É fácil fingir que as coisas estão bem quando na verdade tudo esta desmoronando. Encarar a verdade das coisas é uma tarefa muito dura. É normal deixar que a rotina da vida se encarregue de fazer-nos esquecer da gravidade das situações. Pra que sairmos do ritmo aparentemente confortável da vida, a estagnação, e irmos de encontro com algo que trará sofrimento ao tentar resolve-lo?

 Evitar o inevitável só mais um pouquinho. Fazer qualquer coisa para ganharmos mais tempo. É como ignorar que na mais pura verdade, as coisas nunca mais serão iguais. Viver fingindo, e acreditando que nada aconteceu, que nada mudou, pode parecer à única coisa, sim que conseguimos imaginar para aquele momento.

Mais será o mais correto, o mais sensato?

Coloque-se no lugar daquele que diz: ”eu te amo”, e de volta recebe apenas um olhar de surpresa, e uma virada de costa abrupta. Coloque-se no lugar daquele que já não ouve muito bem, e o piano é a sua arte, seu ganha pão. Coloque-se no lugar daquele que acaba de perder alguém que ama muito na morte, e agora se depara furtivamente com alguém que se diz a substituta ideal tomando as escondidas pílulas de remédio para sobreviver.

É claro que ambos têm algo inevitável na mão, o fim de um relacionamento, a perca de um dom, sim de um sentido, a perca novamente de alguém que ama. E é fácil julgar que é possível ajudá-los apenas dizendo algo, como: “há parta pra outra”, “ei existe novos tratamentos na medicina moderna” ou “não fique assim com o tempo passa”. O que não é fácil de fato é quando nós nos deparamos com o inevitável, preferimos fingir, não pensar, tomarmos remédios para dormir, ligar um som, uma televisão, e fixar nossa vida num conto de fada qualquer, onde tudo é possível, melhor, mais alegre, mais feliz, onde tudo acaba bem, onde o inevitável se torna nada. Onde a mentira em que vivemos não existe.