O JESUS DOS EFEITOS COLATERAIS
Por Cilas Emilio de Oliveira | 09/06/2013 | ReligiãoO J E S U S D O S E F E I T O S C O L A T E R A I S
Triste, muito triste, a realidade dos dias do Deus-homem que, rompendo milênios, chegou a este mundo. Triste sob todos os aspectos, cujos resultados em nada cooperam para o “Reino que não é deste mundo”. Triste, mais triste ainda quando se sabe que a essência da palavra, o cerne da mensagem que deveria mudar rumos de comportamento, transformar corações, adquiriu formas de envolvimentos com o poder temporal. O Cristo dos antigos, o “Antes que o mundo existisse eu Sou”; a figura que veio trazer o divino até aos que jazem na sombra da morte, ficou restrita a poucos nas cercanias da Palestina. Ali nasceu e ali quase morreu, permanecendo viva apenas a reminiscência de um passado glorioso.
“Deus entre nós”? “O divino fazendo-se humano”? “Poderia sair coisa boa daquele lugar”? Sim, saíram boas coisas daquele lugar!. Melhor ainda, maravilhosas coisas que, se fossem levadas ao seu contexto exato, transformariam o mundo. Não! Absolutamente não! “Vós me buscais apenas pela comida que perece”!. Ou, “Manda, senhor, que meu irmão divida comigo sua herança”!
Ante o que viram no Nazareno, muitos, milhares mesmo, saíram de perto dele como chegaram. Esperavam somente o pão que perece, o que é deste mundo, obrigando o Mestre a lamentar: “Vós me buscais pela comida que perece’! Não o rio de águas vivas que fluiria do ventre. Não a transformação de filhos humanos em filhos de Deus, muito menos o Nascer do alto, o “Quem não nascer de novo não poderá entrar no reino de Deus”.Se naquele tempo a mensagem do reino eterno – o espiritual – não foi recebida, tão pouco o tem sido através dos milênios e, em menor escala ainda, nestes últimos tempos. Em contra-partida continuam as buscas, os oferecimentos do pão que perece, dos atrativos e daquela que exalta o homem como o centro do universo. O remédio aplicado lá no Oriente; vindo das alturas, produziu efeitos colaterais. “Veio para os que eram seus mas os seus não o receberam”. Quanto menos O receberiam os que não eram seus!
Hoje, passados séculos de rejeição do antídoto por excelência; o remédio que curaria úlceras purulentas – o pecado - o medicamento certo, pouco restou da essência, estando apenas nos escolhidos, os quais os anjos do Senhor farão a colheita nos últimos tempos que, diga-se de passagem, jaz às portas. Sim, enquanto líderes anunciam, conclamam o povo para usufruírem dos efeitos colaterais; do reino que perece e dos dividendos do reino deste mundo, anexados aos poderes da cura, o cerne da mensagem que resgata o pecador; que liberta das garras da morte continua restrito a poucos. Não contido na verborragia de pregadores ao redor do mundo!
Jesus, o seu lado invertido, tendo adquirido formas diversas, continua um menino mirrado, que não cresce nos corações empedernidos de um povo que o tem como um símbolo de uma manjedoura. Mais ainda! O tem como aquele que propicia dividendos, que aufere posições de abastança, um ser que direciona mais ainda o homem ao reino perecível. Enquanto isso o mundo vai de mal a pior, com seus habitantes contrariando a própria natureza.
Pregadores a plenos pulmões torcendo a palavra do Nazareno, transformando-a em benesses desta vida. Não mais o “O meu reino não é deste mundo”. Ao contrário, “mergulhem no reino oposto”. Busquem valerem-se do que Deus pode fornecer; Não precisam perceber que, se qualquer um que levar uma vida correta, não esbanjando suas economias, chegará ao mesmo nível. Terá o suficiente para uma vida sem necessidades.
Ah, os pregadores modernos! Que tomaram o lugar dos antigos! Deixam de lado a mensagem do plano espiritual, do Nazareno, para ensinar boas maneiras, relacionamentos, comportamentos, numa orgia de apresentação de valores humanos, agindo como psicólogos na maioria dos púlpitos. Deus, nestes casos, é lembrado apenas por tabela. Primeiro o homem; enaltecer seus valores, seu lugar na sociedade, sua condição, aplicando métodos humanos, depois então, o que sobra da verborréia eclesial, então fazem referência ao Eterno, como um último recurso.
Enquanto esse frenesi humano toma os átrios dos templos, a própria membresia das organizações chafurdam-se no pecado do adultério, porque tais pregadores não discorrem em seus batidos sermões sobre os ensinos de Cristo acerca do divórcio. Alguns dos pregadores que sabem da exortação do Mestre, mas que concordam com a situação miserável dos membros, para não dar muito na vista, fazem uniões desse calibre em recintos fora dos templos, como que “querendo tapar o sol com a peneira”. Deus, segundo a ótica desses pastores, se vê na contingência em ser obrigado a abençoar esse tipo de união. Enquanto isso eles, os unificadores, vão colocando panos quentes em cima do pecado do adultério, sem que haja um tratamento na ferida aberta.
