UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

LICENCIATURA À DISTÂNCIA EM PEDAGOGIA 

 

 

POLO: Três de Maio

DISCIPLINA: Trabalho de Conclusão de Curso II

ORIENTADORA: Profª. Me. Silvana Martins de Freitas Millani

Data de defesa15 de dezembro de 2012

 

 

 

O lúdico e as práticas pedagógicas na pré-escola

 

 

RODRIGUES, Anelise de Oliveira

Acadêmica do Curso de Graduação à Distância em Pedagogia/UFSM

 

 

RESUMO: Esta pesquisa apresenta como tema o Lúdico e a prática pedagógica no contexto da pré-escola. Para embasar os estudos, e construir novos conhecimentos sobre o tema, utilizou-se de uma metodologia de abordagem qualitativa, como método de pesquisa utilizou-se a pesquisa participante e como instrumento de coleta de dados o questionário, realizado com quatro educadoras de turmas de pré-escola de duas instituições de Educação Infantil. Apresentou-se como objetivo geral para este estudo: investigar as concepções dos professores sobre o tema ludicidade e a repercussão destas concepções em suas práticas pedagógicas. E, como objetivos específicos: a) reconhecer a influência do lúdico no cotidiano da pré-escola; b) compreender como as atividades lúdicas são planejadas e desenvolvidas nos espaços das escolas de educação infantil; c) analisar as percepções de professoras atuantes em turmas de pré-escola, quanto ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem fundamentado em propostas lúdicas. Autores como Vigotsky (1984,1994) e Piaget (1998), bem como a legislação educacional brasileira, propiciam suporte necessário para a abordagem do tema proposto. A revisão de literatura apresenta um estudo com a finalidade de demonstrar que a utilização de práticas lúdicas na pré-escola, pode colaborar no processo de ensino e de aprendizagem de forma significativa e atraente aos sujeitos envolvidos. Conclui-se, com esse estudo, que o lúdico intervém positivamente no desenvolvimento infantil, suprindo necessidades desta fase, e possibilitando o desenvolvimento de competências nas crianças.

 

PALAVRAS CHAVES: Lúdico; Prática pedagógica; Pré-escola.

 

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho, desenvolvido como requisito parcial para conclusão do Curso de Pedagogia EAD da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) aborda como tema as ações e concepções docentes sobre a relação entre o lúdico e o processo de ensino e de aprendizagem na pré-escola. Neste sentido apresenta como problema de pesquisa a seguinte questão: Quais são as concepções docentes sobre o lúdico na construção do processo de ensino e de aprendizagem para crianças da pré-escola e como estas atividades vêm sendo direcionadas neste contexto? Tal problema é formulado a partir de vivências em contextos escolares de educação infantil, e também de observações de práticas pedagógicas desenvolvidas nestes espaços, muitas vezes desprovidas de sentidos ou encaminhadas sem a devida orientação didático-pedagógica.

Desta forma, elenca-se como objetivo geral para este estudo: investigar as concepções dos professores sobre o tema ludicidade e a repercussão destas concepções em suas práticas pedagógicas. E, como objetivos específicos, busca-se: a) reconhecer a influência do lúdico no cotidiano da pré-escola; b) compreender como as atividades lúdicas são planejadas e desenvolvidas nos espaços das escolas de educação infantil; c) analisar as percepções de professoras atuantes em turmas de pré-escola quanto ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem fundamentado em propostas lúdicas.

A ideia de pesquisar sobre o tema surgiu a partir de observações realizadas em instituições de Educação Infantil que revelaram ações pedagógicas, por vezes, destituídas de significados, fundamentadas em práticas descontextualizadas, nas quais os educadores ocupam espaço e tempo preocupando-se apenas em cumprir o cronograma escolar, desenvolvendo atitudes relacionadas ao cuidar e atribuindo ao brincar um caráter de mero passatempo, de modo que se evidencia uma ruptura entre o aprender e o brincar.

Em minha trajetória profissional, como professora da Educação Infantil, estou inserida em uma escola que promove o processo de ensino e de aprendizagem embasando suas ações em uma proposta onde as crianças são estimuladas através de atividades lúdicas. A partir desta perspectiva surge, então, o interesse de estudar sobre a presença do lúdico no cotidiano escolar e o seu papel no processo de ensino e de aprendizagem.

Ao considerar a infância uma fase única e de extrema importância na formação dos sujeitos, percebe-se, no espaço educativo, a necessidade de se compreender melhor as peculiaridades desta fase, a fim de se promover uma prática pedagógica voltada às necessidades dos alunos, abrangendo sua realidade e suas vivências, que valorize as experiências e respeite suas individualidades, dificuldades e potencialidades.

A realização desta pesquisa justifica-se, portanto, pelo fato de buscarmos respostas referentes a ações mais coerentes, mais produtivas e mais significativas no contexto escolar, considerando as especificidades da infância e o comprometimento com os fins educacionais. A principal finalidade está em estudar e demonstrar que a utilização de práticas lúdicas na pré-escola, pode colaborar no processo de ensino e de aprendizagem.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste estudo baseia-se em uma abordagem qualitativa, pautada em uma pesquisa participante que permitiu investigar duas instituições de Educação Infantil, sendo uma delas pública e a outra de natureza comunitária. Nestas escolas quatro professoras foram convidadas a participar da pesquisa, suas percepções foram registradas e se constituem em elementos para análise neste estudo.

