PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais

Curso de Ciências Contábeis

 

                                                                                                        

 

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho Interdisciplinar

“O papel da contabilidade e a atuação do Contador na gestão de Agremiações Esportivas”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Belo Horizonte

2017

 

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho Interdisciplinar

“O papel da contabilidade e a atuação do Contador na gestão de Agremiações Esportivas”

 

 

 

 

 

Trabalho Interdisciplinar apresentado ao curso de Ciências Contábeis do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

 

Professor Marcelo Nascimento Soares

Professora Fatima Maria Penido Drumond

Professora Simone Von Rondon

Professor Denise Pimenta Nacle Silva

Professor Tereza Cristina Peixoto

Professora Adalberto Gonçalves Pereira

Professora Yonne de Souza Grossi

 

 

 

 

 

 

 

 

Belo Horizonte

2017

SUMÁRIO

 

1 INTRODUÇÃO.. 3

 

2 REFERENCIAL TÉORICO.. 4

2.1 História do Futebol 4

2.2 Definições de Contabilidade Esportiva. 6

2.3 Agremiações Esportivas. 6

2.4 Éticas profissionais do contador nas agremiações 7

2.5 Seguros feitos pelas agremiações. 7

2.6 Registros contábeis nas entidades desportivas. 8

2.7 Legislação aplicada as entidades desportivas. 9

2.8 O endividamento dos clubes brasileiros. 10

2.9 Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) 12

 

3 ESTUDO DE CASO.. 12

3.1 O escândalo de corrupção da FIFA.. 12

 

4 DISCUSSÃO INTERGRUPAL..........................................................................................14

 

5 CONCLUSÃO.. ..15

 

ANEXOS..................................................................................................................................17

 

REFERÊNCIAS. 17

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O futebol é um esporte de grande influência e admiração no Brasil e no mundo. O seu crescimento e desenvolvimento fizeram com que se tornasse uma área de negócios. Tal esporte, devido sua evolução, garantiu mais importância econômica e social para as agremiações esportivas de futebol. Com isso, a Contabilidade passa a ter espaço e importância dentro da gestão dos clubes. Silva, Teixeira e Niyama (2009, p. 1) confirmam essa ideia dizendo que a importância da contabilidade nas agremiações se confirma pelo fato das discussões mais recentes envolvendo os clubes terem como tema viabilidade financeira, falta de controle das finanças e altos endividamentos.

A partir desses problemas relatados em discussões, o contexto atual enfrentado pelas agremiações esportivas, no que diz respeito a situações contábeis, é marcado por grandes endividamentos dos clubes, escândalos de corrupção e diversas movimentações de valores extremamente altos, o que mostra uma gestão fraca e de má qualidade dentro das agremiações. De acordo com Paton, Yamaki, Carvalho e Londrina (2013) temos dois lados que ganham bastante destaque, um marcado por movimentações de quantias enormes recebidas por jogadores, agentes, empresários, entre outros. O outro lado é marcado por clubes em crise, a ponto de chegarem à insolvência.

A justificativa para a escolha do tema da contabilidade nas agremiações esportivas para essa pesquisa está ligada ao aumento gradativo do mercado esportivo nos últimos anos, devido a isso o profissional contábil ligado a essas organizações vem sendo cada vez mais importante, para regulamentar e fiscalizar as transações realizadas pelas organizações. Um grande escândalo de corrupção dentro de uma das maiores organizações esportiva, a Federação Internacional de Futebol (FIFA), abalou o mercado e a confiança na organização. Em busca de regulamentar a atividade comercial destas organizações o contador vem se fazendo presente dentro das mesmas.

A pesquisa em questão tem como objetivo avaliar o impacto que a atuação do contador na gestão de agremiações esportivas pode trazer de benefícios para as organizações e também interligar a importância e o conhecimento dos profissionais nas organizações esportivas.