Com efeito, a mensagem do Jesus “efeito colateral’ vai sendo disseminada pelos recintos denominados de igreja. Aliás, estas assembléias, de acordo com suas sistemáticas, nada mais são que arranjos humanos que tomam o lugar da verdadeira igreja. Basta tomar por base que, a totalidade das “igrejas’ são frutos de relacionamentos rompidos, da falta de unidade, quando elementos descontentes com a direção, saem e fundam suas próprias denominações, levando o mesmo “cobertor” da “igreja” mãe. Ali são perpetuados os mesmo vícios, as mesmas verborragias de sempre, com adesões modernas que o tempo exige. A tal ponto chegam essas investidas, que adaptam valores mundanos, anexando aos rituais de cultos. Uma vez abandonados os valores essenciais, tudo corre na forma que o homem quer; não na forma que ele precisa. Isto vem ao encontro dos que ocorrem nas milagreiras comunidades, onde é oferecido o que o povo quer, deixando de lado o que o povo precisa.
Um contexto altamente nocivo se instalou nos recintos onde as formas modernas tomaram vultos, a tal ponto, que não se sabe onde começa a identidade mundana e termina a da religiosidade. Som da pesada, nos moldes dos conjuntos do rock-n roll – aquela forma dos anos 60, adaptadas pelo chamado “gospel’ – colocaram para fora os hinos que não mais servem ao louvor e adoração. Hinos que transmitiam mensagens de sentimentos, de reflexão e de abandono do lado negro da vida. Conversões sinceras ocorriam somente pelo conteúdo, que desbravara corações empedernidos. Com o advento da moderna técnica, aliada à sede da modernidade, a tecnologia fez espantar até os anjos que se acampariam ao redor dos que temem a Deus. Ruídos ensurdecedores; batidas que ferem tímpanos, tomaram o lugar dos maviosos sons emitidos pelos antigos instrumentos, que faziam a alma aflorar-se através das notas altissonantes. Velhos e de meia idade, emudeceram, jazem estáticos, sem meios de louvar ao Senhor da forma que aprenderam, porque os hinos tradicionais não servem mais às gerações que se despontam. Estas, embaladas pelas adesões de líderes do mesmo naipe, assumiram lugar de destaque, martirizando a assistência, ao ter que permanecer em pé, por longo tempo, inertes, sem nada que lhes toque a alma. Shows é a palavra de ordem! Verdadeiros espetáculos, onde o profano se mistura com o “sagrado”, num frenesi de gestos corporais que, apesar de intensos, ficam somente na superfície do corpo. Até “engole-fogos”, saltimbancos, palhaços e figuras grotescas, na atual conjuntura eclesial têm seus lugares garantidos. O bater de palmas, os aplausos, que inconscientemente são dirigidos aos artistas, pouco restando para um suposto deus.
E a mensagem que deveria trazer o pecador ao seu lugar de arrependimento, consternado pela sua miserável situação ante a vida? Onde se situa, tendo em vista que a tônica do momento são os discursos impetrados em benefício do lado material do ser humano? E Cristo, sua vinda? Se nem os mensageiros da modernidade tocam no assunto, como alertar o povo para o perigo que corre? Profecias? Que seria isso? Sim! Há muito deixou de fazer parte do acervo anunciatório das comunidades. As desgraças que devem cair sobre este povo mergulhado no pecado, na miséria humana, onde jaz a violência, crimes, imoralidades tais que o permissível ganhou vulto, tamanha sua legalização nas sociedades ao redor do mundo. Apocalipse? Nem pensar! Pregadores fogem dele como o diabo foge da cruz. Igrejas apocalípticas não têm mais sua razão de servirem de modelo a esta geração. A de Laudicéia, que hoje tem nas comunidades eclesiais sua mais vibrante figura, não pode ser comentada, porque as “igrejas” de então teriam que baixar a cabeça pelas suas admissões aos mesmos caracteres daquela comunidade. “Tu não és nem quente e nem fria”. Por isso, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”!