A construção do referencial teórico fundamentou-se em autores como Vigotsky (1984,1994) e Piaget (1998), que propiciam suporte necessário para a abordagem do tema proposto, bem como na legislação educacional brasileira, em especial, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9.394/1996 e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,1998).

 

METODOLOGIA

 

Para compreender as concepções dos educadores e como estes utilizam o lúdico em suas ações diárias no contexto educativo, realizei uma análise critica sobre os relatos de ações planejadas e desenvolvidas pelos profissionais que atuam em turmas de pré-escola, pertencentes a uma escola de caráter particular filantrópica e outra municipal. Também considerei, para a efetivação da análise, as percepções que estes sujeitos expressam em torno do lúdico na pré-escola.

Como o assunto investigado é a prática pedagógica, exige-se um contato direto da pesquisadora com o contexto em questão, desta forma a abordagem empregada foi a pesquisa qualitativa, pois esta, conforme Lücke e André (1996, p.3) considera “o espaço natural como fator de origem dos dados e o pesquisador como principal instrumento”.  Optei por este tipo de pesquisa devido à necessidade de aproximação da realidade das práticas docentes a fim de analisar o ambiente e as ações que nele acontecem, estando inserida ao cotidiano, observando os acontecimentos do dia a dia e de que forma se estabelece a relação do educador com o lúdico. 

No intuito de buscar conhecimento e promover mudanças no contexto investigado, e ao considerar a ideia de que trabalho nestes contextos atuando como professora, interagindo diariamente com as educadoras investigadas, observando suas práticas e a reação dos sujeitos envolvidos no processo educativo, desenvolvi uma pesquisa participante, cuja principal característica reside na “[...] interação entre pesquisador e membros das situações investigadas" (GIL, 1991, p. 46). 

Segundo Grossi (1981) este modelo de pesquisa é um processo no qual os sujeitos participam na análise de seu próprio contexto, com a finalidade de promover ações positivas na realidade investigada. De certa forma, pode-se afirmar que esta abordagem possibilita a construção de conhecimento e o uso deste conhecimento aproxima a relação teoria e prática, é um processo de conhecer e agir.

Então, ao explorar o contexto educativo das duas instituições envolvidas na pesquisa, buscou-se alcançar melhorias e provocar transformações no intuito de favorecer a aprendizagem de forma que ela aconteça contemplando a realidade, as necessidades e especificidades das crianças, sendo significativa, possibilitando o desenvolvimento global dos sujeitos e tornando o ambiente escolar mais acolhedor.

Este modelo de pesquisa enfatiza posturas qualitativas e a comunicação interpessoal, que vai promover a troca de informações e conhecimentos entre os sujeitos envolvidos. Portanto no processo de coleta de dados, utilizei o questionário como instrumento de pesquisa, pois este oferece dados relevantes ao pesquisador que possibilitam comparar e confrontar evidências, com a finalidade de ampliar a confiabilidade do estudo e de provocar diferentes olhares sobre o tema em discussão.

Segundo Marconi e Lokato (1999, p.100) “o questionário é um instrumento desenvolvido cientificamente, composto de um conjunto de perguntas ordenadas de acordo com um critério predeterminado, que deve ser respondido sem a presença do entrevistador”. Através dos questionários realizados foi possível analisar as concepções dos envolvidos na pesquisa, a relação com os registros documentados, como propostas, planejamentos e projetos políticos pedagógicos das escolas, comparar respostas considerando cada realidade e buscando compreender os eventos.

Este estudo foi conduzido na Escola de Educação Infantil Vó Paula Vicentina, uma instituição comunitária, de caráter particular filantrópica, mantida pela Associação de Benefícios a Criança Pobre e Necessitada, localizada no Bairro Sulina, em Santa Rosa. Nesta atende-se 50 crianças na faixa etária de 2 a 5 anos de idade, distribuídas em três turmas (maternal, jardim e pré-escola).  A segunda instituição, participante deste estudo, trata-se da Escola Municipal de Educação Infantil Crescer Feliz, localizada no bairro Jardim Petrópolis da mesma cidade. Esta escola atende 110 crianças de 0 a 5 anos distribuídas em sete turmas (2 turmas de berçário, 3 turmas de maternal e 2 turmas de pré-escola). Os questionários foram direcionados aos educadores atuantes na pré-escola das duas instituições, totalizando quatro sujeitos.

 

REVISÃO DE LITERATURA

 

O conceito de criança ao longo dos anos vem sofrendo importantes mudanças. Antes considerada como ser incompleto incapaz de pensar por si próprio, sem autonomia, sendo treinada para tornar-se adulto, apenas isto, uma fase sem significância, atrelada a graciosidade das características físicas da infância. Hoje, uma nova compreensão sobre esta etapa da vida é delineada. A criança é entendida como um ser social, ativo, com especificidades e necessidades próprias de sua fase, é compreendida como um ser capaz de produzir, de construir, de criar, um ser que “se iguala pela natureza infantil e diferencia-se por fatores socioculturais” ( SANTOS e CRUZ, 2006, p. 09). Compreende-se, portanto, que o desenvolvimento da criança vai ser influenciado pelo que o ambiente a sua volta lhe oferece.

Esta mudança de concepção provocou um novo olhar sobre o processo educacional na infância. As crianças eram antes submetidas a espaços cuja principal intenção era voltada aos cuidados físicos e assistenciais. A Constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 colocam a educação como direito da criança desde o nascimento e como dever do Estado, definindo creches e pré-escolas como instituições educacionais, opondo-se a ideia de estabelecimentos que apenas cuidavam de crianças, sem preocupação pedagógica, onde o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança não era valorizado, rompendo com a função meramente assistencialista.

