Resumo

O presente artigo visa mostrar como a Tropicália influenciou diretamente na formação intelectual do brasileiro, principalmente no que diz respeito a desacomodação quanto ao Regime Militar. Nele foram abordados aspectos políticos na trajetória do então presidente Artur da Costa e Silva, suas atitudes e chegada até a eclosão do tropicalismo, buscar fazer uma ruptura com toda aquela violência e repressão visível aos mais diversos meios populares individuais e coletivos.
Ressaltando a participação de nomes importantes das mais diversas áreas das artes:
música, teatro, cinema, artes plásticas, etc., a quebra de paradigmas foi a marca do movimento, bebendo em fontes diversas e se formulando a cada nova composição e/ou exibição.
Tropicália. Formação Intelectual. Regime Militar. Ruptura. Artes.

INTRODUÇÃO

A partir de leituras, análises, visualizações de vídeos e documentários surgiu esta proposição desafiadora de escolher um, entre vários aspectos, a serem mencionados num pequeno artigo sobre a Tropicália. Muitos temas poderiam ser escolhidos e principalmente retratar os artistas individuais em coletividade em prol da evolução tropicalista, mas a influência da Tropicália tocou com maior efervescência a vontade de escrever.
Pensando no desafio constante que os artistas tiveram para delatar sua arte, afinal vivíamos os tão famosos Anos de Chumbo, sob regência de Artur da Costa e Silva, a versatilidade e inteligência dos protagonistas é que aqui virão a ser destacadas. Com sua linguagem dribladora, metafórica, ou melhor, carregada de muitas Figuras de Linguagem, as letras tropicalistas ganham seu destaque durante toda história deste país. Eximindo e não excluindo a música, no teatro, se viu a dramaturgia de José Celso Martinez Corrêa, no cinema as belas películas de Gláuber Rocha tendo como seu fiel escudeiro Roque Araújo, na poesia e composições os suaves toques de Capinam, a maestria de Rogério Duprat, etc. Enfim, a carregada influência intelectual que estes artistas deixaram.
1 Graduado em História pela UNEB - Universidade Estadual da Bahia - e graduado em Letras Vernáculas pela UCSal - Universidade Católica do Salvador.
2 Docente em Literatura da UCSAL - Universidade Católica do Salvador - e Mestre em Literatura pela UFBA - Universidade Federal da Bahia.
1 O GOVERNO ARTUR DA COSTA E SILVA Nascido em Taquari, no Rio Grande do Sul, em 3 de outubro de 1899, Artur da Costa e Silva foi, cronologicamente o segundo Marechal o governo o Brasil durante o período do Regime Militar. Advindo da Escola Militar do Realengo, participante da ARENA, o "partido da situação", a Aliança Renovadora Nacional, Costa e Silva foi se formando e lapidando no militarismo a partir da criação da Escola para Militares no ano de 1946, ainda no governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951).
Em 1963, com vigor e já com poderes em mãos, foi dos principais rivais da população brasileira em suas manifestações e do então presidente João Goulart, reprimindo com aguda violência os manifestantes estudantis da Região Nordeste do nosso país. Com isso, enquanto era chefe de Departamento nas Forças Armadas, Costa e Silva foi se popularizando por sua rude postura em reprimir movimentos populares. Era, inquestionavelmente, fonte de confiança e credibilidade para os comandantes de maior patente no Exército nacional.
Em 1964, cinco dias após a instalação do Golpe Militar em 31 de março, foi nomeado Ministro da Guerra, cargo que hoje corresponde ao Ministério da Defesa, substituindo Jair Dantas Ribeiro. Enquanto isso, governando o país se via o também Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco tomando as primeiras medidas repressivas em um todo frente à população. A ideia inicial de implantar o Regime era causar um susto que duraria poucos meses, no mais tardar dois anos, porém o sonho da volta à liberdade era cassada e intensa, com um ultrapassado discurso, utilizado desde o Estado Novo (137 1945) de Getúlio Vargas, a latente ameaça do Perigo Vermelho, o Comunismo.
Em princípio se via até formas de acreditar nessa possibilidade, afinal três anos antes o então presidente Jânio Quadro (1961) entregara a Medalha Cruzeiro do Sul ao então para o então Embaixador e Ministro da Indústria de Cuba, também conhecido pelo acúmulo de cargos como Primeiro Ministro, Ernesto Guevara de la Serna, vulgarmente conhecido como Che Guevara.
