O OLHAR DO ESTUDANTE DE PEDAGOGIA NO ESPAÇO PENITENCIÁRIO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA PENITENCIÁRIA JUIZ PLÁCIDO DE SOUZA-CARUARU- PE

OLIVEIRA, Moisés Felix de1

BARROS, Ana Maria de2


RESUMO

O presente trabalho tenta mostrar o olhar do aluno de Pedagogia no espaço Penitenciário, vindo relatar a experiência na Penitenciária Juiz Plácido de Souza-Caruaru-PE. Relato esse onde o mesmo ver que é possível reeducar os detentos através da arte e da educação, dando-lhes ferramentas para que possam ser incluído na sociedade como cidadãos de direitos; vindo a ressignificar a sua vida e
assim os mesmos possam ter esperança no futuro.

INTRODUÇÃO

A finalidade deste trabalho é mostrar pelo viés do olhar do aluno de Pedagogia no espaço prisional, como se dar a relação dentro da Penitenciária Juiz Plácido de Souza, entre a arte e a educação como ferramentas de transformações dentro da prisão. Trazendo para os alunos/recluso uma perspectiva de futuro, que antes os mesmo não tinham. Dessa maneira vem sendo forjado sujeitos críticos que configuram sua realidade de maneira diferente de políticas anteriores, que só fazia formar uma massa passiva de seus direitos, e também por falta de políticas de inclusão voltada para diminuir a reincidência.

Mas quando os excluídos vêem que tem potencial, e que não lhe era mostrados; eles passam a usar as ferramentas que lhe são oferecidas para sua libertação e inclusão na sociedade. Neste projeto temos como objetivo principal orientar e preparar os alunos/detentos para que sejam percebidos como sujeitos portadores de direitos, e que a arte e a educação, somada a outras ferramentas que eles já possuem possa ser elementos mediadores de qualidade de vida no ambiente prisional e depois de sair desta realidade social.

O nosso objeto de estudo é o ser como um todo, e não fragmentado, mas sim, em uma visão holística do sujeito com suas potencialidades, ou seja, não apenas ensinar a arte e a educação crítica, mas a mesma como forma de libertação, junto com a pedagogia libertária que busca a igualdade de direitos entre os seres humanos. Ensinar o que não lhe foi dado; mas ensinando a massa excluída a pensar de forma crítica para que os mesmos possam tomar o seu destino em suas mãos.

A escolha do tema é pela sua importância para uma sociedade mais justa, visando à equidade dos sujeitos, com suas singularidades, em meio a uma sociedade que estigmatizar. Através desse novo paradigma que é a arte e a educação juntas trabalhando de mãos dadas, trabalhadas de maneira multidisciplinar que até então era negada aos alunos/detentos, percebemos que desta maneira eles podem tomar as rédeas de sua vida.

A pergunta que fazemos é por que não dar um tratamento mais digno para os reclusos na perspectiva na cidadania, através de uma educação crítica e da arte? Por que nos sistemas prisionais não é dado esse capital cultural para que os mesmo venham a libertar-se de si mesmos e ensine os mesmos a ter consciência de seus direitos como seres ativos? O método é de caráter qualitativo através da experiência em sala, observação ativa, questionários, conversas formais e informais e a observação direta da própria realidade de interação dentro do presídio.


1. A chegada na prisão: Seu cotidiano e desafios

Historicamente a sociedade de uma maneira quase unânime maximiza de
maneira estereotipada os presos, dizendo que não há mais solução, que os mesmos só fazem ??comer de graça do governo?? e que merecem a pena de morte. Mas quando começamos a vivenciar as suas experiências vimos que nem sempre a realidade que nos contam de maneira parcial, sempre condiz com a verdade que vivenciamos na penitenciária Juiz Plácido de Sousa.

As pessoas que se encontram na prisão "expurgado seus delitos?? no seu cotidiano em sua grande maioria são pessoas pobres com baixa escolaridade e de cor que têm boa vontade para o trabalho, mas historicamente existe um preconceito cultural, desvalorizando os mesmo em relação ao capital econômico, político e outros mais. FOUCAULT (1977). Dessa forma eles são marginalizados por esse estereótipo anacrônico, sem justificativa; podemos ver na vida desses sujeitos sem oportunidade que eles são marginalizados desde o seu nascimento, isso mostra a contradição capitalista. Marx (1998),

No cotidiano os reclusos trabalham, estudam, praticam esportes vão a Igreja, ecumenismo, pois o Estado é laico, produzem mais de 20.000 calças para as lojas, mais de 2.000 pães para as cantinas que ficam no interior da prisão e para a alimentação dos mesmos; dentro da penitenciaria é um mundo dinâmico, inúmeros trabalhos artísticos são feitos por essas pessoas que para muitos são invisíveis; a cultura é muito forte: capoeira, teatro, confecção de mascara, artes plásticas, confecção de estofado roupas e outros mais, dos quais a uma participação de mais de 60% em alguma atividade.

