Como citar: SILVA, Airton César. O Movimento Sociocultural do Blues no início do século XX. In Revista Digital Simonsen nº xx.xxx.2018 disponível em www.simonsen.br/revistadigitalsimonsen ISSN: 2466 5941

 

 

HISTÓRIA

 

 

O Movimento Sociocultural do Blues no início do século XX.

 

 

                                                                                  Por: Airton César da Silva1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 Graduando em Licenciatura Plena em História pela Federação de Escolas Faculdades Integradas Simonsen

 

RESUMO.

Este artigo discutirá as origens do blues e seu desenvolvimento no início do século XX nos Estados Unidos. Nascido nas canções cantadas durante o trabalho nas plantações de algodão no sul do país, o blues aparece como uma manifestação cultural e social do negro diante da segregação e da situação opressiva. Seguindo a interpretação cotidiana estabelecida por Michel de Certeau, propõe-se que o surgimento do blues esteja ligado às táticas criadas pelos negros para sobreviver à estratégia estabelecida pela ordem político-econômica vigente. Conectados a temas cotidianos e extravagantes, as canções de blues e seus bluesmen foram um passo importante na representação e consolidação de uma cultura afro-americana. Cultura que até agora tem seus espaços consolidados na sociedade americana (baseado na tese de: PINHEIRO, Marcos Sorrilha; MACIEL, Fred2).

 

 

 

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008.

HOBSBAWM, Eric. História social do jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1990.

OLIVER, Paul, livro The New Grove Gospel, Blues e Jazz, Paul Oliver 1997, p. 44).

MINTZ, Sidney; O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropológica.

PRICE, Richard. O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropológica.

MUGGIATI, Roberto. Blues: da lama à fama. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

OLIVER, Paul. The story of the blues. Dexter, Michigan: Northeastern University Press,

1998.

 

 

 

PALAVRAS – CHAVES:Blues – Medo– musical – Mito– separados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2Prof. Dr.- Universidade Estadual Paulista-Unesp Franca, São Paulo-Brasil

FRED MACIEL Mestrando PPGH-UNESP/ Bolsista FAPESP Franca, São Paulo-Brasil.

INTRODUÇÃO.

 

O que é Blues, o que representou para a população afrodescendente e o mundo?  Nesse sentido é bom destacar alguns aspectos importantes na formação desta tendência musical. Fato tanto ontem quanto hoje os ícones da música negra norte americana desempenham um papel importantíssimo na luta contra o racismo. O racismo é um problema histórico que está presente desde a  fundação dos Estados Unidos.

Ele nasceu no longo período de escravidão Sulista e se fixou, na sociedade, tendo como pano de fundo a traumática Guerra de Secessão2. A música negra nasceu e se desenvolveu a partir da força pulsante e da criatividade da comunidade afro-americana de escravos e posteriormente de ex-escravos, ou seja, a música negra nos Estados Unidos historicamente é uma forma de protesto e resistência na luta contra a violência e o preconceito racial.

            Desde sua criação, sua evolução e sucessivas mutações deixam clara a longa jornada para a superfície do povo negro americano, para quem, durante várias décadas, o Blues foi mais que uma música, seu principal meio de expressão, desempenhando igualmente, desde então, um papel sociológico e psicológico absolutamente não habitual na música moderna do mundo ocidental.

“O mito”4, o que representou para a população afrodescendente? Nesse ponto, é importante ressaltar um mito é formado do imaginário, do popular, da crença em algo, do sangue, do emocional e da morte e situações elementos que os negros tinham de sobra para a sua criação e o blues tinha tudo isso para ser formado a musica da alma.

 

 

 

 

 

 

Secessão ato de separar do que estava unido; separação

4 Mito relato fantástico de tradição oral.

DESENVOLVIMENTO.

 

 No decorrer do período da escravidão americana no século XIX, após a traumática Guerra de Secessão5 uma nova sociedade emerge no seio da colônia, negros nascidos em território americano, aculturados pelo convívio onde estavam inseridos os chamados Crioulos6 Nascidos do longo período de escravidão e se fixaram a sociedade.

            Como seus antepassados mesmo sendo nascidos na América, carregavam o estigma7 de ser negro e segregado pelas leis racista da época.

