Quando o dia está bom e calmo, quando tudo está dando certo e eu estou feliz, sempre tenho medo. No mar, a calmaria sempre precede a tempestades e no mar da vida,  no mar da minha vida, nunca foi diferente.

Eu estava sozinha passando alguns dias fora da cidade. A noite foi de pesada chuva e no lado de fora, além da parede do meu quarto a água caía pesadamente do telhado e o som era de uma sinfonia maravilhosa  que me embalou o sono durante toda a noite. Acordei bem disposta, faminta e alegre. Eu estava feliz.

O rapaz da padaria tinha trazido pão fresquinho e enquanto tomava um cafezinho quente o celular tocou e me deram uma boa notícia. Eu sou dessas pessoas que ficam felizes com qualquer coisa, pequenas coisas mesmo , por isso me alegrei porque o vidraceiro estava chegando para colocar as portinhas de um móvel. Continuava chovendo muito mas também fiquei alegre porque apesar do frio as roupas lavadas na véspera tinham secado. A energia elétrica também tinha sido restabelecida e já tínhamos televisão e também eu poderia continuar a minha leitura no livro eletrônico, que era a minha paixão.

Tudo estava bom e calmo na superfície do meu oceano se uma pedra não tivesse atingido o meu pequeno barco, que perdeu o equilíbrio e quase se despedaçou. Caí nas águas geladas e todo o meu céu escureceu.

No momento eu ainda estou abaixo do espelho d’água, perdida e em parafuso, tentando subir para respirar, me recuperar e me segurar no que restou do meu barco, para continuar vivendo.

 

Autora: Junia - 08/11/2018