O trabalho em si buscou utilizar também a interdisciplinaridade para abranger as áreas de estudo. De acordo com as disciplinas presentes, pode-se acrescentar alguns tópicos dentro das agremiações como a análise de riscos que a gestão pode apresentar dentro da entidade, o estudo psicológico dos funcionários jogadores e dirigentes, a elaboração dos relatórios contábeis, a importância da ética dentro dessas organizações, análise de dados com olhar estatístico e utilização de pensamentos e teorias sociológicas e filosóficas dentro das agremiações.

A pesquisa tem o intuito de poder compreender e responder questões como a diferença da contabilidade em agremiações esportivas para as demais atividades, a função do contador nas agremiações esportivas e como evitar e solucionar a situações de endividamento de clubes.

 

2 REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1 História do futebol

 

O futebol, praticado em diversos países, é o esporte mais popular do mundo. O futebol tornou-se tão popular pelo jeito simples de jogar, desde cedo crianças de todo lugar do mundo começam a jogar, basta uma bola, equipes e uma trava para poderem se divertir.

Desde 3000 a.C era praticado pelo exercito chinês um jogo que era uma atividade militar. Depois das guerras eram levadas as cabeças dos inimigos abatidos, formavam equipes para chutar as cabeças. Logos após as cabeças foram sendo substituídas por bolas de couro, jogavam com o objetivo de chutar de pé em pé sem deixar cair no chão ate passar entre duas estacas fincadas no campo.

Diferente dos soldados chineses, os militares gregos por volta do século I a.C, criaram um jogo em que duas equipes divididas em 9 jogadores, usando uma bola feita de bexiga de boi cheia de areia, jogavam entre si em uma área retangular. Quando os romanos invadiram a Grécia, conheceram a cultura e descobriram o jogo, porém se transformou em um jogo muito mais violento.

Na Inglaterra, o futebol ganhou regras e foi sistematizado. O campo deveria ter um padrão de medidas e nas pontas deveriam ser instalados os arcos que formariam o gol. O futebol começou a ser praticado por estudantes e filhos da nobreza inglesa. Logos depois foi se popularizando aos poucos. No ano de 1871 foi criado o guarda-redes que era o único que poderia colocar as mãos na bola, mais conhecido como goleiro. Em 1875 foi criada a regra que o tempo de jogo seria de 90 minutos e só em 1891 criaram o pênalti, para punir as faltas de dentro da área.

Em 1897 foi criado o profissionalismo no futebol. Na Inglaterra existia uma equipe chamada Corinthians, que hoje em dia é um grande clube brasileiro, situado na cidade de São Paulo, fizeram uma excursão para fora da Europa, contribuindo para o conhecimento do esporte em diversas partes do mundo.

A FIFA (Federação Internacional de Futebol) que organiza até hoje o futebol em todo mundo, foi criada em 1904. Ela que organiza os grandes campeonatos de seleções.

O futebol chega ao Brasil por volta de 1894. Um garoto, nascido no Brás no estado de São Paulo, aos seus 9 anos viajou para estudar na Inglaterra. Depois do seu contato com o esporte, na volta para o Brasil, trouxe em sua mala a primeira bola de futebol e várias regras. Esse garoto, chamado Charles Miller, foi considerado o precursor do futebol no Brasil.

Em 15 de Abril de 1895 foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil, realizado por funcionarias de empresas inglesas situadas em São Paulo. O futebol era praticado apenas por pessoas de elite, não sendo permitidas pessoas negras. Em 1914 um jogador do fluminense usava pó-de-arroz no rosto para poder jogar.

Hoje em dia o futebol não é apenas um jogo e os times não são apenas equipes. Times hoje em dia são empresas que geram muito lucro ou muito prejuízo. Jogadores hoje em dia são comprados com valores extremamente altos, como o jogador brasileiro Neymar Jr. que foi a maior transação do futebol mundial, sendo comprado por um time francês por nada menos de 222 milhões de euros, quase um bilhão de reais. O salário recebido pelo jogador brasileiro chega a cento e cinquenta e cinco milhões de reais por ano, atrás apenas, atualmente, de Lionel Messi, que recebe cerca de cento e setenta milhões de reais.

