RESUMO:

Este trabalho tem como objetivo abordar o romance Chuva branca a fim de apresentar alguns aspectos da vida do homem amazônico. Nele tenta-se definir de quê Amazônia, em particular, trata a narrativa, assim como quais os grupos sociais sob os quais este homem aparece. Para empreender tal tarefa, realizo um diálogo ecumênico com algumas áreas do conhecimento, entre elas, a sociologia, a antropologia e a história, bem como me aposso de dois conceitos fundamentais para se compreender este trabalho: o primeiro é o conceito de “tipos ideais”, de Max Weber (2001, 2003), com o qual tento definir o homem amazônico que aparece na narrativa; e o segundo é um conceito cunhado por Djalma Batista (2007), a saber, “Terceira Amazônia”, uma espécie de classificação para a Amazônia rural, ribeirinha, dos sítios, fazendas, vilas etc, ao longo dos rios, lagos e igarapés. É desta Amazônia que trata o romance de Paulo Jacob, Chuva branca e onde se encontra o homem de que trata este estudo.

Palavras-chave: Chuva branca. Homem amazônico. Terceira Amazônia. Tipos ideais.

ABSTRACT:

This work aims to deal with some aspects in regard to Amazonian man’s life as they are shown in the novel Chuva branca. It tries to define what Amazon, especially, the narrative talks about, as well as to specify under what social groups this man appears. To undertake this work, I carry out a ecumenical dialogue with some disciplines of knowledge, among them, the Sociology, the Anthropology, and History, as well as I adopt two concepts which are of paramount importance to this work: the first concept is “ideal types”, by Max Weber (2001, 2003), with which I try to define the Amazonian man who appears in the narrative; and the second concept is that coined by Djalma Batista 92007), i. e., “Third Amazon”, a type of classification to the rural Amazon, riverine, situated in the small property in the country, farms, villages etc, in the course of rivers, lakes, and streams. It is this Amazon that the novel written by Paulo Jacob deals with and where we meet that man which is studied here.

Keywords: Chuva branca. Amazonian man. Third Amazon. Ideal types.

Introdução

Em certo sentido, ao contrário do que a simplicidade do título deste trabalho possa dar a imaginar, não é fácil falar do homem amazônico. Seria melhor começar dizendo que não existe o homem amazônico, mas, sim, homens amazônicos. É necessário mesmo ressaltar que a Amazônia, em sua grandeza físico-geográfica, ecológica, política e sociocultural, entre tantas outras dimensões, obriga a quem quer que se proponha a levar adiante tal estudo a reconhecer as diferenças existentes e a descer da região fantástica a partir da qual se idealiza ser a região, em termos antropossociais, um imenso tapete verde: sem matizes, sem nuances e sem distinções. E isso a Amazônia certamente não o é.

Em sentido amplo, portanto, falar de homem amazônico seria tocar em um termo que poderia ser estendido e aplicado a todos os homens da “Pan-Amazônia”[2]. Assim sendo, de modo geral, seriam homens amazônicos os que habitam em biomas congêneres situados nos países sul-americanos circunvizinhos, assim como os habitantes das metrópoles da Amazônia brasileira, tais como Manaus e Belém e aqueles das sedes dos municípios dos interiores dos Estados. Contudo, não é este o homem amazônico que aparece no romance Chuva branca, do escritor Paulo Jacob.

Com base nessas afirmações, pode-se dizer, ademais, que são homens amazônicos os muitos tipos sociais que habitam a região, assim como o vaqueiro marajoara, o garimpeiro paraense de Carajás, o agricultor de grande porte das terras roraimenses e bem assim o pecuarista do bioma amazônico do norte de Mato Grosso, este fruto da “descida da população do sul e do planalto central para a sua exploração e colonização” (BENCHIMOL, 2001, p. 62). Mas ainda assim não é esse o homem amazônico que é retratado em Chuva branca e que é objeto de atenção deste trabalho.

O homem amazônico que aparece em Chuva branca, e que leva o nome de Luis Chato, é o habitante das comunidades rurais da Amazônia, da Amazônia ribeirinha, situadas à margem dos inúmeros rios, lagos, igarapés, furos e paranás da imensa malha potamográfica da região. Este é aquele que Brito (2001, p. 50) chamou de “o homem dos beiradões de Álvaro Maia” e o antropólogo americano Charles Wagley (1988, p. 121), de os “caboclos da beira”[3]. Para empregar o termo com o qual Loureiro (2014, p. 36) costuma particulariza-la, seria a “Amazônia profunda”, onde “o imaginário é fato social, assim como a mitologia é também fato social, porque alteram e modificam o comportamento da sociedade”.

