O MORRO DO CASTELO
Publicado em 18 de maio de 2013 por Rodrigo Bonioli Alves Pereira
Quem vem da Zona sul pelo aterro do Flamengo passando pelo tribunal de justiça, na rua Antônio Carlos, ao lado do edifício garagem,não repara que a rua tem uma elevação que passa pela igreja de São José terminando na assembleia legislativa. Para muitos não passa de algo normal em uma cidade agitada como o Rio de Janeiro.
Ali, onde ocorre a dita elevação, o motorista acaba de atravessar o membro desaparecido da cidade, como diz o jornalista Pedro Dória em seu livro “1965 enquanto o Brasil nascia “. O morro do castelo, mais tarde chamado de morro do descanso, de São Januário, do Conselho era o limite da cidade, após o morro havia só água. Ele media 184.000 metros quadrados, o equivalente a 18 quarteirões do Rio atual. Para se ter uma ideia melhor da localização do morro, em comprimento, ele ia do início da Antônio Carlos até a assembleia legislativa, em largura começava no tribunal de justiça, mais especificamente na lamina III, perto das barca, e terminava depois da avenida Rio Branco.
A cidade começou a ser instalada no alto do morro, mas para o início da ocupação era preciso limpar o local, pois de acordo com Mem de Sá, em sua carta o morro possuía um grande mato, cheio de muitas árvores grossas. “Escolhi hum sítio que parecia mais conveniente para hedificar nelle a cidade de São Sebastião o qual sítio hera de um grande mato espeço cheo de muitas arvores grossas em que se levou asaz de trabalho em as cortar e alimpar o dito sítio e hedificar huma cidade grande serquada de muro por sima com muitos baluartes e fortes cheo de artelharia, e fiz a igreja dos padres de jhesus onde agora residem telhada e bem consertada (Mem de Sá) foi pelas mãos de um português degradado na Bahia chamado Nuno Garcia, que o morro foi limpo e foi habitado por 600 pessoas tais como: colonos portugueses e jesuítas.Com o aumento mais tarde da população o morro passou a ter três acessos :A ladeira da misericórdia ( hoje apenas uma pequena subida ao lado da igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso ), a ladeira do castelo ou do cotovelo (onde hoje se encontra o acesso ás laminas I e III do tribunal de justiça),e a ladeira da ajuda (perto da rua México).
Com o passar do tempo o morro ficou pequeno para a população, lá já tinha sido construído a igreja e o colégio dos Jesuítas, a casa de câmara e da cadeia e o forte de São Januário (mais tarde batizado de São Sebastião). Vendo as dificuldades do dia-a-dia, a falta de segurança, fez a nobreza a partir de 1570 começar a deixar o morro, permanecendo apenas o pessoal menos favorecidos, pois não tinham sido contemplado com terras doadas pela coroa.
A mudança trouxe a decadência do morro e a marginalização do lugar que passou a ser evitado pelo povo. Teve início, então, a primeira fase de desmonte do morro do castelo, foram 300 imóveis retirados e 66 mil metros cúbicos de terras que teve como destino o aterramento da Urca, Lagoa Rodrigo de Freitas e o Flamengo. A população removida foi para o subúrbio do Rio e os objetos de valores transferidos para diversos pontos da cidade.
Restou apenas uma parte do morro que mais tarde, em 1902, começou a ser demolida pela reforma do engenheiro Francisco Pereira Passos no governo do presidente Rodrigues Alves para abrir uma avenida no coração do Rio de Janeiro, a avenida central, hoje conhecida como Avenida Rio Branco.