 

2.2 Definições de Contabilidade Esportiva

 

A contabilidade Esportiva surgiu para conceder informações e notas aos usuários quanto a eventos que possa interferir na situação patrimonial das empresas ligadas a esporte. As notas apresentadas pela contabilidade devem ser moral e de transparência e sempre seguindo as normas do Conselho Federal de Contabilidade.

É papel da contabilidade, fazer o balanço periódico das agremiações, de modo que todas as obrigações e direitos de tal fiquem claros. Tem papel importante para controlar os gastos e investimentos feitos por tal organização, para que os mesmos não ultrapassem demais a receita o que faria com que essa aumentasse suas dividas. 

Com dividas muitas agremiações passam a depender do setor administrativo e contábil para recuperar sua situação, planejamentos em longo prazo são criados, para que essas possam ter estabilidade e diminuam suas dividas.

 

2.3 Agremiações Esportivas 

 

Agremiações Esportivas são entidades que reúnem pessoas com objetivo de recriação, práticas culturais e esportivas, visando algum tipo de esporte. 

Existem alguns tipos de agremiações algumas com fins lucrativos e outras sem fins lucrativos. É muito comum projetos de agremiações que visam tirar meninos das ruas, fazendo que esse procure em esportes um novo modo de viver e de curtir a vida.

Projetos sociais em periferias são muito comuns, um exemplo é do instituto Neymar, no qual um dos jogadores mais conhecidos da atualidade tem um instituto para ajudar crianças carentes, implementando estudos e esporte na vida das mesmas.

O instituto Neymar teve projeto aprovado pelo ministério do esporte, e recebe apoios financeiros através de leis de incentivo.

 

 

2.4 Éticas profissionais do contador nas agremiações 

 

O código de ética profissional do contador contém os princípios éticos aplicáveis a sua profissão. Tais princípios consistem na responsabilidade perante a sociedade, cumprindo as regras estabelecidas. Regras tais como: prestar serviços com lealdade a seus contratantes; e preservar a imagem profissional com responsabilidade para com os deveres da profissão. O contador deve ser profissionalmente sigiloso e recusarem tarefas que contrariem a moral. 

A questão ética relaciona-se com a formulação do problema, enquanto que o dilema ético lida com a solução dos problemas. Vários são os fatores que causam dilemas éticos nas organizações. 

Os contadores das agremiações esportivas também precisam agir com ética e transparência, para assim resolverem as questões financeiras das entidades fazendo que estas não adquiram novas dívidas ou que faça que as dívidas das instituições diminuam.

Quanto ao principio da competência, o profissional deve manter um nível adequado e aperfeiçoado de competência profissional, deve estar sempre atualizado na legislação, e analisar e elaborara relatórios claros e sucintos com recomendações apropriadas para os seus usuários.

 

2.5 Seguros feitos pelas agremiações 

 

Toda agremiação ou entidade ligada ao esporte devem obrigatoriamente fazer seguro para todos seus atletas, sejam eles profissionais ou não profissionais de modalidades olímpicas ou paraolímpicas que tenham ligação direta com a entidade. Segundo a Lei Pelé, Lei ( 9.615/1998 ) nos artigos 45 e 82 :

Art. 45.  As entidades de prática desportiva são obrigadas a contratar seguro de vida e de acidentes pessoais, vinculado à atividade desportiva, para os atletas profissionais, com o objetivo de cobrir os riscos a que eles estão sujeitos. (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

Art. 82-B.  São obrigadas a contratar seguro de vida e de acidentes pessoais, vinculado à atividade desportiva, com o objetivo de cobrir os riscos a que os atletas estão sujeitos: (Incluído pela Lei nº 13.155, de 2015)

