O Maior dos Povos Apátridas

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 30/06/2025 | Política

O foco das informações é constante, mas não suficientemente amplo. Tanto não satisfatório que fornece demasiada, porém, justa atenção a determinadas causas, mas quase nenhuma a propósitos análogos, que seguem olvidados. Falo, é claro, a respeito de palestinos e curdos.

Todos tem a ciência da causa palestina, e é difícil conversarmos com alguém que não expresse simpatia ou discórdia, para um ou outro lado. Só que os palestinos são um total de cerca de cinco milhões. Já os curdos são o maior povo apátrida do planeta, num número próximo a trinta milhões, e para os quais ainda não há um território em que exerçam, de Direito, sua soberania e autodeterminação. Por isso, hoje estão espalhados pelo oeste do Irã, norte do Iraque, leste da Síria e sudeste da Turquia. O mais interessante é que, mesmo sem os auspícios da ONU, eles consideram essas regiões, somadas, o Curdistão unificado. Lá, por exemplo, possuem seu próprio Parlamento, suas decorrentes leis, seu Governo e suas Forças de Segurança, que em grande medida derrotaram o Estado Islâmico, e com mulheres a lutar, denotando o seu caráter não fundamentalista. 

Os curdos descendem, provavelmente, de uma das sociedades  iranianas mais obscuras do século VII a.C: o Império Medo. Sua língua atual varia, desde o idioma curso, falado pela maioria da população, até o árabe, persa, turco, turcomano, armênio, georgiano e outros geograficamente presentes, menos conhecidos e oriundos da região do Cáucaso. Essa diversidade linguística é vista pelos países em que estão instalados como um fator de não união, aproveitando-se seus governantes dessa "desvantagem" (entre aspas porque, como supra expresso, derrotaram o Estado Islâmico, mesmo com o uso comum da maior parte dos idiomas entre si correntes) para proceder a eventuais deportações e-ou massacres. Em 1988, por exemplo, Saddam Hussein lançou ataques mortais contra o povo curdo residente no norte do Iraque. Tais crimes, que custaram as vidas de um número próximo a cinco mil, foram cometidos com o uso de armas químicas, sob o silêncio total do Ocidente, uma vez que o ditador iraquiano ainda não havia se rebelado contra seus criadores, os EUA. Da mesma forma, os curdos do sudeste da Turquia querem a sua separação para a futura incorporação ao Curdistão, lutando contra o governo central por meio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Seus costumes são muito diferentes dos do Ocidente: além de a região destoar do próprio Oriente Médio no que tange a aplicação da Sharia, já que, em comparação aos demais, são pouco rigorosos, os homens têm um turbante para cada tipo de celebração, ao passo que as mulheres utilizam vestidos, no estilo das ciganas, com cores fortes e impressionistas. Quando um visitante chega a uma casa curda, é recebido com honras, eis que, segundo eles, “um convidado é um enviado de Deus”.

Belo. Talvez seja por isso que ninguém queira lhes dar um território. Afinal, num mundo onde o Ocidente busca, às custas de guerras e mortes, mais acúmulo material, e onde outros, inamistosamente, utilizam a religião para os mesmos fins e mais poder, os curdos seriam um dos mais fortes exércitos da região, apenas usado para defender sua sociedade contra os que seriam os “não enviados, mas renegados por Deus”. Sim, valores domésticos transferidos ao teatro de combate.

 Avante, curdos!