Jaime do Castelo Pedro: Doutorando em Humanidades

Alice Freitas de Oliveira: Mestre em Gestão e Administracao Educacional

 

Resumo

Este artigo aborda sobre o mito da objectividade científica a partir de um olhar na Pedagogia da Incerteza, no campo do conhecimento evolutivo e numa era tecnológica. A produção de conhecimentos a partir do  método científico é um grande sucesso para a humanidade. Porém, a ciência tem se mostrado capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa e tornar possível fazer certas previsões no mundo. Levanta-se então a questão sobre qual seria o sentido real do mito que se retrata na objectividade científica? Onde o observador busca aquilo que lhe parece conveniente e interessante para a construção do conhecimento, conferindo neste caso uma objectividade racional na tentativa de dar resposta à um dado questionamento, deixando de lado a subjectividade científica. O homem anda tateando pela incerteza no futuro fazendo uma comparação do presente com o passado na tentativa de vencer completamente a força inconsciente que se apega ao passado na despreucupação com a realidade do presente em que vive. Porém, vivemos num mundo de incertezas com incertezas. Assim sendo, surgem questões como: Quem somos? Por que vivemos? Constatou-se que, a ciência pode ser manipulada de acordo com certos interesses. Porém, nem toda a evolução tecnológica traz benefícios para o futuro, podendo as vezes ser a criadora da morte despercebida. Focaliza-se então, o homem como um ser social, possuidor de dúvidas e ganâncias numa ala em que o homem encontra o mundo tal como é e pretende modificá-lo ao seu jeito no decorrer do tempo. Concluindo-se que a pedagogia da certeza tem o seu fandamento no mito do saber objectivo, acreditando que o cientista é quem melhor encarna os valores das formas modernas da ideologia dominante, ele tem a capacidade de influenciar a divergência de certas ideias. Nota-se que existe uma cumplicidade entre objectividade e subjectividade, tendo em vista a intencionalidade escondida neste procedimento, mesmo diante de uma proposta experimental que fragmentalize sujeito e objecto. Sublinha-se ainda que uma descoberta científica pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal.

 

Introdução

O presente artigo visa trazer uma abordagem sobre o mito da objectividade científica a partir de um olhar na Pedagogia da Incerteza. Numa perspectiva em que se considera o conhecimento como dinâmico e a contemporaniedade mergulhada no mundo da tecnologia, a qual pode-se designar a era das máquinas. O conhecimento evolui de tal forma que vai de mãos dadas com as decorrentes correcções do erro cometido pela humanidade.

As ciências possuem o seu carácter de distinção, a medida em que cada uma delas delimita a sua investigação e a sua metodologia a aplicar para lograr o conhecimento, tendo por vezes uma oposição na sua generalidade das consequências conclusivas, mas não se deixa de lado as semelhanças que nelas poderão existir.

A produção de conhecimentos a partir do  método científico é um grande sucesso para a humanidade. Este facto, justifica-se a medida em que o homem pode superar inúmeros limites e transformar  e sua relação com a natureza. Porém, a ciência tem se mostrado capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa e tornar possível fazer certas previsões no mundo. No mundo contemporâneo, o conhecimento deve ser passível de ser transmitida de uma pessoa para outra, demonstrável para terceiros, bem como representar um avanço no entendimento do mundo real.

A questão que se coloca é: qual é o sentido real do mito que se retrata na objectividade científica?

 

O Mito da Objectividade Científica

Na perspectiva de Candiotto (s.d.), muitos filósofos e cientistas fazem das verdades científicas e filosóficas um porto seguro ou um mito. Assim sendo, o referido mito trata-se de uma série de “portos seguros” metafórico, acreditando encontrar neles protecção e segurança contra as críticas e questionamentos, onde é instaurada uma pedagogia de incerteza.

De acordo com Baraquin e Laffitte (2004), a ciência não tem uma base infalível, quer se trate dos sentidos ou da razão. A ciência progride por correcções e aproximações sucessivas, por erros corrigidos, mas, no entanto, progride. Neste contexto, a evolução da ciência submete-se numa sequência progressiva de correcções e paralelismo para uma convergência positiva.

Segundo Aranha e Martins (1995, p. 156):

Quando se trata do olhar de um cientista, este se acha impregnado por pressupostos que lhe permitem ver o que o leigo não percebe. Ao fazer a colecta de dados, o cientista seleciona os mais relevantes para o encaminhamento da solução do problema. O critério para a selecção dos factos obviamente já orienta a observação.

