Não tenho tido notícias minhas. Como se eu não fosse eu mesmo. O meu reflexo no espelho não quer se manifestar. A minha sombra não quer mais me acompanhar. Mantenho o olhar distante e o pensamento ainda mais. Tentando evitar que me transforme em mais um títere, acabo por me tornar ocioso. Não sei viver aqui. Dispenso todos os freios. Sou viciado em devaneios. Entre quatro paredes não estou em uma casa, mas na minha caverna. Lá fora alguma coisa acontece, mas não faço parte do acontecido. Sigo em frente sem olhar para os lados. A vida é uma carnificina implorando por aplausos. Tenho momentos em que a minha rebeldia parece me abandonar. Faço buscas no meu inconsciente e encontro o esconderijo. É preciso estar perdido e ser incompreendido. Nunca serei bem-vindo. A benevolência é a minha fatalidade. A honestidade merece as nossas condolências, não merece? Somos os assassinos de todas as virtudes. Adjetivos são desconhecidos. O desprezo é o orgasmo deste século. Aqueles que deram risadas nunca souberam chorar. Estou esmaecendo a poucos passos do final. O tédio em primeiro lugar. Só espero que não seja por muito tempo. Quero escancarar os portões da noite. Me acostumei a viver nas trevas. Prefiro a miséria sincera do subterrâneo do que a burguesia hipócrita do firmamento. Semblantes não fazem sentido. Conversas entre desconhecidos. As minhas palavras são jogadas pela solidão. O agouro se faz agora. A agonia invade nossos olhares vazios ausentes de verdades e esperanças. Não somos dignos da febre que nos faz enaltecer? Mas ao Criador ninguém pertence! Uma centelha em nosso destino. É dúbio o que digo? A noite me traz a falta de vergonha e os sorrisos falsos de quem me enxerga. Não tenho paciência perante as almas inertes que se enraízam diante de mim. Sou um simples humano que vai morrer sem nunca ter vivido? A verdadeira vida eu vejo mas não consigo tocar. Eu a ouço mas não consigo sentir. A verdadeira vida foi aprisionada por aqueles que só nos querem "bem". Não merecemos a vida que temos. Não vamos nos apegar a ela. A liberdade não escolhe idade. A liberdade é a Musa que detém a nossa felicidade.