Evangelho! Ah, esse que é o “Poder de Deus para a salvação”, perdeu seu efeito, graças à colocação do homem com o seu lado perecível, ser ele o centro das atividades eclesiais. Mas, fica somente nisso? Um retumbante não responderia com exatidão tal premissa! Desde tempos antigos, quando as características da Igreja primitiva foram colocadas de lado; quando novos e perniciosos elementos tomaram seu lugar, a religiosidade tem ditado normas nos átrios das grandes comunidades. Pior, levando o povo a persignarem-se em figuras que, mesmo sendo exemplos de condutas, dominaram o cenário religioso. Mediadores, doadores de graças, anjos da guarda e grandes exércitos de canonizados respondem pelas situações que tomaram forma entre comandos e comandados. Exemplos estes, de antigos ‘efeitos colaterais’, que distanciaram mais o povo do cerne do evangelho. Não mais o “Só há um Mediador entre Deus e os homens”. Não mais o “...só a ele prestarás culto”. Ao lado dos expoentes ‘dignos’ de culto; busca intensa de locais onde esses ícones têm seus domínios, os atrativos da criatura empanaram de tal forma a figura divina, que hoje a criatura suplanta seu criador em atenção, louvores, homenagens e formas de cultos. Lagrimas que escorrem das faces nos recintos onde imperam as figuras milagrosas. Verdadeiros mercados se instalaram ao redor dos ícones, formando comércios altamente rendosos às organizações que mantém tais figuras. Fábricas de imagens, mantidas pelas organizações, distribuem milhares de ícones que passam a ter nos lares seus lugares de honra. Assim, elas podem manter o povo na obscuridade, impedindo que o “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” tome seu devido lugar. A primeira expressão nos lábios ao surgir um imprevisto marcante, é o nome de um desses expoentes. Na verdade eles, na figura desta geração que brevemente terminará, abarcam os sentimentos, a ponto de ocuparem o primeiro lugar no que concerne aos postulados religiosos.
Gerações vêm se despontando nos segmentos de tempo. Cada uma perdendo o pouco do que restou dos dotes divinos. A atual, esta que se desponta com características a lá Sodoma e Gomorra, parece ser a última que pisará o torrão do “planeta azul”. Do “ficar” ao livre amor, fazem da juventude um segmento de pecado, por haverem perdido o contato com a palavra que cerceava os ânimos exaltados da sexualidade. Não mais atenderem aos pais, nem se perfilarem na busca de valores espirituais. Por que essa debandada dos assuntos do espírito? Simplesmente porque nos lares não há mais aquela antiga semente que uma vovozinha Loide, ou uma mãezinha Eunice, que depositaram no coração de um Timóteo. Não mais um Paulo a ditar condutas de vida, por terem sido esquecidas nas páginas amarrotadas de bíblias trancadas em gavetas. O pó tem sido o “leitor’ íntimo dos textos desse alfarrábio.
Porque tudo isso? Simples, muito simples! Perda de referenciais, de identidade com a igreja primitiva que, não obstante suas falhas, era regada, muitas vezes, pelo sangue de líderes que sucumbiam ao peso de pedras e fio de espadas que dilaceravam suas carnes. “Ai de mim se não pregar o evangelho”! Em meio a esse tormento a igreja crescia e se espalhava pelos rincões mais distantes. Mas...e hoje? Que líderes há que encarem como obrigação o peso de um ministério altamente envolvido com o fator espiritual? Quem se apetece a sair das quatro paredes, para o corpo a corpo, levando a mensagem que alerta, que faz com que o pecador perceba o risco que corre, caso permaneça nos labirintos do pecado? Onde estão aqueles mensageiros que arrebatavam milhões, quando, tomado pelo Espírito, fazia Deus “descer” no meio do povo? A modernidade criando apenas administradores de organizações eclesiásticas, cada uma seguindo normas de seus fundadores. Líderes que perderam contato com a bíblia, tipo “pegar mastigado é só ingerir”. Como? Sermões prontos, material didático à disposição, sem esforço, sem pesquisa bíblica, bastando navegar na internet que lá está tudo “mastigadinho”, é só copiar. Horas passadas em oração, joelhos dobrados, perda de sono, pelo motivo da igreja não estar inserida nos trâmites daquilo que requer o Senhor da Igreja: isso ainda existe? Pastores presos à mídia, muitos deles até com sistemas clandestinos de captação de imagem via satélite. Haveria reposta para esse contexto?
Realmente uma resposta ao contexto moderna não se torna muito difícil pelo exposto. Apesar da aparente dificuldade na resposta vale insistir: Que será de nossas greis num futuro não muito distante, quando se sabe que no exterior, mas precisamente na Europa, templos são transformados em livrarias, hotéis e até em clubes de danças? Se o que resta está sendo contaminado por normas modernas, onde adaptam valores cotidianos às tentativas em manter um evangelho mesclado que, lamentavelmente, as novas gerações de líderes têm conseguido enxotar para longe o cerne do evangelho? Que nos reserva o futuro – se é que haverá um futuro longínquo – onde vislumbrar os moldes da igreja primitiva? A identidade desta, onde encontrá-la numa comunidade atual? Fica em aberto a questão, para que responsáveis dêem a resposta, isto se enquadrarem nos molde da verdadeira Igreja e nela inseridos.