O intestino de Gaia.

                               A contínua ingestão e excreção de material como detritos vegetais e especialmente o esterco de animais, fez Aristóteles, cientista grego que viveu entre os séculos 384 e 322 a.C., apelidar as minhocas de “intestino do mundo”. É interessante já àquela altura, a existência da noção que se tornou teoria só há poucos anos – A teoria Gaia – a Terra como organismo vivo (Lovelock, 1988). Portanto, acompanhando a evolução da ciência, podemos hoje chamar para as minhocas de intestino de Gaia.

                               Para se perceber a justeza dos termos, vejamos: O esterco produzido por mil vacas leiteiras, pode suportar a alimentação de mais de três mil quilos/minhocas/dia. As minhocas produzem ao redor de 25 toneladas de húmus – o melhor adubo que existe no mundo – por hectare, em um ano. Os efeitos benéficos da presença das minhocas nos solos se dá pela melhoria da estrutura do mesmo. O contínuo movimento delas no interior da terra, ingerindo e excretando matéria; construindo galerias, através das quais o solo respira e, favorecendo também o crescimento das raízes das plantas em busca de alimento. A incorporação de extêrco (material orgânico que, ao se decompor, libera gás metano para a atmosfera contribuindo para o chamado efeito-estufa); de resíduos vegetais, fertilizantes e agrotóxicos, são outros benefícios das minhocas nos solos. Sabe-se que as minhocas secas, contém em torno de 58% de proteínas. Para alguns cientistas americanos, isto significa a fabricação do melhor hambúrguer do mundo. São, portanto, muitas as qualidades desses pequenos seres que habitam os solos.

                               O homem aproveita as minhocas especialmente na agricultura. Existem criações racionais de minhocas – a minhocultura – que visam a produção do húmus para hortas e jardins. No Pará existem alguns criadores e, em alguns supermercados da cidade de Belém, podemos encontrar em embalagens plásticas, húmus de minhocas produzido em uma fazenda do município de Igarapé-Açu. Além do húmus, criam-se minhocas para servir de alimento para animais, de forma direta para rãs e aves, ou transformadas em uma rica ração para peixes.

                               Existem algumas dezenas de espécies diferentes de minhocas. A mais usada nas criações é a chamada minhoca-vermelha-da-Califórnia (Eisenia phoetida). Os entendidos destacam algumas vantagens que ela apresenta em relação às outras, especialmente às nacionais: tempo médio de vida ao redor de 16 anos e a sua rápida velocidade de reprodução – mil delas produzem, no final de um ano, outras duzentas mil.

                               A minhoca brasileira mais conhecida é a minhoca-brava ou minhoca louca (Pherentina havaiana). Esta, ao ser desenterrada, retorce-se toda e fica pulando. Vive em média cerca de 4 anos.

                               Na Amazônia, pouco se conhece sobre suas minhocas. Acredita-se, contudo, que exerçam papel importante na economia de nutrientes da floresta, devido as condições de alta pluviosidade e intensa lixiviação, a que seus solos estão continuamente submetidos.