A penitenciaria Juiz Plácido de Sousa foi construído para abrigar 98 pessoas, no ano 2009 havia mais de 990 pessoas que estavam cumprindo pena na unidade, hoje tem mais de 1.000 detentos BARROS (2007); e quase todos os dias chegam mais, oriundos de Caruaru e adjacências, essa região é marcada com essa dicotomia muitas riquezas para poucos e quase nada para muitos. Através de entrevista com os mesmo foi constatado que muitos deles tinham uma vida à margem da sociedade, teve um grupo que estão lá por falta de assistência do ??Estado de Direito??. Pois os mesmo anteriormente trabalhavam em um lixão, com o fechamento do mesmo, e a falta de um olhar por parte dos mecanismos de
inclusões, fazendo com que os mesmo viessem a realizassem furto para sobreviver, WAQUANT (2001). Outros foram presos por está vendendo DVD pirata, outros por não pagar pensão, e outros porque furtou e outros de maior gravidade, naquele ambientes estão misturados detentos de variados graus de criminalidade.

Segundo os reclusos a principal dificuldade enfrentada por eles é a exclusão da sociedade. Nas empresas Não é dada oportunidade para eles trabalhar, por ser ex-detento. A sociedade em sua grande maioria não acredita na resocialização dos detentos, a prisão deixa marcas excludentes, e o egresso não consegue voltar ao mercado formal. Sem oportunidade e vendo toda a sua família passa dificuldade, muitos
deles voltam ao mundo da criminalidade. Esta volta se dá por falta de políticas que humanizem de maneira digna e insiram os ex-presidiários na sociedade através do trabalho, essa iniciativa já seria um primeiro passo para uma sociedade que desde tempos imemoriais estigmatiza os ex-presidiários; o estereótipo ainda é muito grande, mesmos depois de inúmeras campanhas para a inclusão dos já referidos. SOARES (2004)

Podemos ver lá traves de seus desenhos e redações que os detentos de uma maneira geral têm um apreço muito grande pela família, Depois vem à religião e por fim nessa tríade o sonho de um emprego ao sair do sistema Penal. Para que seus sonhos se tornem real que haver toda uma articulação entre os empresários, Universidades, religião e a sociedade num só ideal que é a ressocialização para uma sociedade onde haja igualdade, fraternidade e liberdade.

Enquanto as sociedades tiverem essa atitude de ver como invisíveis os
ex- presidiário não vai haver mudança, mas quando essa atitude for trocada pela inclusão dos mesmos, e os mesmo vejam que são tratados de forma inclusiva então ocorrerá à mudança na vida desses excluídos, que também trará uma estabilidade social de fato. BARROS (2007).

2. A educação e a arte no espaço prisional

Vimos que podíamos fazer algo para mudar essa situação vigente, não só
aqui em Caruaru no agreste pernambucano mais em todo Brasil a situação é bem desumana. Tínhamos pela frente esse grande desafio, o que fazer para ressignificar a vida dessas pessoas que vivem a margem da sociedade? A raiz dessa situação se encontra na educação e na cultura e também na política? Então baseado nesse contexto criamos um projeto de intervenção que de alguma forma transformasse essa realidade. Então veio a idéia de trabalhar uma educação diferenciada onde o preso não apenas estudasse 3 dias para ganha 1 dia a menos em sua pena; então veio a idéia vamos trabalhar de maneira holística: a esfera política, educacional e cultural dentre outros conteúdos para vida em sociedade.

Esse capital cultural que a arte acadêmica, artes Plásticas despertou o
interesse dos alunos/detentos, que durantes as aulas que começou pelo desenho artístico que teve como módulos: Anatomia humana e animais, Casarios, Paisagens, Letreiros, natureza morta e nudismo dentre outros que foram sendo pedidos pelos alunos. Através de inúmeros exercícios e mediação, eles foram avançando em direção a uma formação que quando os mesmos saírem pudessem trabalha na informalidade, mas com aproximadamente uns 4 meses muitos deles já ganhavam dinheiro, desenhado fotos de familiares de outros detentos. BOURDIEU (1975), Eles já tinham orgulho de suas criações, a auto-estima aumentou de forma bem visível, a alegria em seus rostos, e algumas diziam: -'Eu vou ensinar o meu filho o que eu aprendi aqui dentro para que ele tenha orgulho do pai que tem, e nunca siga meu exemplo'. Pediram que fizessem uma exposição, e assim foi feito. CARRARA(2004). Eles começaram a ressignificar a sua vida, pois viram o que a cultura dizia que tinha que nascer com dom, essa proposição estava errado, pois só bastaram alguns reais, o professor e pessoas dispostas a aprender, e o conhecimento para a arte foi sendo construído pela força de vontade de cada elemento que estava posto nessa teia, para construção/desconstrução do ser humano, pois o mesmo segundo Freire (2000) é um ser inconcluso, ou seja, não está completo, para Niezstche(2002) o ser é Devir, ele torna-se, já para Deuleuze (1995) o sujeito é um ser em potencial.

