AZAMBUJA, César. Isso sim, é real... Rio de Janeiro: 2004.

César Azambuja trata da trajetória do mesmo na empresa Coca Cola desde que ingressou na própria ale a sua demissão nebulosa.
A história relata fraudes cometidas contra a concorrência, como sempre visto nas situações em que a Pepsi tentou projetar-se no mercado consumidor de refrigerantes, bem como os próprios consumidores e com seus franqueados.
César trata aqui suas experiências e de casos comprometedores dos quais também teve alguma participação na luta incessante e deslavada dos grandes empresários da Coca Cola. Participou de venda de informações falsas para a empresa supracitada, questão essa que em longo prazo resultou no termino de seu primeiro casamento. Conta também à maneira infame que a empresa trata seus engarrafadores, prometendo-lhes benefícios que jamais existirá, a ética profissional é um elemento desconhecido dos altos funcionários da empresa, e na luta pela reputação desta e pela proeminência no mercado, barreiras não existem.
O próprio Cear sofreu os resultados dessa falta de respeito. Quando foi contratado um novo diretor Nacional, um inexperiente, novo, acadêmico e Cear sabiam da antipatia que ele causava, e por isso, resolveu concebê-lo e essa sua atitude não foi bem vista e esse novo gerente passou a não suporta-lo.
O relato termina na luta judicial travada por ele contra a empresa, depois de sua demissão injusta ocasionada por uma infantil briga de egos, elemento esse sempre presente nas dependências da empresa.
Essas e outras situações estranhas e "negras" podem ser descobertas nas entrelinhas dessa historia verdadeira e unilateral.

O livro "Isso sim, é real...", publicado em abril de 2004, traz o histórico da trajetória de César Azambuja, escrito pelo próprio, relatando o início e o fim de sua carreira na empresa Coca Cola Indústrias LTDA.

A narrativa inicia-se quando César é avisado pelo seu filho de que alguém está falando sobre a empresa Coca Cola, no dia 04 de janeiro de 2004. Tratava-se de Laerte Codonho, presidente da empresa brasileira de refrigerantes Dolly do Brasil.

A partir desse momento, e vendo tudo que era dito por Laerte, César decidiu que deveria fazer algo, pois ele tinha conhecimento daquilo que estava sendo falado na televisão, sabia de fatos os quais comprovavam aquele manifesto. Por esse motivo, conta, iniciou-se a escrever este livro, para tornar público e sabido de todos aquilo que ele havia presenciado nos seus dezoito anos trabalhando para a Coca Cola, e que as palavras faladas pelo Sr. Laerte não eram de todo absurdas.

César Azambuja relata as suas experiências como funcionário da Coca Cola, dando especial ênfase ao sistema de marketing e eliminação da concorrência. Segundo o próprio, a ética profissional é um elemento desconhecido dos altos funcionários da empresa, e na luta pela reputação desta e pela proeminência no mercado, barreiras não existem. Azambuja narra planos de operação mercadológicos que no mínimo podem ser considerados "sujos". Não são poucas as situações em que ele descreve fraudes, hipocrisia, uso explícito, porém velado de concorrência desleal, entre tantas outras atitudes imorais, ou melhor, denominando, amorais.

O Sr. Azambuja ingressou na empresa no ano de 1979, na filial do Rio de Janeiro, como supervisor de produções. Sofreu incontáveis preconceitos, por não corresponder aos ideais esperados; alias, segundo ele, qualquer pessoa que não se encaixasse nos modelos preestabelecidos não encontraria oportunidades de ascensão profissional, por mais talentoso e promissor que o indivíduo aparentasse ser.

Porém, César conseguiu ultrapassar essa barreira, e foi convocado a participar da reinstalação de filiais da Coca Cola na região Nordeste. Nesta fase da narrativa, ele conta como a empresa manipula seus clientes, descreve a maneira pela qual as informações sobre as vantagens e os benefícios de ser representante da Coca Cola eram "maquiadas" a fim de que não houvessem reclamações ou resistências. Ele fala ainda sobre os prejuízos sofridos pelos engarrafadores nordestinos, e a total falta de assistência por parte da central desta corporação. Após realizar os trabalhos no Nordeste, César é lotado na central paulista da Coca Cola, e é nesse período que todo o entusiasmo inicial passa a ruir...