I - as entidades de prática desportiva que mantenham equipes de treinamento de atletas não profissionais de modalidades olímpicas ou paraolímpicas, para os atletas não profissionais a ela vinculados; (Incluído pela Lei nº 13.155, de 2015)

a) competições ou partidas internacionais em que atletas não profissionais de modalidades olímpicas ou paraolímpicas estejam representando selecionado nacional; (Incluído pela Lei nº 13.155, de 2015)

Esse seguro é um risco obrigatório que as entidades ligadas ao esporte devem correr, ao mesmo tempo em que eles pagam e tem gastos com um atleta em plena atividade, eles tem que pagar e dar garantias ao atleta em caso de acidentes no trabalho. A Lei Pelé é uma das garantias que o atleta tem nesses casos, ao seguir a lei é obrigação da entidade garantir tais condições a todos.

 

2.6 Registros contábeis nas entidades desportivas

 

O registro contábil tem como função registrar todas as ocorrências financeiras e econômicas de uma determinada empresa. Portanto os registros contábeis é a parte que se analisa os direitos, obrigações, benefícios, as despesas, receitas, assim verifica se e empresa está havendo lucro ou déficit nas contas. 

A resolução CFC N.° 1.429/13 tem como objetivo estabelecer diretrizes e metodologia específica para avaliação, a escrituração, registros contábeis da evidenciação contábil das entidades de futebol.

Esta Interpretação estabelece critérios e procedimentos específicos de avaliação, de registros contábeis e de estruturação das demonstrações contábeis das entidades de futebol profissional e demais entidades de práticas desportivas profissionais, e aplica-se também a outras que, direta ou indiretamente, estejam ligadas à exploração da atividade desportiva profissional e não profissional (Objetivo,1) 

 

Conforme a Resolução CFC N.° 1.429/13 que aprovou a ITG 2003 – Entidade Desportiva Profissional, os registros devem ser separados das outras atividades e serem lançados em conforme a teoria patrimonialista, em contas de patrimoniais e de resultado. Na ITG 2003 mostra pontos específicos que o contador deve seguir para realizar o registro contábil, assim a função exercida pelo contador é fundamental para realização, análise e verificação de todos os registros das entidades esportivas. 

É obrigatória a elaboração das seguintes itens para realizar as demonstrações contábeis, conforme o manual, seguindo a seguinte ordem balanço patrimonial, demonstração do resultado, demonstração do resultado abrangente, demonstração das mutações do patrimônio líquido demonstração dos fluxos de caixa, demonstração do valor adicionado (apenas para as entidades de grande porte, nos termos do Art. 3º da Lei Nº 11.638/2007), notas explicativas e relatório de auditoria independente.

 

2.7 Legislação aplicada as entidades desportivas

 

A normatização das entidades é antiga, desde 1941, com o decreto-lei n°. 3199. Na época o país ainda baseava sua legislação com base na italiana. Assim o Estado regulamentava toda atividade administrativa e desportiva. 

Na década de 1990, houve uma inovação e profissionalização das entidades desportivas, pois a legislação vigente precisava ser adaptada no contexto mundial que estava sofrendo grande influencia da escola americana. Naquele momento o mundo estava sendo impulsionado pela participação e investimento do setor privado no esporte, assim em 1993 foi publicada a Lei n.° 8.672/93, popularmente conhecida como “Lei Zico”.  Foi discutida a conceituação e as finalidades do desporto. Os principais pontos discutidos na lei foram à conceituação e as finalidades do desporto, sendo expressos os princípios fundamentais.  

A Lei n.° 8.672/93 foi considerada um marco jurídico, pois rompeu com o intervencionismo do Estado. Portanto, houve um aumento nos números de investimentos do setor privado no esporte (PERRUCI, 2006). 

Assim, na década de 90 houve a criação de mais uma lei, com o propósito de melhorar a “Lei Zico”, assim em 1998 foi feita a Lei n.° 9.615/98, conhecida popularmente como “Lei Pelé”.