Nós tentamos trabalhar de uma maneira interdisciplinar, pois, vimos que arte era o elemento de mediação para se chegar as palavras geradoras, e ai então trabalhar a língua portuguesa numa perspectiva libertária; começamos trabalhado com os alunos reclusos a vivencia de mundo, o que eles aprenderam lá fora, pois nós aproveitávamos essas vivencia para estruturar uma aula que a matéria prima era a vida de cada um, pois quando o saber deles é valorizado, ele tende a despertar o interesse dos alunos/recluso, pois a mesma é feita de reminiscências de cada um ali presente. FREIRE (2000).

Essas relações de poder são socialmente construídas e legitimadas, primeiramente tivemos de quebrar esse paradigma do professor autoritário, que só ele sabe, mostramos que era possível trabalhar na perspectiva reflexiva, onde há um diálogo bem dinâmico professor/aluno, vai além uma educação o só o educador sabe, mas tem que haver uma relação de troca de conhecimento, pois o conhecimento é bem dinâmico, é essa construção/descontração, pois, o mesmo não é estático está em constante construção; por esse motivo o educador te de fazer de sua vida uma pesquisa para criar o novo, para adequar a esses novos tempos de
conflito e pensamento rápido por parte do professor, que tem que tomar decisões muito rápidas TOSI (2002),. São no embate que o educador é forjado, ele e seus próprios valores são posto em xeque, e junto com o outro ressignifica a sua vida baseado na igualdade, liberdade e fraternidade, que são os lemas do iluminismo Frances. ALARÇÃO (2003).

3. As relações de solidariedade, conflitos e tensões no ambiente prisional

Têm os parâmetros para um preso ter a solidariedade dos demais, lá fora ele têm que cumprir o código de ética que existem entre eles: não dever dinheiro de droga, não arrumar briga por banalidade, não roubar onde mora, não rouba pai de família, não ser estrupador e outros mais. Quando são presos eles já sabem por que aquela pessoa está lá; Se for uma pessoa que não tenham quebrado o seu código de ética; ele junta-se arruma colchão, comida, entrosamento com os demais, que facilita em muito a vida dentro da prisão. Tem-se formado na gestão uma teia de solidariedade: as Universidades, as indústria têxtil, os grupos filantrópicos dentre os seguimentos que vem cada vez mais atuando junto a sistema penal para um espaço mais democrático.

4. Considerações finais

Face ao exposto podemos ver que a articulação entre as instituições e o
sistema prisional,Penitenciária Juiz Plácido de Souza, têm cada vez mais estreitando os elos e incluindo os mesmo na sociedade, como ser que podem melhorar de maneira qualitativa através da Educação e Arte, pois a mesma é à base de uma sociedade mais igualitária. Podemos ver no cotidiano dos presos os reflexos da educação e do trabalho; vemos pessoas mais preparadas para serem inserido na sociedade e possa participar ativamente. Esse trabalho tem o propósito de mostrar a realidade para que a sociedade tenha uma visão menos preconceituosa e possa incluir essas pessoas que em muitos casos são invisíveis para a maioria das pessoas, causando exclusão dos mesmos. Podemos ver que na Penitenciária Juiz Plácido de Sousa tem ocorrido um grande avanço dos direitos e na inclusão dos detentos na sociedade, reeducado e pronto para contribui para uma sociedade mais forte e organizada através da educação para os excluídos.

Referências

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Revista da Faculdade de Direito de Caruaru. João Pessoa: Idéia, 2007.

___________________. FÉ, POLÍTICA E PRISÃO. PASTORAL CARCERÁRIA
ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA: UM ESTUDO NA PENITENCIÁRIA JUIZ
PLÁCIDO DE SOUZA EM CARUARU DE 1996 A 2002. UFPE: Recife, Doutorado em Ciência Política. Defesa em: 19 de janeiro de 2007.

BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A REPRODUÇÃO. ELEMENTOS PARA UMA
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WAQUANT, L. OS CONDENADOS DA CIDADE. Rio de Janeiro: Revan / Fase,
2001.


1- Bolsista pelo conexões de Saberes- Graduando em Pedagogia-Universidade Federal de
Pernambuco Centro Acadêmico do Agreste- Graduando em Bacharelado-Teologia-Instituto
Teológico Simonton-Extesão-1 artigo públicado a nívil nacional, proext (UFPE). E-mail:
[email protected].

2- Profa. Adjunta da UFPE, orientadora do aluno.