1 INTRODUÇÃO

Através da comunicação que é umas das principais funções da língua, que desenvolvemos argumentos, perguntas, ensinamos e instruímos. A língua faz parte da nossa identidade e da nossa cultura. A língua portuguesa utilizada no Brasil não é uniforme, pelo contrário, é constituída de muitas variedades, milhares de brasileiros falam esse idioma com dezenas de variedades o que enriquecem a nossa língua. É preciso entender como está o ensino atualmente das variações linguísticas no ambiente escolar, por isso surgiu o interesse em realizar este trabalho. Há anos pesquisadores da área da linguagem desenvolvem pesquisas com o objetivo de identificar e analisar fenômenos das variações linguísticas.

Atualmente, é nas escolas que podemos notar uma ocorrência mais acentuada desse fenômeno, principalmente nos anos iniciais de escolaridade, uma vez que os estudantes trazem uma bagagem linguística bem mais recheada dessas variedades, e é nessa fase que se tem o primeiro contato com a língua padrão.

É nesse período que o docente se vê em conflito com seu saber e sua prática, realizando intervenções que podem ser desrespeitosas e preconceituosas em relação às variações linguísticas. É necessário que esses docentes possam entender que falar diferente da norma padrão não é errado.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa alguns autores foram fundamentais para as discussões propostas aqui, os principais autores que embasaram estas pesquisa foram: Marcos Bagno (2007), Irandé Antunes (2007), Luiz Carlos Cagliari (2007), por serem um dos principais pesquisadores do tema.

Este trabalho está organizado em três seções: a primeira, intitulada AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NO BRASIL, analisa a variedade cultural bem como a influência de cada grupo na formação do português falado atualmente. A segunda seção, denominada VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NA SALA DE AULA, traz os desafios que o professor como orientador do ensino, sendo seu dever garantir o ensino da língua sem preconceitos com a variação linguística para os alunos. Em seguida os PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, que engloba também o subtítulo aos resultados e discussões, aborda uma pesquisa descritiva, por meio de uma análise de campo e abordagem qualitativa dos dados.

Em suma, esse trabalho propõe-se a contribuir para o campo de pesquisas voltadas para o ensino-aprendizagem das variações linguísticas na educação, demonstrando a estudantes e professores de língua portuguesa que o estudo da língua pode ser trabalhado não somente com regras e preceitos da língua, como dita a gramática normativa, e sim também conciliando o conteúdo com a vivência do aluno e suas origens.

2 AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NO BRASIL

Toda língua se modifica e se reinventa ao longo do tempo, as variações linguísticas reúnem as variantes da língua que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia, dessas reinvenções surgem as variações que envolvem diversos aspectos: históricos, sociais, culturais e geográficos. De acordo com Bagno (2008): São faladas mais de dezenas de línguas diferentes, entre línguas indígenas, línguas trazidas pelos imigrantes europeus e asiáticos, língua surgidas das situações de contato nas extensas zonas fronteiriças com os países vizinhos, além de falarem diversas línguas africanas trazidas pelas vítimas do sistema escravista. (BAGNO, 2008, p.27) Quando os portugueses chegaram ao Brasil, já habitavam em nossas terras os índios que já utilizavam diversas línguas entre elas o Tupi. Com a colonização e a influência de Portugal a língua passou a ser uma mistura de Tupi com Português, sem esquecer também a língua das dezenas de colônias de imigrantes que vieram para o país posteriormente e a influência de outras línguas indígenas usadas por várias outras tribos, além das diversas línguas africanas trazidas pelos escravos no período colonial. Segundo Marcuschi (2007): Toda vez que emprego a palavra língua não me refiro a um sistema de regras determinado, abstrato, regular e homogêneo, nem a relação linguísticas imanentes. Ao contrário, minha concepção da língua pressupõe um fenômeno heterogêneo (com múltiplas formas de manifestação), variável (dinâmico, suscetível