Desde o momento em que comecei a elaborar meus próprios pontos de vista sobre o mundo, comecei a ter minhas próprias idéias, influenciadas sempre pelas minhas vivências empíricas ou pelos conhecimentos que anteriormente me foram transmitidos das mais variadas maneiras.
Pelo fato de não me ater, necessariamente, a uma corrente de pensamento, gosto de me considerar um livre pensador. Livre pensador no sentido de que expresso minhas opiniões de maneira livre, de acordo com meu juízo. Contudo, após pesquisar um pouco na internet, percebi que pelos critérios existentes eu não poderia ser um livre pensador.

Olhando na Wikipédia, que considero a melhor ferramenta de busca do conhecimento, verifiquei que o verbete de livres pensadores estava no tópico referente ao ateísmo... Na mesma hora pensei "Mas porquê?". Afinal, eu sou declaradamente cristão e tenho uma tendência conservadora de direita, e agora percebo que somente podem ser considerados livres pensadores aqueles de tendências socialistas ateístas.

Porém, esta classificação descaracteriza totalmente o próprio conceito que se pode extrair da expressão livre pensador. O livre pensador é tão somente aquele que tem suas opiniões próprias sobre os assuntos que o cercam. O pensamento livre é aquele no qual você emite um juízo sobre determinado ponto de vista, mesmo que você concorde com ele. No meu caso, por exemplo, eu sou adepto das propostas de Cristo a partir da interpretação católica, contudo eu o sou não de maneira cega, mas após analisar esta proposta eu vi que esta seria a melhor, por exemplo, em relação à proposta protestante ou islâmica. Eu não aderi à minha fé de maneira cega, e não aconselho a ninguém fazê-la desta forma, pois a razão não afasta a fé. Ao contrário, elas podem e devem andar juntas.
O livre pensador também tem o direito de mudar seus pontos de vista. No meu caso, por exemplo, sempre tive um ponto de vista político de centro-esquerda, em especial pela formação que tive no período escolar e universitário, e até mesmo pelos meus contatos pastorais feitos enquanto agente pastoral da Igreja Católica que fui por muito tempo. Porém, de uns tempos para cá, após aprofundar meus estudos em política, história e filosofia, vi que a proposta esquerdista, ligada ao socialismo, é falha, e defendo, não por glamour, mas por convicções políticas fundadas (e quem ler outros textos meus verá meus motivos), que o melhor sistema de governo para o Brasil seria a Monarquia Parlamentarista.

Todas as minhas opiniões, posicionamentos e textos escritos, repito, são fruto de reflexões que fui tendo ao longo da vida, sem que nada tivesse me sido imposto. Ao contrário, se eu tivesse seguido estritamente os dogmas que me foram impostos, eu teria sido kardecista, republicano e esquerdista, sendo estas posturas totalmente opostas àquelas as quais eu livremente abracei, após pensar detidamente sobre tais posições e suas opções. Então, só porque eu optei em ser Católico, Monarquista e Conservador, deixei eu de ser um livre pensador?

Eu creio, por exemplo, que as determinações papais devem ser obedecidas por católicos, não "porque sim", mas por motivos mais profundos, dentre os quais a unidade religiosa da entidade Igreja, da qual decorre uma fonte confiável da mensagem enviada por Cristo (o Magistério), que por seu turno expôs meios de viver em plenitude neste mundo. Mesmo que eu não concorde com algo, a princípio, sei que em determinadas situações o meu ponto de vista não será o melhor para minha vivência prática, pois não me relaciono somente comigo e vivo em sociedade. O exemplo é mais profundo do que o que digo aqui, mas não escrevo mais sob pena de desvirtuar o foco.

Dentro deste quadro, vemos que a classificação de livre pensador enquanto aquele ligado ao ateísmo também é uma contradição em termos, pois se você vincula necessariamente o livre pensador à condição não teísta, o mesmo estaria se prendendo a outra espécie de dogma, que seria o dogma religioso negativo. Assim, o livre pensador não seria na verdade livre, pois se viesse a encontrar na idéia do divino algo transcendentalmente verdadeiro, perderia esta sua condição.

