Não vê que não é possível respirar com a sua presença? Não vê que minhas pernas ficam trêmulas quando você se aproxima? Não percebes que não consigo falar qualquer palavra para você? Não vê que sua energia trava até os meus passos?

Claro que não vê, você nem a nota!

A nerd da primeira cadeira do lado direito da sala, com franja torta e cabelos bagunçados. Com um andar em que os pés se encontram e acaba tropeçando no próprio calcanhar. A menina que quase não falava durante a aula, com as notas variando entre 90 e 100 e quando tira um 70, por distração, fazia recuperação e alcançava mais um 100.

Você o garoto mais popular da turma, conversava com todas as garotas, principalmente as mais bonitas.

A mocinha anêmica que todos da sala zoavam, muitas vezes você sorria das brincadeiras de mau gosto que faziam com a garota. Assim você a notava.

Passaram-se mais de dez anos, o mundo girou e os colocou quase no mesmo caminho. Ela na graduação caminhando para a sala de aula e você na cantina da Faculdade ajudando sua mãe na venda de lanches. Ela sua cliente e você o atendente. Coincidência, não?

As mãos da mocinha pararam de tremer, consegue falar abertamente, sem nervosismo, o sentimento esfriou, as borboletas morreram. Carrega no rosto um lindo sorriso, veste roupas justas, sensuais, porém decentes, as quais marcam suas silhuetas anexadas em seu corpo magro, ainda com os volumes bem distribuídos.

A pele branca anêmica tornou-se mais uma qualidade que chama a atenção, as franjas cresceram e se alinharam aos demais fios de cabelo. As notas altas impulsionaram-na a acreditar ser capaz de realizar qualquer desejo, mesmo que seja conquistar o mais belo dos homens que agradarem aos seus olhos.

Outro dia ficou perceptível os seus olhos acompanhando os passos da moça. O seu riso no canto da boca junto a uma expressão facial de homem assanhado, demonstrando interesse, além da mão sobre a dela no momento do troco.

Uma grande pena!

Olha só o rapaz engordou, nada contra seus quilos a mais, porém antes se exibia com o tanquinho que possuía. Cadê seus amigos e amigas? E as garotas que o cercavam?

Soube do seu investimento fracassado que lhe obrigou a vender quase todos os seus bens e a ausência frequente nas festas por não poder comprar bebidas e pagar as melhores boates.

Quase não acreditei no convite para sair, pareceu mais uma zoação. Claramente foi recusado, pois a bela mulher tinha outros compromissos. O pior foi você dizer: "Eu gosto de você!", pior ainda foi a ausência, mesmo após anos, de um pedido de desculpas.

A resposta foi inevitável: "Sinto muito rapaz, sinto nem um terço do que antes sentia. Agora, preciso ir, tenho mais o que fazer!"