à mudança), histórico e social (fruto de práticas sociais e históricas), indeterminada sob o ponto de vista semântico e sintático (submetido às condições de produção) e que se manifesta em situações de uso concretas, com texto e discurso. (MARCUSCHI, 2007, p.43) 8 Sabemos que o Brasil apresenta uma grande variação linguística de região para região, de estado para estado devido as dimensões continentais. A língua portuguesa vive em constante movimento e transformação, e essa característica faz com que ocorra uma alteração na maneira de escrever, no significado de determinadas palavras e até mesmo no emprego delas. As variações históricas podem ser observadas a partir de três formas: as palavras que deixam de ser utilizadas com o passar do tempo, no vocabulário próprio entre as diferentes faixas de idade, nos acentos gráficos ou grafemas que entraram em desuso. Para Terra (2008): Vocábulos de origem indígena e africana, como “maloca”, “macumba”, vatapá, muito comuns para nós, não são tão comuns para os portugueses, uma vez que a língua falada por eles, por razão históricas, não recebeu contribuições dos povos indígenas e africanos. (TERRA, 2008, p.64) A riqueza cultural e linguística brasileira carregam heranças de vários povos que juntas contribuíram formando e representando a identidade da nossa nação. Existem também as variações regionais ou diatópicas: que são variações que acontecem de acordo com o local onde vivem os falantes, sofrendo sua influência. Esse tipo de variação ocorre porque diferentes regiões têm culturas diversas, com hábitos, modos e tradições distintos, estabelecendo assim outras estruturas linguísticas. Podem ser observadas por diferentes palavras para os mesmos conceitos, diferentes sotaques, dialetos e falares e até mesmo com reduções de palavras ou perdas de fonemas. Para Mussalin & Bentes (2006): A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças linguísticas distribuídas no espaço, físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas. A variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores e que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala. (MUSSALIN & BENTES, 2006, p.34) Com as dimensões continentais do nosso país esse tipo de variação ficam evidentes quando se escuta um falante da região sul e um da região nordeste, existindo nomes diferentes para o mesmo substantivo. É fundamental perceber a importância da variação linguística para 9 o nosso país, como entender as nossas origens e o contexto social e as influências que criaram o português falado hoje no Brasil. As variações linguísticas enriquecem a cultura do nosso país através da nossa expressão e da pluralidade de cada região, é preciso valorizar as heranças culturais que representam a identidade do povo brasileiro sem permitir qualquer tipo de discriminação ou preconceito as variações linguísticas. Uma língua falada por mais de 200 milhões de pessoas, de diferentes realidades, mas apesar de algumas diferenças na fala e diferenças de realidade, possuem o mesmo objetivo de se comunicar. É importante a escola preparar os alunos a ter consciência dos diferentes tipos de falantes da linguagem popular, proporcionando mais recursos para a comunicação dos mesmos em diversas regiões do país. 3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA O ensino da língua portuguesa passou por várias mudanças para que fossem consideradas na sala de aula não só a gramática normativa, mas também as variações linguísticas presentes na vivência dos alunos, que fazem parte do seu repertório do seu cotidiano. É importante o aprendizado das variedades linguísticas na escola e os professores são responsáveis por transmitir esse conhecimento aos alunos. As aulas de língua portuguesa costumam centrar-se no ensino da gramática ensinando centenas de regras, que muitas vezes distanciam da realidade dos falantes. É correto que o ensino a norma culta é fundamental para os alunos escreverem melhor, com precisão e qualidade mas no entanto o ensino precisa também tornar-se aberto às múltiplas variedades linguísticas (sociais, regionais, profissionais e etárias). Segundo Terra (2008), “ a gramática normativa apresenta características semelhantes aos códigos de natureza ética ou moral, que nos impõem o que devemos ou não fazer, o que é permitido e o que é proibido”. Com isso é importante reconhecer e avaliar as características dos alunos através da variedade linguística dos mesmos e que não fique presa apenas a norma padrão, aproximando o discente da sua realidade e condições sociais e a partir desse momento trabalhar a norma padrão evitando assim que o aluno se sinta inferior ou constrangido. 