O grito de liberdade

Joacir Soares d’Abadia

 

Uma chusma de gente grita: “queremos ser livres!” Mas a isto não acresce nada ao seu ser enquanto homens que pensam, visto que seus clamores elevam somente as suas vozes levando cada gritante a ser para si mesmo um mendaz, ou seja, um mentiroso. Com tal fuga o mendaz se debruça a uma imitação de balbucio, o qual não toma seu significado original, que seria em buscar de forma comunitária algo que os libertem: a própria libertação.

Nesta euforia do homem em relação a sua falsa liberdade encontra-se uma herança não de patrimônio, mas sim de conceitos evasivos que dizem, estritamente, ao ópio dos mendazes: “queremos, sem querer, ser livres”.

Não pode de forma alguma, esbandalhar o sentido único que principia o verdadeiro e imutável significado do que seja a liberdade. Embora, gritos ecoam pedindo que os homens sejam livres, eles não chegam ao tocante do desejo humano, pois esvai na extensão do mundo sem serem acolhidos pelas suas entranhas. Assim sendo, permanecem somente os gritos. E só a eles escutam. Mas, contudo, porque gritar sem o desejo de concretizar aquilo que se pede: a liberdade? Não parece incongruência? Pode acreditar que sim! É realmente palavra solta ao ar com um objetivo: a algazarra.

Se os gritantes pedissem mesmo a liberdade eles, pobres coitados, jamais seriam atendidos por completo. Acredite, é verdade! Pois recebendo, aos gritos, a liberdade, ficariam presos à própria liberdade. Agora cabe a objeção: que é liberdade para esta multidão de gente que grita pedindo-a? Deve ser que eles pedem que os deixem somente pedir! Assim, nem todos que pedem realmente quer. Fique, portanto, de cautela.