O LÚDICO E A PSICOPEDAGOGIA
Por Everson Augusto Marques | 23/10/2025 | EducaçãoEVERSON AUGUSTO MARQUES
ELAINE CRISTINA CAVICHIOLLI
GABRIELA ARAUJO GRACIANO
SILMARA APARECIDA VIGATTI
DENISE MARTINS SOARES
 
O LÚDICO E A PSICOPEDAGOGIA
 
SÃO CARLOS
2025
RESUMO
O presente trabalho busca a compreensão da relação entre o lúdico e a psicopedagogia. A discussão sobre a relação entre o jogo e educação vem de longa data, mas a pouco tempo o jogo vem sendo trabalhado sob uma nova perspectiva do enfoque psicopedagógico. O jogo para criança é muito mais que simplesmente um ato de brincar, é uma forma de inserção na vida social e uma adaptação necessária ao meio. Dessa forma ao brincar a criança expressa sua afetividade, emoções, desempenho físico motor e seu estágio de desenvolvimento cognitivo. No diagnóstico psicopedagógico a hora lúdica serve para levantar hipóteses dos problemas de aprendizagem. Já como medida de intervenção preventiva trabalhar as dificuldades que se relacionem com o controle segmentar, atenção, memorização, ansiedade e as que especificamente se relacionem com os conteúdos escolares.
Palavras-chave: lúdico, psicopedagogia e aprendizagem.
O LÚDICO E A PSICOPEDAGOGIA
A psicopedagogia surge por volta da década de 60 e constitui uma nova área de atuação profissional, e seu campo de investigação é aprendizagem e as dificuldades envolvidas neste processo. É também considerada uma ciência que reúne várias áreas do conhecimento integrando-os e reelaborando-os, por isso sua área de atuação é multi e transdisciplinar. O psicopedagogo é o profissional que dispondo desses conhecimentos trabalha com os processos de aprendizagem e suas dificuldades, de maneira preventiva e remediativa. Nesse sentido procura identificar quais os obstáculos que impedem a aprendizagem.
Essa ciência tem duas áreas de atuação a psicopedagogia institucional e a clínica. A primeira segundo Rubinsein(1987) Citada por Fini ( 1996) O profissional trabalha de uma forma mais ampla, envolvendo toda a dinâmica escolar, procurando desenvolver um trabalho em equipe de forma cooperativa e autônoma, voltado para a prevenção. O papel da escola juntamente com a atuação do psicopedagogo é intervir nas dificuldades envolvidas no processo de aprendizagem evitando quais problemas possam levar a uma patologia.
A psicopedagogia clínica por sua vez, consiste um trabalho terapêutico (recuperação) que ajuda o indivíduo na reelaboração dos processos de aprendizagem, ajudando na construção do conhecimento e na busca pelo prazer de aprender. O profissional da psicopedagogia deve considerar o aluno como uma pessoa cognoscente, afetiva e social, é dessa forma procurar estabelecer um clima de confiança, cumplicidade e sigilo nessa relação.
Para o trabalho psicopedagógico são necessárias duas ações indispensáveis a intervenção e o diagnóstico. O diagnóstico sob a ótica da psicopedagogia segundo Rubinstein (1996 p. 128) “é um processo de investigação” o psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, através de várias áreas do conhecimento procurando selecioná-las e através deste procedimento levar em consideração todos os fatores que possam estar envolvidos no processo de ensino aprendizagem, tomando por base essa investigação procurando entender a constituição da dificuldade de aprendizagem.
Para a realização do diagnóstico psicopedagógico clínico são necessários alguns instrumentos tais como entrevistas com a família, entrevistas com o sujeito, contato com a escola, contato com outros profissionais e a devolutiva. Descreveremos agora algumas etapas do diagnóstico psicopedagógico clínico.
De acordo com Paín(1992) no encontro com a família primeiramente deve-se procurar saber antes da entrevista propriamente dita qual o motivo da consulta, pois no primeiro contato muitos aspectos são revelados. Desta forma A Entrevista então poderá ser dividida em dois momentos: o primeiro motivo da consulta e o segundo a investigação sobre a história vital ou anamnese.
