhante a nós com igualdade de direitos e oportunidades. É mais do que desenvolver comportamentos, é uma questão de consciencialização e de atitudes (CAVACO, 2014, p. 31).

              

               Atualmente os pais procuram os direitos de inclusão dos filhos nas escolas, mas não compreendem como é aterrorizante para um aluno com síndrome de autismo estar em uma sala cheia, com barulhos e inúmeras crianças. Seu mundo paralelo não lhe permite vivenciar coisas que os outros alunos vivenciam com facilidade, muitos não gostam de aproximação, do toque, porque não sabem se tratar de um carinho, então agride. Os pais também não entendem que seu filho durante o aprendizado não consegue acompanhar os demais colegas, seu processo é mais lento, que é preciso uma atenção redobrada em casa e na escola. Claro que existem casos de autistas que sobressaíram a essas expectativas, mas dependendo do grau da síndrome pouco se pode fazer. A escola acaba por aceitar a inclusão de alunos com síndrome, pois eles são amparados pela lei. Porém no dia a dia vemos a dificuldade para eles acompanharem o desempenho dos demais alunos nas classes regulares.

               Uma solução, talvez fosse existir uma classe voltada para o aprendizado de alunos com síndrome, especializado e com atividades para um desempenho mais eficaz na educação. Nos dias de hoje requer muita coragem e amor, há a falta de auxílio dos governos, estrutura e interesse dos pais e de muitos profissionais. Mas é necessário continuar acreditando que é o olhar de cada um e a maneira de lidar com as situações em sala que mudam o destino de uma criança. Cabe aos educadores alimentar um dom especial e importante, cada criança que passa por um professor (a) pode ou não escolher um caminho brilhante. Mas é fato que são motivados e incentivados para o seu desenvolvimento e autonomia no convívio social.

               Por isso, é de extrema importância que a supervisão juntamente com o seu corpo de professores, tenha uma máxima atenção no planejamento das aulas, ou seja, pensar estratégias para que esta criança perceba que faz parte daquele universo (sala de aula), que também é aluno da professora, que pertence à sua turma e que a professora olhe para esta criança como SEU aluno. Uma sugestão é identificar uma potencialidade, e/ou de que forma interage com o meio (sentidos), e/ou um campo de interesse da criança e, repensar o planejamento da professora para que pelo menos uma atividade no dia envolva todas as crianças e seja voltada para a construção do sentimento de pertencimento ao grupo, contribuindo para que ele vá, progressivamente, permanecendo mais em sala de aula e tenha mais atenção no que é proposto como nos exemplos descritos abaixo: 

  • Se a criança tem um personagem preferido: música, contação de história, dramatização, mímica que envolva este personagem, sempre utilizando vozes, sonoplastias, suspense, máscaras, fantasias, dedoches, fantoches, expressões faciais “exageradas”, movimentos corporais, sombras, cores, odores, contato físico – tocar, estimular a criança a repetir algo, como uma palavra chave da história – entre outros.
  • Se a criança é mais ativa, com interesse em brincadeiras físicas: atividades que envolvam o rolar, pular, correr, cair, balançar, circuitos, corda, bambolê, bolas de sabão, ser puxado sobre um colchonete, jogar objeto para cima e vê-los cair, entre outros. Essas atividades poderiam estar contextualizadas com uma canção, brincadeira de roda, um personagem, história.

É válido lembrar que essas ações deverão ser breves, podendo começar com 5 minutos e ir ampliando aos poucos e o professor definirá quais recursos utilizará conforme seu modo de aprender (visual, auditivo, cinestésico…). Pode acontecer que durante a história, por exemplo, a criança fique andando ou tentando sair da sala. Nesse momento, sempre a chame para ela vir ao grupo ou use de algum instrumento como alterar a voz, para chamar atenção. Os colegas da turma também são um grande aliado nessa mediação.

Segundo Goméz e Terán (2014, p.480) são, “interação social limitada, problemas com a comunicação verbal e não verbal e com a imaginação, atividades e interesses limitados ou pouco usuais. Podem ter dificuldades em manter uma conversação ou olhar alguém diretamente nos olhos”.

               Portanto se o trabalho do docente é feito com todo amor, com persistência, observando que, muitas serão as dificuldades, e crianças com todos os níveis de dificuldade existirão, mas o professor bem orientado em suas práticas por um Supervisor sensível e comprometido com a qualidade da aprendizagem poderá fazer toda a diferença na vida dessas crianças que em resumo apresentarão dificuldade de interação social, dificuldade na comunicação, presença de comportamentos repetitivos e não funcionais e em graus de severidade variável.


 

               5. DIREITOS DOS ALUNOS COM TRANSTORNO ESPECTRO AUTISTAS

Atualmente no contexto jurídico brasileiro os autistas possuem direitos e garantias regulamentados. Entretanto, a luta para a conquista de regulamentação específica não foi imediata, em razão do fato de falta de informação sobre o assunto. Os familiares destes portadores conviviam com problemas sérios na patologia de suas crianças, pois diversas vezes o comportamento demonstrado era considerado como normal ou até mesmo equiparado a esquizofrenia ou outro distúrbio psiquiátrico (CAMINHA et al, 2016, p. 13).