Na década de 90, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (9394/96), se estabelece a educação infantil como primeira etapa da educação básica defendendo-se um novo modelo para esta modalidade e nível de ensino, exigindo-se a valorização da criança e a formação específica dos educadores.

A partir destes acontecimentos, é inegável o crescimento do nível de consciência sobre o significado de infância e sobre o reconhecimento do direito da criança à educação, mas infelizmente, estas antigas concepções influenciam e muito o processo educativo nas instituições de educação infantil dos dias atuais, pode-se afirmar que ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Neste sentido, como afirmam Santos e Cruz (2006, p. 13, grifos do autor), “para ajudar a criança no seu desenvolvimento buscamos compreender sua natureza, e nessa busca encontramos o BRINCAR como uma necessidade básica que surge muito cedo nela”.

O ser humano brinca desde seus primeiros meses de vida. A curiosidade e a vontade de aprender de descobrir fazem parte da natureza infantil e à medida que a criança vai avançando, suas brincadeiras também vão evoluindo e ela passa a evidenciar no brincar o conhecimento que traz de si mesmo, suas relações com o outro, representa papeis sociais e se apropria da realidade que a cerca, construindo, desta forma, a sua personalidade, definindo o seu papel e elaborando conhecimentos que contribuem para seu desenvolvimento pessoal e social.

Para a criança “brincar é viver” (SANTOS, 1999, p.12). A infância se constitui em um período próprio da vida da criança, quando ela necessita ter um tempo que lhe possibilite explorar cada momento em todo seu significado.

 As crianças inseridas no espaço da educação infantil em sua maioria frequentam este ambiente em período integral, por aproximadamente onze horas diárias. Infelizmente, muitos destes espaços não estão organizados para receber estas crianças, de forma a contemplar todas suas necessidades e promover formação integral que englobe não apenas aspectos cognitivos, mas também sociais, psicológicos e afetivos, reconhecendo a criança como um todo.

Muitas destas instituições oferecem um ensino fragmentado, baseado em parâmetros tradicionais, esquecendo que o sujeito não deixa de ser criança quando entra nos portões da escola. Ele vai continuar com as necessidades e características inatas de sua fase, sendo que, se estas não forem respeitadas e estimuladas, poderão resultar em sérios problemas futuros.

A infância é uma das fases mais complexas do desenvolvimento emocional, motor, cognitivo e social do ser humano. Portanto integrar a criança a estes contextos inclui considerar suas vivências e as especificidades desta fase. Segundo Schiller (apud CHATEAU, 1987, p. 13) “o homem só é completo quando brinca”. Desta forma devem-se considerar os benefícios que esta ação provoca, constituindo-se em um importante aliado para a formação global dos sujeitos e a construção de saberes.

Assim, o ambiente escolar deve ser um espaço aconchegante, estimulante, afetivo, desafiador, rico em oportunidades e experiências, deve estabelecer um compromisso com a criança, com sua forma de interagir, de dialogar e compreender a realidade, valorizando suas ações e todas suas possibilidades de expressão e criação.

A infância é a idade das brincadeiras, por meio delas a criança satisfaz, em parte, seus interesses, necessidades e desejos particulares. Através do brincar, a criança consegue se conhecer melhor, começa a expressar seus pensamentos, seus sentimentos e seus desejos, comunicando-se com o mundo a sua volta. Brincar é aprender sobre si mesmo, é reconhecer-se como autor, como criador de sua própria história, do seu conhecimento, que vai se constituindo na interação com o outro, no contato com brinquedos e objetos que estimulam a sua criatividade, que exploram a sua imaginação, a fantasia.

Promover tempo e oferecer espaços para as brincadeiras é de extrema importância para o pleno desenvolvimento dos alunos, pois valoriza a criatividade, a imaginação, o conhecimento, a interação, o diálogo, a troca afetiva e intelectual entre alunos e professores. Para que a escola seja constituída em um espaço lúdico necessita pensar no aluno, em suas necessidades e ser transformada de forma que o aluno se identifique e se reconheça dentro deste contexto. 

Entende-se por lúdico, toda ação desenvolvida no intuito de proporcionar prazer e entretenimento, é uma forma de brincar e de lidar com os próprios pensamentos. Atividades lúdicas despertam o “[...] espirito imaginativo, exploratório e inventivo do faz de conta” (PEREIRA, 2000, p.7).

Atividades lúdicas podem ser definidas por brincadeiras, jogos, ou ações que proporcionem a interação, porém o fundamental nesta abordagem é a forma como as propostas são orientadas e vivenciadas. “No desenvolvimento de atividades lúdicas, o que importa não é apenas o produto da atividade, o seu resultado, mas a própria ação, o momento vivido” (ALMEIDA, 2000, p. 12). O lúdico intervém positivamente no desenvolvimento infantil, suprindo necessidades desta fase e possibilitando o desenvolvimento de competências.

As instituições de ensino, voltadas à educação infantil, devem respeitar a diversidade social e cultural desta população, buscando oferecer um ensino que contemple a formação integral dos sujeitos, apresentando condições adequadas, que possibilitem a ampliação de experiências e a construção de conhecimentos. Precisam ser acolhedoras, atraentes, estimuladoras e acessíveis à realidade da infância.

