O Jornal em Sala de Aula

 

                                                                           Magali Helena Buralde Argenton Gonçalves[1]

 

Resumo

O presente trabalho traz o jornal como fonte histórica em sala de aula. Tem como objetivo geral reconhecer o jornal como fonte de trabalho educacional. Os objetivos específicos traçados são valorizar o jornal como fonte histórica, comparar os acontecimentos com os livros didáticos e argumentar com os alunos sobre os vários escritos de um mesmo acontecimento. Um trabalho bibliográfico que traz desde o surgimento do jornal no Brasil até seu uso em sala de aula como fonte primária para o conhecimento histórico.

Palavras-chave: Jornal. Fonte Histórica. Sala de Aula

1. Introdução

O jornal nos dias de hoje para o ensino de História tem um grande significado, pois traz ao aluno outra visão sobre fatos ocorridos e que em muitas vezes os alunos apenas conhecem a versão do livro didático. Trabalhar com o jornal é um modo diferente de encararmos os acontecimentos e em muitas das reportagens encontramos divergências que nos fazem entender que a História não é uma linha reta e sim um caminho sinuoso formado por diversas visões e entendimentos. O objetivo geral se traduz por reconhecer o jornal como fonte de trabalho nas aulas de História calcado nos objetivos específicos de valorizar o jornal como fonte histórica no cotidiano, de comparar o que está registrado nos jornais e no livro didático e argumentar com os alunos a escrita de vários jornais sobre o mesmo acontecimento. O texto apresenta-se estruturado da seguinte maneira: 1. Introdução, 2. A História em suas mãos: o jornal nosso de cada dia, subdividido em 2.1 O jornal no Brasil, 2.2 O Jornal na Sala de Aula, 2.3 O Jornal como Fonte Histórica e a Conclusão.

2. A História em suas mãos: o jornal nosso de cada dia

Trabalhar com a notícia cotidiana em ambiente escolar estimula a opinião crítica, o processo de reflexão perante a informação e os fatos ali descritos. O trabalho realizado com notícias em sala de aula auxilia o aluno a procurar novas informações e tecer conexões entre as informações obtidas (NIDELCOFF, 1991). O professor sendo o mediador entre o conhecimento e o aluno, traz com a proposta do jornal, tornar este veículo de imprensa – seja impresso ou on line – um auxiliar na construção do conhecimento do aluno que inserido na sociedade busca ser crítico e atuante, sabendo se posicionar e defender seus pontos de vista e argumentos.

O jornal se faz presente na vida do brasileiro desde 1808 quando Dom João VI autorizou a impressão da Gazeta do Rio de Janeiro, período este que coincide com diversas melhorias na corte brasileira por motivo da mudança da família real portuguesa para o Brasil. Desde então já se tornou presente nas casas, nas empresas e nas salas de aula. O jornal muitas vezes é única leitura ao alcance do povo, a mais fácil e mais abrangente.

2.1 O Jornal no Brasil

            Podemos falar que a Imprensa nasceu em nosso país por causa de Napoleão Bonaparte e o Bloqueio Continental por ele estabelecido à Inglaterra em 1806. Esta era credora de Portugal, país que com dívidas altíssimas sucumbe aos desejos ingleses e muda-se para a sua colônia mais importante com toda a corte. Um dos primeiros atos é abrir os portos às Nações Amigas e começar dar um de metrópole ao Rio de Janeiro.

            Em setembro de 1808 surge A Gazeta do Rio de Janeiro, baseada nos modelos dos jornais europeus.

A primeira edição da Gazeta foi publicada em 10 de setembro de 1808. Ela saía às quartas-feiras e aos sábados, mas edições extraordinárias eram impressas de acordo com a necessidade da veiculação de informações. A Cybelle Ipanema contou que diferentemente os jornais atuais, a Gazeta era pequena, media cerca de um palmo. ‘Era um jornalzinho de 4 páginas. Se você calcular a área dá no total 247centímetros quadrados, uma coisa mínima. ’ (DINIZ, 2008, on line)

            Segundo a historiadora Mary Del Priore em entrevista a Diniz (2008), sem a imprensa o modo de comunicação na colônia era as igrejas e seus sinos, as fontes de água, o Senado da Câmara e as pessoas em si que espalhavam as notícias pelas ruas através das conversas informais.

            O Jornal no Brasil atravessou períodos importantes, teve períodos de censura, foi fonte de apoio à abolição da escravatura, explicou ao povo sobre a Proclamação da República, atravessou a Era Vargas e demais tantos outros presidentes, um Regime Militar e o nascer de uma nova nação.

            A Hemeroteca Digital é uma fonte de pesquisa de imenso valor, jornais de diversas épocas estão ao acesso de nós todos, uma fonte inesgotável de buscar conhecer nossa história e rever nossos conhecimentos.

            A imprensa nacional é rica e diversificada, fonte preciosa de futuros projetos de pesquisas e de respostas para questionamentos do cotidiano escolar que com certeza não encontraremos nos livros didáticos.