Quanto aos seus traços físicos, seria lícito dizer que ele é geralmente de baixa estatura, em virtude das “dificuldades fisiológicas” observadas por Charles Wagley (1988, p. 32), e que são enfrentadas pelo homem dos trópicos, em relação ao homem dos trópicos, e miscigenado, misturado, em especial a partir do europeu e do índio. Em termos culturais, o homem da Terceira Amazônia não se distancia da definição dada na primeira metade do século XX por Araújo Lima (1975, p. 49): “escoteiro, sem guia; sem saúde nem cultura; sem defesa nem proteção; sem preparo nem prévio trabalho adaptativo, o homem do Amazonas campeia naqueles cenários como um gigante, inconsciente de sua bravura, a afrontar, e a vencer, a natureza hostil e agressiva”.

De acordo com Djalma Batista (2006, p. 22), Euclides da Cunha olhou para o homem desse espaço e viu-o “um ator agonizante”. Charles Wagley (1988, p. 20), “descendo o rio Amazonas”, ao olhar a partir de sua célere lancha para a sua margem, chegou “à conclusão de que a exótica magnificência do panorama tropical havia desviado as atenções do homem do Vale Amazônico”. De forma semelhante, Samuel Benchimol (1977, p. 172) olhou-o e viu “um tipo curiosíssimo de gente, ainda por estudar. Caboclos mansos, esquecidos do mundo, sem ambição. Com um notável instinto de defesa e de aproveitamento dos recursos naturais. Vivendo em função do seu meio. Geográfica e vegetalmente”.

Neste trabalho, opto por empregar a classificação cunhada por Djalma Batista para esse espaço, baseada na geografia humana e na localização de seus habitantes: Terceira Amazônia[4]. Esta é, segundo o amazonólogo, “a grande área onde vivem os extrativistas, agricultores, pescadores e garimpeiros”, são os “habitantes das vilas, povoados, freguesias, aldeias, sítios, fazendas, seringais, castanhais, pontos de comércio e colocações” (BATISTA, 2007, pp. 114-15).

Ao abordar o romance Chuva branca, este trabalho tem como objetivo apresentar alguns aspectos desse homem amazônico, entre eles apontar qual é a Amazônia que aparece no romance, assim como os grupos sociais ou tipos ideais[5] de sociedade sob as quais ele aparece. Para empreender tal tarefa, pretende-se adotar um diálogo ecumênico com algumas áreas do conhecimento humano, como a sociologia, a história e a antropologia, acreditando, com Morin (2012, p. 16), que “todas as ciências e todas as artes iluminam, a partir de ângulos específicos, o fenômeno humano”.

Qual é a Amazônia projetada por Chuva branca?

Um ponto com o qual podemos muito bem começar este tópico é dizendo que a Amazônia goza, pelo menos no que tange à continuidade geográfica, de certa homogeneidade. A divisão política, aí, não seria se imporia como uma barreira, tal como acontece com os animais, com as aves e até mesmo com os índios que cruzam a fronteira dos países amazônicos de um lado para o outro, em virtude da continuidade do bioma, sem problema algum. Segue-se dessa consideração que alguns estudiosos, como Djalma Batista, propõem uma maneira global de encarar os assuntos regionais, não somente em virtude da continuidade geográfica, mas também de identidade étnica, padrão de cultura e modelo econômico: “Por que não considerar, portanto, a Amazônia como um todo, acabando de uma vez para sempre essa pendência inglória de uma desprezível ilha das Cutias?” (BATISTA, 2006, p. 67).

A questão, porém, é que o reverso também é verdade, e é aí que as dificuldades começam, pois, de uma parte, ninguém há de negar que a Amazônia também é diversa. Como afirma um dos mais originais pensadores da região, “a Amazônia brasileira, pela sua grandeza continental, está longe de apresentar uma aparente uniformidade”, deixando, pelo contrário, “entrever e encontrar diferenciações regionais humanas, geográficas, geológicas, econômicas, sociais, étnicas” (BENCHIMOL, 2001, p. 105). Em relação ao homem, o elemento mais importante em meio a esse contexto, Charles Wagley, ao estudar a comunidade de Itá (Gurupá-PA), observou evidentes diferenças sociais e que, “como em todas as sociedades humanas, os homens são classificados de acordo com o seu prestígio” (WAGLEY, 1988, p. 118). Se se encontra diferenças sociais em um microcosmo como esse, é lógico que se deve esperar encontrar ao falar de Amazônia.

Como já foi apontado anteriormente, a Amazônia que é projetada em Chuva branca é aquela que Djalma Batista cunhou de “Terceira”. A narrativa não deixa dúvidas sobre o espaço quando, logo no início, diz:

É sempre esse rio rolando, cheias, vazantes. O barro carregado nas águas, amarelas. Pedaços de paus, tronqueiras, galhadas, matupás, canaranas, membecas, murerus, correndo na correnteza, rodopiando nos remansos. Menino ainda, aqui mesmo, nessa vida, mão no remo, puxando bons surubins, dos pintados, caparari. Dando adjutório no roçado, os pais aí, carregando maniva no jamaxi, basculho, roçando, limpando o terreiro (JACOB, 1968, p. 7).

