OS JARDINS DOS FINZI CONTINI E A ITÁLIA CONTEMPORÂNEA

Liliana Segre, senadora vitalícia da Itália, de 89 anos, sobrevivente das 776 crianças judias enviadas pelo governo de Mussolini para os campos de concentração, está sendo ameaçada por racistas antissemitas. Liliana vem realizando palestras em escolas contando sobre os horrores do Holocausto e parece que isso está incomodando os neofascistas. Para protege-la, o estado italiano precisou designar policiais para garantir a sua integridade. Qual o risco que essa senhora oferece para justificar essas ameaças racistas e antissemitas?

Para quem não sabe, “O jardim dos Finzi-Contini”, é o título de um grande filme dirigido por Vitório De Sica, lançado em 1970. A história se passa em Ferrara e narra a história de uma rica família italiana de origem judaica nos dias que antecedem a prisão e o envio dos seus membros para os campos de concentração nazistas.

Em geral acredita-se que a perseguição aos judeus foi apenas na Alemanha e poucos se lembram que também a Itália, França e outros países europeus foram palcos das cruéis perseguições ao povo judeu. Também na França, ocorreram fatos semelhantes, que também foram retratados em filmes mais recentes, como a “A chave de Sarah” e Adeus Meninos.

Mais recentemente, no início do século XXI, novo filme italiano resgata esse período sombrio da história da humanidade: “A vida é bela”. Também a bela película em que um pai preso e prestes a ser deportado para os campos de concentração nazista, tenta convencer o filho de que tudo não passa de uma brincadeira para evitar que a criança perceba o terror.

Fatos históricos como esses gera a impressão de que tudo acabou. Os fascistas e nazistas se arrependeram e não existe mais a ideia de destruição do outro em razão da sua etnia ou religião. Infelizmente o caso da senadora italiana Lilian Segre mostra que não terminou o pesadelo e que os “carrascos de Auschwitz” estão vivos e colocando a cabeça para fora depois de décadas de lobos disfarçados em cordeiros.

Um amigo judeu disse tempos atrás que era preciso esquecer o holocausto e que não haveria mais razão para continuar voltando ao passado. Ledo engano, basta que a sociedade livre, pluralista e democrática cochile e eles como fênix, retornam das cinzas. O mundo precisa estar sempre atento, pois essa horda pode emergir das sombras e ameaçar novamente o mundo livre. Somente na França ocorreram centenas de ataques a sinagogas e instituições judaicas nos últimos tempos.

Depois da leitura dessa triste notícia, uma boa pedida é rever o belo filme de Vitorio de Sica para sentir o clima antes do Holocausto vivido pela família Finzi-Contini e fico triste ao perceber que os tempos de paz, a tolerância, segurança e a liberdade podem estar no ocaso. Enfim, “O jardim dos Finzi-Contini” pode ser também uma metáfora do Éden, um paraíso onde havia inocência, segurança e possibilidade de um futuro desde que..