Trabalhando em minas, plantações Os negros africanos como escravos no Sul do país serão de suma importância neste processo, bem como a região do Delta do Rio Yazoo, região onde se deu a gênese do Blues. O que se percebe é que não há exatidão sobre a origem do Blues. Por exemplo, para alguns, a terra do Blues é o Delta do Mississipi, para outros é o Delta do rio Yazoo."Os Blues têm andado por aí por séculos e séculos, e os blues foram escritos anos e séculos atrás - eles estiveram sempre aqui” (OLIVER, Paul 1997, p. 44).

 

Eles ritmavam suas dores e aflições em versos melancólicos e impregnados de revolta em um sentimento de protesto aos grilhões impostos pela sociedade branca à música negra nasceu quase que institivamente e se desenvolveu a partir da força pulsante e da criatividade da comunidade afro-americana de escravos e posteriormente de ex-escravos, ou seja, a música negra nos Estados Unidos é segundo a história um ato musical de protesto e resistência na luta contra a violência e o preconceito.

            O blues como assim foi chamado cresceu entre o povo afro tornando-se a musica da alma negra, suas sucessivas mutações alavancaram a subida para a superfície do povo negro americano, para quem, durante várias décadas, o Blues foi mais que uma música, seu principal meio de expressão, desempenhando igualmente, desde então, um papel sociológico e psicológico absolutamente não habitual na música moderna do mundo ocidental.

 

 

 

 

 5 Secessão; ato de separar do que estava unido; separação.

 6 Crioulos que ou quem nasceu escravo nos países sul-americanos, ou norte americano.

 7 Estigma marca ou cicatriz deixada por ferida.

 

 

Na realidade, o Blues é uma etnomúsica8, mas em condições sócio históricas tais, que pôde ser explorada comercialmente antes de tornar-se objeto de estudos científicos! É só, portanto, através de uma abordagem desse tipo etnomusicológica, sociológica e histórica - que se pode compreender realmente o Blues e dar-lhe seu lugar exato na civilização americana. Porque, nascido de uma longa tradição oral e abalando então pesadamente as regras da harmonia, o Blues desafiou durante muito tempo os hábitos da escrita musical era o canto emocional de cada negro Blues foi uma das principais fontes de todos os gêneros musicais americanos: jazz, soul, disco, rock roll, uma boa parte da música pop, da corrente folk urbana os anos 60 e mesmo, de modo significativo, da música country em todas as suas derivadas - western swing, Blue Grass, rockabilly, os instrumentos musicais usados pelos negros em meados do século XIX, particularmente o banjo, um ancestral do banjo, que parece tem sido uma adaptação sutil de vários instrumentos de origem africana: o violino, esse popular violino de origem irlandesa que muitos escravos negros parecem ter aprendido a tocar.

.  Não devemos esquecer que apenas um século separa o fim da Guerra de Secessão e a emancipação dos escravos negros do reconhecimento internacional do Blues! Em meio a esses problemas enfrentados, “os escravos teriam encontrado oportunidades para arquitetar e manter seu estilo de vida” (MINTZ; Price, 2003, p. 44). Dessa maneira, os autores compreendem que o papel do escravo na formação da própria cultura americana (crioula) é muito menos passivo do que o modelo anterior propunha. A concretização de tal estilo de vida poderia ser verificada nas relações ocorridas no dia a dia da colônia, como na divisão do trabalho, no artesanato, no comércio, entre outros. Conforme segue, Uma tradição viva e dinâmica, o blues é forjado em tempos difíceis, mas poderoso o suficiente para trazer os bons tempos. Lendas como Lead Belly, Memphis Slim, Big Cot Broonzy, Elizabeth Cotten, Sonny Terry e Brownie McGhee, entre outras, formaram a "espinha dorsal do blues" a partir deste período que a música afro-americana vai começar a se desenvolver. “Durante os problemas enfrentados os afrodescendentes arquitetaram, seu meio de vida” (MINTZ; PRICE, 2003, p. 44).

 

 

8 Etnomúsica, música característica de, ou circunscrita a um certo povo ou etnia.

Para os autores, o papel do escravo na formação da própria cultura americana (crioula) é mais agressivo. A necessidade de fincar as estacas de tal estilo de vida precisava ser de forma progressiva dia após dia, conforme tudo o que eles faziam em colônia.

Por conta disso, a grande presença de escravos, de maneira mais concentrada na região.