Deve-se observar, sobretudo, aqui, que se trata de uma comunidade ribeirinha, situada ao longo dos muitos rios da bacia amazônica. Eu vou ainda mais longe e digo: provavelmente a comunidade de Luis Chato deve estar localizada em algum rio da margem direita ou meridional da bacia, uma vez que o narrador menciona o “barro carregado nas águas amarelas”, e é bem conhecido que os rios da margem setentrional são, em sua maioria, rios de água preta. Além disso, são rios considerados muito acidentados e pouco piscosos, um dos motivos pelos quais o povoamento foi maior na margem contrária. Pelo que nos diz Gastão Cruls:

Os rios da margem setentrional e, em primeiro lugar, os que ficam mais próximos do estuário, porque mais curtos e mais acidentados por cachoeiras, exceção do trecho sempre breve que lhes fica a jusante desses obstáculos, são rios aos quais cabe bem a designação local de famintos. Aí, não só escasseia o pescado, como desaparecem as suas peças mais importantes, tais o pirarucu e a piraíba (CRULS, 1958, p. 126)

É importante ressaltar, ainda, quanto ao excerto de Chuva branca exposto acima, dois outros pontos referentes à Amazônia aqui em tela: primeiro, a forma como o homem observa o rio, a respeito do qual eu me deterei, com mais vagar, a seguir, ou seja, como ele nota o fenômeno das cheias e vazantes, o caminhar do rio com suas águas “amarelas”, levando consigo a vegetação, e “rodopiando nos remansos”. E, segundo, não deixar de notar aquelas atividades que só são possíveis nesta Amazônia, como viver a vida com a “mão no remo” a pescar peixes, assim como o cuidar do roçado e da “maniva” para preparar a farinha, e “limpando o terreiro”, provavelmente pela técnica da derrubada e queima. São essas atividades típicas da Terceira Amazônia, muito embora possas ser encontradas na Segunda e até mesmo na Primeira.

No tocante ao rio e ao relacionamento do homem amazônico com ele, tem-se aqui um dos mais característicos traços da vida amazônica. A fala do homem Luis Chato, de que desde pequeno, ou “menino ainda”, como ele diz, vivia com a “mão no remo” traz para a discussão a relação fraterna e afetuosa que o ribeirinho desenvolve com o rio. A vida nesse espaço, diz Brito (2001, p. 105), deve, desde cedo, aprender a conviver com o “gigante de mil braços, [o qual] possui vida e vontade, devendo ser amado, respeitado e compreendido para que se estabeleça um convívio harmonioso”. Dessa relação com o rio surge, nas palavras de Souza (2000, p. 834), em O grande Amazonas, o traço mais singular e característico do “homem amazônico ─ o qual não está no seringueiro ou no vaqueiro marajoara, nem no garimpeiro ou no castanheiro, tampouco no índio, mas naquele tipo que a várzea educou para a vida, debaixo da cartilha e das conveniências do rio ─ o canoeiro e o mariscador”.

Nessa concepção, não se trata de uma relação de tomar proveito somente, tal como foi comum na história humana, com as civilizações mundiais procurando se estabelecer às margens dos rios para se utilizarem daquilo que ele lhes podia oferecer. Na Amazônia, e nesta que é mostrada em Chuva branca, em especial, certamente que tal sucedeu, mas vai, entretanto, além disso. Porque, em contraste com algumas civilizações, lugares onde o homem dominou os rios, mudou os cursos de água, executou transposições e moldou as suas margens, aqui é o rio que continua “vitorioso, sobrepondo-se às forças de que o homem se dizia possuidor” (TOCANTINS, 1982). Daí resulta, também, em se dizer, tal como o faz Djalma Batista (2006, p. 100), que na Amazônia, no que diz respeito ao meio, o homem “nem sonhou de dominá-lo quanto mais de dirigi-lo”.

Ao lado disso, do respeito e da cumplicidade, vale lembrar que o rio dita o ritmo de vida do homem amazônico. O narrador, ao olhar par ao “rio rolando”, lembra-se das cheias e vazantes, cujo ciclo, nas palavras de Benchimol (2001, p. 106), “sempre determinou os ritmos de vida e o ciclo de seus hábitos, trabalhos e viveres”. Na Amazônia, esse ciclo é o divisor de águas da vida humana, o diapasão perene a marcar o ritmo do viver amazônico, influindo diretamente em sua psicologia, sua sociologia e sua economia. Como observa Benchimol:

Todos os acidentes humanos trazem a marca inconfundível do rio. Ele é que marca o regime de vida, é, a bem dizer, a estação na economia do caboclo. Banca diapasão, por isso, na sua vida. A enchente e a vazante são como a seca e o inverno para o sertão. A safra e o fábrico. A maromba e o curral. O homem adapta-se a esse regime, à maneira de um clima. A lavoura da vazante – a roça, o marisco, as pescarias, as piracemas. A vida muda completamente de uma época para a outra. O rio tem, portanto, expressão econômica e sociológica na psicologia da vida amazônica (BENCHIMOL, 1977, p. 185).

