Escrito por:
Francielle Gomes Marculino
Geisa Ferreira Jares
Gizele Ferreira do Nascimento

INTRODUÇÃO 

Mediante a realidade vivenciada diante do desenvolvimento das minhas práticas pedagógicas é impossível omitir que, infelizmente, a Educação Infantil, como as demais etapas da Educação Básica, demonstra qualidade aquém da adequada, conforme atestam vários documentos oficiais do Ministério da Educação, tais como: Prova Brasil, Prova ANA, Provinha Brasil, IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), dentre outros.

Em vista disso, ações necessárias devem ser urgentemente efetivadas no âmbito das políticas públicas, para garantir as adequações nas instituições de Educação Infantil para que essas possam propiciar às crianças experiências de aprendizagens significativas em seu espaço coletivo próprio e rico em materiais didáticos, pedagógicos e essenciais para o bom desempenho do processo ensino- aprendizagem, superando fragmentações historicamente constituídas no atendimento da educação infantil.

É preciso mais investimento na questão do avanço na qualidade do ensino brasileiro. Percebemos que a posição da educação no Brasil não é tão favorável, e a precária situação da Educação Infantil é visível. No Brasil a Educação Infantil é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988, e a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDB 9394/96, a Educação Infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação Básica.

Nesse sentido, de acordo com Barros (2008), várias pesquisas realizadas nos anos de 1980 já mostravam que os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento humano e a formação da inteligência e da personalidade. Entretanto, até 1988, a criança brasileira com menos de sete anos de idade não tinha direito à Educação. A Constituição atual, então, reconheceu, pela primeira vez, a Educação Infantil como um direito da criança, opção da família e dever do Estado. A partir daí, a Educação Infantil no Brasil deixou de estar vinculada somente à política de assistência social passando então a integrar a política nacional de educação.

Além disso, outros critérios definem a organização adequada para o atendimento às crianças. De forma geral, os critérios de qualidade do trabalho na Educação Infantil devem abranger desde as condições de funcionamento das escolas (razão aluno/professor, tamanho das salas, qualidade da alimentação.

diversidade de materiais didáticos, etc.) às práticas pedagógicas e condições de trabalho e de formação continuada dos profissionais que fazem parte do contexto escolar.

Diante destas percepções a presente pesquisa de campo direciona-se para a reflexão e análise, bem como o estudo do que é preciso na sala de aula da Educação Infantil para que esta se torne um espaço lúdico de aprendizagem.

O LÚDICO E SUA CONTRIBUIÇÃO NO ESPAÇO INFANTIL PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

O espaço infantil é parte integrante da ação pedagógica na Educação Infantil. Nesse espaço não mais se deve restringir as atividades das crianças aos meros exercícios motores, muitas vezes cansativos, desagradáveis e repetitivos.

Na Educação Infantil é fundamental partirmos do entendimento de que o ambiente lúdico é parte essencial para uma aprendizagem significativa. O lúdico (jogos, brinquedos e brincadeiras) tem sido comumente inserido no espaço de aprendizagem das crianças. Pois, se considera que a ludicidade deve ocupar lugar de destaque na sala de Educação Infantil.

Do ponto de vista pedagógico o lúdico deve estar inserido intrinsicamente em todo contexto do ensino-aprendizagem infantil, como meio de contribuição, motivando, descontraindo e direcionando o processo de desenvolvimento da criança de maneira significativa e prazerosa.

Acredita-se que na sociedade atual já se observa o lúdico, a ação de brincar, não mais como mera atividade distrativa. Atualmente, se acredita que a brincadeira  é um instrumento eficaz que ajuda na aquisição da aprendizagem, contribuindo para o pleno desenvolvimento da criança no seu aspecto físico, afetivo, intelectual, linguístico, cultural e social.

O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, mas ganha força com a expansão da Educação Infantil [...]. Entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores; nos brinquedos de tabuleiro, que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas; nos brinquedos de encaixe, que trabalham noções de sequência, de tamanho e de forma; nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e materialização da função psicopedagógica: móbiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas para a expressão da linguagem; brincadeiras evolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica (KISHIMOTO, 2003, p. 36).

Não é difícil comprovar que se aprende brincando, principalmente, quando se toma o lugar de professor pesquisador e está em contato direto com a educação infantil. É neste espaço de aprendizagem onde se observa o quanto é eficiente e ao mesmo tempo desafiador utilizar as atividades lúdicas como aliada do desenvolvimento cognitivo, físico e emocional das crianças.

O brincar, além de ser direito de toda criança (ECA – artigo 16), é uma forma de expressão dos pensamentos e sentimentos. É uma das atividades mais

complexas que combina o fazer de conta com a realidade. Brincando, a criança trabalha com informações e situações do seu cotidiano e, assim, obtêm melhor percepção da realidade.

Ainda é importante salientar que brincar inclui a experiência de quem brinca. Desta forma as crianças imitam o que veem e assim reproduzem ações vivenciadas em seu meio. A criança brinca por necessidade e ao brincar aprimora seus sentidos e seus movimentos motores; desenvolve sua linguagem e pensamento; aprende e compreende a cultura; aprende as atividades e os costumes dos alunos e também amadurece diversas competências para a vida coletiva, através da interação com o outro e da utilização das experiências e papéis sociais. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) a partir da importância da ludicidade que o professor deverá comtemplar jogos, brinquedos e brincadeiras, como principio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando à criança uma aprendizagem prazerosa. Assim a ludicidade tem conquistado um espaço na Educação Infantil.