10 Segundo Terra (2008): Dado o caráter estático da norma e o caráter dinâmico da fala, a distância entre ambas é, em cada momento maior. A fala, por ser a realização concreta da língua, representando sua diversidade, evolui a cada instante, acompanhando as transformações da sociedade. (TERRA, 2008, p.59) Compreendemos assim que a escola precisa refletir sobre a forma de ensino e as variações linguísticas como um fator fundamental na formação moral do indivíduo, uma vez que é necessário a escola mostrar as melhores alternativas possíveis para atualizar e inserir os estudos sobre as diversidades da linguagem para os alunos. Para Bagno (2008): É preciso evitar a prática distorcida de apresentar a variação como se ela existisse apenas nos meios rurais ou menos escolarizados, como se também não houvesse variação (e mudança) linguística e entre os falantes urbanos, socialmente prestigiados e altamente escolarizados, inclusive nos gêneros escritos mais monitorados. (BAGNO, 2008, p.16) Considerando assim que deve haver um equilíbrio na abordagem das variações sem favorecer um tipo de variação em determinada situação nem criticar outras por suas características e particularidades ou preferências. Os professores nem a escola não podem discriminar os alunos pelo seu jeito de se comunicar, a maneira de se expressar representa mais do que um processo comunicativo mas a identidade do falante de sua região ou origem, sendo assim uma oportunidade relevante para respeitar e aprender com as riquezas e diversidades que a língua materna possui. Todos têm o direito de aprender a norma padrão e o mesmo deve ser aplicado ao ensino das variações, os alunos não devem se sentir inferiores e nem superiores em relação as variações, compreendendo apenas que existe a diferença. Segundo Bagno (2008): Seria mais justo e democrático explicar ao aluno que ele pode dizer “bulacha” ou “bolacha”, mas que só pode escrever bolacha, porque é necessária uma ortografia única para toda a língua, para que todos possam ler e compreender o que está escrito.(BAGNO, 2008, P. 69) 11 Nesse momento é importante aos docentes conhecerem a Sociolinguística para mudarem a concepção de ensino sem ver as variações linguísticas dos alunos como o errado e entender a dinâmica das novas gerações e mudanças da língua que eles são os continuadores da língua para o futuro. O ensino da língua portuguesa concentra-se bastante na escrita já a fala raramente é trabalhada em sala de aula, podendo ser mais abordada e ainda de uma forma lúdica com a participação dos alunos de uma maneira prazerosa, sem criticar a maneira como certo grupo social fala. Para Cagliari (2007), “pode-se perceber agora que o ensino da Língua Portuguesa não só é problemático pelo que se ensina, mas também é falho porque se deixa de ensinar muita coisa”. O preconceito linguístico está intimamente ligado às variações um exemplo claro é observar que algumas regiões que consideram a sua maneira de se comunicar mais elegante do que outras. A discriminação, principalmente, a fala de pessoas das camadas sociais menos privilegiadas. Vale ressaltar que o Brasil possui dimensões continentais e, embora todos falemos a língua portuguesa, ela apresenta diversas variações e particularidades regionais, como visto. Sem entender que as diferenças existem, o preconceito da língua acontece no teor de deboche, comportamento que pode gerar diversos tipos de violência (física, verbal e psicológica). Segundo Cagliari (2007): Aprender português não é só aprender como a língua (e suas variedades) funcionam, mas também estudar ao máximo os usos linguísticos; e isso não significa só aprender a ler e escrever, mas inclui ainda a formação para aprender e usar as variedades linguísticas diferentes, sobretudo o dialeto-padrão. A escola dessa forma não só ensinaria português, como desempenharia ainda o papel imprescindível de promover socialmente os menos favorecidos pela sociedade. (CAGLIARI, 2007, p.83) Além disso, os indivíduos que sofrem com o preconceito linguístico, muitas vezes, adquirem problemas de sociabilidade, os sotaques que se distinguem não somente nas cinco regiões do Brasil, mas também dentro de um próprio estado, são os principais alvos de discriminação. 