O primeiro grande baque sofrido pelo autor do livro foi quando participou de uma armação criada pelo Sr. Giganti. César foi contatado por um amigo que trabalhara na Coca Cola e que estava, então, trabalhando na empresa Pepsi, para que vendesse a ele informações confidenciais da sua antiga empregadora. Azambuja, invadido por um sentimento de fidelidade pelo local onde exercia sua profissão, comunicou a cúpula do lugar sobre o fato. Logo depois, foi chamado a participar da venda de documentos falsos à Pepsi, o que prontamente fez, já que negativas ali não eram aceitas. Para César, no entanto, o que seria apenas mais uma missão a cumprir tornou-se um tormento. Sua família e ele passaram a sofrer ameaças de morte, gerando uma situação que, posteriormente, ocasionaria o fim de seu primeiro casamento.

Após o episódio, César começa a conhecer verdadeiramente os rituais adotados nesse lugar. As renovações tecnológicas e as novas estratégias de marketing adotadas pela concorrência fazem com que a Coca Cola tente encontrar formas de superar a iminente perda de mercado. Criou-se então a embalagem de 1,5l chamada Superfamília. Esta deveria ser a reação da Coca Cola às novas tendências do mercado. Uma embalagem econômica, retornável, que poderia concorrer com as chamadas tubaínas descartáveis. O plano estratégico, contrariamente às expectativas, não deu o resultado esperado. As embalagens retornáveis passaram a ser utilizada com outros propósitos, como para transportar combustíveis, comportar detergentes, e até como depósito de urina. As máquinas de esterilização não eram eficazes o suficiente para limpar 100% as embalagens.

A equipe de Atlanta, então, veio ao Brasil para tenta r resolver a questão, uma situação rara. Novas máquinas foram adquiridas, e o problema não era solucionado. As reclamações aumentavam, casos de contaminação eram denunciados, clientes protestavam. E para aplacar a situação, a Coca Cola amenizava as denúncias na imprensa, suavizava os efeitos nocivos noticiados, enviava técnicos para as distribuidoras, técnicos esses que "sem querer" destruíam as provas necessárias para comprovar a falta de higiene.

Finalizada a visita da equipe de Atlanta, o objeto de tanta preocupação continuou sem efetiva conclusão. A solução encontrada foi deixar cair no esquecimento. Mas os investimentos feitos eram enormes, e alguém tinha que arcar com os prejuízos. A Coca Cola então numa atitude pouco ética e leonina, decidiu fazer com que as filiais menores arcassem com as despesas.

Essas, e muitas outras situações são descritas minuciosamente pelo autor. Dentre elas, a fraude realizada para erradicar o crescimento da Pepsi em São Paulo. A empresa de César adquiriu, de forma mais uma vez ilegal, informações essenciais da concorrente, e precisou de Azambuja para utilizá-las. Dessa vez, o autor diz que se resguardou, fazendo cópias das fitas que lhe foram dadas para que ele transcrevesse seus conteúdos. Essas cópias seriam muito necessárias a ele no futuro. Ele fala de muitas outras fraudes e manipulações, do mesmo estilo das acima descritas, todas realizadas por seus superiores, todas (quando possível) posteriormente negadas, mas sempre reiteradas.

Há, ainda, no livro, várias passagens que demonstram a guerra interna na corporação, a luta de egos, a falta de humanidade, tolerância e respeito existente entre os funcionários do lugar. Os sentimentos mais mesquinhos e indignos do ser humano são destrinchados nas linhas desta narrativa, como uma pequena amostra da sociedade vista por um caleidoscópio.

O império maior nos corredores da Coca Cola não era a exposição de talentos, ou a demonstração de competências. A briga para decidir quem era o mais bem vestido, o mais bonito, o mais elegante, enfim, quem tinha melhor aparência era o que ditava as regras. Ser branco, bonito, apresentável, usar a roupa da moda, a gravata da melhor grife eram elementos muito mais importantes que o talento ou a aptidão para o cargo. E as lutas de ego não acabavam aí. Era necessário sempre respeitar as opiniões que vinham dos superiores, ou melhor, aceita-las sem contrariedades. César narra que viu muitos grandes talentos serem desperdiçados por falta de tolerância dos grandes chefes.

