O Fundador da Física Social

Augusto Comte nasceu em Montpellier, no sul da França, em 19 de janeiro de 1798, foi o fundador da religião da humanidade e de uma seita, a sociedade positivista de Paris, teve ao longo de suas obras as chamadas “primeira e segunda carreira” que marcaram a sua história.

Os textos da chamada “segunda carreira” política e religiosa têm sido considerados de menor importância ou até mesmo ignorados, pois estariam sob o signo da doença psíquica de Augusto Comte, que se manifestou em 1826. Em sentido contrário desde o século xix, costuma-se considerar que a chamada “primeira carreira” foi o momento único da fundação da filosofia positivista, da sociologia (ou física social) e da epistemologia (filosofia das ciências), novo continente do saber filosófico, que foi em parte inaugurado pelo positivismo no século xix.

Comte e seus discípulos mais próximos, de acordo com os ensinamentos da sociologia, preocupavam-se, acima de tudo, em criar fórmulas para transmitir os ensinamentos da mais absoluta disciplina social e que, portanto, contribuíssem para erradicar a luta de classes, da qual 1848 seria o exemplo mais próximo, naquela época histórica a classe operária européia havia começado a desenvolver profunda consciência política e, no decorrer de sucessivas insurreições e revoluções, em particular na França, mas também em outros países da Europa, tinham o intuito de instaurar uma nova sociedade que superasse radicalmente a sociedade burguesa. Foi então, entre 1830 e 1848, que Comte criou a sociologia, a “ciência do progresso dentro da ordem”, em seguida voltou-se para a prática política, organizando a sociedade positivista de Paris e, finalmente, idealizando e concretizando a religião da humanidade.

Comte pretendia estar criando um novo saber científico que revelasse a existência de leis sociais inexoráveis às quais a classe operária, em particular, deveria se submeter. É muito significativo que, inicialmente a sociologia tenha sido chamada, pelo próprio filósofo positivista de “física social”. Comte diz que a política só será transformada em ciência quando pudermos encará-la como “uma física particular” do mesmo modo que existe a astronomia, a física propriamente dita, a química e a biologia. A física social estudaria as leis imutáveis da sociedade, ou seja, para Comte, as “leis do progresso dentro da ordem”.

Desde a juventude Comte acreditava que somente aprofundadas reflexões políticas, seguidas da elaboração de um plano de reorganização social, poderiam erradicar a anarquia que, tendo começado em 1789, com a revolução francesa, permanecerá até o inicio do século xix. Teve grande influência do mestre Saint-Simon e acreditava que, antes de qualquer outro, seria necessário o planejamento da economia da sociedade. Comte desistiu de arquitetar cidades ideais e, colocando-se contra qualquer utopia social desestabilizadora, desenvolveu o projeto da física social, e foi no curso de filosofia positiva que a física social foi elevada à sua forma suprema, transformada em ciência positiva, a sociologia.

Durante seus escritos Comte teve influências de alguns autores como Adam Smith que era favorável ao liberalismo econômico, segundo Adam Smith tudo vai bem para a economia de um país, desde que deixem seguir seu “curso natural”, sem intervenção do Estado, sem regulamentações econômicas excessivas. Outro autor que influenciou as obras de Comte foi Joseph de Maistre, ele sustentava que era necessário reorganizar a sociedade moderna, afirmando que a forma de realizar esta tarefa política seria o retorno ao passado, à monarquia e a influência católica, centrada na figura do papa. Por conseguinte os escritos de Comte, entre 1816 e 1819, incorporaram tanto as premissas do liberalismo econômico como as do conservadorismo político, procurando realizar sua síntese.

O primeiro escrito de Comte, que se chamava minhas reflexões, foi voltado à humanidade, verdade, justiça, liberdade e pátria, o autor mostra-se profundamente revoltado e indignado com o despotismo de Bourdon Luís que governava a França após a queda de Napoleão Bonaparte, Comte escreve que para colocar fim aos governos despóticos, para fazer com que os povos recusassem os tiranos seria necessário educar o povo, levando as “luzes da ciência e da filosofia para o seu meio”, na obra minha reflexões Comte defende o ideário democrático do século xviii. Comte leu e admirou a obra Do contrato social, do filosofo Jean-Jacques Rousseau, que tinha inspirado os setores mais radicais da revolução francesa, vinculados à causa popular. Porém as convicções democráticas e igualitárias de Comte tiveram vida curta, escrevendo a seu amigo Valat, Comte condena a filosofia do século xviii, da revolução francesa, de Rousseau, dizendo que estas teorias, estes sistemas são mal concebidos e levam ao erro.

Em seguida Augusto Comte desenvolve suas convicções mais recentes e que foram sustentadas no decorrer de sua vida, ele diz que nada existe de absoluto na história dos homens, nenhum direito é absoluto, nenhuma igualdade é absoluta, nenhuma liberdade é absoluta, o autor completa dizendo que é falso dizer que há direitos naturais, portanto universais, independentes, de classe social, de condição econômica, cultural, de sexo, raça ou idade. Então anos depois a filosofia positiva criada por Comte desenvolve reflexões políticas fundamentais, centradas na questão do dever, com a finalidade de substituir a “inútil e nociva discussão sobre os direitos”. Segundo o positivismo, acreditar que os homens nascem livres e iguais nada mais seria do que uma ilusão da “metafísica revolucionária”, para evitar que a sociedade se destruísse em sucessivas e violentas revoluções sociais, seria necessário que cada um cumprisse o seu dever como operário, patrão, esposa, artista e assim por diante. A física social era um saber destinado a dar o golpe mortal em todas as utopias radicais que começam a despontar no início da revolução francesa, Comte mostra-se abertamente contrário as utopias libertárias e igualitárias de seu tempo.  

