O mal é escândalo?

 

Caro leitor, saiba que, o mal é um escândalo que o pecado causa ao homem. “Faz mal o homem que se alimenta dando escândalo” (Rm 14, 20b). O mal é escândalo, pois o homem não o rejeita internamente, por isso peca. O que é pecado? Pecar é, sobretudo, aceitar o mal no coração e para São Paulo em Rm 14, 23b, pecado é “tudo o que não precede da boa fé”. A boa fé entendida como retidão da consciência. O pecado não está na materialidade do ato, mas no interior do homem. A pessoa atuando de boa fé, não peca. Agindo sem convicção, então, peca, faz o mal. Esse, por sua vez, pode ser abordado de dois modos: problema e mistério.

O problema do mal fica à cargo da filosofia, pois se faz uma abordagem mais filosófica, enquanto que o seu mistério, que envolver o homem, reside no campo teológico. Para Moser, “o problema, de alguma forma, poder ser justificado; o mistério ultrapassa qualquer tentativa de justificação”. E segue dizendo que “um problema é alguma coisa que se encontra inteiramente diante de mim e que, por isso mesmo, eu posso compreender. O mistério... é uma dimensão na qual eu me encontro envolvido”.

Com as reflexões filosóficas e teológicas sobre o mal, abre-se para abordagens mais antigas como o dualismo persa; a moîra grega; a concepção bíblica, cogitações que fazem perceber que o pecado se constitui em apenas um aspecto do mal, que se mostra multiforme.

O dualismo persa ensina que toda criação se constitui numa mistura de bem e de mal. Esse se apresenta com um sentido fundamental: ressaltar a vitória sobre o bem. O bem e o mal, portanto, têm princípios diferentes, mas ambos fazem parte de um entretempo, que é a história humana.

Na tentativa de conciliar o bem e o mal, a concepção grega do mal se aproxima do dualismo. No entanto, para o pensador Heráclito, o bem e o mal não passam de categorias humanas. No seu cerne, essa concepção defende que o mal é mais forte do que o homem. As vitórias humanas conseguidas sobre o mal são atingidas através de super-homens (Zaratustra de Nietzsche) e, ainda assim, auxiliados pelos deuses.

Em fim, no ponto de vista cristão depreende que o mal é um mistério insondável, já que parte da reflexão teológica. E que, em segundo plano, o triunfo do bem sobre o mal não parece ser possível no mundo físico presente. Os tormentos dos justos, pois, serão eliminados por Deus. Assim, o mal que escandaliza e que se torna tanto um problema quanto um mistério para o homem terá sua dizimação em Deus.

Joacir Soares d’Abadia, padre, escritor e autor de 5 livros

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