O Menino sem roupa vive num lugar chamado Consumolândia onde quase todo mundo está sempre comprando, consumindo alguma coisa, ou mais que isso, quase todo mundo acha importante, fundamental, possuir alguma coisa e mostrar isso como se fizesse alguém melhor.
Assim uma vizinha do Menino sem roupa, moradora da Consumolândia, saiu outro dia com a mãe para comprar uma blusinha, na volta no caminho já com a blusa vestida e toda exibida viu um cãozinho com a pata machucada, chorando e pedindo ajuda:
- Menina de blusa nova me ajude eu fui atropelado.
E a Menina de blusa nova ao ouvir o cãozinho machucado pedindo socorro respondeu:
- Não vou te ajudar quem mandou você ser um cão rabugento.
O Menino sem roupa ao ver o cãozinho machucado logo o levou para casa e dele bem cuidou.
Mas na Consumolândia de tudo acontece, até conflito de quem gastava mais dinheiro consumindo.
Certa vez, o primo do Menino sem roupa comprou uma bicicleta e outro garoto comprou apenas um velocípede. Como a bicicleta custou mais dinheiro que o velocípede, o primo do Menino sem roupa se achou no direito de jogar para fora do parque o garoto e seu velocípede e disse:
- Afaste seu brinquedinho do parque, pois minha bicicleta é maior e mais cara que ele.
O Menino sem roupa, que não está preocupado com o que é mais caro ou mais barato logo levou o menino com o seu velocípede para casa e com ele brincou.
Outra vez uma senhora foi ao centro da Consumolândia, consumir claro, e na fila de espera para o pagamento de um objeto comprado foi empurrada por uma pessoa mais jovem e ao mesmo tempo perdeu a vez e perguntou:
- Por que você fez isso?
A pessoa que a empurrou, o "furão", respondeu perguntando:
- Por que, não gostou? Aqui eu já estava e estou consumindo mais que a senhora, o mundo é assim e nunca vai mudar.
Depois disso dali saiu a senhora chorando magoada pelo comportamento egoísta e hostil do homem na fila de espera.
Já fora do lugar ao ver a situação o Menino sem roupa perguntou a senhora o que tinha acontecido, ela descreveu tudo ao Menino sem roupa. Após isso ele falou:
- Não fique assim senhora, na nossa sociedade as pessoas costumam tratar as outras por aquilo que elas possuem materialmente e não por aquilo que realmente interessa: aquilo que elas são.
Nesse lugar, a Consumolândia, existe coisas "estranhas": uma pessoa fica num microfone anunciando ofertas de objetos e outras pessoas se empurram, brigam, se xingam e tudo mais que você imaginar. E nisso alguém perguntou ao Menino sem roupa:
- Por que você está sem roupa?
Ele respondeu:
- Porque eu posso viver sem roupa, se disserem o contrário disso, não é vontade minha é a vontade e interesse de alguém.
Assim, o que parecia importante de verdade para o Menino sem roupa não era roupa ou outro consumo qualquer ou acumulo dele, e sim a soma de amigos que ele pudesse fazer: a gratidão do cãozinho, o garoto do velocípede, a senhora da fila, são exemplos disso.