O próprio César sofreu os resultados dessa falta de respeito. Arnold Belasco foi contratado como novo diretor nacional da companhia. E o Sr. Belasco era um acadêmico, novo, estrangeiro e inexperiente. César sabia da antipatia que ele causava, e por isso, resolveu aconselha-lo. Essa sua atitude não foi bem vista, no entanto. Belasco passou a não mais suporta-lo. E na primeira oportunidade acabou com a carreira de Azambuja na Coca Cola, empresa que ele servira por dezoito anos.

Quando Belasco soube que César iria trabalhar no Rio de janeiro, conforme queria, fez com que ele permanecesse em São Paulo, alegando que não havia necessidade de transferência. Tal situação deixou o autor levemente desapontado, pois ele sabia que essa recusa partia do fato de o superior nacional não admira-lo. Por isso, decidiu-se por tirar férias, juntando todo o tempo que acumulou sem fazê-lo. Nesse espaço de tempo, viajou com seu filho, e no mês de julho, recebeu uma ligação da empresa, que requisitava a sua presença.

Quando retornou, conforme o pedido, descobriu do que se tratava: o Sr. Belasco havia pedido para que César fosse desligado da empresa, pois estava renovando seu quadro de funcionários, e o autor já não fazia mais parte do perfil pretendido para a ocupação do cargo que mantinha no momento. Para Azambuja, a demissão na verdade foi baseada na disputa pessoal que havia por parte de seu chefe. Acertou-se, então, que seu desligamento seria concretizado em 11 de agosto de 1997. Feito o acordo, Azambuja assinou a sua rescisão contratual, sem notar que alguns direitos trabalhistas lhe faltavam.

A história conta, por fim, situações vividas por César depois de sua demissão. Nessa fase do texto, é possível perceber o tratamento dispensado aos empresados da Coca Cola, reiterando a opinião apresentada pelo autor desde o início: lucro e fama sobrepujam a tudo, para alguns.

Agora desempregado, César retorna ao Rio de Janeiro, e lá tenta recomeçar sua vida. Nesse período, ele já havia encontrado a sua atual esposa, e precisava retomar suas atividades. A busca por meios de sustento era sempre complicada, afinal, ele não era mais um homem jovem, e, apesar de toda sua experiência, o mercado de trabalho normalmente se fecha para pessoas com mais idade. Passou a trabalha em pequenos serviços informais, até que, ao saber do fato de Belasco não estar mais exercendo cargo algum na Coca Cola, resolve tentar o retorno ao seu antigo emprego. Por várias vezes tentou contato com amigos e advogados da empresa, a fim de ter seu emprego novamente, mas todas as suas tentativas foram infrutíferas. Já sobrecarregado de cansaço e sem visualizar soluções para o seu problema, ele resolve buscar auxílio jurídico.

César conta que buscou vários escritórios de advocacia, após tomar conhecimento por uma amiga que ainda poderia reclamar seus direitos do trabalho. Por várias vezes teve seu caso refutado, até que encontrou uma advogada que aceitou representa-lo perante o tribunal. Após a instauração dos processos, não só trabalhistas como também cíveis (indenização por danos morais), conseguir se reestruturar no mercado de trabalho ficou ainda mais difícil, pois havia entre as empresas uma espécie de corporativismo que as impediam de contratá-lo.

Ao perceber a sua condição, e também por verificar através da mídia que havia várias denúncias contra a empresa Coca Cola, César resolve-se por tornar público o conteúdo das fitas já anteriormente descritas, e não só utiliza-las como prova nos tribunais. E foi o que fez. Através do jornalista Ugo Braga, Azambuja divulgou o conteúdo das fitas na imprensa, e tal revelação tomou proporções nacionais, posto que, ao mesmo tempo, um senhor chamado Placídio processava a empresa e denunciava que um dos componentes utilizados na fabricação do refrigerante que dá nome à corporação era extraído da folha de coca, substância entorpecente proibida no Brasil. Segundo Placídio, quando era empregado da Coca Cola, ele próprio era o responsável por conseguir que o produto conseguisse entrar em território nacional, através do Estado do Amazonas, sob o nome de "extrato vegetal".

