“Era uma vez uma índia morena, virgem de corpo e de coração, que habitava a taba dos guerreiros caetés, tecia redes e se enfeitava com as penas coloridas dos mais belos passarinhos ...

Mirava o rosto nas águas claras da lagoa e corria pela mata ouvindo o grito da araponga e respondendo ao canto da cauã.

Um dia ouviu-se um brado de guerra e os guerreiros partiram manejando os seus tacapes e as suas flechas, que eram tantas que mal se podiam contar.

Por três sóis eles lutaram sem descanso e sem cansaço, mas ao alvorecer do quarto dia voltaram triunfantes, trazendo preso, como troféu, um inimigo ...

E começaram os festejos ... Mas o índio preso, que era forte e belo, não querendo ser sacrificado, pediu para lutar ... lutou ... e venceu em três combates.

Êle sabia que entre os índios, não se mata um herói ... Só os civilizados é que têm medo da coragem e do heroísmo dos outros ...

E uma virgem caeté apaixonou-se por êle e os dois, então, fugiram na calada da noite ... Andavam de sol a sol e, à noite, se deitavam na terra quando, então, as suas bocas sedentas de água e ardentes de amor, se encontravam na escuridão ... E chegando a aurora, eles recomeçavam a caminhada ...

A índia definhava a olhos vistos ... Os seus passos já não eram ágeis, os seus membros lhe pesavam e os seus olhos, ofuscados pela claridade do Sol, procuravam a terra, enquanto a cabeça lhe pendia do peito ...

Mas a marcha prosseguia em busca de outras terras e um dia viram água ... Muita água ... Era a imensidão do mar e ela, já exausta, deitou-se na beira da praia, com as suas forças já no fim ...

Desesperado, êle pediu a Tupã para que o transformasse numa árvore cujos frutos tivessem água doce para matar a sede da sua amada ; polpa para mitigar-lhe a fome ; óleo para untar os seus pés cansados; e palmas longas, para abrigar nas suas sombras o corpo franzino da sua amada ... Então Tupã o atendeu e transformou-o num coqueiro ... O primeiro coqueiro que surgiu sôbre a face da Terra e que, ao ser formado, o foi com o seu tronco muito comprido e com as suas palmas muito acima das areias brancas onde ficou plantado e, assim, a índia não podia alcançar os seus frutos pelo que, então, num esforço gigantesco, êle se encurvou para a praia e abaixou o seu tronco para que ela, então, a pudesse, com as suas mãos estendidas, colher os frutos de água doce e de polpa macia, enquanto a sua alma voava na direção das nuvens ... E, então, num esforço supremo, êle encurvou o seu tronco mais para o alto e ergueu a sua copa, carregada de frutos, par o céu ... E assim ficou ali até morrer, numa das praias de Alagoas, embalando em suas palmas, a alma da sua amada ...” .