Nesse sentido, a criação de universos lúdicos compõe-se como uma ponte na construção da subjetividade, do conhecimento de mundo, das relações intra e interpessoais na escola. A vivência de sensações e sentimentos como a dor, o prazer, a alegria, enfim constitui-se em uma oportunidade para se desenvolver e viver intensamente, explorando todas as possibilidades oferecidas através do desenvolvimento de atividades lúdicas. Portanto, é importante que o brincar seja concebido como uma linguagem fundamental para inserção, compreensão e invenção da realidade pelas crianças e que as situações didáticas criadas sejam de caráter eminentemente lúdico.

Para Vygotsky (1994) o meio social e cultural exerce importante papel na formação dos sujeitos. O conhecimento vai sendo constituído de acordo com as experiências que estes sujeitos são submetidos. Desta forma, ao possibilitar o contato com a ludicidade, com jogos, brinquedos e brincadeiras promove-se o desenvolvimento de habilidades cognitivas e afetivas na criança. A criança constrói diferentes brincadeiras a partir de um mesmo brinquedo, suas concepções diferem sobre o mesmo objeto, a relação e a interação entre os sujeitos se tornam significativas à medida que a criança inventa, reinventa, conseguindo assim avançar nos aspectos cognitivos, afetivos e no seu desenvolvimento social.

Nessa perspectiva, trabalhar com a infância no contexto educativo requer uma abordagem pedagógica específica, baseada na oferta de situações desafiadoras, estimulantes e significativas que propiciem a descoberta do mundo, do outro e de si mesma, através das quais, conteúdos sejam aprendidos, enquanto aprendem também sobre convivência, regras, valores.  O aluno não pode perder o prazer de vir e estar na escola, não pode perder a alegria e o gosto pela descoberta, não pode perder a motivação. A criança não deve romper com a fascinação, com sua espontaneidade e criatividade, sendo inserida de forma brusca ao racionalismo do mundo adulto.  A brincadeira desempenha um papel central nesta abordagem, pois é uma forma eficaz de interação e compreensão do mundo nesta fase da vida.

É fundamental perceber no brincar contextos ricos e significativos para explorar e resolver problemas, refletir sobre valores sociais, aprender sobre regras de convivência, tomar decisões, levantar hipóteses enfim, para aprender a se desenvolver.

Organizar-se em torno de conteúdos curriculares não deve excluir a presença da brincadeira, ou mesmo relegá-la a um plano inferior, propiciada apenas quando “sobra tempo”. Para Sneyders (1996, p.36) “educar é ir à direção à alegria.” A alegria e a criatividade são características inerentes ao processo pedagógico, e não devem ter sua importância reduzida no decorrer dos anos, em função de priorizar-se a propagação de conteúdos específicos de cada área.

A ludicidade deve ser incentivada em todos os níveis de ensino. Alunos cheios de energia para gastar submetidos a uma mesa, compromissos e responsabilidades, perdem a alegria de aprender e assim uma parte vital do ser humano vai perdendo seu espaço. Nossas escolas tendem a conter esta energia natural das crianças, através de um sistema repressivo. Em vez disso, deveriam organizar esta energia de forma produtiva, através de atividades, jogos e brincadeiras que envolvam, a um só tempo, ação, aprendizagem e prazer.

Vygotsky (1994, p.106) destaca que “[...] a criança satisfaz certas necessidades no brinquedo”, e em se tratando de crianças na fase da pré-escola, o autor acrescenta que estas necessidades estão direcionadas ao ilusório, através do brinquedo ela busca aquilo que ainda não pode ter, transita entre o imaginário e o concreto, qualquer objeto pode se transformar em brinquedo e ele assume diferentes formas, podendo ser qualquer coisa no imaginário infantil. Assim, no brincar a criança representa situações e vivências do mundo adulto no intuito de resolver seus conflitos e assimilar a realidade humana.

Nesse sentido, a prática docente na pré-escola exige do educador, além de conhecimentos específicos sobre a criança, uma abordagem pedagógica coerente com as necessidades e possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento.

 

O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantido se o educador estiver preparado para realizá-la. Nada será feito se ele não tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais da educação lúdica, condições suficientes para socializar o conhecimento e predisposição para levar isto adiante. (ALMEIDA, 1998, p.63)

 

A partir desta perspectiva, compreende-se que o educador necessita inserir o brincar em seus planejamentos e propostas, estabelecendo objetivos, agindo com intencionalidade e tendo consciência da relevância das ações lúdicas desenvolvidas no contexto. O educador precisa conhecer sobre o assunto, a fim de que suas ações não sejam vazias, destituídas de significados, deve reconhecer as atividades lúdicas como instrumentos eficazes e facilitadores do processo de ensino e de aprendizagem, aproveitando e explorando todas as possibilidades apresentadas no brincar para promover o desenvolvimento do aluno em todas suas esferas.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.23):

 

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

           

Percebe-se, neste documento, que visa nortear a prática pedagógica, uma preocupação em sensibilizar os educadores para a importância do brincar, tanto em situações formais como informais. Nele, a brincadeira é definida como a linguagem infantil que vincula o simbólico e a realidade da criança.