A cooperação no Sul levou à criação de legislação para impedir qualquer forma de montagem ou reunião de escravos africanos. Em 1712, por exemplo, um código de escravo foi estabelecido na Carolina do Sul, limitando ainda mais as ações dos negros. O medo da rebelião foi provado, por causa da grande porcentagem de cativos nesta sociedade. Mesmo com a independência na segunda metade do século XVIII, a situação da escravidão nos Estados Unidos não mudaria. Segundo a citação de  (KARNAL, Leandro 2008, p. 66), “os ventos da liberdade de1776 tinham cor branca [...]”.da memoria, do sagrado e do conhecimento informal passado de pai para filho ,mães e filhas netos e avos.

 “O blues nasceu na América”. Mas sendo um movimento negro e foi repudiado muitas vezes neste período da historia, do blues ou jazz (HOBSBAWM, 1990).

As lutas por direitos iguais ainda perduram, como nos dias de ontem acontece hoje, os ícones da música negra, cantores de blues, jaz, rock e outras desempenham o mesmo papel nesta luta contra o racismo usando da musica como estandarte de batalha.

             

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considerações finais

 

 

Muitos países compraram escravos da África, mas é interessante notar que o blues é originalmente uma cultura negra única. Vários países receberam escravos negros da África, mas o blues é uma manifestação cultural única dos americanos negros. Tal evento provocou um impacto mutante de uma nova tendência musical que duraria até hoje.

 

“O blues se caracterizou com uma canção triste e melancólica que trazia em sua letra, os protestos e revoltas de um povo injustiçado pelo escravismo e suas marcas. O termo Blues nasceu no longo período de escravidão e se fixou, na  sociedade, a partir da traumática Guerra Civil Americana.  A música negra nasceu e se desenvolveu a partir do poder pulsante e criatividade da comunidade afro-americana” (KARNAL, Leandro, (2007 p. 273-278);

 

O espírito do Blues já existia no imaginário dos negros que procuravam uma forma de extravasar e o termo "Blues", com todas as suas conotações depressivas e fictícias, era certamente difundido entre os negros. Uma vez consolidado  o blues começa se subdividir em subgêneros sendo um deles o jazz, que para (Hobsbawm 1989 p 327) surge da fusão do gospel com o country blues.

O blues não é tratado como um termo de tristeza e melancolia é uma ferramenta musical de protesto forjada na criatividade crioula e tornou-se forte ao longo dos anos. Pode-se dizer que já estava presente no imaginário afro-americano, então seria apenas uma história de brancos e negros com algo em comum! Partindo desse pressuposto, a aculturação nas colônias possibilitou combinar os elementos necessários para a criação desta nova cultura.

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.

 

 OLIVER, Paul, livro The New Grove Gospel, Blues e Jazz, Paul Oliver 1997, p. 44).

 (MINTZ; Price, 2003, p. 44

MARCOS SORRILHA PINHEIRO,Prof. Dr.- Universidade Estadual Paulista-Unesp

Franca, São Paulo-Brasil

FRED MACIEL,Mestrando PPGH-UNESP/ Bolsista FAPESP

Franca, São Paulo-Brasil

ANNANIAS, Ricardo. A tradição oral africana e as origens do jazz. Dissertação de

Mestrado. São Paulo: USP, 2008,

APTHEKER, Herbert. Uma nova história dos Estados Unidos: a era colonial. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

BLACKBURN, Robin. A construção do escravismo no Novo Mundo. Rio de Janeiro/São

Paulo: Record, 2003.

DAVIS, Francis. The History of the Blues: The Roots, the Music, the People. Cambridge:

Da Capo Press, 2003.

HOBSBAWM, Eric. História social do jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1990.

JACINTO, Thífani Postali. Música e Folkcomunicação: o Blues como manifestação

afro-americana. Trabalho apresentado na XII Conferência Brasileira de Folkcomunicação

(Folkcom), Taubaté/SP, 2009.

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Record, 1967.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São

Paulo: Contexto, 2008.

MATTELART, Armand; NEVEU, Érik. Introdução aos estudos culturais. São Paulo:

Parábola, 2004.

MILLER, Manfred. O blues na atualidade. In: BERENDT, Joachin-Ernst. História do Jazz.

São Paulo: Abril, 1975.

MINTZ, Sidney; PRICE, Richard. O nascimento da cultura afro-americana: uma

perspectiva antropológica. Rio de Janeiro: Pallas/Universidade Cândido Mendes, 2003

MUGGIATI, Roberto. Blues: da lama à fama. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

OLIVER, Paul. The story of the blues. Dexter, Michigan: Northeastern University Press,

1998.

OLIVER, Paul; HARRISON, Max; BOLCOM, William. Gospel, Blues e Jazz. Porto Alegre:

L&PM, 1989.