No primeiro momento da consulta segundo Paín(1992) o psicopedagogo deve procurar falar pouco e procurar estimular os pais a falarem observando os seguintes aspectos:
a. O significado do sintoma do não aprender na família: esse aspecto consiste em investigar a concepção da família a respeito do não aprender.
b. Significado do sintoma para a família: quais os valores que a família atribui a respeito do não aprender e implicação social que isso acarreta.
c. Sentido do que a família espera a respeito da intervenção do profissional muitas querem saber se a criança não pode ou não quer aprender.
d. Observar as modalidades de comportamento expressa pelo casal: o nível de comunicação e o respectivo desempenho de papéis.
Já no segundo momento como afirma a autora acima diz a respeito à história de vida da criança, ou seja, o psicopedagogo busca uma série de dados sobre a aprendizagem e afetividade da criança desde o nascimento. Inicia se a investigação sobre os antecedentes natais que compreende: o período pré-natal, ou seja, as condições de gestação os perinatais, que diz respeito às condições do parto e não natais que é o período posterior ao nascimento da criança. Também se indaga sobre possíveis doenças, sobre o desenvolvimento motor, linguagem e sobre hábitos e a aprendizagem.
De acordo com Rubinstein (1996), para se construir um diagnóstico psicopedagógico assumimos um papel de investigador. No contato com a criança se for possível escutar da parte dela o motivo da consulta e dar ciência à mesma quais são os objetivos das próximas consultas. Na interação com a criança o profissional deve levar em conta não só as dificuldades, mas também o potencial de aprendizagem onde pode ocorrer a intervenção. Segundo a mesma autora quanto menos experiência o psicopedagogo ter mais recurso ele deve utilizar para detectar os problemas de aprendizagem.
O trabalho psicopedagógico é um trabalho desenvolvido em parcerias, não pode ser restringido somente ao contato com a família e a criança, por isso o contato com a escola é fundamental, uma vez que, é função do psicopedagogo ajudar as crianças a superar as suas dificuldades no meio educacional. Ao entrar em contato com o professor o psicopedagogo deve estabelecer um clima de confiança, procurando esclarecer quais são os objetivos e solicitando lhe ajuda para que a investigação possa beneficiar a criança, é importante também fazer uma devolutiva para escola.
O psicopedagogo tem a possibilidade de investigar múltiplos fatores, mas em muitos casos é preciso uma avaliação multidisciplinar por isso a colaboração de outros profissionais e de extrema importância para se fazer um diagnóstico diferencial.
Depois de cumpridas as etapas descritas acima, compete ao psicopedagogo, faz ver uma síntese procurando elucidar as questões que se propôs investigar durante o processo. Na devolutiva o psicopedagogo pode esclarecer quais as possíveis relações entre as dificuldades da criança apontada pela família escola e as condições de aprendizagem da mesma. Portanto, o atendimento poderá ser realizado pelo psicopedagogo ou por outro profissional se for o caso (RUBISTEIN, 1996).
Outra ação indispensável ao trabalho psicopedagógico além do diagnóstico é intervenção segundo Souza (1996) a intervenção significa “colocar-se no meio”, ou seja, fazer a mediação entre educando e o objeto do conhecimento. A mesma autora acima discute a forma que quatro autores vêem a intervenção psicopedagógica.
De acordo com Souza (1996) para Vinh Bang (1990) baseado na teoria piagetiana aponta três níveis que a intervenção pode acontecer: no nível individual do aluno para preencher lacunas e corrigir atrasos; no nível coletivo de alunos e no nível da escola para suprir elementos da forma negligenciada.