Quanto a esse ciclo das águas, há dois pontos que eu gostaria de mostrar, a seguir, uma vez que estão relacionados com o modo como acaba por tocar a vida na Amazônia, a saber, a alimentação e aquilo que Leandro Tocantins (1982) chama de “noção de jus soli”. Tomado em sentido amplo, todavia, pode-se dizer, como o faz Benchimol (1977, p. 90), em outra obra, que “o ciclo das águas dos rios afeta não somente a produção e oferta de alimentos, como atinge a quase toda a produção regional”.

O homem amazônico aprendeu a ser cúmplice do rio, mas sabe, todavia, que existe uma estação que é hostil em relação à sua sobrevivência: o inverno. Luis Chato o afronta, que na região coincide com a estação chuvosa, pois sabe que viver na Amazônia durante o inverno é conviver com a escassez de víveres: “diabo de inverno, chuveiro danado, dificultando peixe” (JACOB, 1968, p. 9). Wagley observou, em uma comunidade do Estado do Pará, que o ciclo afeta de tal maneira o hábito alimentar das pessoas que se passa a encontrar “apenas o pirarucu, o bacalhau importado, ou sardinhas e atum em lata” (WAGLEY, 1988, p. 91). Indo um pouco mais longe, Deusamir Pereira enxerga na oscilação infindável desse ciclo uma espécie de pedagogia a nos ensinar como têm sido os nossos ciclos econômicos:

O ciclo infindável de cheias e vazantes, que ocorre todos os anos, transcende as questões climáticas e nos dá uma lição clara e objetiva de como têm sido os nossos ciclos econômicos. Para ele, assim como o caboclo vive a fartura da vazante e a escassez da enchente, o povo amazônico tem presenciado a oscilação cíclica do processo de desenvolvimento regional ─ ora pujante, ora miserável para (PEREIRA, 2006, p. 117).

Retomando agora a noção de jus soli, tal como a propõe Leandro Tocantins, tem-se a partir dela a exata compreensão da relação do homem amazônico com o rio. Conquanto não seja impossível encontrar essa cultura na Primeira e Segunda Amazônia, é na Terceira que a cultura descrita por Tocantins é vivida de forma mais expressiva. De acordo com o autor, o rio acomete a vida desses ribeirinhos de uma tal forma que chega a influenciar a psicologia deles no momento de dizerem de que lugar eles vêm, onde nasceram, onde trabalharam, onde casaram etc. O chão, a terra, aquilo que serve para dar raiz ao homem é solapado em função da água, como chega a dizer: “porque ninguém é filho de tal lugar (excetuando-se as cidades) ou vem ou vai para esse lugar. E sim, nasceu no Juruá, viveu no Purus, casou no Acre, cortou seringa no Madeira, mudou-se para o Yaco” (TOCANTINS, 1982).

Em uma feliz expressão, a mesma ideia foi observada e expressa pelo notável Benchimol, ao estudar o “Perfil antropocêntrico do cearense na Amazônia”, ao concluir, como Tocantins, que a terra não oferece, para a memória ou para o coração, nenhuma lembrança:

A pátria do homem não é a terra, mas o rio. Quase não se vê ninguém dizer “sou filho de Porto Velho, de Lábrea ou de Santa Isabel”. A terá não tem expressão humana. O homem vive para o rio. Ele diz, portanto, “sou filho do Madeira”, “nasci no Purus”, “vim do Rio Negro”. A própria borracha é do rio, nunca da terra ou da cidade. O caboclo não a utiliza quase em sua linguagem: “Casei-me no Madeira”, “batizei-me no Solimões”, “ele morreu no Juruá”. Essas é que são as expressões legitimamente amazônicas (BENCHIMOL, 1977, p. 185).

Em direto, a vida, na Amazônia, é menos tocada pela terra do que pelo rio. Essa é a ideia inserida por Leandro Tocantins, ao falar da noção de jus soli. É essa a Amazônia, chamada por Djalma Batista de Terceira, rural, profunda, onde a mitologia é fato social, e que vive em função do rio, com o ritmo de vida ditado por ele, que é projetada no romance Chuva branca.

