RESUMO

O presente artigo trata do resgate do lúdico como processo educativo, mostrando que a ludicidade é indispensável para o desenvolvimento da percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos. Ao se trabalhar com atividades lúdicas, a criança aceita a existência dos outros, constrói conhecimentos, estabelece relações e se desenvolve integralmente. Na educação infantil os jogos e brincadeiras tornam-se aliados, auxiliando no desenvolvimento de algumas capacidades importantes. Sabemos que o brincar na infância contribui na construção do ensino-aprendizagem, com o objetivo de proporcionar várias formas de incentivar a criança a aprender de forma prazerosa, significativa e envolvente. Faz-se necessário, que o educador amplie seus conhecimentos e busque novos subsídios para o seu cotidiano na educação infantil, visando e buscando vários métodos lúdicos através do ensino-aprendizagem, no sentido de oferecer as crianças diversas maneiras de ensinar partindo de novos conhecimentos. Dessa forma, teremos uma educação de qualidade para todos. Portanto para a realização deste artigo, segui a leitura de diferentes teóricos e estudiosos da área de Educação, como aqui destacamos: KISHIMOTO E WINNICOTT, que muito contribuíram no processo de construção e formação deste trabalho acadêmico.

Palavras-Chave: Educação Infantil. Lúdico. Aprendizagem.

1-INTRODUÇÃO

A brincadeira é coisa séria, são nas interações lúdicas que a criança se expressa e aprende a lidar com o mundo que a cerca, formando a sua própria personalidade e compreendendo situações do seu cotidiano. Sabemos que a importância do brincar é bom e divertido, parece algo tão simples, que muitos esquecem que é de fundamental importância para o desenvolvimento saudável da criança. A maneira lúdica de aprender na educação infantil permite levar o aluno a sensações e emoções fundamentais para a construção do seu conhecimento, assim o fato da brincadeira estar inserida no desenvolvimento infantil e também no contexto escolar com o objetivo de auxiliar o processo de aprendizagem.

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (Brasil, 1998, v.2 p.11) determina como um de seus princípios norteadores, o trabalho educativo, sendo assim criar condições para as crianças conhecerem, descobrirem novos sentimentos, valores, ideias, costumes e papéis sociais.

O objetivo deste artigo é oportunizar ao educador a compreensão do valor e da importância das atividades lúdicas na educação infantil, incentivar os leitores a analisar suas concepções acerca do brincar. A maioria dos profissionais que atuam na educação considera que o brincar é uma questão ligada ao desenvolvimento, e não à educação, portanto o desafio é oferecido para que o leitor possa refletir sobre quais brincadeiras possam ser semelhantes e diferentes entre as diversas perspectivas sobre o brincar. Entendemos que o docente necessita assumir um compromisso com a educação, sendo que os mesmos sejam capazes de justificar a oferta de atividades lúdicas no âmbito escolar. Os conteúdos das brincadeiras podem variar de acordo com a cultura infantil, mas o significado do brincar permanece firme em todas as culturas e para todas as crianças, inclusive as portadoras de necessidades especiais. Segundo Olusoga (2011):

“a teoria sociocultural apresenta o desenvolvimento e o brincar das crianças como processos fundamentalmente sociais, sendo essencial manter a identidade sociocultural pela oferta de brincadeiras às crianças. Nesse sentido, temos de salvaguardar o brincar das crianças, e o papel dos adultos é imprescindível no manejo e no apoio do brincar.”

Entendemos que a experiência do brincar deve promover o raciocínio, a interação, a socialização e outras resoluções de problemas e a exploração, envolvendo certamente o prazer e o divertimento da criança. Também se considera importante que as crianças pensam enquanto desenvolvem suas brincadeiras, não apenas de uma perspectiva do prazer, mas também dos conteúdos e procedimentos do que fazem brincando. A brincadeira espontânea, sem dúvida é de grande valia para a aprendizagem de todos, e para a sua construção para a pedagogia mais estruturada do ensino fundamental. Quando as crianças colocarem em prática suas brincadeiras, as mesmas desenvolvem habilidades cognitivas, linguísticas e sociais e se apropriam de um domínio mais firme do seu conhecimento, proporcionando-lhe oportunidades para desenvolver a sua própria aprendizagem.

Não por sem razão que Winnicott refere-se ao jogo como uma experiência, sempre uma experiência criativa, uma experiência na continuidade espaço-tempo, ou seja, uma forma básica de viver. “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que acriança ou o adulto fruem sua liberdade de criação” (WINNICOTT, 1975, p. 79) Na concepção Winnicottiana, a base do viver criativamente, assim como sua origem, está no brincar. Daí sua importância para o desenvolvimento da criança e seu valor educativo. Nessa direção, o professor, pode contribuir para a ampliação das experiências lúdicas das crianças, fornecendo-lhes materiais e ideias, mas sem exageros, uma vez que elas são capazes de encontrar objetos e inventar brincadeiras com muita facilidade, o que lhes proporciona prazer.

Dentro desta probabilidade, este artigo pretende levar os pais e educadores a refletir sobre o brincar, fazendo com que todos transformem seus pensamentos e reconheçam o lúdico como forma de aprendizagem. Ao propormos uma aprendizagem mais rica e significativa entre a escola, o jogo e a educação procuraram no decorrer deste trabalho, valorizar toda a eficácia dos jogos e brincadeiras para o processo de formação da criança.

2-A INFÂNCIA E O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Entretanto podemos observar com atenção a presença de jogos e brincadeiras na educação da infância como elemento essencial e facilitador do ensino aprendizagem, portanto o aprendizado da criança se torna mais rico e significativo através do lúdico como processo de formação da criança.