Aqui estão presentes os objectivos de percepção da individualidade, onde o observador busca aquilo que lhe parece conveniente e interessante para a construção do conhecimento, conferindo neste caso uma objectividade racional na tentativa de dar resposta à um dado questionamento, deixando de lado a subjectividade científica.

Para Baraquin e Laffitte (2004), a cientificidade, que inclui a verificabilidade versus falsicabilidade e falibilidade na tentativa de corrigir a senso comum, a originalidade de falsos problemas, através da lógica simbólica e da referência aos dados sensíveis, determinando as barreiras entre a região das verdades lógicas e as verdades empíricas, o empirismo lógico adopta como método a análise lógica, afirmando que se não existe nenhum meio para dizer quando um enunciado é verdadeiro, então o enunciado não tem sentido, convergindo para a conclusão de que não correspondendo à metafísica a um uso inevitável das capacidades teóricas da razão, como defende Kant.  Neste contexto, se o princípio de verificabilidade, identificando significado e condições empíricas de verdade, excluiu a filosofia do domínio do conhecimento do real. Porém, a Filosofia já não se situa nas margens da ciência, mas considera-se a lógica interna da ciência, a prova da sua convertibilidade na linguagem empírica ou formal.

Segundo Freud citado por Candiotto (s.d.), dentre todos os animais, o homem é aquele que, ao nascer, encontra-se mais despreparado para a vida. Seu processo de emancipação é muito demorado. Nesta visão, o homem anda tateando pela incerteza no futuro fazendo uma comparação do presente com o passado na tentativa de vencer completamente a força inconsciente que se apega ao passado na despreucupação com a realidade do presente em que vive.

Em paralelo com Oliveira (2011), é de concordar que a objectividade é a qualidade daquilo que é objectivo, externo à consciência, resultado de observação imparcial, independente das preferências individuais ou grupais. Nesta visão, em epistemologia, o conceito de objectividade caracteriza a validade de um conhecimento ou de uma representação relactiva à um objecto. Assim, do ponto de vista epistemológico, a objectividade não é sinônimo de verdade, embora seja comum confundir os dois conceitos, mas sim uma espécie de índice de confiança ou de qualidade dos conhecimentos e representações.

Ainda no campo da filosofia, Kant apresenta a objectividade como algo que tem validade universal, independentemente de religião, cultura, época ou lugar. Neste contexto, sua contrapartida é o relativismo. Enquanto que, no campo da ciência, objectividade é a propriedade de teorias científicas de estabelecer afirmações inequívocas que podem ser testadas independentemente dos cientistas que as propuseram.

Por sua vez, Candiotto (s.d.), reforça que temos que aprender a viver na incerteza e na insegurança, pois nosso conhecimento nasce da dúvida e se alimenta de incertezas. Este pensamento leva-nos a incutir que a cientificidade parte do conhecimento empírico nascendo de uma inquietação para uma aprovação. Porém, vivemos num mundo de incertezas com incertezas. Assim sendo, surgem questões como: Quem somos? Por que vivemos?

De acordo com Japiassu (2012) e Japiassu (1976), o conhecimento nasce da dúvida e alimenta-se da incerteza. Para ele os homens devem aprender a viver no repouso do movimento e na segurança da incerteza. Nisto, o problema da incerteza e da insegurança é vivido por todos os homens da face da terra no seu dia-a-dia. Onde para os cientistas o mito do porto seguro significa a ideia sempre escondida, em toda produção intelectual, de serem geniais ou de poderem perdurar para sempre, em contraste daquilo o que a ciência é na sua realidade (fenômeno social). Neste contexto, a ciência pode ser manipulada de acordo com certos interesses.

No entender de Candiotto (s.d.), constitui tarefa do educador provocar nos alunos desequilíbrios ou necessidades psicológicas, desejos de pesquisa, espírito de busca, sede de descoberta. Nesta ordem de ideia, cabe ao educador motivar o aluno, respeitar as suas opiniões, tendo em conta que o aluno não é uma tábuas raza e se desviando da educação bancária. Como sublinha o autor, que a pedagogia da incerteza tenta relativizar a produção científica e a do ensino das ciências.  Porque aqui está uma das condiçõe para que os alunos desenvolvam sua capacidade crítica positiva, assumam­se como personalidades individualizadas e criativas, capazes de não dependerem das ideias dos professores.