Como afirma a mesma autora para Paín (1995) O tema da intervenção é tratado juntamente com o diagnóstico articulando a teoria psicanalítica com a piagetiana. Sobre o tratamento psicopedagógico disse que pode ser: sintomático, situacional e operativo. Outra teoria também apresentada por Souza (1996) é a de Fernandez (1987) a qual compreende as dificuldades para aprender como “fraturas” no processo de aprendizagem presente em três dimensões: corpo, inteligência e desejo, em sua obra indica estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e intervenção, sua teoria também baseada na psicanálise e no construtivismo piagetiano. Outro fator comentado por Souza (1996) é Macedo (1992) que em seu modelo de psicopedagogia construtivista sugere uma intervenção com uso de jogos de regras, os quais podem se trabalhar os erros e a partir de situações problemas.
Considerando que cada criança é um ser único tem diferentes níveis afetivos e cognitivos é de suma importância o psicopedagogo saber distinguir as ações que deve tomar para promover mudança e através de uma reflexão conhecer e objetivar o alcance de sua intervenção.
Souza (1996 p. 123) descreve alguns tipos de intervenção psicopedagógicas:
- estratégias que visam à recuperação, por parte das crianças e de conteúdos escolares avaliados com deficitário. 
- estratégias de orientações de estudos os quais compreendem; organização disciplina, etc. 
- jogos, brincadeiras e dramatizações dentro e fora da escola, para o desenvolvimento da personalidade e afetividade de crianças, com ou sem dificuldades de aprendizagem. 
- procura por instrumentos que possam ser utilizados para no processo de aprendizagem no que se refere à inteligência e afetividade. 
Escola e os professores são considerados mediadores, sendo que os objetivos da instituição escolar é inserir a criança em um mundo social mais amplo que o da família, seu papel principal é proporcionar um desenvolvimento integral do aluno trabalhando os aspectos físicos, sociais, afetivos e cognitivos assim sendo a escola intervém através de sua metodologia conduzindo aprendizagem. Outro tipo de intervenção é mais específico seja pelo professor ou pelo terapeuta nesse caso o objetivo principal é interferir no processo de aprendizagem procurando compreendê-lo, explícita-lo ou corrigi-lo (SOUZA, 1996).
Ao psicopedagogo institucional cabe a intervenção, ou seja analisar toda a dinâmica organizacional da instituição escolar o clima das relações que se estabelecem dentro da escola entre professores, alunos, metodologia, currículo, os objetivos em uma relação de diálogo com todos os envolvidos no processo de aprendizagem especialmente com os professores. Assim sendo, a psicopedagogia institucional intervém de maneira preventiva procurando diminuir o fracasso escolar ou ainda encaminhar de forma precoce os educandos que necessitem de um apoio terapêutico.
Como acabamos de ver o trabalho do psicopedagogo é trabalhar com as dificuldades de aprendizagem, tanto de forma preventiva ou curativa, vimos também as ações que são desenvolvidas pelo profissional da psicopedagogia e as modalidades de intervenção diagnóstica ou preventiva. Agora analisaremos a atividade lúdica como instrumento de intervenção tanto como clínica como escolar.
O LÚDICO NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
É importante ressaltar a importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento da aprendizagem humana. Mas, outras atividades como a música, pintura e tudo que estimule a criatividade são também ações lúdicas essenciais para promover a aprendizagem da criança. Portanto, através da ludicidade a criança poderá estimular todas as suas habilidades e potencialidades, desenvolvendo seu lado social, motor e cognitivo.
Segundo Vigostsky (2003), as crianças não raciocinam como adultos, sendo elas as próprias construtoras ativas do conhecimento, vivendo constantemente criando e testando suas teorias sobre o mundo. Então, a criança brincando vai construindo sua individualidade e identidade, assim vão aprendendo os instrumentos de brincar, ou seja, os brinquedos vivenciados a partir de imagens significantes dele próprio, da cultura da comunidade onde é inserido.
Dessa forma, considera-se o lúdico como um fenômeno psicológico e também psicopedagógico, como um fator determinante no desenvolvimento infantil e sujeito humano (desenvolvimento cognitivo, físico, mental e emocional), essencial na construção de sua personalidade, como fator de comunicação e relação com outras crianças, adultos e consigo mesma.