12 Por exemplo, uma pessoa que nasceu e vive na capital do estado e outra que vem do interior. Nesse caso, muitas palavras são usadas para identificar algumas dessas pessoas, usando um tom pejorativo e depreciativo associado às variedades linguísticas, por exemplo: o caipira, o baiano, o nordestino e entre outros. Entretanto, devemos salientar que todas as variações são aceitas e nenhuma delas é superior, ou considerada a mais correta. Por isso a importância da escola na formação do aluno ajudando-o a refletir sobre suas atitudes e compreender as diferenças de uma maneira natural e não com a concepção errada. Como observa Cagliari (2007): Se os alunos aprenderem a verdade linguística das variantes, geração após geração, a sociedade mudará seu modo de encarar esse fenômeno e passará a ter um comportamento social mais adequado com relação às diferenças linguísticas. (CAGLIARI, 2007, p.84) Para a diminuição da intolerância e desrespeito é preciso que na sala de aula criarmos consciência da diversidade e variações linguísticas, sem considerar formas de falar errada ou certas e buscar conhecimento, ao que para alguns pode ser o diferente é preciso saber apreciar a diversidade que é justamente a riqueza da língua portuguesa como a cultura e identidade do nosso país que tem a influência de milhares de culturas, europeias, africanas, além da influência indígena. Segundo Bagno (2007): A escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os quase 190 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, assim como seu grau de escolarização. (BAGNO, 2007, p.270) Todo tipo de discriminação com as variações linguísticas regionais deve ser combatida, não se pode definir a cultura inferior e superior, as falas não devem ser comparadas, os 13 brasileiros falam o português correto a língua vai se adaptando a realidade e necessidade de cada população. Para Antunes (2007): A variação, assim, aparece como uma coisa inevitavelmente normal. Ou seja, existem variações linguísticas não porque as pessoas são ignorantes ou indisciplinados, existem porque as línguas são fatos sociais, situados num tempo e num espaço concretos, com funções definidos, e como tais, são condicionados por esses fatores. (ANTUNES, 2007, p.104) O aluno deve ser instruído e orientado pela escola a saber as regras gramaticais e executálas nos momentos necessários. Mas não devem ser discriminados ou ridicularizados pelas origens e sotaques como pertencentes a uma sociedade desprestigiada. 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo foi realizado através de uma pesquisa qualitativa com abordagem descritivo – explicativa, bibliográfica e de campo. A pesquisa de campo foi realizada com cinco professoras de Língua Portuguesa de ensino fundamental da rede pública do município de Granja, Ceará. Para resultados da pesquisa, as professoras responderam um questionário também de cinco questões. As entrevistadas serão denominadas na análise de professoras A, B, C, D e E. As questões usadas no questionário foram: 1. Que tipos de variações linguística mais está presente hoje na escola na qual você trabalha? 2. Como você como professor(a) trabalha esse assunto? 3. Há muito preconceito linguístico como consequência da variação linguística? 4. Os materiais didáticos com os quais você trabalha tratam de variação linguística? 14 5. Os alunos, na sua concepção, veem a variação linguística como algo natural ou como erro? Por quê? As professoras possuem como tempo de atuação no magistério de 10, 15, 20, 20 e 31 anos, respectivamente. Suas formações são: Letras com Habilitação em Língua Portuguesa para a primeira, a segunda é graduada em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e especialização em Português, a terceira é graduada em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa com especialização em Gestão Escolar, a quarta é formada em Pedagogia especializada em Português e Inglês, a quinta é graduada em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa com especialização em Português e Literatura. 