O INTÉRPRETE DE LIBRAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NA INCLUSÃO DO ALUNO SURDO 

RESUMO

A presença de um intérprete de LIBRAS na sala de aula torna-se fundamental para o processo de aprendizagem do aluno surdo. Este artigo tem por objetivo, discutir a presença do intérprete de LIBRAS no processo de aprendizagem do aluno surdo, identificando os aspectos importantes de sua atuação em sala de aula com o intuito de mostrar a importância desse profissional com base nas leis que possuem relação com as políticas de educação de surdos. Esse é um estudo que se enquadra em uma pesquisa bibliográfica, cujo embasamento teórico está na realização de pesquisa em livros e artigos publicados nos últimos anos sobre o tema. O interprete de LIBRAS contribui de maneira única para a inclusão do aluno surdo, intermediando a sua comunicação com a professora de sala e com os conteúdos por ela ministrado, assim como a sua socialização com os demais alunos da sala, tornando-se um profissional essencial para a promoção da inclusão escolar do aluno surdo no ensino regular.

1 INTRODUÇÃO

Antes mesmo da tradução, já existia a interpretação e, de acordo com Theodor (1980), a interpretação é a atividade mais antiga da história:
Historicamente a interpretação é mais antiga do que a tradução, que depende da palavra escrita, mas ela se subtrai à quantificação documentada, uma vez que reside exclusivamente no âmbito da palavra falada. Apenas desde a invenção dos meios de gravação tornou-se possível documentar a ação dos intérpretes (THEODOR, 1980,p. 16).
Os primeiros passos do surgimento da profissão de tradutor de pessoas surdas são oriundos de trabalhos religiosos ainda no período da ditadura militar, década de 1980. No entanto, "somente em 1988 é que irá acontecer o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS - Federação Nacional de Educação e Integração de

De acordo com os relatos de Coutinho, Sander e Pires (2000), percebe-se que existem algumas dificuldades em atuar como intérprete de LIBRAS naquela época:
Em 1981, Ano Internacional das Pessoas Deficientes, realizou-se em Recife, Pernambuco, o I Congresso Brasileiro das Pessoas Deficientes de 26 a 30 de outubro. Quanto à luta dos surdos em relação ao direito de ter intérpretes, considero que estes cinco dias de Congresso, do qual participei, com Virgínia Barry que sabia sinais também, podem ser vistos como uma síntese desse processo. No primeiro dia, os profissionais que atuavam na área da surdez mal podiam nos ver conversando com os surdos em língua de sinais. Diziam que nós obrigávamos os surdos a comunicarem-se através de mímica. Encontramos uma alternativa bem criativa para burlarmos a proibição da presença do profissional intérprete. A plenária foi dividida em pequenos grupos de trabalho. Nestas pequenas sessões eu atuava como secretária, escrevendo o que estava sendo falado e um surdo, Rafael, sentado ao meu lado, atuava como intérprete, lendo o conteúdo e fazendo a interpretação. Três dias se passaram assim e nos últimos já estava na mesa juntamente com os palestrantes fazendo a interpretação (COUTINHO; SANDER; PIRES, 2000, p. 77).
Dessa forma, a Conferência Mundial realizada em Salamanca, veio para elencar a importância das variações linguísticas da língua de sinais e da presença do intérprete (UNESCO, 1994). Uma das razões para o aparecimento do profissional interprete na rede de ensino apenas em 1990, seria os fatores políticos, econômicos e axiológicos, deixando claro a falta de necessidade do profissional intérprete para os surdos (BRASIL, 1994). Faz-se entender também que a trajetória do intérprete de língua de sinais é um processo.
Dessa forma, por meio de um estudo bibliográfico, busca-se estudar a importância da presença de um interprete de LIBRAS em sala de aula, realizando a intermediação entre o professor, ensino e o aluno surdo.


