O ouro do Brasil

Era uma verdadeira multidão. Por vezes mais de mil pessoas: armados, carregados de matulas e cheios de esperança. Assim eram as bandeiras que mergulhavam na floresta, no Brasil do século XVI.

Seu principal objetivo era encontrar ouro. E quanto mais melhor! Ele era cobiçado, procurado e quando encontrado rendia muito: riquezas e roubos, brigas e mortes.

Mas a morte não interessava. Os mortos ficavam por ali, seu funeral era feito pela própria floresta: era adubo no solo de onde brotava ouro e diamantes além de outras pedras e metais preciosos.

Tanto ouro despertou a cobiça, não só dos bandeirantes, mas principalmente da corte portuguesa, dona do Brasil. Por isso os impostos: para cada quilo de ouro colhido nos solos do Brasil, duzentos gramas tinham que ser repassados para o governo português. Era o quinto, não dos infernos, mas do ouro do Brasil, a menos para o Brasil!

Os riscos, os roubos e os impostos, evidentemente, não agradavam a ninguém: os mineradores sentiam-se roubados pelos cobradores de impostos e pela coroa; os cobradores dos impostos sabiam que estavam sendo enganados pelos mineradores; o governo português considerava-se lesado, pois sabia que havia mais ouro do que os impostos arrecadados.

O triste da história não são só as mortes e os impostos. Triste é saber que todo esse ouro do Brasil não enriqueceu os brasileiros, mas migrou par'além mar. Passou por Portugal mas se estabeleceu na Inglaterra. Lá produziu indústrias e foi uma das molas propulsoras do desenvolvimento Britânico que culminou na Revolução Industrial que já nessa época lançava suas primeiras e tenras raízes .

Hoje se sabe que aproximadamente 50% do ouro que saiu do Brasil, com destino a Portugal, aportou na Inglaterra e ajudou na produção das revoluções que mais tarde mudariam o mundo, principalmente financiando as descobertas e invenções das máquias da Revolução Industrial.

Assim sendo, podemos dizer que o Brasil chegou tarde no processo de industrialização. Podemos até dizer que a Revolução Industrial não nos incorporou nem nos trouxe desenvolvimento. Podemos apenas dizer que o Brasil – mesmo a contragosto – forneceu grande parte do ouro que financiou o progresso do Velho Mundo. Grande parte do brilho da velha Europa se deve ao ouro do Brasil.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO