O MAR EM PRANTOS
Nazaré, 15-01-1974

A lua iluminou
Minha triste passagem
E o mar chorou,
Não sei de ciúmes,
Não sei de alegria.
Eu só sei que chorava
Montanhas de lágrimas,
Lágrimas salgadas
A rolarem-se em ondas,
Num choro interminável,
Numa amargura infindável.
Uma gaivota solitária
Voava por sobre as lágrimas.
Também ela estava triste,
Talvez chorasse
O óleo que tinha no mar
Ou talvez, a falta da companheira
Que não sabia onde estava.
E procurava, procurava... em vão.
Agora as lágrimas
Beijavam os cílios,
Que eram as areias brancas e a vegetação.
Dois velhos pescadores
Retiravam os alimentos dali.
O pão de cada dia.
Também os pássaros rasteiros
Pescavam os inúmeros
E microscópicos animais
Que só eles enxergavam.
Também um jumento ao longe,
Relinchava em busca de amor.
Sua voz era chorosa
Assim como a minha voz,

Em busca do meu amor.
Assim como a voz do mar
Em busca de seu amor,
Que era a praia branca.
E a praia o repelia,
E ele voltava,
E ele chorava,
E ele implorava,
E ele voltava, insistentemente
Para ser repelido de novo,
E não tomava vergonha,
E tornava a insistir
Porque amava a praia.
Porque não era orgulhoso,
E insistia para o resto da vida.
Era penoso...