O autor acima citado, ao afirmar que vivemos hoje num mundo dominado pela máquina e pela idéia de máquina. Quis ilustrar que a tecnologia cresceu, esqueceu-se do homem e as consequencias da evolução da tecnologia. Porém, nem toda a evolução tecnológica traz bons benefícios para o futuro, podendo as vezes ser a criadora da morte despercebida.

Conforme a perspectiva do mesmo autor, o cientista cauciona as tentativas da classe dominante para mascarar a opressão e a exploração por trás das pretensas necessidades técnicas e racionais. Nesta linhagem, nota-se que a pedagogia de certa forma pode ser influenciada pela política de um estado, pela minoria, pelos interesses particulares e pelo presente sem tentar prever as consequencias futuras, pensando que  estamos a dominar as coisas enquanto que são elas que nos dominam. Existindo uma dominação e exploração entre os homens. Facto que pode-se exemplicar na ideia genial do homem ao criar armas de fogo para a sua protecção, ganhando vantagens no mercado do negócio e se esquecendo enquanto o seu bolso enche os outros humanos lutam e se matam com oque ele produz a partir do seu conhecimento. Portanto, a guerra armada de uns na tristeza é a alegria dos outros no negócio.

A ciência é submetida em dogmas, desde a concepção que se faz da ciência, na questão da objectividade científica até ao um ponto de vista filosófico. Assim, em paralelo com o autor, deve-se duvidar da mitologia científica que fez do progresso indefinido da ciência e da técnica o motor incansável da felicidade humana.

Japiassu (1983), aborda sobre a pedagogia da incerteza numa perspectiva da existência humana e suas tendências, avaliando os relacionamentos dos conflitos sobre a natureza e as suas consequências. Aqui focaliza-se o homem como um ser social, possuidor de dúvidas e ganâncias numa ala em que o homem encontra o mundo tal como é e pretende modificá-lo ao seu jeito no decorrer do tempo.

 

Conclusão

A pedagogia da certeza tem o seu fandamento no mito do saber objectivo, acreditando que o cientista é quem melhor encarna os valores das formas modernas da ideologia dominante, ele tem a capacidade de influenciar a divergência de certas ideias. A produção científica faz­se numa sociedade determinada que condiciona seus objectivos, seus agentes e seu modo de funcionamento culiminando numa manipulação organizada e minunciosamente. Aqui se ilumina pelo contrário aquele conhecimento definido pela objectividade de restrições. Podendo trazer certas consequencias graves ao futuro da humanidade.

Nota-se que existe uma cumplicidade entre objectividade e subjectividade, tendo em vista a intencionalidade escondida neste procedimento, mesmo diante de uma proposta experimental que fragmentalize sujeito e objecto.

Sublinha-se ainda que uma descoberta científica pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal. Ela forneceria um saber, de modo a fornecer os meios de acção. Os fins aos quais servem tais meios não diriam respeito aos cientistas. Portanto, a ciência apresenta soluções técnicas para a resolução dos problemas, mas o problema está no poder. Porém, nem todo o progresso científico é um progresso social.

Conclui-se que o referido mito trata-se de uma série de “portos seguros” metafórico, acreditando encontrar neles protecção e segurança contra as críticas e questionamentos, onde é instaurada uma pedagogia de incerteza. o homem anda tateando pela incerteza no futuro fazendo uma comparação do presente com o passado na tentativa de vencer completamente a força inconsciente que se apega ao passado na despreucupação com a realidade do presente em que vive. A cientificidade parte do conhecimento empírico nascendo de uma inquietação para uma aprovação. Porém, vivemos num mundo de incertezas com incertezas.

 

Referências Bibliográficas

  • Aranha, M. L. de A. e Martins, M. H. P. (1995). Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna.
  • Baraquin, N. e Laffitte, J. (2004). Dicionário de Filósofos (Dictionnaire des Philosophes). Tradução de Pedro Elói Duarte. Coleção Lexis. Lisboa: Edições 70.
  • Candiotto, C. (s.d.). Epistemologia, Texto 3: A Pedagogia da Incerteza. Brasil.
  • Japiassu, H. F. (1976). Interdisciplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro: Imago.
  • Japiassu, H. F. (1983). A pedagogia da incerteza. In: Japiassu, H. A pedagogia da incerteza e outros estudos. Rio de Janeiro: Imago.
  • Japiassu, H. F. (2012). A Crise das Ciências Humanas. São Paulo: Cortez.
  • Oliveira, L. M. (2011). Objetividade e neutralidade. Acesso em: https://www.webartigos.com/artigos/objetividade-e neutralidade/70968#ixzz5IaUGJi1Y 21 de Junho de 2018. 20 horas.