2 A IMPORTÂNCIA DA LIBRAS PARA O SURDO

O ano de 1888 ficou conhecido como o mais sinistro da história, pois, através do Congresso de Salamanca em Milão, foi imposto que a educação dos surdos deveria ser apenas oralista, representando, segundo Strobel (2006), o maior evento de preconceito contra os surdos, gerando empobrecimento linguístico, cultural e cognitivo para os surdos, no qual também começou uma grande luta para defender o direito do uso da Língua de Sinais.
Já a Declaração de Salamanca de 1994, enfatiza as necessidades dos surdos terem o acesso à educação através da língua de sinais. Com a Resolução nº 48/96 das Nações Unidas, de Março de 1994, aponta a necessidade da presença de intérpretes como mediadores da 3 comunicação no ensino regular.
Para Sacks (2010, p.105), "A língua de sinais é para os surdos uma adaptação única a outro modo sensorial; mas é também uma corporificação da identidade pessoal e cultural dessas pessoas." Entende-se que ela não é universal.
Linguagem é a "forma peculiar que o homem tem de se comunicar com seus semelhantes por meio de símbolos gestuais, orais ou escritos" (ROTTA et al, 2006, p.132).
Assim, cada grupo, cada comunidade tem sua forma peculiar de se comunicar.
Para Dolto (1999, p. 15), "o ser humano é acima de tudo um ser de linguagem. Essa linguagem exprime seu desejo inextinguível de encontrar outro, semelhante ou diferente dele, e de estabelecer com este outro uma comunicação". Existe uma necessidade de se comunicar que faz parte da vida de uma pessoa, mesmo que por sinais.
Fernandes (1990, p. 147) destaca a linguagem "[...] como fator de vital importância para o desenvolvimento de processos mentais, personalidade e integração social do surdo, apresentando-se como elemento essencial aos processos que visam a sua recuperação e reabilitação".
Sacks (1998, p. 22) também relata a importância da linguagem "ser deficiente na linguagem, para um ser humano, é uma das calamidades mais terríveis, porque é apenas por meio da língua que entramos plenamente em nosso estado e cultura humana".
De acordo com Skliar (1997, p. 145), "obrigar um grupo a utilizar uma língua diferente da própria contribui para que estes grupos, vítimas de uma proibição, se segreguem cada vez mais da vida nacional". Esse não é o caminho certo, pois deve existir um respeito a forma de se comunicar de outras culturas. Jamais uma língua deve ser imposta.
Visando essa importância da LIBRAS para o surdo, deve-se trabalhar para sua expansão, para que o ensino tenha significado para eles, pois somente dessa forma eles poderá aprender de maneira satisfatória, através de metodologias de ensino que atendam as suas necessidades educacionais.


3 O INTÉRPRETE COMO MEDIADOR DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

A profissão de tradutor e intérprete da LIBRAS foi reconhecida no dia 1º de setembro de 2010 pela Lei nº 12.319. Assim, o intérprete de LIBRAS tem a função de processar:4
[...] a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos (QUADROS, 2004, p. 21).
Ainda sem distinção formal entre as áreas de atuação dos intérpretes da LIBRAS, a atuação do mesmo se distingui de acordo com a sua formação, experiência, afinidade e conhecimento da área em que atua. É importante destacar que a natureza de qualquer profissão está intimamente relacionada ao campo na qual ela se dá, pois as inferências desenvolvidas e as necessidades ocasionadas pelo cotidiano são significativas e inegáveis.
Para Quadros (2004, p. 35):
Tal distinção contribui para o esmero profissional, uma vez que é fato a impossibilidade de uma pessoa dominar todos os conhecimentos existentes no mundo, daí a busca pela especialização por áreas de Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de:
I - escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngües, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental;
II - escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa.
§ 1 o
São denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo.
§ 2 o
Os alunos têm o direito à escolarização em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação.
§ 3 o
As mudanças decorrentes da implementação dos incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem o uso de Libras. A atuação por parte de quem exerce esta profissão.
Após o decreto nº 5626, de 22 de Dezembro de 2005, passou a ser obrigatório a presença de um tradutor intérprete de LIBRAS, no artigo 22 diz:
§ 4 o
O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido também para os alunos não usuários da Libras.
Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras -
Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e
à educação.

[...]