Art. 28. A atividade do atleta profissional, de todas as modalidades desportivas, é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado, que deverá conter, obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral.

 

Com a “Lei Pelé” em vigor, as entidades esportivas tiveram uma grande redução no seu faturamento, pois perdeu a principal fonte de receitas, houve a anulação do passe dos atletas de futebol profissional, assim os clubes que formavam o atleta não poderiam ser mais premiados com essa agremiação.

Outras alterações que a Lei n.° 9.615/98 obteve foi a efetivação do conceito “clube empresa”, a obrigatoriedade das entidades com práticas profissionais com a finalidade do futebol se constituírem-se em sociedade empresária. 

Em 2013, a resolução do CFC N.° 1.429/13, veio a aprovar a ITG 2003. Isso ocorreu, após denúncias de irregularidades, para moralizar as relações já existentes na administração do futebol brasileiro. A resolução é importante, pois destacou princípios importantes para a contabilização e assim houve uma maior transparência financeira das entidades desportivas. 

É importante ressaltar que essa resolução, trouxe um dinamismo nas informações divulgadas pelos clubes de futebol. Cada clube registrava os valores de atletas de uma forma, portanto faltava coerência que impossibilitava uma comparação fidedigna dessas informações. 

A norma estabelecida foi de grande valia para o contador em especial. Pois com a padronização dos critérios os procedimentos ficaram mais específicos, ajudando no discernimento da informação contábil. 

 

2.8 O endividamento dos clubes brasileiros

 

O país do futebol que está em meio a uma crise econômica que já assola o país, mas, no cenário esportivo ligado ao futebol os números são diferentes, os principais times brasileiros faturaram de forma recorde. Em 2016 foram cerca de 5 bilhões de reais arrecadados, e pode-se perceber que o faturamento aumentou já que no ano de 2015 a arrecadação foi 41% a menos. Isso deveria ser uma boa notícia já que se houve lucro, os cartolas (executivos do futebol) pagariam dívidas e poupariam para que novas dividas não fossem criadas. Entretanto no futebol a “política” é diferente. Quanto mais os clubes arrecadam, os gastos serão maiores.

Os 21 principais clubes do país somados possuem aproximadamente uma dívida de R$ 2,4 bilhões. Toda essa dívida é fruto de ações trabalhistas e os clubes são réus em 3.037 processos na Justiça. Se for comparar este valor com outros gastos, ele corresponde a aproximadamente o dobro do estádio mais caro da Copa do Mundo de 2014, o Mané Garrincha em Brasília, que custou 1,4 bilhão de reais. Se comparado com o mercado de venda de jogadores o valor é mais que o dobro arrecadado com a venda de direitos de jogadores para o exterior em 2017, que foi 957 milhões de reais, segundo dados da CBF.

Através de uma análise feita aos balanços de alguns clubes brasileiros (27 clubes ao todo), pelo Itaú BBA, apenas 11 conseguiram reduzir as suas dívidas entre os anos de 2015 e 2016. Dois não obtiveram alteração e 14 ampliaram suas dívidas. O cenário piora quando a comparação é feita de 2013 com 2016. Este período, é antes da criação do programa (ProFut) que renegociou a dívida com o Estado, apenas 4 agremiações reduziram seus déficits, um ficou na mesma, e 22 ampliaram os seus endividamentos. César Grafietti, superintendente de crédito do Itaú BBA e coordenador do trabalho esclarece.