Vale destacar a luta do pai Nilton Salvador, que foi um dos precursores na divulgação do autismo através da publicação de livros, artigos e com a realização de palestras, e Paiva Jr, editor da Revista Autismo, primeira revista em língua portuguesa sobre TEA (CAMINHA et al, 2016, p. 13).

Dessa forma, a luta pela conquista de direitos vem desde muito cedo quando os pais, familiares, amigos ou a coletividade buscavam amparo na legislação uma garantia de tratamento especializado por força dos riscos de sérios danos ao não procedimento adequado, de modo que, resguardasse plenitude da criança.

De acordo com Caminha et al (2016) a APADEM teve extrema relevância para a conquista da divulgação e informação dos autistas e deficientes. Sua criação foi em 19 de junho de 1999 tendo como pilar a aspiração das genitoras para lutar por seus filhos.

Esta entidade foi planejada e organizada para trabalhar em defesa dos direitos da pessoa com autismo. Estabeleceu-se sua missão: divulgar o autismo, apoiar e orientar as famílias do autista e defender seus direitos de cidadão. Dedicação e perseverança norteiam suas ações em busca das mudanças daquilo que conhecem para aquilo que sonham. E assim vem obtendo conquistas e algumas derrotas. Trabalhar dentro dos preceitos éticos e legais de uma associação de pais que procura novos rumos e um “novo jeito de caminhar”, sempre que necessário.

A principal tarefa da APADEM: mostrar a todos que o autista e sua família podem construir uma vida significativa e que todo relacionamento deve se basear no respeito às diferenças e não na transformação do outro naquilo que ele nunca poderá ser. A APADEM, através de um trabalho diversificado em várias áreas, mostra aos pais que é preciso amar e defender seus filhos pelo simples fato de terem sido escolhidos a vir e permanecer nesse mundo ao nosso seu lado. Portanto, é sua responsabilidade promover e mobilizar toda a sociedade e o Poder Público para esta realidade. Do esforço conjunto, baseado em necessidades comuns, poderemos alcançar resultados mais rápidos e efetivos na conquista de serviços de atendimento para os autistas (CAMINHA et al, 2016, p. 13 e 14).

Nessa luta o Senador Paulo Paim conseguiu aprovação do projeto de Lei de nº 12.764 de 2012, conhecido popularmente como lei Berenice Piana.

Art. 1º  Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua consecução.

1º Para os efeitos desta Lei é considerada pessoa com transtorno do espectro autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada na forma dos seguintes incisos I ou II:

I – deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;

II – padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos.

Pelo mencionado nos incisos, portanto, se tratado de uma conduta atípica da sociedade que atingem de forma elevada o convívio do portador porque essas características citadas no §1º da Lei nº 12.764/12 demonstram que os mesmos não possuem uma reciprocidade sócio emocional comparado ao restante da população, não interagem com facilidade, tem dificuldades comunicativas para adentrar no âmbito social em diversas áreas, até mesmo a mais simples que seja é uma luta constante para eles.

Portanto, os autistas são considerados pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais, deste modo, percebe-se que possuem todas as garantias legais em equiparação com outros deficientes conforme a Lei de nº 13.146 de 2015

 

              


 

               7. CONSIDERAÇÕES FINAIS


 

               Verificou-se que diante do que foi estudado e analisado, compreendemos que é importante tornar acessível à entrada e permanência de crianças com autismo em escolas de ensino regular, no entanto, não é uma tarefa fácil tornar uma escola inclusiva, pois não se pode falar sobre inclusão sem fazer referência ao processo de ensino-aprendizagem, já que a inclusão tem o intuito de prover as mesmas condições a todos os alunos, visando o desenvolvimento e aprendizagem dos mesmos, nesse aspecto é necessário que o supervisor, o professor, o quadro administrativo, os pais e toda a comunidade escolar trabalhem juntos para tornar isso uma realidade na prática.


 

Logo, o supervisor exerce um papel fundamental nesse processo de inclusão, pois ele saberá dialogar, argumentar e conversar com os professores sobre as melhores práticas a serem realizadas em sala de aula para acolher e ajudar na permanência desses alunos, considerando suas especificidades de acordo com o grau de seu aspecto autista (se leve, moderado ou severo) previamente descrito em relatório médico, para orientar corretamente o professor acompanhante e o professor regular da turma na condução de técnicas e processos didáticos mais assertivos para cada aluno.

               Para isso, o Supervisor deve direcionar a sua prática e estudos voltados sempre para a qualidade do ensino, no atendimento às expectativas de seu público alvo (alunos, pais, professores e sociedade), norteando a prática docente, reformulando constantemente os seus saberes, promovendo sempre a formação continuada voltada a inclusão e práticas de sucesso para seu corpo de professores, promovendo um ambiente democrático e de aprendizagem significativa para todos.


 

               Por fim, diante da complexidade e importância do tema, bem como, das limitações da presente pesquisa, sugere-se a continuidade nos estudos sobre o tema, com desenvolvimento de trabalhos futuros que proporcionem uma maior contextualização, de forma a contribuir com o meio acadêmico e profissional da área.


 


 

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