Dos grupos sociais ou tipos ideais sob os quais aparece o homem amazônico em Chuva branca

Como já foi mencionado anteriormente, em formas esboçadas em nota de rodapé, tomo o conceito weberiano de “tipos ideais” para tentar mostrar como o homem amazônico aparece no romance Chuva branca. Nas palavras de Weber (201, p. 137), “obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou de vários pontos de vista”. Dessa forma, acentuando as atividades pelas quais Luis Chato aparece no romance, proponho como tipos ideais ou grupos sociais do homem amazônico de Chuva branca os seguintes: o pescador, o caçador e o lavrador.

Cabe salientar que os grupos sociais aqui visualizados coadunam-se com algumas das sociedades que Arthur Reis (1960), citado por Djalma Batista (2006, p. 144), observou na Amazônia, a saber: “extrativista, pesqueira, agrícola, pastoril e mineradora”. Digo algumas porque a caçadora não se vê entre as cinco do historiador Arthur Reis, assim como a extrativista, a pastoril e a mineradora, citadas por ele, não são vistas Chuva branca. Estas, a mineradora e a pastoril, são sociedades amazônicas que se concentram mais na chamada Amazônia Oriental.

De outra parte, os tipos ideais de Chuva branca conformam-se perfeitamente com o que disse o barão de Santana Néri em relação aos meios de sobrevivência na Amazônia de sua época, a saber, “que se devem em geral à pesca, à caça e à agricultura” (NÉRI, 1979, p. 117). A seguir, deter-me-ei com mais vagar nas três que são projetadas no romance.

Na beira, ai, manhã, tarde inteira naquela paciência. O peixe beliscando, furtando a isca, bota outra, atira a linha, fica esperando. Candiru, piranha, carataí, que mais faz dessas, o tempo todo comendo a isca. Um dia fisgou um dourado, aperreou-se com a força do bicho. Atou a linha no taxizeiro do porto, botou-se a gritar. Fui lá ver do que se tratava. Dei linha a valer, cansei o bicho, sojiguei depois, puxei pra terra. Tinha fisgado um dourado dos grandes (JACOB, 1968, p. 48).

No excerto colocado acima, Luis Chato conta como ajudou o filho maior, que ele chama de “assinzinho”, a terminar de fisgar um dourado. Nele o ribeirinho narra ainda como o filho ajuda com as provisões da casa, passando a “tarde inteira naquela paciência”, algo necessário diante das condições socioeconômicas em que vive a família. Mas o que se deve reter, aqui, sobretudo, é que os pescadores constituem um grupo social na comunidade de Chuva branca, assim como o são, em realidade, ao redor do mundo. Já na Amazônia colonial o padre João Daniel observava “a nação dos canoeiros”, caracterizados por viverem da pesca:

Entre as muitas nações gentias que habitam nas ilhas e matas do rio Tocantins, há uma muito especial, a que os portugueses chamam a nação dos canoeiros. A sua vida é andarem sempre rio abaixo, e rio acima, já pescando, já caçando, e já divertindo-se, porque não lhes dá cuidado o que hão de comer, e vestir (DANIEL, 2004, p. 375).

Não se trata somente de Luis Chato e de sua família, uma vez que a pesca aparece como um dos meios de subsistência da Amazônia, da Amazônia rural, em especial. No início da narrativa ele fala do lago, de como este em “tempo de carestia” se coloca como “despensa do pessoal todo por aqui” (JACOB, 1968, p. 8), assim como vai falar da ajuda que cada vizinho dá ao outro em relação às provisões. Na verdade, em sociedades como essas, há pouca especialização, e todos podem ser pescadores, assim como outras atividades, tal como observou Wagley (1988, p. 257) ao contrastar as “civilizações complexas” com uma “sociedade tribal” ou “povoado”.

Nesta oportunidade, devo ainda observar dois outros pontos relacionados à sociedade pesqueira da Amazônia. Um deles se trata do que foi registrado pelo barão de Santana Néri, uma marca característica da Amazônia, embora aos poucos venha desaparecendo, que são as embarcações  empregadas na atividade:

Nos afluentes do Amazonas, a pesca guarda ainda uma marca característica, que certamente desaparecerá quando se tornar uma verdadeira indústria, em vez de um passatempo para a classe privilegiada e um recurso para os pobres. Não se verão mais então esses barcos tão originais da região amazonense, esse igaras pitorescos [sic]: a ubá, embarcação rude, escavada no tronco de uma árvore, com travessas mal esquadrejadas servindo de assento; a montaria grosseira, pequeno barco sem teto; o igarité, embarcação coberta com folhas de palmeira; o Igaraçu, barco com duas cobertas; o bote, o grande barco, e o batelão, espécie de barca (NÉRI, 1979, pp. 119-120).

