O HOMEM DE MIL PALAVRAS

POR: José Wilamy Carneiro

Encontrei numa praça vazia, cheia de folhagens secas, um personagem das figuras existentes da mirabolante sociedade.

- Ali estava ele:

- Sentado, maltrapilho, surrupiado e molhado. Barba espessa, cabelo mal tratado e com sinais à mostra que a idade já lhe pragava meio século de vivência. Seu aspecto mostrava-me a voz do desprezo. Sozinho e insólito, com sua visão fixada no alento da vida, não batia as pestanas segurando como um tranco a um pêndulo visivelmente aparente. E de repente um vozeirão saiu da caixola com força estridente e maestrosa. 

- Bom dia seu moço! – Pode conceber-me uns minutinhos de sua atenção?

- Prometo-lhe que não estenderei por demasias! Indagou o peregrino.

Envaidecido por sua honrosa educação e eloquência, pus-me a emprestar meus ouvidos a esse solitário cavalheiro ambulante entregue ao tempo vil. Não que me interessasse o que ele queria. Até que suas palavras sem coesão e alinhamento foram atiradas para mim como uma rajada de metralhadora em disparo fumegante sem parar em minha direção. Dele saiu os ensinamentos da vida numa metamorfose desvariada sem um alinhamento e contexto lógico, contudo preciso.

Ao tentar assimilar suas enlouquecidas frases pronunciadas, percebi que queria contar-me mais o que queria apresentar. Mas, por isso, como o tempo talvez aquele mergulho profundo em demasia fosse uma só imagem da solidão em conversar com alguém. Um homem sem nexo com as palavras queria mostrar-me em uns minutinhos toda sua trajetória de vida. O que foi sua visão de vida, o que pensara? Suas vontades, vaidades, sonhos, frustações.

Nessa enxurrada de palavras e pensamentos soltos e ditos, percebi que estava apenas expressando um pouco de seus atos presos em uma vida pacata, desleixada, solitária e vazia.

- Era ele um homem de mil palavras.

Mil tons de cinzas, das frases amarradas em sua glote, movimentadas como uma partícula de átomo, preso no universo.  Seria apenas um peregrino querendo dizer algo ou mostrar-me um paradigma da vida em sua visão isolada do mundo fragmentado. Na quietude da praça, apenas as folhagens secas levadas ao vento, como areais nas dunas vagante que se movimentam de um lado para  outro com auxilio do amigo invisível vento. 

E, nesse mundo louco encontro um homem de palavras mil para decifrar o flagelo da vida em tampouco tempo, entre espinhos e sonhos largados ao relento remando contra a maré da alma perdida. Esculpida e traçada num enigmático labirinto de seus pensamentos.            

O HOMEM DE MIL PALAVRAS

 

POR: José Wilamy Carneiro

Encontrei numa praça vazia, cheia de folhagens secas, um personagem das figuras existentes da mirabolante sociedade.

- Ali estava ele:

- Sentado, maltrapilho, surrupiado e molhado. Barba espessa, cabelo mal tratado e com sinais à mostra que a idade já lhe pragava meio século de vivência. Seu aspecto mostrava-me a voz do desprezo. Sozinho e insólito, com sua visão fixada no alento da vida, não batia as pestanas segurando como um tranco a um pêndulo visivelmente aparente. E de repente um vozeirão saiu da caixola com força estridente e maestrosa. 

- Bom dia seu moço! – Pode conceber-me uns minutinhos de sua atenção?

- Prometo-lhe que não estenderei por demasias! Indagou o peregrino.

Envaidecido por sua honrosa educação e eloquência, pus-me a emprestar meus ouvidos a esse solitário cavalheiro ambulante entregue ao tempo vil. Não que me interessasse o que ele queria. Até que suas palavras sem coesão e alinhamento foram atiradas para mim como uma rajada de metralhadora em disparo fumegante sem parar em minha direção. Dele saiu os ensinamentos da vida numa metamorfose desvariada sem um alinhamento e contexto lógico, contudo preciso.

Ao tentar assimilar suas enlouquecidas frases pronunciadas, percebi que queria contar-me mais o que queria apresentar. Mas, por isso, como o tempo talvez aquele mergulho profundo em demasia fosse uma só imagem da solidão em conversar com alguém. Um homem sem nexo com as palavras queria mostrar-me em uns minutinhos toda sua trajetória de vida. O que foi sua visão de vida, o que pensara? Suas vontades, vaidades, sonhos, frustações.

Nessa enxurrada de palavras e pensamentos soltos e ditos, percebi que estava apenas expressando um pouco de seus atos presos em uma vida pacata, desleixada, solitária e vazia.

- Era ele um homem de mil palavras.

Mil tons de cinzas, das frases amarradas em sua glote, movimentadas como uma partícula de átomo, preso no universo.  Seria apenas um peregrino querendo dizer algo ou mostrar-me um paradigma da vida em sua visão isolada do mundo fragmentado. Na quietude da praça, apenas as folhagens secas levadas ao vento, como areais nas dunas vagante que se movimentam de um lado para  outro com auxilio do amigo invisível vento. 

E, nesse mundo louco encontro um homem de palavras mil para decifrar o flagelo da vida em tampouco tempo, entre espinhos e sonhos largados ao relento remando contra a maré da alma perdida. Esculpida e traçada num enigmático labirinto de seus pensamentos.