O desenvolvimento infantil precisa acontecer de forma integral, atingindo o indivíduo como um todo, para que isso aconteça é necessário que a criança seja estimulada em todos os aspectos como afetivo, cognitivo e corporal. Muitas vezes quando acontece o fracasso escolar pode estar havendo falha no desenvolvimento em alguns desses aspectos. Nosso objeto de investigação consiste em saber quais as potencialidades que podemos desenvolver na criança através do trabalho psicopedagógico lúdico, visto que a criança aprende brincando.
A brincadeira para a criança deve ser um espaço onde ela possa integrar o mundo externo e interno, com prazer e satisfação. Por muito tempo os educadores se preocuparam com as metodologias de ensino, só hoje a preocupação está sendo em descobrir como ela aprende. É muito importante educador, a utilizar um jogo saber quais os objetivos que pretende alcançar e o jogo adequado ao momento educativo.
Enquanto a criança está brincando, ela incorpora valores, conceitos e conteúdos. As dificuldades escolares trazem certa depreciação do aluno, porque muitas vezes se enfatizam os problemas da criança prejudicando a sua autoimagem, o psicopedagogo deve ajudá-los a redescobrir o seu potencial. Sendo assim Lopes (2001) esta pode influenciar, na concentração nos relacionamentos interpessoais e na autoestima, tais aspectos podem dificultar a aprendizagem e também o trabalho do professor. Para que a criança aprenda a se controlar emocionalmente o psicopedagogo deve estimular a criança com atividades que exigem maior esforço e concentração ajudando a diminuir o nível de ansiedade da criança.
A falta de regras e limites é uma constante que os educadores se deparam diariamente, muitas têm dificuldades de aceitar limites, dentro do contexto escolar aparece a dificuldade de relacionamento tanto entre colegas como também com o professor, Muitas vezes tais comportamentos acabam por prejudicar a aprendizagem. Nesse sentido vale dançar mão de jogos competitivos e com regras. As regras por sua vez, levam as crianças a respeitar e a serem respeitadas, dessa forma a aprendizagem lúdica serve para situações de vida. Sendo assim Lopes (2001) Sugere a confecção de jogos para que as crianças possam ter a oportunidade de construir criar e desenvolver planos e revelar sua capacidade de realização.
Lopes (2001) destaca ainda que se pode trabalhar o controle segmentar com atividades que envolvam a confecção de jogos, aumentar a concentração trabalhando com espaços e peças pequenas e com atividades de pintar, recortar e colar. No desenvolvimento da antecipação estratégia, utilizar jogos que proporcionem prever, calcular e montar para ampliação do raciocínio.
Macedo (1997) sugere que o jogo tenha espaço na instituição escolar, pois os jogos principalmente os de regra apresentam uma situação problema e um resultado, deste modo permitem o sujeito rever as suas ações, operações e procedimentos que o levaram ao erro.
Segundo Petty e Passos (1996) de acordo com apreço perspectiva de Macedo (1992) o erro pode ser classificado em três níveis os quais são inidentificáveis através do contexto dos jogos. No primeiro nível a criança não percebe o erro, portanto, não é um problema a ser superado. No segundo erro ou ação desfavorável, provoca desequilíbrio e pede mudança de ação, nesse sentido há uma tentativa de superação (nem sempre bem sucedida). No terceiro nível, há compreensão do problema, o jogador consegue estruturar melhor suas jogadas e diminuir os erros e consegue justificar suas ações. Ao professor ou ao psicopedagogo quando trabalhar com os jogos de regras deve fazer uma mediação de qualidade, orientar, fazer questionamentos que permitam a criança sistematizar o seu conhecimento.
A estrutura dos jogos de regras é caracterizada pela competição, situação em que duas pessoas desejam a mesma coisa ao mesmo tempo. Segundo Macedo (1997) a competição não é boa nem má, o que modifica o sentido da competição é a maneira como os reage diante dela. Cabe, portanto, a um profissional estar preparado para lidar com as situações em que a competição está presente para saber mediar os conflitos que possam surgir.
