RESUMO

O presente artigo tem como objetivo elucidar o impacto da relação do narcisista machista sobre a vida de sua filha. O presente estudo buscou compreender, por meio de uma abordagem qualitativa, a relação entre o comportamento narcisista praticado por homens e o machismo, que é uma dupla na qual afeta profundamente a estrutura psíquica familiar, inclusive quando este tipo de narcisista exerce um poder exacerbado sobre uma filha. Tanto o narcisismo patológico quanto o machismo, simbolizam uma violência não declarada contra a mulher; neste caso ligado por uma estrutura de poder. Palavras-chave: narcisismo, machismo, características narcísicas, relação pai-filha.

INTRODUÇÃO

Como observa Lipovetsky (2005), citado por Lazzarini (2010, p.270): “A patologia mental obedece à lei da época [...]: a crispação neurótica foi substituída pela flutuação narcísica” (p. 55). Há uma considerável procura de psicólogos e psicanalistas contemporâneos, por motivo de uma modificação do perfil da demanda clínica, a ocorrência de um progressivo deslocamento dos quadros neuróticos clássicos para as patologias do narcisismo.Nos momentos de indefinições, de grandes e rápidas mudanças o sujeito esboça um movimento regressivo, um movimento narcísico direcionado a si próprio, ou seja, o eu deste sujeito se comporta como objeto de seu próprio investimento o qual se caracterizaria por uma idealização de si, uma forma de se sentir pleno. A figura paterna (seja ela narcisista ou não) “transita em meio às situações terapêuticas de forma variada, seja por meio de sua concreta presença ou de sua efetiva ausência da vida do paciente, seja por meio de projeções que os pacientes fazem de diversos pais internalizados, ou de representações de pai”. (GOMES, 2004). Desta forma, a prática da clínica psicanalíticatem como finalidade representar a possibilidade de o paciente vivenciar com o analista, na transferência, sua dinâmica psíquica interna, com o objetivo de entrar em contato com ela e por meio de enfrentamento da angústia, resignificá-la (MACÊDO, 2010). De acordo com esta nova demanda em clinica o artigo em questão se faz pertinente. Este trabalho de revisão foi elaborado a partir da consulta de bibliografia, assim como da recolha de artigos científicos pesquisados em diversas plataformas de publicações científicas. Infelizmente nesta abordagem os pais manifestam uma série de manifestações de violência em relação aos filhos, sendo estes objetos de suas agressões incontroladas em função de sua proximidade, de sua fragilidade, de sua dependência principalmente dos múltiplos significados conscientes e inconscientes que a criança adquire na mente dos pais. (MALTZ, 2008 p. 6). De acordo com Lowen, (1983), o narcisismo expõe uma condição psicológica, sendo designada como uma perturbação da personalidade sendo qualificada como um investimento exagerado na imagem da própria pessoa à custa do self. Para eles é mais importante a imagem que passam, do que o que realmente sentem. Sem um self estabilizado, sentem-se vazios. 2 Freud, em seu livro Sobre o Narcisismo: uma introdução (1914) indica qual é a trajetória que fazem com que o narcisista escolha o seu objeto:“Uma pessoa pode amar o que foi outrora e não é mais, ou então o que possui as excelências que ela jamais teve e que não pode atingir”. A fórmula paralela à quese acaba de mencionar diz o seguinte: o que possui a excelência que falta ao ego para torná-lo ideal é amado. [...] “Por causa de suas excessivas catexias objetais, é empobrecido em seu ego, sendo incapaz de realizar seu ideal do ego”. FREUD, (1990). De acordo com Freud, citado por Pinheiro (1995), no texto de 1912, Totem e tabu: Freud encontrou os subsídios para pensar a onipotência narcísica através da concepção de um poderoso chefão da horda primitiva. Mas é no texto Introdução ao Narcisismo de 1914 que o conceito vem pela primeira vez costurado, trazendo, não mais o narcisismo conquistado pela força bruta das “tribos primitivas”, mas na civilização humana como vimos na citação acima, como uma invenção de dois adultos - os pais da criança ou daqueles que dela se ocupam.Totem e tabu inova por descentrar o pensamento freudiano de uma construção teórica em que o trabalho do aparelho psíquico é ditado pela pulsão. [...] Nesse texto de 1912, o foco volta-se para as imposições ao aparelho psíquico exercido pela sociedade. Lançando