(Aviso: Este artigo é voltado a quem já tem uma percepção consolidada de Direitos Animais e pode soar muito radical para quem não é vegetariano(a).)

Um ministério exclusivamente dedicado a matar animais. Assim é descritível o novo Ministério da Pesca e Aquicultura, criado no final de junho último a partir da promoção da até então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca. Tal criação se soma a vários atentados recentes feitos pelo Estado brasileiro contra a vida animal não-humana, entre eles a "consulta pública da gaiola", a censura aos tratamentos existentes da leishmaniose visceral canina, a sanção da Lei Arouca e o deferimento do famigerado PL 4548/98 para votação no Congresso.

Nosso governo tem sido uma assídua fonte de más notícias para os Direitos Animais. Novamente ele exibe-se francamente interessado no ato de explorar animais vivos ou mortos e negar-lhes o direito à vida e à liberdade. O indescritível sofrimento de peixes, crustáceos e moluscos em asfixia quando retirados da água não só continua ignorado como é agora ainda mais respaldado e fomentado pela política federal.

O novo órgão tem como um dos objetivos incentivar o consumo das carnes de bichos aquáticos. Se acompanharmos as tantas notícias que vêm chegando sobre os efeitos da pesca em grande escala no planeta, relatando grandes reduções de populações de diversas espécies em muitas regiões de água salgada ou doce e avisos de ameaça de extinção para tantas delas, indicando de forma clara a insustentabilidade ambiental dessa matança, a atitude de formar o novo "Ministério da Morte" é uma banana dada para todos esses alertas.

Mexem-se os pauzinhos para se divulgar também a pretensa importância do pescado – sabendo nós que é dispensável, pela existência de opções vegetarianas – na alimentação brasileira e reduzir os seus preços. Uma coisa é certa: em tempos de propagação de ideias éticas que estão levando muitos(as) ao vegetarianismo, o incentivo governamental para que se mate mais e mais animais nos rios, lagos e oceano brasileiros é encarável como um contra-ataque a essa divulgação da moral da convivência pacífica entre humanos e não-humanos.

O Governo Federal, junto com as comissões congressistas que avaliam projetos de lei, parece mostrar novamente que não está aberto a debates sobre o valor da vida animal a qual atividades como a pecuária, a pesca, os rodeios e a experimentação didático-científica violam. Aparenta imaginar que toda a população brasileira aceita de bom grado a morte utilitária de animais e concorda que estes existem para nos servir. O que não é nenhuma verdade em tempos de multiplicação de vegetarianos(as), veganos(as) e ONGs de Direitos Animais.

Enquanto o Estado investe pesadamente na otimização da exploração no meio rural, nas universidades e nas pequenas comunidades – onde é muito mais difícil haver uma transição de trabalhos como pescador, peão e açougueiro para empregos éticos – e incentiva-se com fervor a perpetuação das velhas refeições cheias de carne, vira-se as costas para o fomento de alimentações alternativas e saudáveis em franco crescimento, como dietas naturais, o vegetarianismo e o crudivorismo.

Querer que este governo – e, pelo que tudo indica, também os próximos – respeite a vida não-humana, pare de criar órgãos especializados em explorá-la e ceifá-la em massa e reconheça o vegetarianismo como opção alimentar ética e nutricionalmente ótima é muito ainda. Já reparar que o presidente churrasqueiro e seus ministros não se importam com os animais e só pensam neles como corpos geradores de renda é fazer o óbvio. Até quando teremos que ver o poder público atrasando a luta de quem respeita todas as formas de vida senciente?