Desta forma, o educador precisa desenvolver sua prática pedagógica incluindo o brincar, o cuidar e o educar de forma simultânea, interdisciplinar e indissociável, respeitando as particularidades da infância e da turma em que desenvolve seu trabalho. Deve considerar a faixa etária, os recursos, a realidade, o contexto, de forma a oferecer condições adequadas de ensino, através de uma prática diversificada e coerente, que alargue as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento.

A abordagem lúdica na educação exige uma preparação específica, não apenas no sentido de conhecer e proporcionar brincadeiras, mas de compreender a intencionalidade, ou seja, o porquê de realizar determinada atividade, o que estas podem oferecer e o que de fato podem influenciar e desenvolver, pois só assim a brincadeira pode assumir o espaço que lhe é devido no contexto educacional.

O educador na pré-escola precisa estar capacitado, sua formação deve ser constante, deve buscar compreender as mudanças educacionais que acontecem na sociedade atual, cabe a ele conhecer as peculiaridades de sua turma, as características da faixa etária, necessidades e interesses, para melhor planejar a ação docente. Utilizar a abordagem lúdica exige do professor conhecimento do porquê e para que está desenvolvendo determinada atividade, pois para que esta abordagem seja significativa no contexto escolar ela precisa ir além de trancafiar crianças em determinados espaços, frente a brinquedos, de forma rotineira, sem intenção pedagógica, apenas para ocupar o tempo.

A criança precisa corresponder à proposta lúdica, demonstrando motivação, estabelecendo relação entre o conhecimento que vai construindo e o conhecimento que já possui, deve a partir do simbólico, do imaginário, partir para o concreto, o real, aproximando o brincar de suas vivências, criando hipóteses e soluções a seus conflitos. Desta forma o aprendizado estará, sem dúvida, sendo significativo, pois compreenderá o mundo e as necessidades individuais da criança.

Mesmo nas chamadas “brincadeiras espontâneas” o educador precisa estar atendo, acompanhando de perto as ações de seus alunos, suas representações, suas construções. Precisa atuar como um mediador, explorando ao máximo todas as possibilidades, investigando o pensamento infantil para, a partir de suas observações, fundamentar novos e futuros planejamentos, para reorganizar sua prática e refletir sobre ela, para avaliar a si mesmo e a criança.

Compreende-se, portanto, que “a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança sendo por isso indispensável à prática educativa.” (PIAGET, 1998, p. 47).  A criança que se envolve em atividades lúdicas apropria-se de novos saberes e desenvolve habilidades de forma natural e agradável. Estas atividades possibilitam o desenvolvimento de potencialidades humanas. Desta forma, o educador deve utilizar-se da ludicidade diariamente, reconhecendo-a como importante recurso pedagógico no processo de ensino e de aprendizagem. Para Fortuna (2007, p.15):

 

Todo lugar é lugar de brincar, e toda hora é hora de brincar, em qualquer idade, quando o ato de brincar é entendido como uma forma de afirmar e renovar a vida, pois a brincadeira é tanto condição para que a vida aconteça, quanto meio para que se expresse, seja compreendida e transformada.

 

Portanto, o brincar é uma atividade inerente ao ser humano, pois promove inteligência, criatividade, simbolismo, emoção e imaginação entre outras capacidades. Desenvolvimento e brincadeira estão intrinsecamente ligados. Brincar oferece bases sólidas para a infância e para a constituição do amanhã. A criança tem direito de brincar. 

 De acordo com a Declaração das Nações Unidas que instituiu os Direitos da Criança (1959, p.82) “A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito”.

A escola como instituição social voltada à formação do sujeito para o pleno exercício da cidadania precisa respeitar este direito oferecendo meios e momentos propícios ao possibilitar o brincar no contexto escolar, englobando o currículo ao lúdico, transformando este espaço de forma a contemplar as especificidades da infância e usando deste recurso como instrumento para promoção da aprendizagem.

É papel da escola prover recursos materiais e didáticos, necessários à prática docente, e envolver a ludicidade em sua proposta pedagógica, também investir na formação dos educadores de forma a sentirem-se instigados a trabalhar de acordo com a abordagem lúdica. Os espaços escolares precisam estar organizados, oferecendo recursos adequados, em bom estado de conservação, a fim de que os educadores possam diversificar sua prática.

É comum observamos escolas que se isentam do seu papel, atribuindo apenas ao professor a responsabilidade de trabalhar com o lúdico. Em se tratando de pré-escola, fica evidente a necessidade de brinquedos, jogos, livros infantis, recursos tecnológicos, espaços externos que estimulem a criatividade e propiciem o aprender de forma prazerosa.

Segundo Leontiev (1991, p. 79), “brincando a criança irá pouco a pouco aprendendo a se conhecer melhor e a aceitar a existência dos outros, organizando suas relações emocionais e, consequentemente, estabelecendo suas relações sociais.” Esta ação permite ainda que a criança resolva seus conflitos, contribui para o seu bem-estar, promove autonomia, desenvolve o lado afetivo, proporciona a criança experimentar e comunicar-se com mundo.

Diante do exposto, percebemos que os processos de aprendizagem da criança, que envolvem atividades lúdicas, proporcionam a relação e a interação entre a criança e o mundo que a cerca. Neste sentidopode-se afirmar que, enquanto brincam, as crianças, em especial na Educação Infantil, estão a criar situações imaginárias a partir da imitação do mundo e dos valores, regras e comportamentos dos adultos. É exatamente a partir destas situações que posteriormente a criança irá construir as regras de convivência em sociedade.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Ao considerar o objetivo geral para este estudo, bem como seus objetivos específicos, buscou-se a partir de reflexão de respostas das educadoras ao questionário realizado, embasar o conhecimento construído, comparar e confrontar evidências, com a finalidade de ampliar a confiabilidade do estudo e de provocar diferentes olhares sobre o tema em discussão.