O brinquedo é a essência da infância e permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança. Ela estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e entusiasmos, suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades. Ao assumir a função lúdica e educativa, a brincadeira propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a criação, a imaginação e a construção do conhecimento.

Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, principalmente para as crianças da Educação Infantil. Dessa forma, a brincadeira já não deve ser mais atividade utilizada pelo professor apenas para recrear as crianças, mas como atividade em si mesma, que faça parte do plano de aula da escola, portanto, cabe ao educador criar um ambiente que reúna os elementos de motivação para as crianças. Os educadores devem criar atividades que proporcionam a construção de conceitos que preparam para a leitura, para os números, conceitos de lógica que evolvem classificação, ordenação, dentre outros. Motivar os alunos a trabalhar em equipe na resolução de problemas, aprendendo assim expressar seus próprios

pontos de vista em relação ao outro.

Nessa perspectiva, é que a ludicidade tem que ser cada vez mais utilizada como mediadora da aquisição do conhecimento no contexto infantil. Como bem coloca Vygotsky (1998):

Brincar é aprender na brincadeira. Na brincadeira reside a base daquilo que mais tarde permitirá á criança aprendizagens mais elaboradas. O lúdico torna-se, assim, uma proposta educacional para o enfrentamento das dificuldades no processo de ensino na escola (VYGOTSKY, 1998, p. 168).

Quando se trabalha com o lúdico na escola é oferecido a oportunidade para se desenvolver na criança a afetividade, a criatividade, a sensibilidade, o companheirismo, a habilidade, os valores, a maturidade e a integridade.

É muito importante aprender com alegria, com vontade, entusiasmo e satisfação. Comenta Sneyders (1996) que “Educar é ir em direção à alegria” (SNEYDERS, 1996, p. 36). As atividades lúdicas fazem com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial.

[...] A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo [...] (ALMEIDA, 1995, p. 11).

Assim, é de primordial importância a utilização das brincadeiras e dos jogos no processo pedagógico, pois os conteúdos podem ser ensinados por intermédio de atividades predominantemente lúdicas, pois a configuração pedagógica para a Educação Infantil deve se sustentar nas interações, através de dinâmicas lúdicas e práticas educativas voltadas para os interesses da criança ao seu processo de aprendizagem no espaço coletivo lúdico, dinâmicas com sua intencionalidade interativa, diferente de uma pedagogia voltada apenas para resultados individualizados nas diferentes áreas do conhecimento passivo, meramente preso a conteúdos preestabelecido.

Nesse sentido, vale ressaltar a afirmação de Sônia Kramer (1999) quando considera que as crianças são seres sociais e possuem uma história que precisa ser considerada, que pertencem a um grupo social estabelecendo relações segundo os seus contextos de origem, possuem uma linguagem e ocupam espaço geográfico, além de serem valorizadas conforme os padrões do seu contexto familiar e com sua inserção neste mesmo contexto social.

Portanto, para Kramer (1999), as crianças são pessoas enraizadas num

contexto social e que nelas imprime formas de autoridade, costumes e linguagens. Por isso, não é sem razão que há necessária importância de se fortalecer um trabalho pedagógico que valorize a diferença como princípio orientador. E é neste contexto, que o lúdico torna-se de suma relevância, pois o lúdico incorpora as atividades básicas da dinâmica humana. Entretanto, o lúdico no contexto escolar é essencial para promover atividades com jogos, provocando um meio de aprendizagem significativa e prazerosa para o educando/criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse modo, a aprendizagem significativa voltada para a Educação Infantil deve ter um espaço, além da sala de aula, com estrutura adequada, segura, de qualidade, onde a criança se encontre diante de situações desafiadoras prazerosas, onde ela possa movimentar-se, para que se desenvolva plenamente em seus aspectos físicos, sociais, intelectuais e mentais.

A reflexão acerca da compreensão entre o lúdico e o processo de ensino- aprendizagem na Educação Infantil é de fundamental relevância, muitos são os estudos voltados para essa temática, espero que esse trabalho partilhe informações necessárias bem como contribua, favoreça, fortaleça a compreensão e reflexões dos profissionais da educação, promovendo inovações nas práticas pedagógicas em diversos espaços, onde aconteça a Educação Infantil.

Nessa perspectiva, enfatizar o lúdico no contexto da Educação Infantil se faz necessário e promissor, uma vez que contribui para o desenvolvimento integral da criança.

No entanto, é preciso que se saiba trabalhar com as brincadeiras, com a educação lúdica no processo educativo, pois essa estratégia pedagógica traz consigo uma gama de conhecimentos e possibilidades que devem ser bem trabalhados para que se possa enriquecer os recursos internos (emoções, sentimentos) da criança em prol de sua aprendizagem.

Portanto, o lúdico, as brincadeiras não devem ser deixadas de lado quando se for fazer um planejamento pedagógico, pois é através deste instrumento, desta estratégia pedagógica, desta imersão no mundo imaginário, lúdico que o professor poderá contribuir para uma formação integral das crianças para que estas possam interagir no mundo fora do contexto escolar em que os valores sociais e morais, como os limites, estão sendo deixados de lado. 

REFERÊNCIAS

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     _.Desvendando a Ludicidade. Bloco 01.  Tema 01.  FTC/Ead.  Faculdade de Tecnologia e Ciências. 6º período, 2008.

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SNEYDERS, Georges. Alunos Felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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