UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA

CURSO DE LETRAS

 

 

 

O NARRADOR E O SUJEITO NO ESTUDO DO GÊNERO CONTO

 

Carla Janaina Ferreira de Sousa

 

 

RESUMO: Este artigo tem como objetivo trabalhar com o gênero conto e narrador como sujeito no estudo do conto, mostrando as diversas formas de manifestações do narrador nesse gênero, o narrador como sujeito e as oscilações de sentido. O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fantasia ou imaginação. O narrador é quem conta os acontecimentos no conto. Nessas formas de manifestações, o narrador pode aparecer em primeira ou em terceira pessoa, tendo diversos tipos de narradores: protagonista, narrador secundário, observador, onisciente, onisciente intruso, neutro e seletivo. Essas manifestações do narrador no conto causam oscilações de sentido na narrativa, o narrador pode estar presente interno ou externo no conto, pode conhecer tudo sobre a vida do personagem ou não, pode se colocar dentro da cabeça do personagem ou não.

 

PALAVRAS-CHAVE: conto. narrador.protagonista. onisciente. observador.

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho nasceu da curiosidade que se tinha a respeito de estudar a importância do narrador dentro do conto, as suas diversas formas de manifestações no conto e as suas oscilações de sentido devido essas manifestações.

A palavra narrador pode ser definida como uma entidade que conta uma história, a qual pode ser apresentada em primeira, segunda e terceira pessoa.

A palavra conto deriva do termo latino "computus" que significa conta. O conceito faz referência a uma narrativa escrita, falada ou fictícia.

É importante destacar o narrador dentro do conto, suas formas de manifestações. A partir do momento que o narrador vai se manifestando como primeira ou terceira pessoa, acontece uma mudança de sentido na narrativa, nos acontecimentos e nos personagens. Por exemplo, no conto “O segredo de Augustra" de Machado de Assis podemos observar duas formas de manifestações do narrador: O narrador onisciente e intruso.

Esse conto do autor Machado de Assis é narrado em terceira pessoa e apresenta o narrador onisciente que tudo sabe sobre os acontecimentos no conto e das personagens "Augusta" e "Adelaide", apresentando também características do narrador intruso, em alguns trechos desse conto, o narrador dialoga com o leitor, na forma de primeira pessoa, apesar da narrativa está em terceira pessoa. Podemos observar oscilação de sentido nesse conto, já que o narrador não se manifesta de única forma nessa narrativa.

AS DIVERSAS FORMAS DE MANIFESTAÇÕES DO NARRADOR NO CONTO

O narrador pode-se manifestar em primeira ou terceira pessoa no conto, dependendo do papel que o próprio narrador assume em relação ao conto.

No conto narrado em primeira pessoa (eu), o narrador pode participar dos acontecimentos no conto, tendo uma dupla função de narrador e personagem ao mesmo tempo. No geral, ele será protagonista, visto que, como personagem secundário (que conta uma história do protagonista) raramente é usado no conto. Sendo o protagonista, o narrador recebe melhor destaque.

No seguinte trecho: "Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora há muitos anos, [...]".  Através deste fragmento, podemos observar uma manifestação do narrador em primeira pessoa que fica evidente pela flexão dos verbos em primeira pessoa: pude, tive e contava; podemos também concluir que o narrador é o protagonista do conto.

Outra forma de manifestação do narrador no conto, é a narrativa em terceira pessoa que aparece na forma de narrador observador ou narrador onisciente. O narrador observador ou narrador onisciente. O narrador observador vê-se compelido ao contar apenas o que observa, não conhece o pensamento, nem o passado dos personagens do conto, não invade o íntimo do personagem para comentar o comportamento dele. Exprime uma visão incompleta porque narra o conto como um mero espectador, seu relato tende a ser mais imparcial e objetivo. No seguinte trecho de um texto de Clarice Lispector, nota-se, que prevalece o narrador meramente observador:

 O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um pouco de água, vai ao banheiro onde se vê diante do espelho. O que ele vê? Um homem de meia idade. Ele alisa os cabelos das têmporas, volta a deitar-se. Adormece e a agitação do mesmo sonho recomeça.

O narrador onisciente apresenta como uma consciência a respeito de tudo e de todos no conto. Esse tipo de narrador conta os fatos, possui entendimento pleno a respeito das características particulares dos personagens, assim como sua história de vidas, segredos, temores, anseios. Um bom exemplo desse tipo narrador pode-se observado no trecho a seguir do conto "O segredo de Augusta" de Machado de Assis, onde podemos perceber que o narrador conhece tudo acerca da história, esse tipo de narrador é classificado como narrador onipresente, já que ele está presente em todos lugares da narrativa.