A repercussão desses fatos foi gigantesca. Muitas empresas concorrentes aproveitaram-se da situação para lançarem propagandas que manchavam ainda mais a imagem da Coca Cola. O resultado disso, porém, não foi feliz. César não obteve vitória nos processos em que ingressou, muito por influência da própria empresa e pelo peso de seu nome, muito também pela perceptível falta de interesse e estímulo de sua advogada. Os fatos denunciados foram abafados e esquecidos pela população. A situação investigada sobre concorrência desleal comprovada pelas fitas foi encaminhada ao Ministério Público do Estado do Amazonas, e foi arquivada. Mas, apesar de não ter obtido vitória pecuniária, o autor afirma que a obteve moralmente, já que os fatos por ele apresentados não foram contestados, pelo contrário, foram até confirmados.

Durante a leitura da obra, várias interrogações se formam na mente do leitor. Afinal, seria mesmo o céu o limite? Vale qualquer coisa na busca pelo poder e superioridade? O ambiente descrito por César Azambuja nos mostra que muitas pessoas há tempos não se utilizam mais de valores éticos e morais no seu cotidiano, valores estes os quais são absorvidos ainda na infância, e que pareceram evaporar-se dos personagens reais citados nessa dramática e verdadeira caminhada.

Analisando-os de perto, no entanto, notamos que a maioria dos cidadãos se comporta de maneira similar a do Sr. Giganti ou do Sr. Belasco. A luta pelo primeiro lugar sempre, a busca incessante por vantagens e benefícios acabam por criar no ser humano certa falta de respeito e solidariedade, que prejudica a humanidade como um todo, quando deveria prejudicar somente quem pratica determinadas atrocidades. Seria então isso uma espécie de epidemia nacional? Esperamos, enquanto sociedade honesta que sonhamos ser, que não.

Atendo-se, porém, novamente aos termos da história contada, tiramos conclusões válidas não só para cada um de nós internamente, mas também para o convívio profissional, seja em qualquer área de atuação. Percebemos o quão insalubre pode ser um local onde o interesse primordial das pessoas é o seu próprio bem-estar, ou um lugar no qual é impossível manifestar-se sem receio, onde confiar em alguém quase sempre resulta frustração.

As diretrizes éticas devem ser retomadas, e, junto a elas, uma nova maneira de administrar e suportar a concorrência devem ser desenvolvidos. As técnicas utilizadas pela Coca Cola são cruéis e ferozes, mas infelizmente eficazes; caso não fossem, a empresa não seria dominante no mercado por décadas.

Muito se fala das atitudes tomadas pelos dirigentes da empresa descritos no corpo do texto. Mas, se checarmos melhor suas ações, notaremos que na maioria das vezes, são exatamente essas atitudes que sobressaem, que acaba por concretizar devaneios, realizar conquistas. Por isso, é necessário refazer os moldes da "administração perfeita", a fim de que as relações humanas e comerciais sejam mais saudáveis e menos selvagens, pouco letais.

Vale ressaltar, ainda, que, formar uma opinião consistente acerca dos fatos escritos nesse texto é uma tarefa um tanto difícil, posto que se trata da visão de uma só pessoa sobre outras e sobre situações. As informações recebidas pelos indivíduos, após processadas, tomam diferentes proporções. Portanto, seria de bom tom, antes de julgar as ações descritas, buscar os fatos tais quais eles são, sem vícios ou predisposições.

Conclui-se, pois, apesar da inconstância e falta de fundamentos mais sólidos desta narração, que, não só a Coca Cola, mas muitas empresas têm feito da deslealdade seu ponto de partida, e do poder seu estatuto. Nada é mais importante que a vitória, assim como dizia Maquiavel: "os fins justificam os meios".

Não é essa, todavia, a conduta mais acertada a ter. Deve-se, pelo contrário, buscar o êxito sem anular vitórias alheias, sem destruir sonhos, respeitando as zonas limítrofes. É um caminho complicado e dificultoso, que desponta longe no horizonte, mas que traz resultados melhores, também eficazes e condizentes com o ideal humano.