É importante explicar o que está englobado no conceito de dívida que trabalhamos. Trata-se da soma de dívida bancária, naturalmente com bancos ou similares; operacionais, que são dívidas com impostos correntes e fornecedores, basicamente valores a pagar a outros clubes pela aquisição de atletas; e tributárias, que são impostos renegociados, e inclui o Profut (CÉSAR GRAFIETTI, 2015)

A análise é feita anualmente e desenvolvida pela equipe do banco, e pode-se perceber que, mesmo após a criação de um programa de ajuda com o endividamento criado para os clubes de futebol, a maioria não consegue diminuir o déficit que possuem. O estudo é baseado apenas em informações públicas colhidas pela equipe do banco, sem contato com os clubes, foi ressaltado que alguns clubes apresentam os balanços financeiros detalhados, entretanto a confiabilidade nos mesmo é enorme, já que nem sempre são bem detalhados. Um exemplo: não foi possível analisar o Atlético Goianiense, devido à baixa qualidade de informações.

 

 

 

2.9 Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut)

 

O Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT) trata-se, de maneira geral, de incentivo aos clubes, ligas, federações estaduais e CBF a adotarem práticas modernas.

Esse tipo de programa não é algo inédito dentro do Brasil. O Governo Federal já ofereceu outros benefícios semelhantes com a instituição da loteria (Timemania), em 2006, porém os resultados foram insatisfatórios. A novidade, deste novo programa, é a exigência de implantação de medidas concretas dentro da administração interna das agremiações esportivas ligadas ao futebol. O mandato de dirigentes só poderá ser de até quatro anos, com possibilidade de apenas uma reeleição, sendo reeleito o mandato poderia ser de 8 anos, destinação de até 80% das arrecadações anuais para o pagamento da folha de pagamentos e os direitos dos atletas profissionais. As entidades devem ofertar ingressos a preços populares, entre outras exigências legais, estão previstas na Lei.

A participação ao Profut é facultativa, se a entidade resolver aderir ao programa, poderá ter um parcelamento de suas dívidas com o Governo Federal com as taxas de juros mais baixas, segundo dados da Receita Federal, 111 entidades ligadas ao futebol aderiram ao Profut, e ocorreu um parcelamento de dívidas tributárias ou não tributárias diante da Receita Federal e à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, as mesmas possuem uma dívida de R$ 3,83 bilhões perante aos órgãos citados.

 

3 ESTUDO DE CASO

 

3.1 O escândalo de corrupção da FIFA

 

O estudo de caso trata do escândalo de corrupção que envolve uma das entidades mais importantes do cenário esportivo, a FIFA (Federação Internacional de Futebol Associação) em 2015. A pesquisa é baseada por levantamento de informações obtido por meio da internet. O Ministério Público dos Estados Unidos da América (EUA) divulgou casos de corrupção cometidos por funcionários e entidades ligadas à FIFA.

As acusações do Ministério Público dos EUA são de que a entidade aceitou dinheiro de suborno para eleger países para sediar a competição mais importante no cenário do futebol, a Copa do mundo, outra acusação por parte do Ministério Público é sobre subornos aceitados para facilitar a venda de direito de transmissão dos eventos relacionados a FIFA. Uma figura importante que vem cooperando com promotores americanos é Charles "Chuck" Blazer, ex-secretário geral da Concacaf (Confederação de Futebol da Associação do Norte, América Central e Caribe.

Membros do comitê executivo da Fifa concordaram em aceitar subornos em conexão com a seleção da África do Sul como anfitriã da Copa do Mundo de 2010 (valores que giram em torno de 10 milhões de dólares), foi recebido um suborno em Marrocos para que o país fosse sede da copa do mundo de 1998, que acabou sendo concedido à França, outros subornos que também foram aceitos têm conexão com transmissão e outros direitos para o torneio Concacaf Gold Cup em 1996, 1998, 2000, 2002 e 2003 (CHARLES BLAZER, 2015)

O Brasil aparece neste escândalo com recebimento de uma suposta propina de executivos brasileiros que possuem empresas no ramo de transmissão de direitos esportivos, como José Hawilla, dono da Traffic Group e José Lazaro Margulies, proprietário das empresas Valente Corp e Somerton Ltda, para comercialização de direitos de algumas competições esportivas entre elas Copa América, Libertadores e Copa do Mundo de 2014 que foi realizada no Brasil. A justiça americana acusou ainda recebimento de um suborno em um patrocínio da CBF para uma grande marca de roupas esportivas dos EUA (supostamente a Nike).