De modo a preservar a identidade das quatro professoras participantes desta pesquisa optou-se pelo uso de letras do sistema alfabético para caracterizá-las. Cabe ressaltar que, conforme já apresentado na metodologia, as professoras entrevistadas pertencem a duas escolas de Educação Infantil localizadas no município de Santa Rosa/RS.

No que se refere à característica idade constata-se que as entrevistadas são jovens entre 22 e 31 anos, e se encontram em um estágio inicial na carreira docente (todas com menos de 08 anos de atuação). Pode-se ainda, observar que, quanto à formação as duas docentes que atuam na Educação Infantil na rede municipal de ensino, ou já possuem curso superior em Pedagogia ou está cursando. Enquanto que, as duas docentes da escola de educação infantil comunitária ainda não possuem curso superior, sendo sua formação inicial ainda em nível de Magistério.

O primeiro questionamento feito às professoras pautou-se pela seguinte pergunta: O que você entende por lúdico? De modo geral as professoras apresentam concepções muito interessantes quanto ao entendimento do lúdico. Em suas reflexões se destacam expressões como: encantamento, brincadeira, jogo, ensino, motivação e aprendizagem. Estas palavras corroboram com a ideia de que o lúdico tem papel preponderante no processo de ensino e de aprendizagem na Educação Infantil.

Conforme estudos de Vygotsky (1984) ao brincar, as crianças passam a reproduzir os aspectos próprios da sociedade e do mundo adulto onde estão inseridas. Estas reproduções que se dão no brincar, nos jogos, e na imitação tornam-se assim, um modo de compreender, através dos processos de simulação, a moral dominante do meio social e cultural a que pertencem.  Assim, se percebe que mesmo que o lúdico seja um processo natural para a criança, poderá ser um processo pensado e planejado pelo adulto, no caso especifico deste estudo, pelos professores, de forma que a aprendizagem infantil se concretize de modo satisfatório. Isto fica evidente na reflexão da professora D quando afirma que, no processo de ludicidade “existe sempre a presença da motivação para alcançar os objetivos esperados pelo educador”.

Cabe ressaltar que, dependendo dos fatores sociais, culturais e econômicos, a ludicidade, aqui entendida como processo de aprendizagem através da brincadeira, poderá ter significados distintos, que se projetam conforme desejos, intenções e perspectivas dos sujeitos que compõem o cenário desta mesma sociedade.

Pereira e Carvalho (2003) entendem que nos tempos atuais a pedagogia reconhece a importância do lúdico, no entanto, ainda há dificuldades de se saber o que ele realmente é, isto porque os processos lúdicos são projetados sobre uma criança imaginária, e, muitas vezes se desconsidera a criança que está em cada um de nós e nas escolas.

Ainda, seguindo a mesma linha de indagação, questionou-se sobre as influências do lúdico para a aprendizagem e desenvolvimento infantil. As afirmações das professoras se fundamentam a partir de suas práticas educativas com crianças da educação Infantil. Dentre as compreensões manifestas percebe-se uma apropriação das educadoras em relação ao discurso vygotskiano. É importante assinalar que, em observação da documentação que orienta o fazer das escolas em estudo, como o Projeto Político-Pedagógico, os estudos de Vygotsky estão presentes como fundamento para o trabalho destas instituições escolares.

A partir das concepções discutidas por Vygotsky (1984), os elementos fundamentais da brincadeira podem ser entendidos como: a) a situação imaginária, b) a imitação e c) as regras.

Estas três situações estão presentes nos discursos das professoras partícipes desta pesquisa. Quanto ao elemento situação imaginária, pode-se percebe na fala da professora B que assim se expressa: “[...] a criança cria situações imaginárias, projeta-se nas atividades adultas de sua cultura, também expressa valores e explora as possibilidades de movimento do seu corpo e do espaço”. 

O elemento imitação também pode ser destacado, uma vez que, ao imitar o mundo adulto a criança está internalizando este mundo e fazendo suas próprias recriações, que se traduzem em aprendizados tanto de conceitos como de atitudes e valores que carregará ao longo de sua vida. Assim, na reflexão da professora A, ela destaca que “trabalhar ludicamente é fundamental ao desenvolvimento infantil, pois o diferencial de um aprendizado é sempre a forma como foi apresentado, e sendo assim, o lúdico além de provocar estímulos surpreendentes, tratando-se da criatividade, garante o desenvolvimento de forma integral da criança, tanto afetiva como cognitivamente”.

Quanto às regras, pode-se compreender que estas passam a ser constituídas e assimiladas pelas crianças quando o processo de imaginação e imitação estão sendo efetivados, e o lúdico é capaz de promover esse processo. É o que ressalta a professora B, quando afirma que o lúdico “possibilita a organização de diferentes conhecimentos e a criança fica mais motivada a aprender”.

Outra questão formulada às professoras traz a seguinte indagação: Você utiliza o lúdico em sua prática pedagógica? Com que frequência? Em que espaços? 

As professoras entrevistadas revelam que projetam as situações lúdicas no dia a dia da Educação Infantil. Com expressões como sempre, todo, dia, diariamente, ressaltam a preocupação em efetivar um planejamento pedagógico onde o lúdico esteja presente.

