O lugar onde nasci e me criei
Foi em terras com nome de Santa.
De tão lindo quem chega se encanta
Meus primeiros passos ali ensaiei.
Palavras sem nexo eu balbuciei
Senti o carinho, aconchego do lar
De Chico e Ana a me consolar
A castigar-me também quando errei!
Moleque travesso carecia de frei!
Que só pai e mãe sabem como dar.

De terreiro grande e bom pra correr
Gato, Pato, Capote, Peru e Galinha
No Pé de Pereiro ninho de Rolinha 
De manhã cedo mamãe a varrer.
Pra cima e baixo sem nenhum malquerer
Puxando no rabo de ovelha e bode
Levando vantagem em outras, sacode!
Mãinha correndo pra me socorrer
Chinelo na bunda se sobreviver
E o choro manhoso na hora engole!

Cedo pai levanta ainda é madrugada
Olha na janela reforça sua fé
Lavar boca e rosto, fazer o café 
É seu ritual pra mais uma jornada
Café na garrafa pra rapaziada
É sua missão não pode faltar
Até de manhã cedo o leite tirar
Silêncio quebrado pela passarada
Sinfonia fina depois da noitada
Seu canto diário a nos encantar.

O Rio Jaguaribe bem calmo e sereno
Pulo com vigor nas suas águas claras
Peixe escondido por entre as coivaras
O grito ao longe: -Vem pra casa menino!
Mais um minutim de garoto malino
Correndo o risco do couro arder
E antes que isso venha acontecer
O pé na carreira igual um felino
Fazer a tarefa que nunca termino
O sol já se esconde, vai anoitecer.

O racha da tarde no campo de terra
A cada semana mudava de lugar
Era ordem do meu Padim Edmar
Pro pasto brotar e alimentar o gado
Não era de todo do nosso agrado
Pois o carrapicho fazia sofrer
Mesmo com os pés furados a arder
O jogo da tarde era pra nós sagrado!
Sujo, inteiro ou até machucado
O nosso semblante era de prazer.

O cair da noite na Santa Maria
Tem o por do sol mais belo que há!
Atrás das Oiticicas que existe por lá
O sol vai mansinho levando o dia
E a noite chega, com ela a calmaria
Já não mais se escuta um bicho cantar
É onde eu nasci o melhor lugar!
A Santa Maria do meu coração
Meus melhores dias foi nesse torrão
Onde Pai e Mãe construíram seu lar.