CRÔNICA: João do Bolo “SOBRAL - A CIDADE PRINCESA”

O CAUSO DE NUMERO XXIII

Por: José Wilamy Carneiro Vasconcelos

Cai à noite, o relógio da Matriz de Nossa Senhora da Conceição – Igreja da Sé anuncia o horário que adverte entre os mais desavisados. Contam-se toques totalizando nove. A noite vem num mês de festa junina. O santo do dia é Santo Antônio. Santo casamenteiro para as donzelas e meninas moça que precedem fisgar seu partido na sorte de um bom casamento.  Parede meia entre a Rua Padre Fialho e a outra rua na Capela de Santo Antônio, uma enorme concentração aos festejos e novenário do santo.

Por se chamar Antônio, meu pai sempre de costume, comemorava todo dia 13, dia de seu natalício com uma enorme fogueira em nossa residência na Rua Dona Maria Tomásia, antiga Rua do Celeiro. Curioso; perguntei Dona Socorro porque esse nome de Rua do Celeiro.

- Ela de prontidão respondeu:

- Meu filho! O nome foi devido ao um grande feitor que tinha a profissão de fazer cela nesta rua. Então muitos anunciavam o nome da rua como Rua do Celeiro. Naquela época era costumeiro colocar nome dos moradores ou similar. Outras ruas têm o mesmo significado: Rua do Pau Branco, Rua Pintor Lemos. Rua da Cachorra Magra, Rua da Estação, Rua das Pedrinhas, Rua do feijão... 

As fogueiras anunciam os costumes de seu povo.  O fogo queimava a jurema, e o pau branco, madeiras existentes na caatinga trazidos nos lombos dos jumentos, com cangalha e amarrados com dois feixes deixados nas casas para a preparação; no arrumar em forma de espiral para logo a noitinha tornar-se uma grande festa. Tradição que já contam mais de um século.   Um aglomerado de pessoas nas calçadas. As guloseimas expostas numa mesinha com toalha de renda e enormes bandejões de bolos fatiados: Bolo pé-de-moleque, bolo de fubá, bolo de tapioca, de macaxeira, bolo mole, bolo Luiz Felipe, milho verde, assado e cuzido, pamonha caseira, cuscuz. O cheiro do cafezinho pronto, quentinho,  feito no fogão à lenha; cuado e jogado na garrafa térmica. Leite quente na cumbuca. Nata, manteiga da terra. Uma ceia que dava gosto de se ver naquele tempo. Tempos bons e áureos quando menino. Os compadres e vizinhos convidados chegavam de mansinho. Uns sentados na cadeira ao lado de seus filhos. Os meninos mais atrevidos pulavam o braseiro e se aventurava com as faíscas da fogueira. As meninas brincavam de pula-pula colocando um braseiro na horizontal e faziam um zique-zaque segurando à mão da outra e faziam seus pedidos. A rua ficava repleta de moradores, com uma única intenção: curtir as fogueiras.  

Na antiga Rua vitória, onde se travou uma grande luta no casarão construído pelo Senador Paula Pessoa para sua residência. Ali em 1915 passou para moradia do Bispo Conde Dom José, no ano seguinte após uma grande reforma, chegando mais perto do céu com dois vultosos andares. Naquele lugar os revoltosos travaram lutas que ficou na história. A rua trocou suas vestes e passou a chamar-se de Avenida Dom José, principal corredor da Cidade Princesa.

Na década de 80, 90, no calçadão alto do prédio amarelo, logo na esquina da Rádio, fixava ali por muito tempo nos períodos noturnos, Sr. João do Bolo com sua cesta de forma ciclóide traziam suas variedades e deliciosos bolos de batata, de milho, bolo de laranja com coco e outros tantos. Homem simples, já com idade mais de 50 anos, cor parda, estatura mediana fica vendendo seus deliciosos produtos. Enrola-se num papel de embrulho já cortadinho para não dar trabalho na hora da venda. Os taxistas do Posto JEEP faziam fila para comprar uma fatia de bolo. Aproveitava e tomava um cafezinho por lá. Moradores da antiga Rua do Fortaleza, que ficava próximo a Santa Casa de Misericórdia estavam sempre presentes. Também transeuntes que passavam pela rua fazia suas escolhas nos bolos. Casais da Rua do Oriente, do Tamarindo, Rua do Feijão, Coronel Mont” Alverne, Dr. Monte, Viriato de Medeiros e adjacências sempre estavam por lá para deliciar do bolo de Sr. João.