E o outro ponto diz respeito à habilidade do caboclo para a pesca, o qual sabe quase por instinto onde encontrar o peixe. Charles Wagley lista, entre qualidades positivas e negativas do caboclo, esta habilidade: “mesmo aos moradores da cidade que pertencem a esse tipo físico, atribuem-se as qualidades de timidez, preguiça, habilidade para a caça e a pesca e a ardileza do caboclo” (WAGLEY, 1988, p. 153). Ainda nesse sentido, talvez uma das declarações mais úteis a esse respeito tenha vindo da parte do médico e sociólogo Araújo Lima, para quem a habilidade do homem amazônico para a pesca não passou despercebida. Registrou:

A sua prática revela no caboclo qualidades de que são desconhecedores os críticos que falam sobre a gente amazônica. Em todos esses gêneros de pesca – a predileta ocupação dos caboclos – surpreende-se a aptidão para o labor naquela gente reputada indolente e inerte. São exímios e indefessos pescadores os caboclos do Amazonas (ARAÚJO LIMA, 1975, p. 63).

Seria lícito afirmar que, em certo sentido, essa habilidade para a pesca deriva da prática a que desde cedo é lançado o ribeirinho, em sua cumplicidade com o rio. No romance Chuva branca, como foi possível observar, desde tenra idade o filho de Luis Chato é visto à margem dos rios a pescar, uma necessidade para ajudar na subsistência da família.

A seguir insiro outros excertos que ensejarão a discussão sobre o segundo tipo ideal ou grupo social sob o qual o homem amazônico aparece no romance.

Vendo um pedaço, compro sustento de coisas mais, salgo o resto. Comida é ai, fartura por muitos dias. Um quarto é do compadre Juvenal. Nunca faltou com um pedaço de paca, quarto de tatu, banda de tambaqui. Uma coisa e outra sempre vai mandando. Agrado de pobre, bom adjutório, salvação de vizinho [...]. Guariba mesmo. Dizem que faz doutras coisas. Mostra o filho, cruza as mãos. Cobre a cara na hora do tiro. Comigo nunca se deu dessas (JACOB, 1968, pp. 12, 28).

Por meio desses excertos, podemos ver que outro tipo ideal sob o qual aparece o homem amazônico em Chuva branca é o caçador. Apesar de o barão de Santana Néri (1979, p. 120) afirmar que, na Amazônia, “ela não passa de um passatempo, e dela mal se obtém o suficiente para o consumo pessoal”, observamos aqui que Luis Chato além de conseguir comida e “fartura por muitos dias”, ao abater um animal podia vender parte e comprar o “sustento de coisas mais” para a família. Na Amazônia, como afirma Charles Wagley (1988, p. 93), “a caça, muitas vezes, fornece um reforço bendito à alimentação, relativamente pobre de carne, da população rural”.

Observamos ainda como os seus vizinhos, tal como o compadre Juvenal, aparecem realizando aquilo que pode ser chamado de uma tradição na Amazônia, que é a ajuda mútua com os víveres, nunca faltando entre eles “com um pedaço de paca, quarto de tatu, banda de tambaqui”, uma forma de combater a fome e a miséria em um espaço como esse, onde nem sempre se pode contar com alimentos a seu bel-prazer. Essa é a “salvação de vizinho”, como diz o ribeirinho.

Luis Chato é um típico caçador da Amazônia, contanto, para tanto, com o auxílio da “mariposa”, a sua espingarda. Convém salientar que a própria narrativa de Chuva branca gira em torno da caçada a uma anta que ele põe em ação ao ver a família há dias sem nada em casa para comer. De modo que, tanto quanto se pode afirmar, seria lícito dizer que o enredo se trata de uma conversa de caçador. Grosso modo, o autor Paulo Jacob transformou em ficção a cultura do homem amazônico de contar os seus “causos” sobre as caçadas, geralmente não fazendo qualquer distinção entre o real e o sobrenatural. Pois, como observou Charles Wagley (1988, p. 94), quando estão reunidos, os homens desta Amazônia acabam “inevitavelmente falando sobre caça. Como quase todo apaixonado desse esporte, descrevem de forma minuciosa e pitoresca as suas façanhas – aquela vem em que mataram uma onça ou anoite em que abateram dois veados”.

Adiante, por meio dos excertos colocados abaixo, falarei do último tipo ideal do homem amazônico em Chuva branca, que é o lavrador ou agricultor.

Se botou com desculpas. Tinha serviço no roçado, fazer a limpa, arrancar maniva, pôr na maceração [...]. Ajuda na limpa da roça, na derrubada, serviço de homem. Ninguém igual pra fazer farinhada. Pega certo no rolo, dá conta da urupema, sustenta de rijo o remo na torração [...] Não há quem não queira dar uma demão. Espalhou a noticia de carne de anta, a vizinhança anima (JACOB, 1968, pp. 12, 21, 33).