4.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta seção contém a descrição e análise dos dados coletados. Primeiramente, apresentamse as respostas dos professores entrevistados. Em seguida, apresenta-se a análise de cada resposta. Por último, poderá ser observada a relação existente entre todas as respostas e o resultado final. Percebemos que o uso da linguagem utilizada pelos alunos no dia a dia é bastante diferente da norma culta e cabe ao professor orientar aos alunos o momento que poder usar cada uma. Na primeira questão, perguntou-se: que tipos de variações linguísticas mais está presente hoje na escola na qual você trabalha? Das cinco entrevistadas, a professora A respondeu que, vários alunos utilizam a linguagem informal mais voltada para o seu grupo de amigos e isto acaba sendo trazido para a sala de aula. A professora B diz que as origens de cada aluno assim como a sua cultura, introduzem na escola as variações linguísticas de suas localidades. Já a professora C responde que a língua não é homogênea em todos os falantes e que o uso na escola varia de acordo com a religião e classe social. A professora D diz que os nossos alunos utilizam diariamente a linguagem informal, mas quando necessita o uso utilizam a norma culta. A professora E afirma que os alunos não tem muito contato com praticantes da norma culta, em primeiro plano usam a variação do grupo a que pertencem. Na pergunta 1, percebemos que o uso da linguagem utilizada pelos alunos no dia a dia é bastante diferente da norma culta e cabe ao professor orientar aos alunos o momento que pode 15 usar cada uma. Existem as variações linguísticas trazidas pelos alunos para a escola e os professores entendem e respeitam isso, porém não podem deixar a norma culta de lado. Na segunda questão perguntamos, como as professoras trabalha esse assunto. A professora A disse que orienta aos alunos a distinguir e separar as variações linguísticas usadas no dia a dia e o uso obrigatória da norma culta na produção textual. A professora B afirmou que trabalha com os alunos através de diálogos, palestras, na produção de textos para a conscientização na formação dos alunos. A professora C respondeu que faz diferentes abordagens do assunto. A professora D disse que de acordo com a necessidade tentam esclarecer aos alunos usarem a norma culta para aperfeiçoar o próprio vocabulário. A professora E tenta apresentar as variações linguísticas nunca como um erro, trabalhando com respeito a forma de cada um falar conseguindo assim melhores resultados. Notamos que na pergunta 2, as professoras entendem a importância desse trabalho na sala de aula, o desafio de separar o uso das variações linguísticas com a aplicação da norma culta, sem desrespeitar o modo de falar dos alunos. Na terceira questão, perguntou-se há muito preconceito linguístico como consequência das variações linguísticas. A professora A disse que existe sim preconceito linguísticos principalmente dos alunos da zona rural. A professora B afirma que sim sempre existiu preconceito quando se trata de variações linguísticas. A professora C afirma que existe preconceito linguístico e social. A professora D disse que, sim que o preconceito ainda existe fortemente. A professora E responde que, na escola não, pois atualmente muitas músicas escutadas pelos alunos usam bastante variação linguística. O uso da norma culta é que sofre com preconceito. Podemos observar na pergunta 3 que a maioria das professoras afirma que existe sim preconceito com as variações linguísticas dos alunos, com as origens de cada aluno, e o professor não deve se omitir de combater essa prática esclarecendo aos alunos a importância das variações linguísticas para todos. Na quarta questão, foi perguntado se os materiais didáticos trabalhados em sala tratam de variação linguística. A professora A respondeu que sim existe alguns assuntos sobre variações nos livros didáticos. A professora B afirma que sim os materiais didáticos trabalham com a norma culta e as variações linguísticas. A professora C respondeu que sim especialmente em materiais para os alunos que estão se preparando para o vestibular. A professora D disse que sim aos poucos os materiais estão 16 trazendo mais esse tema para o estudo. A professora E