A denúncia dos Estados Unidos declara que a corrupção envolveu cerca de US$ 150 milhões, e este número não é total de toda a corrupção dentro da entidade já que não inclui outras transações pelo mundo. Quase toda a renda que a recebe FIFA vem da Copa do Mundo, o evento esportivo que mais lucra no mundo, superando até mesmo as Olimpíadas. A Copa do Mundo no Brasil custou ao Brasil aproximadamente de US$ 4 bilhões para ser realizada, faturando cerca de US$ 6 bilhões fazendo com que a Fifa lucrasse mais de US$ 2 bilhões.

O custo das duas próximas Copas estima-se ser superior a Copa do Brasil: a Copa do Catar deve custar mais que US$ 6 bilhões. Só para concorrer a sediar a Copa já tem um custo enorme: a federação inglesa gastou 21 milhões de libras.

Após todo esse escândalo dentro da entidade mais importante no cenário futebolístico, a FIFA perdeu muita credibilidade e para Stefan Szymanski (2016), professor de gestão esportiva na Universidade de Michigan nos Estados Unidos, uma das alternativas da FIFA para evitar que ocorram novos escândalos é tornar a entidade uma companhia pública.

Szymanski (2016) acredita que a listagem pública da FIFA teria vários benefícios, sendo o principal o aumento do nível de transparência da entidade. "Escândalos afligem as empresas listadas também, mas uma coisa que você não vai ouvir de executivos de empresas públicas são queixas sobre a falta de controle", além disso, os números da empresa passariam a ser mais limpos, já que os dados dos anos anteriores são bastante suspeitos.

 

4 DISCUSSÃO INTERGRUPAL

 

Os escândalos envolvendo a Federação Internacional de Futebol fizeram com que a maior entidade do futebol passasse desconfiança no cenário do esporte e realçasse a má gestão dentro das agremiações. A contabilidade na gestão dos clubes de futebol está diretamente ligada a esse tema.

Com o auxílio das informações e relatórios contábeis e a ajuda do contador na análise das demonstrações contábeis, os problemas como corrupções, endividamentos e má gestão poderiam ser identificados de forma mais rápidas e a busca por soluções poderia ser mais eficiente. Tais medidas proporcionariam mudanças nas normas das agremiações, no que se refere aos assuntos financeiros e gerenciais, tendo como consequências, por exemplo, a diminuição de custos e melhor controle financeiro.

A partir das informações levantadas no estudo de caso, é possível concluir que os escândalos de corrupção envolvendo a FIFA marcaram o cenário do futebol e deixaram mais claro que as entidades e agremiações esportivas precisam revisar e melhorar no que diz respeito à gestão e o setor contábil dessas organizações.

São uma grande contribuição para a sociedade as informações geradas pela contabilidade na gestão das agremiações esportivas, que tornam possível identificar problemas nos relatórios e facilitar a transparência destes, atendendo as necessidades de usuários externos e internos.

 

5 CONCLUSÃO

 

Conclui-se que a classe contábil é imprescindível e relevante para a transparência e o controle social e para a tomada de decisões e na gestão dos patrimônios, seja púbico ou o privado. É uma classe formada por pessoas trabalhadoras que batalham todos dos dias para um país mais justo, transparente e ético.

É uma profissão plural, pois temos diversas áreas de aplicação como neste estudo de caso, a contabilidade nas entidades desportivas.

Com a edição de leis específicas para esta área de atuação, o principal tema abordado foi a contabilização e a evidenciação de alguns elementos específicos como o ativo intangível, os direitos federativos e os custos de formação dos atletas e tornou obrigatória a publicação das demonstrações auditadas e a partir deste momento, verificou-se que cada clube utilizava práticas contábeis distintas para mensuração dos eventos econômicos e financeiros, bem como a forma de divulgação dos seus dados.

