As aulas do professor Bertero eram sempre imprevisíveis. Às vezes começava as explanações sobre estratégia e terminava com música clássica, orquestras, política e psicanálise. Outras vezes falando sobre os clusters de vinhos da Califórnia, lembrava das boas garrafas que saboreou ao longo da sua vida, ressaltando que dava para degustar um bom vinho por apenas 30 dólares. Como estávamos em início do Plano Real,era até possível para qualquer um encarar, mas hoje os vinhos razoáveis para o Bertero já estariam pela casa dos 130 Reais. Não chegava às excentricidades de um sommelier, que consegue identificar toques de frutos silvestres ao amanhecer, mas dava lá os seus pitacos.


Numa ocasião em que marcamos uma reunião para discutir meu projeto de mestrado, precisei levar minha filha, ainda com cinco anos para a reunião. Combinamos que ela ficaria sentada num banco em frente enquanto o “papai” conversava com o professor. Na época ela andava com a sua flauta doce a tira-colo, onde quer que fosse. Foi então que durante o início da sisuda conversa sobre gestão de pessoas, ouvimos “A time for us” música tema do filme Romeu e Julieta. Fiquei um tanto desconcertado diante da surpresa do mestre, que se levantou como quem estivesse procurando um aluno inconveniente numa sala de aula.


Mas não foi nada disso. Ele comentou no seu estilo professoral, que era algo extremamente inusitado ouvir aquela melodia com flauta doce num ambiente de um curso de Administração. Não tive nem tempo de explicar que era minha filha e ele, saindo da sala foi ao encontro da pequena flautista e a trouxe para a sala. E depois de seguidos elogios quis saber mais sobre a vocação da menina, que respondeu que gostaria de estudar oboé. Como que me preparando para os futuros gastos com os estudos musicais da Mariane, estimou em dólares o preço de um bom oboé. Nossa reunião terminou sem haver começado, pois a música ocupou o espaço que reservamos para o meu projeto de dissertação.


Carlos Osmar Bertero, graduado em Filosofia pela USP, mudou o rumo de sua profícua carreira acadêmica, ao fazer mestrado e doutorado em Berkeley, nos EUA, mas na área de Administração, onde labutou por longos anos na Fundação Getúlio Vargas, PUC e UMESP. Segundo contou, chegou a dar aulas de Filosofia num colégio em São Paulo e teve como aluna a ex-prefeita Marta Smith de Vasconcelos Suplicy.


Hoje é o seu aniversário e estimo que deve ser um oitentão, mas pelas fotos publicadas no Face ainda se percebe o seu porte elegante e altivo, indicando que ainda tem muitas primaveras pela frente.
Nosso último encontro foi na PUC-SP, onde eu o entrevistei para uma revista da FEI, quando discorreu longamente sobre o futuro da Administração e outros temas conexos. Na época era o presidente da ANPAD, Associação Nacional de Pesquisa em Administração.


Parabéns Professor.