Depois que saí do quartel, onde a norma geral, em qualquer estação do ano, era diariamente ao levantar e ao final do expediente ir direto ao banho frio, hoje me reservo o hábito de apenas tomar banho antes de me deitar. Por uma razão muito simples. Se os lençóis da minha cama estão limpos, devo preservá-los livrando-me do pó, da sujeira, das impurezas e do suor corporal a que estive exposto durante o dia.
Quanto aos demais hábitos a evitar, nestes tempos de pestes e epidemias, se eu tivesse o poder de legislar, aboliria quatro coisas:
O mate, o beijo, o abraço e o aperto de mão.
O mate coletivo porque faz parte do mau costume de passar a cuia de mão em mão e a bomba de ser chupada por muitas bocas. Esta é uma das maiores formas de contágio por vírus, germens e bactérias oriundos das mãos e bocas.
Depois temos o beijo social, aquele que as pessoas costumam aplicar nas faces umas das outras, duas ou três vezes, na chegada e na saída de alguns eventos. São doze beijos ou encostos de face de parte a parte que poderiam ser evitados. Pois quem garante a imunidade perante esse beijo que normalmente as pessoas se aplicam, às vezes até nas apresentações, inclusive o beijo político, quando mal se conhecem? E os contágios não acontecem apenas entre as pessoas envolvidas entre si nestes primeiros beijos, mas daí se propagam.
O abraço, com aquele contato corpo a corpo, além da mistura de cheiros e perfumes, faz com que haja uma troca de caspas, fios de cabelo, lêndeas, germes e bactérias de uns a outros. E não me venham dizer que todos andam sempre imaculados e impecavelmente limpos!
Mates, beijos na face e na boca e abraços só são toleráveis entre cônjuges, e olha lá!
E, finalmente, temos o terrível aperto de mão, uma das modalidades mais perigosas de transmissão de doenças infecto-contagiosas. Esse mau hábito invalida quaisquer assepsias. Às vezes, acabamos de lavar as mãos, antes de sentarmos à mesa de um restaurante para almoçar ou jantar, e eis que nos surge um amigo, e lá vem aquele tradicional aperto de mão, quando não acontece de apresentar-nos também a outro conhecido ou comensal de última hora acompanhado da respectiva esposa. Novos apertos de mão e quem sabe alguns beijos. Aí, disfarçadamente, antes de tocarmos os talheres, copos, pratos e guardanapos, como quem não quer nada, levantamos do nosso lugar à mesa e lá nos vamos outra vez ao toalete para lavar as mãos.
Mas se por conta própria nos recusamos ao mate coletivo, ao abraço, ao beijo e ao aperto de mão, passamos por grosseiros ou mal educados ...
Portanto, para evitar tais indelicadezas e constrangimentos, e ao mesmo tempo nos colocarmos ao abrigo de contatos nocivos e indesejáveis, nada mais prático do que serem abolidas da ?conduta social?, de uma vez por todas, essas quatro formas de promiscuidade.

(Luciano Machado)