Para começar do aspecto mais óbvio, assim como nessas sociedades existe pouca especialização e quase todos os seus membros são pescadores ou caçadores, conforme mencionei acima no texto, quase todos também aqui são lavradores. De outra maneira, não é sem razão que o barão de Santana Néri (1979, p. 117) mostra essas atividades conectadas na Amazônia e menciona-as conjuntamente como “meios de subsistência”.

O companheiro de Luis Chato que “se botou com desculpas” para não acompanhá-lo na caçada à anta, desta vez, é o compadre Juvenal. Este não foi porque “tinha serviço no roçado”, muito trabalho, aliás, para fazer, desde “fazer a limpa, arrancar maniva, pôr na maceração” etc, abrindo o roçado possivelmente pela técnica do abate e queima. É este tempo para cuidar do roçado e da agricultura que, cum grano salis, permite-nos situar o tempo em que a narrativa de Chuva branca se passa no período após o boom da borracha, uma vez que durante todo o tempo em que esse tipo de extrativismo foi predominante a agricultura foi desestimulada na Amazônia: “não tenhamos essa esperança, por muitos anos a indústria extrativa será o único incentivo que chamará a população às nossas margens, e em lugar de animar e prosperar, a lavoura será um embaraço, uma força que se oporá ao seu desenvolvimento” (BENCHIMOL, 1977, p. 175), já apontavam os Relatórios da Presidência da Província do Amazonas.

Vêm também a propósito as palavras do barão de Santana Néri, sobre o lado prejudicial da economia gomífera. Esta não somente prejudicou como “matou” as outras economias:

Independentemente dos meios de subsistência e das fontes de lucros, aliás relativamente pouco consideráveis, que a população amazonense retira dos produtos florestais e agrícolas, existe nesse estado uma indústria principal que matou, por assim dizer, todas as outras, e que, quase só, supre as necessidades naturais e artificiais dos habitantes. Referimo-nos à indústria extrativa da borracha (NÉRI, 1979, p. 131).

Há dois outros pontos a serem observados no excerto de Chuva branca expostos acima. Um diz respeito à ajuda que o lavrador tem da mulher e de toda a família na lida da lavoura, quase uma espécie de sobreposição de papéis sociais, mas que acaba sendo necessária em meio a um espaço considerado um deserto em termos demográficos. Essa pessoa, por exemplo, que aparece aqui ajudando na limpa da roça, “na derrubada”, fazendo “serviço de homem” e elogiada por Luis Chato como “ninguém igual pra fazer farinhada”, é Mariana, a sua esposa. Essa ajuda da família nas tarefas agrícolas, registrou Charles Wagley, são comuns na Amazônia:

Em determinadas tarefas agrícolas, também a família costuma trabalhar em conjunto. A roçagem do terreno, a queimada e a coivara são trabalhos dos homens; mas as mulheres ajudam os maridos na plantação e, algumas vezes, na remoção de ervas daninhas, bem como na colheita da mandioca e na fabricação da farinha. Dessa maneira um homem e sua mulher poderão plantar uma tarefa em dez dias em vez dos vinte que levaria um homem sozinho. Juntos, também poderão roçar, em oito dias, o capim que um homem só levaria dezesseis dias para roçar, como juntos serão capazes de preparar em um dia um alqueire de farinha (WAGLEY, 1988, pp. 87-88).

Em outro trabalho sobre Chuva branca, e no qual trato da questão de gênero, utilizo-me daquilo que ficou conhecida como a, para falar da condição de Mariana, em particular. Nele, menciono que:

Antes de buscar a satisfação de suas necessidades superiores, a saber, a sua afirmação e o seu pleno desenvolvimento como mulher, a mulher amazônica [Mariana] precisa lutar primeiramente pelo preenchimento de necessidades consideradas inferiores, tais como a sobrevivência, a alimentação ou mesmo a segurança, impedindo a busca por aquelas (SOUZA, 2016).

Essa condição de Mariana se coaduna perfeitamente com o que diz a Hierarquia das Necessidades de Maslov, a saber, que “as pessoas não são motivadas a satisfazer as suas necessidades superiores até que as inferiores sejam satisfeitas” (MASLOV, 1970 apud DAVIS, 2001). Em uma palavra, antes de procurar atender necessidades que se situam especificamente no universo feminino, Mariana precisa, primeiramente lutar pelo preenchimento de necessidades fisiológicas consideradas básicas, como a alimentação da família.