Os espaços citados para o desenvolvimento da aprendizagem lúdica são os mais variados e abarcam todos os ambientes físicos e pedagógicos da escola, como: sala de aula, salão, parquinho, brinquedoteca e pátio. Nestes espaços são executadas atividades previamente planejadas com o intuito de potencializar o desenvolvimento intelectual e social das crianças.

Em relação ao currículo da educação infantil e a ludicidade, foi formulada a seguinte questão às professoras: Como você relaciona o currículo da Educação Infantil à ludicidade?

Ao inserirmos a questão do currículo e do lúdico é preciso que se perceba a importância dos conteúdos ensinados no cotidiano da escola em consonância com as necessidades e expectativas do contexto onde os sujeitos aprendentes se inserem. É o que destaca Libâneo (1996, p. 390) quando ressalta que “a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares que tenham ressonância na vida dos alunos”.

A Professora A, ao considerar o aspecto curricular afirma que “as habilidades desenvolvidas na Educação Infantil, precisam da ludicidade para acontecerem”. Já a Professora B ressalta que “o currículo da educação infantil e a ludicidade devem andar lado a lado”. De fato as questões curriculares precisam contemplar o lúdico como instrumento pedagógico e como elemento de imbricação entre o mundo infantil e os conteúdos a serem ensinados na escola.

Outra questão apresentada às professoras indaga: A escola que você atua oferece espaço e material suficiente e adequado para as crianças brincarem? Cite os espaços e materiais disponíveis. 

Em 2006 o Ministério da Educação editou o documento intitulado Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil. Neste documento são apresentadas as questões estruturais necessárias às escolas que atendem às etapas da creche e pré-escola. Com base nas orientações pode-se inferir que a estrutura das instituições que atendem às crianças da educação Infantil precisa ser constantemente monitorada e adequada de modo a propiciar que o objetivo desta etapa do ensino seja alcançado com qualidade.

No que se refere à infraestrutura das escolas onde se deu este estudo, percebe-se que há um atendimento das demandas estruturais mínimas para o desenvolvimento da aprendizagem infantil. Contudo algumas situações expostas pelas professoras permitem reconhecer que estes espaços educativos ainda carecem de melhorias, tanto no que diz respeito a espaços externos para recreação, quanto de recursos pedagógicos que proporcionem maior interação e uma aprendizagem significativa.

Atuando na mesma escola municipal de Educação Infantil, a professora A assinala que a referida instituição “possui um bom espaço físico”, em contraponto, a professora B cita a “a carência de material, principalmente de jogos didáticos, em relação aos espaços para desenvolver a ludicidade acho que deveriam ser melhorados, principalmente o pátio da escola”.

Na escola de Educação Infantil comunitária, tanto a professora quanto a professora D, mencionam a existência de recursos e materiais adequados para o desenvolvimento do projeto pedagógico da instituição. Porém, a professora D, faz a mesma constatação de que a escola “oferece material suficiente e adequado, mas o espaço poderia ser mais amplo”, ou seja, ainda que existam condições mínimas estruturais, as educadoras de ambas as escolas percebem a necessidade de melhorias e qualificação destes espaços. Contudo, os espaços mencionados pelas professoras, se constituem em lugares de aprendizagem, onde passam a interagir alunos e professores na mediação da aprendizagem e nas descobertas significativas.

Conforme preconiza o documento denominado Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006, p. 8):

 

Acredita-se que ambientes variados podem favorecer diferentes tipos de interações e que o professor tem papel importante como organi­zador dos espaços onde ocorre o processo educacional. Tal trabalho baseia-se na escuta, no diálogo e na observação das necessidades e dos interesses expressos pelas crianças, transformando-se em objeti­vos pedagógicos.

 

Faz-se necessário, portanto, que os espaços lúdicos onde se desenvolve a Educação Infantil sejam dinâmicos, vivos, brincáveis, exploráveis, transformáveis e acessíveis para todos (BRASIL, 2006) de modo que o objetivo da escola, centrado na formação para a cidadania, se construa na prática cotidiana da educação.

Ao refletirem sobre a questão: Você desenvolve em sua prática as “brincadeiras livres”, os jogos e a recreação? Com que objetivo? Com que frequência? Todas as professoras mencionam que estas fazem parte de seu planejamento. Pode-se perceber nas duas escolas analisadas que ocorrem tanto atividades dirigidas quanto brincadeiras livres.

Na escola de educação infantil Municipal, a professora A reflete que os jogos, as brincadeira livres estão presentes em sua aula, visando o desenvolvimento das capacidades motoras, cognitivas e afetivas dos alunos, além “da noção de tempo, espaço, organização, valores, bem como o desenvolvimento integral com o outro, e com o grupo escolar”. Já, a professora B, atuando na mesma escola, acrescenta que “a brincadeira também favorece na criança a melhoria da autoestima e contribui para a interiorização de determinados modelos de valores”. Diante destas reflexões pode-se perceber que as educadoras assumem um papel fundamental na organização didática, planejando o seu fazer pedagógico a partir das especificidades e demandas dos próprios alunos.

