Resumo: Joaquim Barbosa oferece a rara chance de detonar o perigoso mito da “naturalidade”.

O mito da “naturalidade”

Percebo nos pronunciamentos do Ministro Joaquim Barbosa – refiro-me ao julgamento do “mensalão” – o surto energético de uma sabedoria alcandorada,  como se trovejasse labaredas de justiça.  

E digo mais: ilude-se crassamente quem vincula o pulso firme de Sua Excelência a norteios de moralidade arreliada, ou a inflexões de caráter ocasionais.

Nada disso. O que enxergo entre os  méritos do Magistrado, muito mais que a hombridade de condenar este ou aquele réu, de aplicar esta ou aquela pena, acerta de ser o superior cuidado de impedir que as gerações de hoje aceitem como “natural”  o modelo ético em que se inspiraram as manobras do “mensalão”, e o transfiram às gerações de amanhã, a título de herança cultural.

Em outras palavras, o Ministro, além da  robusta e lúcida síntese dos fatos arrolados no processo, oferece a oportunidade de detonar o perigoso mito da “naturalidade”.

O mito da “naturalidade” pode definir-se como sendo aquele que persuade o cidadão a aceitar como “natural” qualquer afronta, qualquer descalabro, qualquer bandalheira, desde que haja um ponto de apoio na história.

Por exemplo, sempre houve, no passado,  corrupção nos altos escalões, logo nada mais “natural” que, no presente,  haja corrupção nos altos escalões.

Conclusão pavorosa, mas triunfante, caso ninguém vá para a cadeia, ou se dê um jeitinho, o famoso jeitinho brasileiro, de burlar o regulamento.