respondeu que, sim tanto nos livros do fundamental como os livros do ensino médio trabalham as variações linguísticas. Na pergunta 4, observamos que os materiais didáticos trabalhados pelos professores abordam o estudo das variações linguísticas, mas é importante que os professores complementem esse material utilizando outras ferramentas como palestras, charges, tirinha e músicas. A quinta pergunta foi se os alunos na concepção das professoras, veem a variação linguísticas como algo natural ou como um erro e por que. A professora A respondeu que a maioria dos alunos vê como um erro pelo fato de muitos anos as variações linguísticas foram ensinadas como um erro. A professora B disse que para os alunos as variações linguísticas são vistas como algo natural pelo o comportamento dos mesmos. A professora C afirmou que os alunos veem como um erro as variações linguísticas devido ao preconceito que existe. A professora D respondeu que os alunos tratam como algo natural e que aos poucos entendem que precisam melhorar o vocabulário. A professora E afirma que uma parte ainda vê como um erro mais aos poucos estão mudando porque eles percebem que o importante é usar a comunicação de forma correta. Na pergunta 5, percebemos que as respostas foram bastante divididas na percepção dos professores, alguns professores acreditam que os alunos veem as variações linguísticas como um erro e outros como algo natural. Talvez pelo fato do preconceito presente nas variações linguísticas, a falta de uma abordagem do tema de uma forma mais direta na escola e sala de aula causem ainda reações diferentes nos alunos. O professor precisa esclarecer aos alunos não se sentirem inferiores nem acharem um erro as variações linguísticas, nem que a cultura só está com quem fala o dialeto padrão, na realidade precisa haver o respeito às variações dentro e fora da sala de aula. Geralmente as variações são relacionadas à fala de pessoas das camadas sociais mais baixas, os professores precisam orientar os alunos respeito pela liberdade de expressão. Para Cagliari (2007, p.83): Para o aluno, o respeito as variedades linguísticas muitas vezes significa a compreensão do seu modo e dos outros. Um aluno na escola não pode chegar a conclusão que seus pais são “burros” porque falam errado, não pode achar que as pessoas da sua comunidade são incapazes porque falam errado. (CAGLIARI, 2007, p.83) 17 A vivência do aluno e a bagagem que o estudante tem linguisticamente desde que entra na escola não podem ser desprezadas, é como se ele tivesse que esquecer tudo que já aprendeu sobre Língua Portuguesa e tenha que aprender outra língua que nada tem a ver com a forma que ele se expressa. É importante destacar que a língua escrita atua como um fator de unificação linguística pelo fato das modificações gramaticais e ortográficas serem bem mais lentas do que as transformações apresentadas pelo ato da fala. Para os professores é necessário um novo olhar e uma postura diferente para entender qual o tipo de conhecimento que as suas aulas estão proporcionando aos educandos, que tipo de desafios estão proporcionando aos alunos. Os professores devem conscientizar e transmitir conhecimento aos alunos sobre as variações e o preconceito linguístico, é inadequado ensinar uma língua de maneira reduzida como se houvesse uma única e insubstituível norma a ser seguida, por isso na sala de aula é preciso permitir a exposição das variações sem estimular os preconceitos linguísticos. Segundo Bagno (2009): O preconceito linguístico é tanto mais poderoso porque, em grande medida, ele é invisível, no sentido de que quase ninguém se apercebe dele, quase ninguém fala dele [...] pouquíssimas pessoas reconhecem a existência do preconceito linguístico, que dirá a sua gravidade como um sério problema social. E quando não se reconhece sequer a existência de um problema, nada se faz para resolvê-lo. (BAGNO, 2009, p.24) A língua tem como objetivo na verdade estabelecer comunicação, apesar de haver diversas maneiras de se comunicar. O que precisamos entender é que a língua não é algo inflexível, onde existe apenas uma possibilidade, pelo contrário é altamente flexível adaptando-se a cada sociedade. Através dessa pesquisa foi possível diagnosticar que existe preconceito quanto as variações linguísticas principalmente para alunos de outras localidades da zona rural, foi constatado também o esforço das professoras em transmitirem esse conhecimento aos alunos diariamente. 