o olhar para os imperativos da cultura, Freud teve que sehaver não mais com o recalque em si, mas como sendo um longo ecomplexo processo de assimilação. Freud (1914), citado por Marson (2008, p. 2), contribuiu para o estudo da maternidade e da paternidade através de seu trabalho sobre narcisismo: Neste, ele atribui ao amor e às atitudes afetuosas dos pais em relação aos filhos uma característica narcisista. Segundo ele, o narcisismo primário dos pais, já abandonado, é revivido e reproduzido em seu amor ao filho. A atitude emocional dos pais será dominada pela supervalorização, o que revela o caráter narcísico deste afeto, sendo ao filho atribuído todas as perfeições e as suas deficiências. A criança concretizará os sonhos que os pais não realizaram e terá os privilégios que eles não tiveram. Como Freud nos ensinou, citado por Macêdo (2010), o narcisismo secundário constitui um movimento de desinvestimento em objetos externos e investimento no próprio ego, que utiliza vários mecanismos defensivos primitivos, [...] havendo uma desistência da relação de objeto que pode ser decorrente da frustração vivenciada no vínculo primitivo e que deixou marcas profundas na psique [...]. O machismo por sua vez, conforme nos diz Drumont, (1980), "caracteriza-se de representações-dominação que utiliza o argumento das relações entre os homens e as mulheres, reduzindo-os a sexos hierarquizados, divididos em extremo dominante e dominados, que se confirmam mutuamente numa situação de objeto”. A violência não declarada é muito sutil, conforme (Martins, 2009) nos descreve: 3 O silêncio da violência exercida pelo perverso narcísico sobre seu cúmplice não é do mesmo tipo de uma relação sádica ou sadomasoquista, tampouco a vítima da agressão silencia porque se sente intimidada. Essa violência é silenciosa e a vítima a sofre de maneira silenciosa, porque se trata de uma violência velada e insidiosa, não assumida pelo agressor, negada e denegada por ele, que sutilmente inverte a relação acusando o outro de ser o culpado pela situação. Desta forma, a vítima se sente confusa e acaba por sentir-se culpada, o que, por sua vez, inocenta o agressor. Não se trata de uma violência física, e esta não é pontual: estende-se ao longo do tempo. (p. 38) O narcisista pode ter ciúmes de alguns atributos da filha ou até mesmo de sua personalidade, do relacionamento que tem com sua mãe. A filha se sente totalmente confusa com isso, porque para o pai ficar orgulhoso dela ela precisa tomar cuidado com o nível de orgulho que dará a ele para que seja de uma forma que não ofusque a imagem dele. (Alvarenga, 2017). McBride (2013) sabe o quanto é importante o relacionamento saudável com ambos os pais, “mas se o pai tem inveja da relação da filha com a mãe, o que a filha faz? Ela quer que ambos os seus pais a amem então o que pode fazer? Como pode lidar com este desequilíbrio delicado? Para complicar mais a questão,o que a mãe faz? “Muitas vezes a mulher tem de se colocar em uma posição submissa e baixar sua cabeça, sendo assim quando em um “relacionamentos com narcisistas masculinos escolhem atender ao pai como prioridade a fim de manter o relacionamento. Como a mãe não pode se conectar com a sua filha, isto a deixa com uma falta de conexão emocional com ambos os pais”. Desde muito cedo a criança aprende a ter o reconhecimento do outro, percebe que carrega em si um duplo aspecto: “esse outro é o que protege o indivíduo contra o desamparo, mas é igualmente invasor, em função da situação de passividade da criança. Ou seja, o indivíduo estaria à mercê desse outro e, consequentemente, diante da constatação de sua fragilidade, vai se posicionar diante de um paradoxo: necessita do outro para sua proteção e, portanto dele não pode se separar, mas, ao mesmo tempo esse outro que o protege pode também ameaçá-lo com sua intrusão”. (LAZZARINI, 2010). É muito comum que o pai narcisista faça com que os irmãos se odeiem, com que os filhos odeiem a mãe, e vice-versa. E fazem com que todas as informações passem por ele primeiro, para que seja capaz de manipulá-las segundo a sua vontade. O que não difere nada de um comportamento machista. Naturalmente a mulher oprimida, circunstancialmente se vê na condição de vítima. Drumont (1980) declara que, ela afirma cada vez mais sua posição oprimida, de forma inconsciente, não se engajando numa luta pela sua própria liberação. [...]