2.2 O Jornal na Sala de Aula

            Utilizar o jornal em sala de aula conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – (1998) é trabalhar temas transversais, pois observando as noticias trabalhamos a ética e a cidadania. Além disso, os PCNs (1998) fazem alusão a oportunidade de entender o mundo de maneira crítica e reflexiva, fazendo do jornal uma janela para o mundo em forma de papel. Pavani (2002) acrescenta que o jornal em saia de aula traz uma melhora significativa para a comunicação entre comunidade escolar e a escola.

            O professor ao trabalhar com o jornal como fonte histórica instiga o aluno a compreender como era o momento da sociedade na época dos acontecimentos estudados, projetando uma nova maneira ou acrescentando detalhes aos conhecimentos pré-existentes. Se for possível, o professor pode e deve utilizar mais de um jornal como fonte, pois poderá trabalhar com os alunos a comparação de notícias e perceber as intencionalidades ou não por de trás das informações.

2.3 O Jornal como Fonte Histórica

O uso dos periódicos há pouco se faz presente na maneira de revermos a História, basicamente a história era contada através de documentos oficiais e fatos, imagens e registros do cotidiano não eram considerados fontes historiográficas.

Tania Regina de Luca, em seu texto chamado “História dos, nós e por meio dos periódicos” se traduz como uma das fontes mais ricas sobre essa metodologia de ensino de História.

Luca (2015) refere-se à década de 70 como o início ainda tímido do uso de jornais para trabalhos sobre a História do Brasil, pois a propagação da imprensa em nosso país já era algo que contava com significativa quantidade de materiais, com coletâneas de diários e revistas das mais diversas partes do Brasil.

A utilização de jornais até o fim do século passado era visto como um meio falho de pesquisa, pois interesses de quem produzia o jornal poderiam modificar os fatos em interesse próprio ou de alguém que oferecesse vantagens a mais. Para Luca (2005) as “enciclopédias do cotidiano” eram o resultado do presente sobre a influência de interesses, paixões e compromissos, e não pareciam confiáveis, pois distorções, imparcialidade e subjetividade rondavam as manchetes.

Os estudos históricos no Brasil têm dado pouca importância à imprensa como objeto de investigação, utilizando-se dela apenas documentação. A presente pesquisa ensaia uma nova direção ao instituir o jornal O Estado de S. Paulo como fonte única de investigação e análise crítica. A escolha de um jornal como objeto de estudo justifica-se por entender-se a imprensa fundamentalmente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social; nega-se, pois, aqui, aquelas perspectivas que a tomam como mero “veículo de informações”, transmissor imparcial e neutro dos acontecimentos, nível isolado da realidade político-social na qual se insere. (LUCA, 2005.p.118)

A observância da neutralidade e imparciabilidade jornalística devem sempre ser observadas, pois a imprensa traz consigo interesses de manipular e ocultar aquilo que possa julgar necessário para defender interesses por de trás das empresas de comunicação. Em muitas vezes, Luca (2005) observa que os periódicos eram deixados de lado por serem muito óbvios nas confirmações ou negações das hipóteses de pesquisa, o que causava ao pesquisador certo mal estar no uso de tal fonte histórica.

A necessidade de filtrarmos com cuidado as informações traz o refinamento necessário para o uso de jornais em sala de aula, sempre observando as entrelinhas das informações, o momento em que foi produzida tal informação e os autores de tal produto, explicando sempre ao aluno sobre a imparcialidade que deveria se ter nos meios informativos;

3. Conclusão

O uso de jornais em sala de aula se mostra uma metodologia eficaz e interessante, pois proporciona ao aluno uma nova visão de fatos que muitas vezes eles conhecem somente por livros didáticos. Trabalhar com vários jornais sobre o mesmo assunto apresenta ao aluno a possibilidade de argumentar e de comparar opiniões sobre o mesmo fato, entendendo que a história apresenta várias versões sobre o mesmo assunto, entendendo que o fazer história é sempre uma aventura de construir e desconstruir realidades, pois a compreensão dos fatos é algo mutável e cada vez mais desafiador em nossa sociedade.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos parâmetros curriculares nacionais. (v. 1). Brasília: MEC/SEF, 1998.

CAPELATO, M. HImprensa e história do BrasilSão Paulo: Contexto, 1998.

DINIZ, L. O primeiro jornal impresso no Brasil. Observatório da Imprensa. Caderno da Cidadania. Ed 503. Ano 19 - nº1018. ISSN 1519-7670. 17/09/2008. Disponívelem. Acesso em 16 de maio de 2018.

LUCA, T.R. A História dos, nós e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.

NIDELCOFF, M. T. A escola e a compreensão da realidade. 19ª ed. São Paulo. Brasiliense, 1991.

PAVANI, C; et al. Jornal. (in) formação e ação. Campinas. Papirus. 2002.

 

[1] Graduação em História pela ULBRA São Jerônimo/RS, especialização em Pós-Graduação Lato Sensu em Metodologia do Ensino de História e Geografia pela Faculdade de Educação São Luís E-mail do autor: [email protected].