18 É importante estar ciente que o processo de intervenção faz parte da responsabilidade do professor, mas sem agir de forma inconsequente, mostrando aos nossos alunos que a língua pode ser falada de diversas maneiras de acordo com a região do país, a sociedade, com a ocasião, sabendo que a norma padrão é exigida nos contextos formais e na utilização principalmente na criação textual. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo buscou analisar o lugar das variações linguísticas no ensino-aprendizagem de língua portuguesa dos anos finais do ensino fundamental. Para tal, realizou-se uma pesquisa descritiva, conduzida por uma análise de campo e abordagem qualitativa dos dados, os quais foram obtidos por meio de um questionário de cinco perguntas sobre a modalidade oral para cinco professoras do Ensino Fundamental. Nesse trabalho, tivemos a possibilidade de reconhecer a importância sobre a variação linguística em sala de aula, além de apresentar os fatores vivenciados pelos professores e os preconceitos que envolvem esse tema, considerando importante para o conhecimento dos alunos. As variações linguísticas trazem características próprias que enriquecem a pluralidade cultural do nosso país. É através delas que podemos nos expressar de diversas formas, é inegável que o preconceito linguístico existe e cabe a nós professores os primeiros interessados a combatê-lo. É preciso mostrar aos estudantes que existem pessoas diferentes, assim como falas diferentes, exaltando essas diferenças e provocando reflexões sobre esses elementos para sua condição de cidadão. Portanto, esperamos ter contribuído para uma reflexão do papel do professor em sala de aula, que precisa possuir esse equilíbrio de saber o momento certo de orientar os alunos para o ensino da norma padrão sem descaracterizar a fala de origem do estudante, desprovido de qualquer preconceito. Deste modo é preciso que o ensino da língua portuguesa seja inovador, para acompanhar a sociedade em seus avanços, fazendo do conhecimento desenvolvido em sala de aula uma 19 ferramenta indispensável na construção de alunos críticos e pensantes que reflitam sobre os aspectos linguísticos e culturais da sua sociedade. Percebemos, então, que o lugar da variação linguística no processo de ensinoaprendizagem de Língua Portuguesa é secundário, mesmo as professoras não explicitando. O trabalho com esse assunto não é tarefa fácil e por isso, precisa de um olhar mais reflexivo e compreensivo, no sentido de não se ver como erro ou inadequações linguísticas. Não podemos dizer que uma pessoa que fala não seguindo os padrões da língua, fale errado. Essa postura precisa ser enfatizada, esclarecida e defendida no processo de ensino para que se alcance uma aprendizagem satisfatória e com menos preconceito linguístico. Espera-se assim, com este estudo, contribuir para que os docentes possam ampliar as perspectivas de trabalho, no que se refere o ensino da língua portuguesa, destacando sempre a língua materna dos alunos e promovendo uma verdadeira troca de conhecimento entre os alunos longe de qualquer preconceito. Por fim pretende-se através desse trabalho contribuir com uma nova proposta e abordagem na sala e aula para que o professor valorize os diferentes tipos de variações e esclareça que o contexto e a situação são determinantes para a forma que devemos falar e escrever. REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática:por um ensino sem pedras no caminho.São Paulo: Parábola Editorial, 2007. BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? 49 ed. São Paulo: Loyola, 2007. _________. Preconceito Linguístico. Revista Presença Pedagógica. V. 14, n. 79, jan./fev. 2008. _________. Não é errado falar assim: em defesa do Portugês Brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione.2007. 20 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da Fala para a Escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez. 2007. MUSSALIN, Fernanda & BENTES, Anna Cristina.Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. 1.São Paulo: Contexto. 2006. TERRA, Ernani.Linguagem, língua e fala.São Paulo: Scipione. 2008.