O outro se relaciona também com uma ajuda, mas desta vez a uma ajuda mútua. Como é bem conhecido, é comum haver, na Amazônia rural, uma prática característica a que dão o nome em tupi de puxirum, putirum ou, ainda, de ajuri. O puxirum é uma espécie de mutirão, particularmente ligado à agricultura ou à lavoura, por meio do qual os membros de uma comunidade ajudam um vizinho ou vizinhos a andar com ou a concluírem suas atividades. Um exemplo típico de puxirum ocorre quando, diante de uma subida rápida e inesperada no nível do rio, uma plantação fica prestes a ser perdida e levada pelas águas. A comunidade, neste caso, realiza um puxirum para ajudar o lavrador a não perder a lavoura para as águas.

Aqui, em Chuva branca, Luis Chato faz alusão a essa cultura, ao dizer que em épocas assim, “não há quem não queira dar uma demão”, principalmente quando se espalha “a notícia de carne de anta”, pois a “vizinhança se anima”. A comida farta para os trabalhadores, aliás, é não somente um dos atrativos desses mutirões, como também uma característica deles. Cito abaixo o comentário de Charles Wagley, possivelmente um dos melhores já registrados sobre essa cultura tipicamente amazônica, chamado por ele de “puxirão”:

O lavrador só passa o dia todo no campo quando participa ou é o dono de um puxirão ou convite, como são chamados esses serviços em conjunto. Organizam-se às vezes tais grupos de trabalho cooperativo para as várias tarefas do cultivo da mandioca, mas em geral são eles reservados para o trabalho pesado da roçagem de um sítio. O dono da roça, nessas ocasiões, manda convites a vários homens — a parentes próximos, aos compadres ou amigos [...]. Nessas ocasiões o anfitrião se responsabiliza por todas as despesas. Serve café em casa antes de saírem para o campo; compra cigarros ou fumo para os convidados e fornece a cachaça para um golinho ou outro em meio ao trabalho, ou como mata-bicho, antes da refeição do meio-dia. A mulher do anfitrião, auxiliada pelas mulheres dos convidados, prepara um lauto almoço. Geralmente, mata-se um porco, ou várias galinhas, quando o grupo é numeroso (WAGLEY, 1988, p. 87).

O puxirum é, assim, um das características da atividade agrícola dessa Amazônia. É possível, talvez, ligar a prática à cultura indígena de cuidarem das lavouras em conjunto, em especial pelas mulheres.

Considerações finais

Chego, ao final do trabalho, à mesma questão com que o iniciei: não é fácil falar do homem amazônico, no sentido de deixar claro de que Amazônia se está tratando. Isto ocorre porque uma é a Amazônia do habitante das metrópoles representativas da região, Manaus, Belém, assim como as demais, outra é a do vaqueiro marajoara e a do pecuarista do Mato Grosso, outra é a dos mineradores da Amazônia Oriental e outra é a das sociedades agrícolas dos campos de Roraima. E outra, bem diferente, é aquela ribeirinha, das vilas, dos povoados, dos sítios, das fazendas, ao longo dos rios, lagos e igarapés. A narrativa de Chuva branca cuida, em especial, desta última.

Quanto ao homem amazônico que nela habita, este aparece na diegese sob três tipos ideais ou atividades que representam bem os meios de subsistência da vida amazônica: aparece como pescador, como caçador e como lavrador. Neste mister, é importante ressaltar a sua habilidade natural para essas atividades, especialmente aquela relacionada com o rio. Este influencia diretamente no ritmo de sua vida, tanto em sua psicologia, como sua sociologia e economia.

Referências bibliográficas

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[1] Mestrando em Letras/Estudos Literários (UFAM).

[2] Termo empregado por Djalma Batista (2007), em O complexo da Amazônia, para se referir a todo o ecossistema amazônico, inclusive as áreas pertencentes aos países sul-americanos.

[3] Wagley (1988, p. 121) chamou de “caboclos da beira” àqueles que “vivem em cabanas construídas sobre estacas, nos pântanos das baixadas e nas ilhas alagadiças, e que ganham a vida nas indústrias puramente extrativas”.

[4] De acordo ainda com o autor, a Primeira Amazônia seriam “as duas cidades representativas da Amazônia brasileira, Manaus e Belém”, enquanto que a Segunda Amazônia seriam as “sedes dos municípios do interior, cuja maioria se encontra em fase de desenvolvimento” (BATISTA, pp. 114-115).

[5] Tomo, aqui, o conceito weberiano de tipo ideal, a saber, que este “é acima de tudo uma tentativa para apreender os indivíduos históricos ou seus diversos elementos em conceitos genéticos” (WEBER, 2003, p. 109). Os grupos sociais da Amazônia que aparecem na narrativa de Chuva branca — pescadores, caçadores, agrícolas ou lavradores — podem ser, assim, obtidos como Weber propõe, ou seja, “mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos” (Op. cit., p. 106). Certamente que “essa construção reveste-se do caráter de uma utopia”, mas pretende “conferir a ela meios expressivos e unívocos” (WEBER, 2001, p. 137)