O incrível e fantástico Circo no mundo de hoje

Por Carlos José Esteves Gondim | 02/06/2025 | Crônicas

Em minha infância e juventude fui a diversos circos. Era, na verdade, um evento comemorado com muita alegria e entusiasmo por todos em toda a cidade. Os anos eram 1960 – 1970. Naqueles anos as diversões na capital paraense eram digamos, quase todas presenciais – para usar uma palavra da moda atual. A televisão era uma novidade recente, porém, de certa forma monótona. Assim, ir aos circos, cinemas, teatros, arraiais, praças, bosque e museu eram os passeios e atrações dominicais das famílias, sem contar com os clubes, campos de futebol, balneários, piscinas e praias próximas. Os circos que periodicamente acampavam em praças ou em áreas abertas como a do Entroncamento, especialmente nas épocas das festividades como o Círio de Nazaré, eram os mais esperados e frequentados por todos anualmente. Eu e minha família íamos sempre que um circo anunciava sua chegada. Era “batata”! Sabendo que um circo tinha chegado, meu pai e minha mãe organizavam e lá íamos nós, alegres e ansiosos para ver as estripulias dos palhaços e as novidades das atrações anunciadas pela cidade. A mais esperada era o Globo da Morte, em que malucos motociclistas aprisionados em uma esfera metálica oca que mal cabia uma ou duas motos, e, dado o sinal partiam em manobras ensurdecedoras, velozes e quase incríveis, diante dos olhos espantados e arregalados dos expectadores.

As atrações eram inúmeras e diversificadas. Desde os insubstituíveis palhaços até shows de acrobacias, malabarismos, mágicas, domadores de animais, contorcionismo, equilibrismo, ilusionismo, engolimento de espadas e fogo, dentre outras. Quase sempre a sessão encerrava com a apresentação do incrível Globo da Morte, a mais esperadas das atrações circenses, como já referi anteriormente. Eram momentos da mais pura adrenalina e da mais plena felicidade. Voltávamos para casa leves e felizes. E certamente intrigados: – Como eles conseguiam fazer tudo aquilo no picadeiro sem errar? – era a pergunta que eu também me fazia. Ao redor dos circos – arenas circulares pra espetáculos e competições, segundo a Wikipédia – víamos caminhões, automóveis, trailers, cercados, enfim toda uma estrutura organizadamente instalada, porém, provisória. Eram circos itinerantes. Muitos tinham ciganos – povos com origem na Índia, com uma história nômade e uma cultura rica e diversificada. São conhecidos pela sua musicalidade, dança, artesanato e tradições orais (segundo a Wikipédia). Sua fama era a quiromancia – prática que busca interpretar o futuro e a personalidade de uma pessoa através das linhas e características da palma da mão. Alguns frequentadores das sessões se aventuravam nessa façanha. Assim eram os circos de então.

Recentemente fui eu e minha família a um espetáculo de circo que acabava de chegar em Belém. Estava montado em uma área do estacionamento de um shopping e tinha acabado de estrear. Foi uma renovada sensação. Um pouco mais de cinco décadas passadas, aqueles mesmos sentimentos afloraram novamente. Como eles conseguiam realizar tantas acrobacias, gestos e ações em um novo cenário tecnológico? Sim, o mundo mudou e com ele os circos. Não se tem mais as presenças de animais como os bravos e domados leões; os inteligentes elefantes, cavalos e cachorros todos rigorosamente adestrados, dentre outros. Nem os estranhos e cordiais ciganos domadores de ursos, do ilusionismo e das exibições com cavalos e que vez por outra, abordavam os frequentadores para lhes ler as mãos. O cenário do espetáculo transformou-se em uma verdadeira casa de eventos com balés, danças, DJs, cenários, coreografias, luzes e sons sincronizados com as ações das atrações que aconteciam no picadeiro. Estruturas físicas do picadeiro, – agora chamado de arena –, assentos classificados em diversas categorias, de acordo com as suas posições e distâncias da arena. Acessos de entrada e saída estabelecidos segundo as normas de segurança, praça de alimentação e abordagem direta ao expectador preguiçoso e comodista usadas antes, durante e depois das sessões, são algumas das evoluções e avanços observadas. Interações com o público que quase sempre eram meros expectadores passaram a ser protagonistas de rápidas, alegres e emocionantes brincadeiras comandadas por uma marota “palhaça” – Sim, as mulheres assumiram com alegria e competência papéis antes dedicados quase sempre aos homens. As ações de equilíbrio, sincronicidade, coragem, harmonia – algumas das qualidades presentes – me encheram de profunda emoção. Como eles conseguiam isso vivendo em um mundo tão conturbado, intolerante, trágico e veloz como o atual?

Em uma análise certamente emocionada, porém, objetiva, concluo com a mais profunda alegria e felicidade que o circo é uma comunidade – ou seria um universo? – integrada e equilibrada, física e mentalmente falando. Todos e todas que pertencem ao conjunto circense funcionam como um organismo integral harmônico. Em todos os aspectos comportamentais, de saúde, de alimentação, de habitação, de rotina de trabalho, de sociabilidade, enfim, toda uma humanidade contida dentro e fora do picadeiro! Em todas as horas do dia e da noite! Parece que estamos todos em uma outra dimensão. Não existem guerras, conflitos raciais, intolerância religiosa, competição desenfreada, enfim, a fraternidade prevalece.

Que bom que existem circos!

Obrigado a todos vocês, circenses terráqueos!

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