Macedo (1997) discute as estruturas dos jogos e como elas são muito importantes para a psicopedagogia, citando como exemplo o jogo de damas, fala das inúmeras relações que se pode estabelecer com essa atividade. As combinações são praticamente infinitas, podem-se trabalhar em relações espaciais, no caso do tabuleiro os espaços demarcados, simulando as ruas, e as peças as posições e deslocamentos. Esse jogo ainda requer relações lógicas, estratégias para articular o jogo em função da jogada do outro. Para o autor acima além dessas relações espaciais e lógicas, esse jogo proporciona relações psicológicas, um clique em aprender a perder, ganhar, ser solidário e cooperativo. Todas essas características desse jogo contribuem para uma relação entre aluno e psicopedagogo baseada no respeito, admiração e aprendizagem.
Os jogos de regras tanto na perspectiva psicopedagógica clínica ou escolar oferece inúmeras oportunidades de aprendizagem, no que diz respeito àmatemática possibilita a criança a construir relações lógicas, aprender a raciocinar e rever o porquê dos erros e acertos. Para a investigação das ciências físicas e naturais é necessário observação sem a qual não se podem conhecer os elementos da natureza, dessa forma trabalhar com jogos é testar variações, medir riscos, observar o desenvolvimento da partida, o conhecimento produzido com os jogos de regra é comparável com o produzido pelo método científico (MACEDO, 1997).
De acordo com Macedo (1997), os jogos são importantes na vida da criança não só no presente, mas também no futuro. De acordo com o mesmo autor no presente a criança necessita do jogo, ou seja, um espaço e um tempo para pensar e se adaptar, por isso a atividade lúdica é importante para o desenvolvimento dela. Através do jogo a criança desenvolve alguns aspectos sociais e cognitivos que serão úteis no futuro. Desse modo os jogos exercício, a criança é do prazer funcional, nesse sentido, ela pode encarar o trabalho não como sacrifício, mas como algo que dá satisfação. Do jogo simbólico a criança pode herdar que possibilidade de experimentar e a criatividade o que futuramente poderá ser útil em seu trabalho. No jogo de regra a criança é colocada em contato com regras, isso significa que ela tem que lidar com limites e restrições um fator necessário para que haja solidariedade e compartilhamento.
Por isso Macedo (1997), defende valor psicopedagógico do jogo, por dois motivos, o primeiro porque pode representar para a criança uma experiência fundamental de entrar em contato com o conhecimento, de construir respostas em função de um trabalho que integre o lúdico, o operatório e o simbólico. Segundo, porque pode representar para a criança e conhecer um jogo de investigação, por isso de construção do conhecimento, em que se pode ganhar, perder, tentar novamente, sofrer com paixão, conhecer com amor, amor pelo conhecimento, no qual as situações de aprendizagens são tratadas de forma mais digna, filosófica, espiritual, enfim superior.
Assim sendo para Macedo (1997) a psicopedagogia, o que tem o jogo com os seus instrumentos, poderia ser definida como uma forma de tratamento que resgata, prepara e aprofunda competência não só para o presente da criança que se relaciona com as atividades escolares, mas também para o futuro profissional.
Como vimos as atividades lúdicas na psicopedagogia colaboram para que os alunos possam obter o melhor desempenho. Porém, somente tais atividades não resolvem o processo educativo, elas podem auxiliar em favor de promover mudanças significativas. A ludicidade, os jogos são um excelente recurso para o atendimento psicopedagógico, usando-os como instrumento de vinculação cognitiva com a aprendizagem. Dessa forma, torna-se primordial ressaltar que os jogos e brincadeiras são aliados excelentes que possibilitam às crianças o desenvolvimento das suas habilidades intelectual. Nesse caso é preciso identificar qual dificuldade e criar condições favoráveis para superação. Portanto, para o psicopedagogo, a utilização dos jogos torna-se importantíssimo, tanto para realizar o levantamento da hipótese diagnóstica acerca das limitações e possibilidades do aprendente, bem como da dificuldade de aprendizagem de crianças com algum transtorno. Portanto, as ações lúdicas são ferramentas essenciais durante as intervenções psicopedagógicas, terapêuticas ou não terapêutica.