Quando questionadas sobre o papel da escola frente à relação entre o brincar e o desenvolvimento da aprendizagem infantil, todas as professoras participantes da amostra concordam que a escola assume um papel de suma importância. Em especial, a professora A destaca que através de um currículo centrado em questões que propiciam do desenvolvimento infantil se poderá projetar a “identidade e autonomia fundamental a todo e qualquer cidadão”. A professora D, cita que além da preocupação com um currículo lúdico e aberto ao desenvolvimento da criança, a escola tem ainda que manifestar uma preocupação “com os espaços e os materiais utilizados”, isto se evidencia quando se contempla a Educação Infantil como uma etapa da educação básica que requer atenção especial no sentido dos recursos didáticos, estrutura e atuação docente.

Na concepção da professora B, a função da escola se destaca em “proporcionar aos alunos momentos diferenciados como jogos e o desenvolvimento de projetos e planejamentos que privilegiem a ludicidade”. Ou seja, o brincar, a recreação, as interações entre os sujeitos (professores e alunos) da educação infantil possuem um significado essencial para o desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem.

Para Bueno (2001, p. 5) “à escola foi delegada a função de formação das novas gerações em termos de acesso à cultura socialmente valorizada, de formação do cidadão e de constituição do sujeito social”. Nesta perspectiva, se projeta a discussão do papel da escola de Educação Infantil no desenvolvimento pleno das crianças. No processo de construção de uma aprendizagem significativa, que tem na formação cidadã sua meta, cabe também uma análise da função do professor que atua nesta etapa da educação.

A partir das discussões expostas nesse estudo e tendo como parâmetro os objetivos (gerais e específicos) delineados como fundamentais a busca de respostas sobre o tema em questão, apresento as seguintes considerações:

Ao investigar as concepções dos professores sobre o tema ludicidade e a repercussão destas concepções em suas práticas pedagógicas percebe-se que o lúdico é um assunto bem popular, conhecido e debatido no contexto pesquisado. 

A definição do termo entre os professores está atrelada a ações que indicam prazer, satisfação, entretenimento e envolve o imaginário, a criatividade, a fantasia.  Constatou-se que o desenvolvimento de atividades lúdicas repercute de forma positiva nas ações pedagógicas desenvolvidas, caracterizando-se como elemento fundamental e intrinsecamente ligado ao desenvolvimento infantil, portanto inerente ao processo de ensino e de aprendizagem na pré-escola.

A influência do lúdico no contexto escolar é notória, pois atividades desenvolvidas neste caráter remetem o aluno à vivência de situações que fazem parte de sua realidade e que atendem as especificidades de sua faixa etária. Promovem, assim, aprendizagens significativas que tornam o sujeito autor do seu próprio conhecimento, pois no explorar, no brincar, o aluno vai formulando hipóteses e encontrando respostas para os conflitos.

 

Considerações finais

 

Com esse estudo pode-se confirmar o entendimento de que o brincar promove o desenvolvimento integral da criança, bem como compreender as relações entre o ato de brincar e o desenvolvimento infantil.  Deste modo, para que a abordagem lúdica alcance o ápice de sua intencionalidade, exige-se formação do educador sobre o tema, bem como um trabalho desenvolvido de forma coletiva, onde professor e escola reconheçam e sejam responsáveis frente a seus papéis.

Cabe, portanto, a escola incluir em sua proposta o desenvolvimento da abordagem lúdica e propiciar recursos e meios, a fim de que seja possível o desenvolvimento das atividades planejadas pelo educador. Assim, o planejamento é elemento fundamental na abordagem lúdica, pois ele vai nortear a prática pedagógica, apontando os caminhos que devem ser construídos e percorridos, ele vai apontar os rumos a serem seguidos.

 Este planejamento deve ser flexível, deve considerar a realidade, as experiências das crianças, suas necessidades, seus conhecimentos prévios, pois no momento em que a criança chega à escola, a mesma já traz consigo toda uma história, que foi construída a partir de suas vivências, e grande parte delas se traduz através da atividade lúdica.  Neste sentido, é necessário que os professores reconheçam que a criança já tem este saber prévio, este conhecimento já adquirido em outros contextos fora da escola, para a partir deles, desenvolver a sua proposta educacional.

Assim, é necessário que, na definição dos conteúdos curriculares para a educação infantil, os professores tenham clareza de que a criança, ao ingressar na escola já traz consigo concepções de mundo que são fruto de interações na família e em outros grupos sociais onde se insere.  Ou seja, a criança não é uma tábula rasa onde deverão ser inscritas as principais questões de vida e de valores. Estes valores, assim como as atitudes, já estão presentes no cotidiano das crianças e precisam ser aprimorados nos contextos escolares.

Ao inserir o lúdico no currículo da Educação Infantil deve-se considerar que através das brincadeiras se insere a possibilidade de criação e de desenvolvimento da aprendizagem. Todas as práticas pedagógicas precisam ser pensadas a partir das necessidades dos alunos sendo que estas devem ultrapassar os limites da sala de aula. Os espaços comuns da escola, como pátio, parquinho infantil, quadra de esportes, biblioteca, áreas abertas ou cobertas, necessitam ser pensados como espaços de aprendizagens.

Desta forma, pode-se afirmar que o lúdico exerce papel fundamental no contexto educativo, pois além de possibilitar a construção de saberes “o brinquedo é realmente o caminho pelo qual as crianças compreendem o mundo que vivem e que são chamadas a mudar” (LEONTIEV, 2006, p.130). Diante do exposto, conclui-se que a ludicidade é fator preponderante no desenvolvimento da capacidade cognitiva da criança, pois possibilita a integração cultura, estabelece relacionamentos, promove conhecimentos e a apropriação do mundo real.

 

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