Sob meu humilde - mas livre e pensado ? ponto de vista, o livre pensador, sim, pode acreditar em uma força divina ou se alinhar a pontos de vista que já existem. O que o caracteriza é a sua liberdade em falar, sem medos de ser retaliado por suas posições, e que não se prende a repetir simplesmente o que outros falaram antes. Minha formação principal é a jurídica, e neste meio nós sofremos com um certo complexo de "ctrl+c", "ctrl+v" em nossa atuação. O advogado emite uma petição padrão, o outro advogado ou promotor emitem outra resposta padrão, o juiz dá um despacho padrão, que resulta numa instrução padrão, acabando em uma sentença padrão, que originará um recurso padrão... até o STF emitir um acórdão também padrão, e enfim criará um precedente contra o qual ninguém nunca mais poderá se insurgir! É claro, existem exceções, mas a grande regra é esta. Mesmo que a peça jurídica não seja estritamente padronizada, ela certamente terá enxertos de precedentes sobre o caso, citações doutrinárias, súmulas, pedaços doutras peças anteriores.
Pergunto: seu eu já conheço a lei, e tenho experiência com a lógica jurídica (ciência negligenciada nos bancos universitários), porque eu não posso simplesmente citar a lei (sem fazê-lo ipse litteris), narrar o caso de maneira dialética até conduzir o julgador ou o consulente, no caso de pareceres, a uma conclusão logicamente construída. É simples: Tese, Antítese e Síntese, premissa maior, premissa menor e conclusão (que no curso jurídico recebe os nomes de fatos, argumentos e conclusão). Mas isto infelizmente não é utilizado. Concordo que juridicamente não se pode livremente pensar totalmente, pois acabamos nos encontrando vinculados a dispositivos normativos legitimamente feitos, e temos que "jogar de acordo com as regras do jogo" sob pena de desorganizar a sociedade. Porém, porque não posso utilizar somente como regras aquelas que foram legitimamente feitas? Porque tenho que citar doutrinadores, e mesmo que não os cite, porque tenho que me vincular ao que eles pensam? Porque tenho que vincular minha expressão jurídica no lastro do que entende um tribunal que não é legítimo para inovar no direito, e tão somente interpretar as normas legítimas vigentes?

Se eu não tenho esta liberdade, sob pena de ter um pedido indeferido em juízo ou um parecer rejeitado administrativamente, então eu não terei um livre pensamento. Não digo aqui que tudo o que eu falar ou escrever (inclusive estas linhas) estará certo, ao contrário, muitas vezes eu estou e estarei errado. Porém, se eu tenho uma posição juridicamente e logicamente estruturada no argumento de autoridade que é válido, eu preciso ser rebatido com o mesmo raciocínio. Usar um argumento de autoridade ilegítimo, como "a posição da corte é em outro sentido" ou "fulano de tal, doutrinador, entende de outra maneira" não é válido.
Saindo do campo jurídico, creio que o livre pensar não exclui o pensamento surgido antes. Até porque é mentira, das mais deslavadas e escabrosas, que o livre pensador sempre expõe algo inédito e desvinculado do pensamento anterior. Não existe pensamento totalmente isento, até porque nossos juízos de valor sempre estarão de alguma maneira contaminados com as nossas experiências retrógradas, por mais neuróticas e esquizofrênicas que sejam. O máximo que o pensador pode fazer sobre o assunto é buscar conhecer-se ao máximo, mas por completo nunca acontecerá. Se formos avaliar pontos de vista de pensadores anteriores, verificaremos que nenhum trouxe algo totalmente inédito ? nem mesmo Cristo trouxe tudo do zero, pois conforme ele mesmo disse, ele não veio mudar nem mesmo uma vírgula da Lei. O pretenso pensamento inaugural, que pretende inovar tudo ao seu redor ? que também não é tão original assim ? é um pensamento revolucionário, sempre utilizado pro seguidores de pontos de vista socialista e estes senhores, quando chegam ao poder como desejam, com revoluções, sempre acabam causando mais desgraças do que benefícios. Assim, além de mentirosa, é impossível a afirmação de que o livre pensar não se vincula a nenhum ponto de vista. O simples fato de afirmar isto vincula a pessoa a um pensamento, conforme já expresso, socialista-comunista, em especial no que prega o marxismo cultural.

Assim sendo, podemos concluir, de acordo com a minha opinião, a qual ninguém está obrigado a seguir, mas tão somente a refletir, que o livre pensador é aquele que tem suas opiniões próprias sim, mas que tem a liberdade de aderir a uma ou outra corrente de pensamento, desde que com ela concorde racionalmente, tendo ciência dos argumentos que o levaram a tal, e saiba expor seus pensamentos e conclusões de maneira lógica, sem argumentos de autoridade vazios.