 Tinha Augusta trinta anos e Adelaide quinze, mas comparativamente a mãe parecia mais moça ainda que a filha. Conservava a mesma frescura dos quinze anos, e tinha demais o que faltava a Adelaide, que era a consciência da beleza e da mocidade; consciência que seria louvável se não tivesse como conseqüência uma imensa e profunda vaidade.

Nesse fragmento do conto "O segredo de Augusta", é possível identificarmos que o narrador possui um conhecimento a respeito das características particulares das duas personagens (Augusta e Adelaide).

Existem também outros tipos de manifestações do narrador em terceira pessoa: o narrador onisciente intruso, neutro e seletivo.

O narrador onisciente intruso apresenta uma total liberdade de narrar à vontade o conto, podendo possui uma variante de narrador, mesmo não sendo personagem, não participando da história, ele tece comentários em primeira pessoa, ou melhor, conversa com o leitor ou julga diretamente o comportamento dos personagens. Podemos observar um exemplo de narrador onisciente intruso no seguinte trecho do conto "O segredo de Augusta": "Depois do que acabamos de contar, Vasconcelos e Gomes encontram-se às vezes na rua ou no alcazar; conversam, fumam e dão os braços um ao outro, exatamente como os dois amigos que nunca foram ou como dois velhacos que são". Esse trecho, o narrador apresenta características que o torna intruso, ele dialoga com leitor, ou melhor, tece um comentário sobre os dois personagens, isso fica evidente na passagem final do conto, onde o narrador machadiano chama os personagens Vasconcelos e Gomes de velhacos.

Já o narrador onisciente neutro narra o conto em terceira pessoa, mas com uma única distinção em relação ao narrador onisciente intruso, ele não tece comentários sobre os personagens e a história. O terceiro tipo de narrador em terceira pessoa, o narrador seletivo, se diferencia totalmente do narrador onisciente, pois ele não sabe tudo sobre todos os personagens do conto; a narração desse tipo narrador é centrada e se limita a um centro dos acontecimentos ou dos personagens no conto como: sentimentos, percepções e gestos do personagem principal.

O NARRADOR COMO SUJEITO E AS OSCILAÇÕES DE SENTIDO

O narrador como sujeito no conto pode aparecer de diversas formas como: primeira ou terceira pessoa. De acordo como o narrador aparece na narrativa, acontece uma oscilação de sentido no conto.

Quando o conto é narrado em primeira pessoa, o narrador é interno, ele participa ativamente dos fatos narrados, esse tipo de narrador é conhecido como personagem protagonista. Já o narrador externo, o conto narrado em terceira pessoa como é caso do narrador observador que não se colocar dentro da cabeça do personagem, não conhece as emoções, as idéias e os pensamentos do personagem, narra somente o que observa do lado externo. Enquanto o narrador onisciente tudo sabe sobre a vida dos personagens, esse narrador se coloca dentro da cabeça do personagem no conto. Diferenciando do narrador intruso que tece comentários sobre os personagens no conto e do narrador neutro que não tece comentários.

Podemos perceber que entre o narrador interno e o externo ocorre uma oscilação de sentido no conto, pois em determinado momento o narrador aparece dentro do conto como personagem protagonista, já em outro momento o narrador aparece fora do conto como um simples observador dos acontecimentos da narrativa. Podemos observar, através da mudança de passagem de narrador para o outro, que acontece às oscilações de sentido, pois durante a leitura de um conto, o leitor tem oportunidade de conhecer tudo sobre os personagens como as características e entre outros detalhes dos acontecimentos, através das informações apresentadas no conto pelo narrador interno, em outro momento da leitura, o leitor sente como o narrador tivesse mais próximo dele, pois o ambos não conhecem muito sobre os personagens, somente o que é observado do lado externo do conto, ou melhor, do lado externo dos acontecimentos do conto, através dos comentários feitos por esse mesmo narrador (externo).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos com a realização deste trabalho, que existem vários formas de manifestações do narrador, podemos observar isso em alguns trechos dos contos citados neste artigo. Essas manifestações causam as oscilações de sentido. O narrador pode ser o personagem principal em um determinado momento e em outro momento pode aparecer como narrador secundário, observador, onisciente, entre outros, dependendo da maneira como narrador aparece no conto, ou melhor, como narrador narra o conto em primeira ou terceira pessoa.

Elaboramos este artigo com a finalidade de contribuir com os estudos acerca das diversas formas de manifestações do narrador no conto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RAMOS.Ricardo.10 contos escolhidos. Brasília: Horizonte, 1983.

http:///www.brasilescola.com/redação/narração-tipo-narrador.html. Acesso em 26.Nov.2012

http://www.oficinadenarrativas.blogspot.com.br/2009/10tipos de narradores.html. Acesso em 26.Nov.2012

http://WWW.recantodasletras.com.br/teorialiteratura/434347. Acesso em 26. Nov.2012