O outro existe e é importante

Nós, operadores do direito, temos uma incapacidade quase patológica de compreender que o outro existe e que é tão importante quanto nós, e ela é histórica e praticamente indestrutível.
A indestrutibilidade nasce de nosso comportamento egoístico de só olhar para dentro de nós, fazendo de conta que estamos sozinhos no mundo.
Somos importantes, a sociedade nos vê como importantes, mas ela olha para outros, e faz comparações acerca da efetividade de nossas atividades, às vezes vencemos, outras somos vencidos, e isto é natural, faz parte de nossa natureza humana.
Estamos tão apaixonados pela imagem que vemos no espelho que temos em nosso quarto que esquecemos que existem outros quartos com outros espelhos, e que as imagens lá refletidas podem ser tão boas ou melhores que as nossas.
Não é fácil aceitar esta realidade, mas não tem outro jeito, se efetivamente desejamos continuar existindo enquanto atores sociais, permitidos e aceitos, legal e materialmente, pela sociedade, que mantém, econômica e politicamente a grande maioria de nós.
Esta sociedade não está nem um pouco interessada nas imagens, nas legendas e nos símbolos que criamos, para nossa própria satisfação, mas se fazemos um bom ou mau uso dos recursos, poderes e atribuições que recebemos dela e se os resultados representam uma melhoria em sua qualidade de vida, garantias de seus direitos e esperanças mais positivas de futuro.
Enquanto uma minoria barulhenta prefere incentivar uma guerra nem tão surda entre os diversos atores da cena judicial e das defesas dos direitos, gastando forças e argumentos na defesa de privilégios discutíveis, o Zé Mané, sempre ele, prefere que as coisas funcionem, e que os servidores públicos sirvam ao público, ao invés de se servirem do público.
Mas, como já disse um grande "defensor da liberdade" chamado Augusto Pinochet (que o demônio o tenha!), "la democracia es muy buena, pero muy complicada".
Sendo assim, fiquemos com a confortável falsa crença de que ninguém, afora nós, existimos, e que ninguém é mais importante, mais justo e mais honestos do que nós.
É o que eu chamaria de "mentira caridosa", que satisfaz a alguns, mas não a mim.
Mas, eu não conto pois, afinal, não passo de um idiota.