Em 1822 Comte escreve a obra “plano dos trabalhos necessários para reorganizar a sociedade” e pela primeira vez o autor desenvolveu a célebre “lei dos três estados” e a física social. A teoria ou lei dos três estados tornou-se a mais conhecida de todas as concepções do positivismo. Comte dizia ter descoberto que a história das sociedades obedeceu sempre a mesma sequencia de desenvolvimento. Inicialmente todas as sociedades foram teológicas em seus fundamentos sociais, depois se tornam metafísicas, para finalmente chegarem ao seu estado de civilização definitivo, que seria o positivo, ainda a ser concretizado.

Ao ensinar que existem leis sociais naturais, portanto absolutamente universais e necessárias, o positivismo pensava estar transformando o estatuto da própria teoria social. Igualando-se a qualquer ciência da natureza, a teoria social poderia desde então reivindicar o nome de “ciência”, foi assim que nasceu a física social, criada por Comte, em 1822. Anos mais tarde, exatamente a partir de 1830, coma obra curso de filosofia positiva, a ciência social positivista recebe o nome de “sociologia”, com a qual fica conhecido desde então.

Augusto Comte passou então a preconizar a conciliação, a “ordem” entre as classes, com isso ele se afasta das idéias de seu próprio mestre Saint-Simon, Comte passa então a dedicar-se as estudo da economia política smithiana, chegando a escrever sobre a possibilidade de teoria social ser reduzida às categorias econômicas liberais.

Com este novo pensamento Comte faz análises através da economia política, e faz reflexões a respeito do pensamento político, desde a Grécia antiga até o século xix, tratando de assuntos relacionados à melhor forma de governo que, para Comte, seria aquela que empregasse bem a riqueza do país, isto é, em proveito “dos governados”, ao invés de manter privilégios “dos governantes”, como teria sido a regra desde a Grécia antiga.

Posteriormente Comte passa a criticar e discordar da doutrina da liberdade defendida pelos smithianos. Em sua obra “considerações sobre o poder espiritual” Comte afirma que os economistas acreditavam que existiria uma tendência espontânea e permanente da sociedade a certa ordem necessária, ao contrário disto, Comte pensava que a liberdade econômica jamais produziria a almejada ordem permanente e que a liberdade preconizada pelos economistas reforçaria a permanência do conflito, ao invés de encaminhá-la a uma saída pacífica e ordeira.

Depois Comte passa a preconizar as idéias de Condorcet que teria sido o primeiro a pensar que a sociedade deve ser estudada do ponto de vista histórico e que essa reconstrução do passado deve ser efetuada a partir da observação dos fatos. Com tal método preconizado por Condorcet seria realmente possível conhecer as verdadeiras leis naturais do progresso dos povos, Comte mostra-se tão entusiasta do modelo metodológico iluminista, que em alguns momentos chega a afirmar que Condorcet tinha sido seu pai espiritual. Comte, porém, faz duras críticas ao mesmo Condorcet condenando a inspiração político-revolucionário que transpassaria o pensamento do filósofo iluminista e criticando-o ao dizer que ele não se mantinha neutro aos fatos e fenômenos observados e estudados. Comte preceitua que a admiração e a reprovação dos fenômenos devem ser banidas com igual severidade de qualquer ciência positiva, porque cada preocupação deste gênero tem por efeito direto e inevitável impedir ou alterar o exame.

No decorrer de diversos pensamentos Augusto Comte desenvolve a ideia da “religião da humanidade” que é o nome de uma instituição religiosa concreta, calcada no modelo católico, possuindo um conjunto de dogmas, culto e sacramentos, assim como uma hierarquia sacerdotal. Comte se proclamou primeiro papa da nova igreja, e com tal prerrogativa ministrou sacramentos e se dirigiu aos discípulos, nos anos de vida que lhe restavam, até 1857.

A religião da humanidade preconizava o “progresso dentro da ordem” que significa, o progresso seria o desenvolvimento da sociedade na sua forma atual “industrial e pacífica”, e a ordem seria a conservação da sociedade sobre os fundamentos da propriedade privada do capital humano e da família, na sua forma burguesa. Estas seriam as verdades sociológicas a serem sacralizadas pela religião da humanidade.

E foi na América Latina que o positivismo desenvolveu-se intensamente, durante a segunda metade do século xix, sobretudo na sua forma doutrinária, com a religião da humanidade. O paradigma Comteano encontrou na América Latina, ao que parece a sua terra prometida. Na Argentina, no México, e nos demais países Latino-Americanos, o positivismo Comteano fez discípulos acadêmicos e grande quantidade de obras foram escritas sob sua influência. Ao contrário do que aconteceu com as sociologias posteriores que, em larga medida, desconheceram a gênese Comteana, sendo Comte raramente lembrado como fundador deste saber e criador da sociologia. Manuais de sociologia e dicionários especializados limitam-se, em geral, a sumárias apresentações do pensamento de Comte, centradas em comentários bastante superficiais a respeito da lei dos três estados.  

Destarte, com a leitura desta obra adquire-se um enorme conhecimento, pois, estudam-se acontecimentos históricos, o positivismo idealizado por Augusto Comte, a chamada lei dos três estados, a religião da humanidade, entre outros fatos de grande relevância.

Referências bibliográficas:

Comte, Augusto. O fundador da física social, Lelita Oliveira Benoit: método.