Lembrando que dois anos antes havia ocorrido a Revolução Cubana (1959), comandada por Fidel Castro, falecido nesse dia 26 de novembro de 2016.
Primeiro perigo visível e como se não bastasse, pouquíssimo tempo depois envia seu vice-presidente para China, outro país Comunista, que não por acaso viria a ser João Goulart.
A população, com taxas de analfabetismo ainda beirando os 70%, acreditava em tudo que era notícia através da mídia impressa e do rádio. Os militares faziam questão de disseminar a probabilidade do Comunismo adentrar o Brasil. O povo temia porque cerca de vinte atrás o mundo se via tenebroso com a menção deste nome, ele era símbolo de retrocessos e baixas na economia em virtude do fechamento de muitos meios de comércio com empresas estrangeiras, ocasionando uma déficit na balança comercial que poderia quebrar o nosso país, que, nesta época, 1963/1964, já vinha com um grande rombo na dívida externa em virtude do governo Juscelino Kubitschek (1955-1960) ter entregue o país ao capital estrangeiro norte-americano.
Assim, a Ditadura Militar encontrou os suportes perfeitos para sua implantação. Vale-se lembrar também que basicamente toda América do Sul passava por um contexto político parecido. Em suma, o que os cidadãos brasileiros não contavam era com a perda total dos seus direitos individuais e coletivos, dentre elas podemos citar, as perdas: de garantias individuais, da liberdade de expressão e pensamento, dos direitos do cidadão, imposição da censura aos meios de comunicação, extinção do pluripartidarismo.
Resumindo-se apenas ao bipartidarismo, o cenário era explícito e totalmente desigualitário, com a ARENA, supracitada, sendo o "partido da questão/ocasião", que apesar do nome nada tinha de renovadora progressiva, apenas regressiva, o partido das Forças Armadas, contra o MDB, o partido da oposição, Movimento Democrático Brasileiro, hoje também conhecido como PMDB, que naquela época era obrigado a seguir um velho ditado popular
"manda quem pode, obedece quem tem juízo", ou seja, era totalmente subordinado ao primeiro. A relação entre ambos era no mínimo injusta ou de fachada.
Apenas por essas básicas características mencionadas nos parágrafos anteriores, imaginemos o cenário popular de produções gerais no Brasil.
Egocêntrico e só se desenvolvendo para substituir Castelo Branco, Costa e Silva se mantinha firme no Ministério da Guerra, utilizando, a plenos pulmões, ordens repressoras e assassinas quanto a populares protestantes nas ruas, principalmente: estudantes, professores, escritores rebelados, músicos, etc.
Assim, Costa e Silva se manteve naquele Ministério até dia 30 de junho de 1966, quando correria, no Palácio do Catete, uma decisão para saber qual seria o próximo general a governar o país.
Não seria, assim como não foi, novidade nenhuma ver o velho Ministro de ataques populares ser indicado e anunciado ao cargo de presidente da República para o ano seguinte, 1967. Ele tinha todos os atributos nos quais militares precisavam para os anos posteriores, era a hora de deixar um Marechal cordial e pôr uma de "linha dura3
", centralizador e autônomo, que fizesse os brasileiros sentirem verdadeiramente o ardor do Movimento com todas atrocidades necessárias e/ou desnecessárias.
Após todo este trâmite e período de manutenção, em 15 de março de 1967 assume a presidência da República o Marechal Artur da Costa e Silva, na linha presidencial ditatorial, o segundo a assumir o Regime Militar no Brasil.
A ascensão de Costa e Silva mergulhou o país no acirramento do processo ditatorial, multiplicando e intensificando práticas de tortura, prisões, exílios, desaparecimentos. Os Anos de Chumbo tiveram o seu início com o fortalecimento da repressão. (GONDIM SANTOS; COSTA SOUZA, 2013) Com isso, não seria nenhuma novidade, o Congresso nacional, assim como ainda hoje, apenas, claro, com menor vigor se compararmos a imposições e repressões gerais, era totalmente passivo as decisões em um todo.
A população brasileira não participava de fato do processo político, e o próprio Congresso, que deveria exercer a função de casa da cidadania e da democracia, era um instrumento de ratificação das decisões tomadas pelos militares, que, por sua vez, atendiam aos interesses de determinados grupos conservadores que continuavam a apoiá-los. (GONDIM SANTOS; COSTA SOUZA, 2013) Mas é claro que nem todos aceitavam essas transições que ocorriam dentro da Ditadura, prova disso foi que Carlos Lacerda, João Goulart, Juscelino

[...]