Podemos observar que no Brasil, o futebol profissional tem a maior representatividade na sociedade, mas a gestão dos clubes não é boa e que as práticas contábeis não são uniformes.

As entidades brasileiras de futebol foram criadas no início do século XX, e não tiveram grandes evoluções nas estruturas de governanças. O mundo sofreu mudanças, o futebol profissional se transformou num mercado de negócios que movimenta valores enormes. A evolução da sociedade não foi acompanhada pelas estruturas de gestões do futebol, que anseia por transparência e ética nos seus clubes.

Os graves problemas na administração do futebol, está baseado em assegurar os interesses dos dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol e das federações estaduais, que não estão preocupados com o desenvolvimento do esporte. Enquanto a CBF e as federações obtêm lucros milionários, os clubes têm imensas dívidas.

Embora só veio à tona para o mundo agora, devido à ação do FBI contra a corrupção no futebol, o problema já era existente há mais tempo pela ausência de uma legislação específica e de mecanismos para controle, o que tornou o esporte um campo propício a corrupção e lavagem de dinheiro.

Isso é decorrente de vários fatores, tais como uma rede de proprietários dos direitos de jogadores bem complexa tendo clubes, empresários, investidores e empresas, transações de recursos como patrocínios, compra, venda e empréstimo de jogadores, direitos de imagem, entre outros. Todos podem implicar em transações financeiras internacionais, e até através de paraísos fiscais. Os valores, nas transações, são cada vez maiores, sendo difícil identificar ao certo a coerência dos valores.

Embora a Lei 12.683/2012 prevê medidas para combater a corrupção dentro do esporte, ainda não existe um regulamento a respeito das transações no mundo esportivo.

A melhor maneira de controlar a corrupção no futebol são a rotatividade democrática e a transparência. O que se deve ter em mente é que o futebol é um esporte mundialmente apreciado, e deve ser um agente propagador da ética e de boas práticas de governança.

REFERÊNCIAS

TOLOTTI, Rodrigo. Como acabar com a corrupção na FIFA? Faça um IPO e coloque-a na Bolsa. Disponível em:  . Acesso em 16 de abril de 2018.

REEVELL, James. Entenda o escândalo de corrupção na Fifa. Disponível em:  . Acesso em 16 de abril de 2018.

Tudo o que você precisa saber sobre o escândalo de corrupção na Fifa. Disponível em:  . Acesso em 16 de abril de 2018.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (BRASIL) - Manual de contabilidade para entidades esportivas - Disponível em: . Acesso em 17 de março de 2018.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação. Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de trabalhos científicos: projeto de pesquisa, teses, dissertações, monografias, relatório entre outros trabalhos acadêmicos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 2. ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2016. Disponível em: . Acesso em 17de março 2018.

CAPELO, Rodrigo. Apesar da bonança, as dívidas do futebol brasileiro crescem onde os lucros vão parar? Disponível em: . Acesso em 10 de abril de 2018.

CEZAR, Mauro. Exclusivo, ranking das dividas: Fla e Cruzeiro nos extremos e o desperdício do Corinthians. Disponível em: . Acesso em 10 de abril de 2018.

MUNDIM, Daniel. Peso do atraso: clubes registram R$ 2 bi em dívidas trabalhistas e 3 mil processos. Disponível em . Acesso em 10 de abril de 2018.

JUSTEN, Gil. PROFUT – A salvação do futebol brasileiro?Disponível em . Acesso em 13 de abril de 2018.

Legislação Informatizada - LEI Nº 13.155, DE 4 DE AGOSTO DE 2015 - Publicação Original. Disponível em . Acesso em 13 de abril de 2018.

111 entidades desportivas aderiram ao Profut. Disponível em. Acesso em 13 de abril de 2018.

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