Considerando o trabalho que cada indivíduo realiza como um serviço dedicado aos demais, não é admissível a exploração de mão-de-obra de alguns e a supervalorização do trabalho de outros. Deve, sim, haver um balanço mais justo, de tal modo que o trabalho de todos seja reconhecido.

Por exemplo, uma pessoa que ajuda na limpeza da cidade e coleta o lixo presta um serviço tão valioso quanto qualquer outro e precisa receber um salário digno. Para criar uma estratégia sustentável neste sentido, é importante que o ordenado seja condicionado ao grau de sacrifício e esforço que é necessário para a realização das tarefas. Ainda, é mais do que justo que, além do ordenado, o trabalhador receba também parte do lucro da empresa, de acordo com seu empenho e dedicação.

Um dos aspectos positivos do progresso da humanidade é o aumento da vontade coletiva na diminuição da pobreza e da miséria. Portanto, todo esforço é pouco para que a consciência geral perceba a necessidade de mudanças profundas na visão materialista atualmente em vigor. Uma solução para este dilema vem do pensamento de Bahá'u'lláh que sugere a medida de participação dos empregados no lucro da empresa. Ele afirma o seguinte:

"De acordo com a lei divina, os empregados não devem ser pagos meramente por ordenados. Não, em lugar disso, devem participar do lucro de todos as transações."1

Com certeza, a idéia é evitar a exploração dos empregados, e para isso é indispensável a participação deles no lucro da empresa, respeitando, claro, a proporcionalidade à carga de serviço de cada um.

De fato, a vitalidade de uma empresa depende do lucro. Este, para a empresa, é como o sangue para um organismo vivo. Mas, da mesma forma que o sangue deve fluir em todas as veias para revigorar toda a estrutura física, o lucro de uma empresa também tem que beneficiar todo os colaboradores da empresa. Nada mais justo do que todo o organismo se revivifique com aquilo que é produzido por ele mesmo.

Esta prática ainda permite a distribuição da renda e impede a ampliação da pobreza. Cria ainda uma relação mais justa entre o capital e o trabalho, amenizando a super rentabilidade que hoje é dada ao capital. Deve, sim, haver um equilíbrio para evitar as chances de acúmulo de riqueza, se milhares de pessoas passam fome ou vivem na miséria e ignorância. Pois, afirma 'Abdu'l-Bahá:

"As condições do povo devem ser arranjadas de tal modo que a pobreza desapareça, que cada pessoa, tanto quanto possível, de acordo com a sua classe e posição, participe do conforto e bem-estar dos outros."1

Ele afirma ainda: "Quando vemos a pobreza de braços com a fome, é um sinal certo de que em algum lugar se pratica a tirania. Os homens devem agir nessa questão e não mais se demorar em alterar as condições que trazem a miséria extrema a um grande número de pessoas."1

Realmente, é essencial aceitar que todo lucro de uma instituição pertence a todos os que nela estão incorporados. Nesta visão está projetada toda a chance de nascimento de uma nova sociedade, mais equilibrada e mais próspera.

Vejamos o exemplo de um colégio particular. Normalmente começa com uma pequena escola maternal e, depois de alguns anos, passa a ser um colégio com primeiro grau completo; anos depois se amplia com o segundo grau. Depois se estende para cursinho pré-vestibular e finalmente se torna uma faculdade.

A pergunta é: como a pequena maternal de quinze anos atrás progrediu tanto? A quem pertence isso tudo? Muitas pessoas trabalharam e dedicaram anos e anos da sua vida para esta instituição; somente uma pessoa continua a ser o dono de tudo?

Numa concepção menos materialista, pode sim, haver participação no lucro de forma que, aqueles que trabalham dedicadamente, pouco a pouco ganhem pequena parte do lucro da empresa. De fato, é a melhor forma de trabalho em grupo, é o estilo de administração das instituições cooperativas, em que admiravelmente o direito de participação de todos, proporcionalmente, é respeitado.

Artigo retirado do livro "Trabalho e o Reencontro de Interesses",  de autoria de Felora Daliri Sherafat, Editora Núr. Rio do Janeiro. 2006

1. Esslemont, John E. Bahá'u'lláh e a Nova Era. Curitiba. Editora Bahá'í, 6ª Edição. 1975

2. Felora Daliri Sherafat, Trabalho e o Reencontro de Interesses, Rio de janeiro, Editora Núr, 2006