Como afirma (KISHIMOTO, 1992; SCHWARTZ, 1998) ‘”com o surgimento do ‘sentimento de infância’, a valorização do jogo, enquanto atividade própria da criança ganha espaço na educação, tanto positiva quanto negativamente. Consequentemente, a função atribuída ao lúdico é absolutamente dependente das representações que vão se constituindo sobre a criança, principalmente a partir do século XVI”. O século XVI marca o início das tentativas de relacionar o jogo e a brincadeira à educação da criança.

Em relação ao jogo a tendência é constitutiva do ser humano, é mais intensa na infância, por isso o jogo é a prova evidente e constante da capacidade criadora. Quanto às brincadeiras infantis, apenas trocamos a simplicidade por outras mais complexas, na medida em que vamos crescendo e se desenvolvendo. Uma boa conversa com as crianças ou fazendo uma observação delas brincando/jogando, consequentemente pode ampliar nosso universo lúdico. As vivências lúdicas das crianças durante as brincadeiras no recreio na escola, passear pela comunidade onde se localiza a escola, também pode nos proporcionar novas descobertas. ‘’Considerando as necessidades da criança, descobertas com o reconhecimento da infância como uma fase ou período da vida do homem, a escola que até então era indiferente à formação infantil, começa a partir do século XV, a focar a diferenciação das idades, a criação de classes escolares e a divisão da população escolar em grupos de mesma capacidade” (OLIVEIRA, 2006a).

Quando pensamos em jogos e brincadeiras, nos referimos à infância, ou mais propriamente à criança, sendo assim, é a partir do jogo e da brincadeira que a criança busca alternativas e respostas para os problemas e dificuldades que irão surgindo ao decorrer do tempo, seja na dimensão motora, social, afetiva ou cognitiva. Dessa maneira ela testa seus limites, satisfazendo seus desejos e também aprende a construir conhecimentos, explorando, experimentando e criando.

Vejamos o que diz Rousseau (1999, p.86): ‘’a infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhes são próprias, nada é menos sensato do que querer substituir essas maneiras pelas nossas [...]. Com Rousseau a infância se consolida como idade de autonomia e dotada de características e finalidades específicas que a diferenciam da idade adulta’’. Para Rousseau, a educação deveria estar voltada para as necessidades mais profundas e essenciais da criança, respeitando seus ritmos de crescimento e valorizando as características da cada idade infantil.

Cabe ressaltar que o âmbito escolar se transforma em uma instituição de ensino, visando à formação da criança e do jovem, como um instrumento essencial da sociedade para a educação da infância e da juventude. Estamos sempre esbarrando na tendência da recusa ao valor do lúdico à seriedade do útil, permissa pedagógica, baseada na desconfiança da seriedade da alegria e do divertimento nos processos de formação desde o nascimento. Pois a alegria e a diversão provocam mudanças nas rotinas escolares, as crianças tem nos ajudado a compreender que existe a afetividade entre o lúdico e o processo de descobertas no significado das coisas.

Nesse sentido Levin (1997) entende o ato de brincar como um espelho simbólico, e não apenas imaginário, a partir do qual é possível transformar o pequeno em grande, o grande em pequeno, a criança em adulto, adulto em criança, os pais em crianças e as crianças em pais, o traumático em dramático, o sofrimento corporal em cena de ficção etc. Assim sendo, conclui Levin (1997, p. 255): ‘’o próprio da infância é o ato lúdico como espelho que ata o real, o imaginário e o simbólico na infância”.

Entretanto resgatar a potência dos jogos e brincadeiras para a ação educativa na escola da infância permite que a criança aprenda a correr o risco de compartilhar experiências com outros no mundo, encontrando-se consigo mesmo. Retomar o poder do brincar significa entender que o ato de mexer-se também é uma maneira legítima de pensar, de aprender a pensar.

Fröbel fez do brincar a parte central de seu sistema educativo, não como recreação ou descanso, mas como espaço natural e eficaz de desenvolvimento físico, mental e moral da criança, além de revelar e definir a individualidade e personalidade infantil (KISHIMOTO, 1992). Fröbel aponta o brincar como o momento mais importante da infância, do desenvolvimento infantil por ser a auto-ativar representação do interno, isto é, a representação das necessidades e impulsos internos do homem’.

Portanto as crianças brincam, jogam e tomam decisões enfrentando os acasos, tentativas, enfim, buscam experimentar a força para interrogar o mundo sem cindir imaginação e razão. A esse ato de busca, de troca de inteiração é que damos o nome de educação. A infância é considerada a idade das brincadeiras, por meio delas as crianças satisfazem seus desejos, interesses e necessidades da forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo a qual está inserida.

‘’Brincar é uma ação cotidiana para a criança que a impele a tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si e ao outro, partilhar brincadeiras, construir sua identidade, explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura na perspectiva de compreendê-la, usar o corpo, os sentidos, os movimentos e as várias linguagens. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância que coloca a brincadeira como a ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver (KISHIMOTO, 2010).

Observamos que a brincadeira apresenta alguns significantes que motivam sucesso e a permanência motivadora, transferindo para o imaginário uma situação vivida na realidade. Portanto o jogo deve ser acolhido como a cultura lúdica infantil o que recomenda a compartilhar com a criança suas brincadeiras, seus jogos, as histórias de estimular a curiosidade da criança.

Segundo Oliveira (2006), ‘’o humor, o entusiasmo e a alegria são elementos fundamentais à educação. Sem dúvida, possibilitam a constituição de um ambiente acolhedor, que convida a criança a desejar o desejo de prazer, a fazer de suas fantasias alimento para a construção de conhecimentos’’.

Enfim, o relacionamento entre o jogo e a educação institucionalizada da infância, organiza-se em um espaço de grandes áreas, onde as crianças possam desenvolver suas habilidades de forma prazerosa e envolvente.