Segundo Paín (1992) a hora do jogo pode ser utilizada até os 9 anos, o objetivo da hora lúdica é descobrir como a criança brinca, e em que condições é capaz de brincar. Segundo a mesma autora a fim de descobrir quando se deu o déficit na aprendizagem e o seu nível de gravidade, é necessário antes de qualquer coisa descrever o percurso normal do jogo e a sua sequência lógica. De acordo com Paín (1992, p.52) para que a atividade lúdica seja um canal de aprendizagem a mesma é estruturada de acordo com os seguintes momentos:
a. primeiro, um inventário, quando a criança trata de classificar algum conteúdo da caixa seja pela manipulação, experimento do seu funcionamento, ou pela exploração através do olhar, avaliando as possibilidades de ação sobre os objetos.
b. Um segundo momento, é dedicado à postulação de um jogo, construído em torno de um esboço de sequência que é o desenvolvimento coerente da hipótese escolhida. O material deixa de ser utilizado em si, a criança começa a formar em parte uma organização simbólica por sucessivos ensaios, escolhe o destino e papel dos personagens, combina aceitando um descartando significantes episódios.
c. Um terceiro momento realiza a aprendizagem propriamente dita, acontece que a integração da experiência entra no sujeito como conhecimento. Essa integração é realizada por duas maneiras, por resumo ou esquematização do jogo, naquilo que ele tem de mais coerente e equilibrado e outra pela vinculação desses esquemas com os anteriores através da assimilação coordenadora.
De acordo com a autora acima citada dos dados mais importantes a serem extraídos dessa atividade são quatro aspectos fundamentais da aprendizagem: a) distância de objeto, capacidade de inventário, b) função simbólica, adequação significante e significado, c) organização, construção da sequência e integração, d) integração, esquema de assimilação.
Cada uma dessas etapas da atividade lúdica da criança pode revelar déficit na aprendizagem, por exemplo, as crianças que interrompem o inventário podem apresentar incapacidade de coordenação. As crianças que apresentam antecipação instável e costumam apresentar uma diminuição na capacidade de criação, possibilidade de autocorreção, inclusão de referenciais verbais, revelam em nível de aprendizagem incapacidade de entender relações, formular hipótese e resolver problemas. Outras ainda não são capazes de fazer a integração, ou seja, não conseguem assimilar, fazer uma síntese cognitiva do exercício lúdico.
Portanto, essas são algumas formas de aplicação do jogo na perspectiva psicopedagógica então tem clínica como institucional, o jogo é uma oportunidade para profissionais e educando sendo necessárias reflexões mudanças de ações, por isso psicopedagogo deve ter critérios e objetivos bem definidos ao utilizar a atividade lúdica como suporte em seu trabalho.
 
REFERÊNCIAS
LOPES. Maria da Glória. Jogos na educação: criar, fazer, jogar. 4ª ed. São Paulo, Cortez, 2001.
PAÍN. Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre, artes médicas, 1992.
SOUZA. Maria Thereza C. C. Intervenção psicopedagógica: como e o que planejar? In: SISTO. Fermino Fernandes et. Al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996 p.77 a 94.
RUBINSTEIN. Edith. “A especificidade do diagnóstico psicopedagógico”. In: SISTO. Fermino Fernandes et. Al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996 p.127 a 139.
MACEDO. Lino et. Al. Quatro cores senha e dominó: oficinas de jogos em uma perspectiva construtivista. São Paulo: Casa do psicólogo, 1997.
VIGOTSKI, Liev Seminovichi. Psicologia Pedagógica. Trad. Claudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2003.